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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - IMPRENSA - BIBLIOTECA NM
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Em 1979, o jornalista Olao Rodrigues lançou o livro História da Imprensa de Santos, com edição do autor, única obra do gênero a abordar de forma tão ampla o desenvolvimento da imprensa santista. Novo Milênio apresenta esta obra pela primeira vez em versão digital, autorizada em junho de 2008 por sua filha Heliete Rodrigues Herrera:
 

Jornais (cont.)

[...]

A Tribuna - 1894

Imagem publicada com o texto, na página 70

A Tribuna nasceu por acaso. Olímpio Lima, natural do Maranhão desde 26 de julho de 1862, muito jovem foi para o Pará, em cuja capital iniciou a profissão que desde menino o atraíra: Jornalismo. Espírito impetuoso e franco, índole enérgica e jamais acomodatícia, meteu-se em zaragatas e em tantas implicações criadas pelo caráter de polemista inflamado que sua situação cada vez [mais] se tornou insustentável. Decidiu partir para o Sul, vindo tentar a sorte em Santos, que se mostrava politicamente agitada em conseqüência dos acontecimentos de 1893, dividindo-se os florianistas em dois grupos influentes, um sob a chefia do dr. Manoel Maria Tourinho e o outro liderado por Américo Martins dos Santos.

Olímpio Lima, a princípio, empregou-se numa empresa de calçamento. Não era essa, contudo, a profissão que sempre se lhe incutiu no espírito. Já desanimado, com poucos haveres, pretendeu alcançar a imprensa da capital da Província, quando o acaso o tornou amigo pessoal do dr. Manoel Maria Tourinho, que o dissuadiu do tentame. Nessa época, o jornalista Deocleciano Fernandes editava um semanário com o título A Tribuninha. Animado ainda pelo incentivo de seus amigos influentes e populares, pois logo se viu rodeado de sólidas relações de amizade, Olímpio Lima retornou ao Jornalismo.

Com a absorção de A Tribuninha, ele fundou Tribuna do Povo, publicação semanal, crítica, noticiosa e literária, cujo primeiro número circulou a 26 de março de 1894, numa segunda-feira. Na abertura do jornal, em negrito, nota explicativa com o seguinte texto: "Esta folha não tem ligação com nenhum dos partidos políticos militantes, o que melhor a habilita a julgar de ambos. Suas colunas estão francas a todas as manifestações do pensamento. As artes, as letras e as ciências encontrarão nela uma tribuna livre às suas controvérsias e aos seus ensinamentos. Aceita toda sorte de publicações, desde que o decoro público não seja nelas desodorado. As que tiverem por objetivo o interesse público serão feitas gratuitamente e as de interesse pessoal mediante prévio ajuste".

Ainda na primeira página publicava artigo intitulado À Guisa de Programa, em que afirmava estar o jornal "desligado das peias partidárias, fora da ação das conveniências políticas, independente e livre; o seu critério poderá sondar, a fundo, as causas e efeitos do mal-estar social, sem visar personalidade, mas o defeito e só o defeito, onde quer que ele exista. Sob essa orientação é que nos abalançamos a fundar a Tribuna do Povo. Sob a influência salutar desses princípios é que tomamos a responsabilidade de sua direção".

Jornalista irascível - Noutro espaço ainda da primeira página, um artigo de Olímpio lima subordinado ao título Triunfantes?... Não!. Funcionavam redação e oficinas na Rua São Leopoldo nº 52, atual Avenida Visconde de São Leopoldo, depois se transferindo redação e escritório para a Rua Dois de Dezembro (atual D. Pedro II) nº 7. No começo, era redator literário o jornalista Aprígio Macedo.

Panfletário vigoroso, enérgico e por vezes irascível, não tardou que Olímpio fizesse do seu jornal baluarte de defesa e amparo dos humildes e fracos, protegendo-os, mas ao mesmo tempo profligando os fortes e poderosos, atacando-os e golpeando-os como um látego, tal a virulência de sua pena. Por essa razão, se ganhou muitos amigos nas classes populares, criou inimigos nas altas esferas. No início da atividade, o jornal sofreu ameaça de empastelamento, mas sem que fosse possível evitar o ato de destruição, anos depois, quando a folha estava instalada na Rua do Rosário (João Pessoa) nº 90, o que determinou a suspensão provisória de sua publicação.

O árdego maranhense não sofreu apenas danos em sua folha, como tentativa de empastelamento e empastelamento, senão também agressões pessoais e tentativa de morte à traição, quando desembarcava de um trem na estação da SPR, alvejado por um tiro de revólver. De outra feita, acusou o bacharel Sales Braga do desaparecimento de autos, o que lhe valeu ação em Juízo, provando o acusado a improcedência da acusação. Olímpio foi condenado pelo juiz, dr. Primitivo Sete, à pena de 4 meses de prisão e à multa de 450$000, por sentença prolatada em maio de 1904. Por achar-se fora do Município, e vindo a saber da punição, apresentou-se no dia 30 de janeiro de 1905 ao delegado de Polícia, a fim de cumprir a pena. Durante o tempo em que esteve preso, foi ele muito visitado, sobretudo por pessoas humildes.

Olímpio Lima não se harmonizava com as autoridades da Municipalidade. Fustigava-as mesmo sem motivo aparente. Toda administração do intendente Francisco Malta Cardoso foi por ele atacada. Disse-nos certa vez o capitão Carlos de Menezes Tavares que, observado por um companheiro de redação de que o chefe do Executivo era pessoa de bem, proba e sem rabo-preso, o diretor da Tribuna do Povo prontamente respondeu:

- Então põe-se-lhe!

E os artigos acrimoniosos ao intendente que deu luz elétrica à Cidade continuaram quase diariamente.

Primitivas instalações (A Tribuna)

Imagem publicada com o texto, na página 72

Matéria paga oficial - Na maioria dos casos, as brigas de jornais com a Câmara e intendente ou prefeito tinham uma só origem: não lhes era distribuída a matéria publicitária dos atos oficiais do Legislativo e Executivo, mas sim a outro concorrente mais dócil e acomodatício...

A Tribuna, desde os primeiros anos da fase M. Nascimento Júnior, tornou-se órgão oficial da Municipalidade. Publicava todo expediente da Prefeitura e atas do Legislativo. Por esse motivo, tornou-se alvo das provocações e até de comentários ridicularizantes de determinados jornais que sempre se viram alijados da messe oficial. Mas a Lei mandava confiar tal matéria ao jornal que, além do menor preço, provasse superioridade na circulação, circunstância que no passado não prevalecia. "O paquiderme da General Câmara". "A Manoela". Nem seu diretor escapava. "Maneco Ventarola", alcunha de Nascimento Júnior. Só porque em certo Carnaval ele mandara distribuir ventarolas ao público, como oferta-propaganda. Todavia, A Tribuna também já fora oposição ao governo municipal, embora em atitude sempre comedida.

No fim de 1849 (N.E.: SIC. correto é 1894), por insucesso financeiro, Olímpio perdeu sua Tribuna do Povo. Mas editou outro jornal, o Correio da Semana, de pouca ressonância e duração.

Em dezembro de 1899, o jornal sofreu novos embaraços financeiros. Olímpio perdeu-o. Manoel Monjardim tornou-se seu dono. Olímpio tentou reavê-lo mas a Justiça não lhe deu razão. Que ele fez? Soltou novo jornal a 19 de dezembro daquele ano, não com o número 1 e ano 1, mas com o número 157 e ano sexto, como se fora continuação de Tribuna do Povo, o jornal que ele fundou e afundou por não poder pagar o que devia.

Houve então este caso curioso: dois jornais - Tribuna do Povo, com nova direção, e A Tribuna, de Olímpio - a comemorarem a mesma data de fundação! A outra Tribuna do Povo, depois de passar por M. Monjardim, ficou com Francisco Pereira e Gastão Bousquet. Por sinal, o novo jornal de Olímpio, A Tribuna, noticiou com muita amabilidade a nova fase de Tribuna do Povo de Francisco Pereira, com Gastão Bousquet na chefia da redação.

Quando à frente de Tribuna do Povo, o intimorato panfletário nunca esteve só, pois ajudado pela atividade intelectual de Alberto Veiga, Aprígio Macedo, Alfredo Pinto, Francisco Pereira, Ângelo Sousa, Valentim de Morais, Secundino Arantes, Fernando de Magalhães, Manoel Marinho, Deoclécio de Oliveira, Gastão Bousquet, Frederico Rosarte, Hugo Silva, Urbano Neves, Paulo Cunha, Ulisses Costa, Pompílio dos Santos e outros mais.

Ao contrário de Tribuna do Povo, sob a direção de Monjardim, que baixou muito de produção, A Tribuna, de Olímpio, desde logo ganhou popularidade, com circulação diária.

Abrimos aqui parênteses para assinalar que, sob sua direção, Olímpio lançou uma edição vespertina de Tribuna do Povo, cujo primeiro número circulou a 14 de março de 1898, a cem réis o exemplar. A edição da tarde foi bem aceita e não influiu de modo algum na tiragem do jornal matutino.

Lançada A Tribuna, Olímpio prosseguiu ainda mais impetuoso na campanha que ele mesmo dizia de regeneração dos costumes políticos do Município, sempre ferino, sempre violento, ele e seus articulistas. Sentindo-se cansado e adoentado, necessitando de novos ares, em setembro de 1907 decidiu Olímpio Lima empreender viagem ao Norte, a fim de retemperar-se fisicamente. Mas não passou do Rio de Janeiro, onde teve de internar-se na Casa de Saúde São Sebastião. Ali veio a falecer no dia 4 de outubro de 1907, aos 46 anos de idade. Seu corpo veio para Santos e [foi] sepultado no Cemitério do Paquetá.

Apesar de decorridos 71 anos, foi dos mais concorridos enterros de todos os tempos havidos em Santos. Tal a avalancha de acompanhantes - enterro a pé - que o esquife só chegou ao campo santo depois das 18 horas, permanecendo na capela até a manhã seguinte, quando, afinal, se de a inumação.

"Na história e na legenda (N.E.: SIC. correto é "lenda") da terra santense, o que dele há de ficar principalmente perpetuado é o seu espírito de combatividade, a sua incomparável fibra de lutador".

Olímpio Lima, sentado, tendo à esquerda Alberto Veiga e à direita Manuel Pompílio dos Santos

Imagem publicada com o texto, na página 74

Fase Paiva Magalhães - Com a morte de Olímpio Lima, assumiu a administração de A Tribuna seu amigo e testamenteiro José de Paiva Magalhães. Fase rápida. O velho proprietário da Agência Magalhães permaneceu à frente do jornal mais como preparador da futura etapa, mais como patrono econômico dos filhos menores de Olímpio Lima - Lauro e Olímpio - mais para responder pela venda do acervo gráfico.

Ele, porém, foi adiante. Coordenou despesa e receita, revigorou o plano de publicidade, convocou novos elementos na Redação e Oficinas, oferecendo, enfim, outro alento ao diário de quase três lustros. Período de transição durante o qual resplandeceram na Redação figuras de evidência no Jornalismo da terra, como Urbano Neves, Aquilino do Amaral, Tito Lívio Brasil, Pires Domingues, João Caiaffa e outros.

Estava o jornal na Rua General Câmara nº 27. A transação do conjunto técnico-gráfico, ao contrário do que se admitia, isto é, por meio de concorrência, segundo mesmo o conceito do dr. Norberto Cerqueira, promotor público, foi realizada por efeito de hasta pública, tal como o decidira o juiz de Direito da 1ª Vara de Órfãos, dr. Francisco de Paula e Silva.

Deu-se a hasta pública no dia 28 de junho de 1907. De sociedade com Róssio Egídio de Souza Aranha, Manoel Nascimento Júnior ofereceu o maior lance e adquiriu A Tribuna. Róssio, a rigor, não era interessado no negócio. Nele entrara apenas para ajudar seu amigo Nascimento. Tanto assim que logo seguiu para a Europa, em tratamento da saúde combalida, abandonando a sociedade, homem rico que era.

O último número do jornal sob a égide de Paiva Magalhães saiu a 30 de junho de 1909. Publicou uma nota de agradecimento do redator-chefe prof. Aquilino do Amaral, bem como outra, de despedida, assinada pelos redatores Pompílio dos Santos, Valentim de Morais, João Caiaffa e Carlos Bottini. Funcionavam redação e oficinas à Rua General Câmara ns. 96/98.

1º número da eadição vespertina de Tribuna do Povo

Imagem publicada com o texto, na página 75

Fase Nascimento Júnior - Sob a direção de M. Nascimento Júnior, o primeiro número de A Tribuna circulou a 1º de julho de 1909. A nosso ver, foi essa verdadeiramente a data de fundação do vibrante jornal.

Obedeceu ao número 96 e correspondeu ao ano XVI. Saiu numa quinta-feira e sua redação, administração e oficinas ficavam na Rua Gal. Câmara ns. 90/94, no mesmo espaço do prédio atual, onde se situam Balcão de Anúncios, Gerência, Tesouraria, Publicidade, Departamento Pessoal, Contabilidade e Assinaturas. Surgiu com 4 páginas, em papel cor-de-rosa, passando a usar papel branco a partir de 25 de outubro de 1911.

Abrindo o jornal, o artigo de apresentação com o título Nova Fase, que assim começava: "Passando A Tribuna ao poder de novos proprietários, são as suas primeiras palavras de saudação a este nobre e adiantado povo, ao qual entrega confiante os seus destinos... Escusamo-nos de encher períodos com promessas falazes que possam ser dissipadas de encontro ao obstáculo. O nosso ideal é fazer com que revivam na medida de nossas forças escassas as tradições gloriosas implantadas nesta Casa pela orientação reta e pela pena fulgurante de Olímpio Lima".

E em outro trecho: "O nosso roteiro é pugnar pelos direitos do Povo, impedindo que ele seja calcado pela prepotência dos fortes e colaborar na obra fecunda do progresso de Santos, onde sobram os elementos de grandeza, por vezes mal aproveitados. Trabalharemos pelo desenvolvimento do Comércio e da Indústria e não daremos trégua no esforço de dotar esta fola de todos os melhoramentos exigidos pela Imprensa moderna e nos quais desde já muito faz jus o estado cívico da terra paulista".

Não obstante a clareza do artigo-apresentação intitulado Nova Fase, espalharam que A Tribuna fora adquirida pelo Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, a fim de pugnar pela candidatura de Hermes da Fonseca, o que a levou a imediato esclarecimento, admitindo o equívoco por haver M. Nascimento Júnior gerido aquele matutino carioca.

M. Nascimento Júnior foi diretor de A Tribuna durante 50 anos (1909-1959)

Imagem publicada com o texto, na página 76

Adiantamento gráfico - Três anos depois, ou a 8 de novembro de 1912, o velho prelo Alanzer foi substituído por uma rotativa de marca Albert, a primeira, no gênero, instalada em Santos. Com essa impressora, vieram linotipos e estereotipos. Foi dia de festa o da experiência da rotativa. Às 12 horas, reunidas autoridades e outras pessoas gradas, houve ato de bênção e a máquina rodou pela primeira vez. Elementos pessimistas censuraram Nascimento Júnior sob o argumento de que Santos ainda não comportava tão adiantado sistema de impressão. O jornal circulou com número especial de 36 páginas na manhã de 10 de novembro de 1912. Na primeira página, com delicadas palavras de louvor, as fotografias, em destaque, de Olímpio Lima, Urbano Neves, Nascimento Júnior e Alberto Veiga.

No ano de 1927, nova remodelação se operou nas Oficinas, com a instalação de nova rotativa, de marca M.A.N., para imprimir até 40 páginas, além de máquinas de composição (linotipos) e fundição.

Nova rotativa foi montada em 1954, de marca Koenig Bauer, com capacidade para 64 páginas e tiragem de 20.000 exemplares por hora, com dispositivos para impressão a cores. Além disso, outras máquinas de composição e aparelhagem em geral ofereceram ao jornal expressivo avanço no processo técnico-gráfico. Basta exemplificar que, naquela época - 1954 - A Tribuna dispunha de 22 linotipos, o que lhe dava posto de saliência no complexo dos jornais de todo País. Na verdade, à exceção de 3 jornais do Rio de Janeiro e 3 outros de São Paulo - se bem contado -, nenhum outro centro brasileiro, inclusive capitais, possuía elevado elenco de máquinas de composição.

Gente apta - Nos períodos inicial e intermediário da gestão Nascimento Júnior, muitos jornalistas de tarimba e talento passaram pela Redação, tais como Breno Silveira, Argemiro Acayaba, Luís Correia Pais, Rubens do Amaral, Euclides de Andrade (Epandro), Mário Teves, Antônio Stockler de Araújo, Miranda Rosa, Eliseu César, Menotti del Picchia, Afonso Schmidt, Paulo Gonçalves, Galeão Coutinho, José Maria Gonçalves, Cumba Júnior, José Maria dos Santos, Heleno Santiago, Jaime Franco, Albertino Moreira, Alberto de Carvalho, Zózimo Lima, Otávio Veiga, Manuel Furtado de Oliveira, Raul Caldas, Antônio Maria dos Santos, Roberto Molina Cintra, Adelino Rollemberg, repórter Bacalhau e, em destaque, Alberto Veiga, um dos maiores jornalistas de Santos de todos os tempos.

Na etapa seguinte, perlustram a Redação jornalistas como Álvaro Augusto Lopes, Francisco Paino, Perilo Prado, Lúcio Cardoso, Otávio Veiga, Décio de Andrade, Ayres dos Reis, César Correia Lopes, Costa Lopes, Otacílio Menezes Tavares, Mário Ferreira Castro, Antônio Guenaga, Osvaldo Du Pain, Acácio Botelho, Antônio Barja, Raul Pereira Caldas, Ney Guimarães e outros.

Já na década 40, por diante, tarimbados jornalistas como Moacir Chagas, Geraldo Ferraz, outra vez Antônio Barja e Otávio Veiga, Olao Rodrigues, Oacy Rodrigues, Adriano Neiva da Mota e Silva (De Vaney), Antenor Rodrigues Duarte, Francisco Sá Júnior, Antônio Guenaga, Cyro Lacerda, Gervásio de Morais, Artur Piccinini, L. Braga, dr. Fernando Nascimento, Hamleto Rosato, Alberto Galvão Porto, Oswaldo Leal, Cassiano Nunes Botica, Juarez Bahia, Oswaldo Martins de Oliveira, C. Conde, Rubens Ulhoa Cintra, Vitório Martorelli, Saulo Ramos, Benedito Merlim, professor Verdier, Mário Alves Oliveira, José Moura Ferreira, Antônio Francisco Sarabando, Ascendino Souza Andrade, dr. Yvaldo Martins Ferreira (hoje chefe do Dep. de Cultura e de Relações Públicas), Salvador Nastari Neto, Carlos Henrique Klein, Tito de Barros Júnior, Patrícia Galvão, Dorothêa Notara, Nemésio Prado, Inácio Rosas de Oliveira, Evaristo Pereira de Carvalho, Áureo Carvalho e Vitório Militello, Walter Rozzo, José Ferreira Coelho, dr. Paulo Horneaux de Moura, Francisco Azevedo, Ivo Roma Nóvoa, Luís Carlos Ventura, Ari Fortes, Édison Teles de Azevedo, F. Galvão, Luís Soares, Pedro Peressin, José Severo Bonfim, José Dias Herrera, Rafael Dias Herrera, Emiliana Ferreira, Cecília Dulce e Luís F. Carranca.

Assim como na gestão de Olímpio Lima, a vida de A Tribuna durante a fase Nascimento Júnior não foi tranqüila.

Às últimas horas da tarde de 24 de outubro de 1930, vitoriosa a revolução da Aliança Liberal, massa popular saiu às ruas para comemorar o acontecimento. Muitos manifestantes cometeram abusos, invadindo bares e restaurantes. Também foram a jornais, famintos de desordens e depredações, investindo contra os vespertinos Gazeta do Povo e Folha de Santos, causando-lhes graves danos. Pior fizeram em A Tribuna. Tomaram-na de assalto, saquearam-na e incendiaram-na.

Não havia razão para o atentado contra o elevado patrimônio cultural da Cidade. Apenas obra vandálica. O jornal de Nascimento Júnior jamais publicara quaisquer comentários contrários ou favoráveis ao movimento revolucionário, a não ser o noticiário telegráfico comedido e imparcial.

Ressurgiu das cinzas - Trinta e cinco dias depois, ou a 29 de novembro de 1930, operando em prédio provisório, na Rua Martim Afonso, A Tribuna voltava a circular em meio a manifestações de simpatia e regozijo de seus leitores e amigos. Publicava artigo-de-fundo, em que se destacava este trecho: "Qualquer seja o credo político professado pelos seus elementos, seria injustiça atribuir ao legítimo e culto povo de Santos a causa determinante do colapso que A Tribuna vem de sofrer na sua publicação. Descaso imperdoável e paradoxal absurdo seria, pois, realmente supor que esta obra, que é a própria obra do culto povo santista, que é um pedaço considerável de sua própria vida e da sua tradição, fosse precisamente por ele votada ao extermínio".

Reconquistando de imediato a confiança do público, A Tribuna voltou a predominar na Imprensa santense. Além do seu comandante, a aspiração de quantos trabalhavam na folha, jornalistas, administrativos e gráficos, nada mais era que uma casa nova, que já se construía tão logo o tradicional órgão voltou a circular.

Aquela "fornalha gigantesca não sepultava definitivamente nos escombros incandescentes que se amontoavam" - como parecia o incêndio de 24 de outubro de 1930 - o patrimônio da Inteligência e das conquistas civilizadoras de Santos. Não. Não sepultava. Porque também era ideal. E o ideal nunca morre.

Muito mais amplo, substituindo o velho prédio incendiado por mãos vandálicas, surgiu o palacete da Rua General Câmara ns. 90-94, inaugurado festivamente na tarde de 24 de dezembro de 1932 em meio às manifestações de aplauso de autoridades, figuras de representação social, homens de Imprensa, senhoras e senhorinhas, saudadas por aquele que foi exemplo de riqueza moral, nobreza d'alma e marcado pela corpulência cultural - Otávio Veiga.

Estava de novo em casa própria A Tribuna. Edifício que faz 46 anos. Tem tradição e bela história.

Dois homens, dois caracteres - Bem acentuada a diferenciação de personalidades entre Olímpio Lima e Nascimento Júnior. O fundador de A Tribuna foi político militante, chegando às funções de vereador. Escrevia com assiduidade, mostrando-se impetuoso e agressivo em seus artigos, sobretudo no trato com os mandantes da política, criando inimigos. Todavia, sempre acessível e denodado na defesa dos humildes. Muito se falava sobre seu comportamento financeiro, com ilações que não lhe eram favoráveis. Espírito desabrido e rixento.

Nascimento Júnior não escrevia, mas era teórico em problemas de redação e oficinas. Nunca militou em política, embora simpático ao Partido Republicano. Comedido, sóbrio, avesso a polêmicas, e buscando acertar sempre. Preocupava-se com a redação e administração, dando-lhes elementos vitais de eficiência, enquanto se interessava pela modernização do departamento gráfico. Era homem de mãos limpas. Honrado.

A propósito do comportamento financeiro de Olímpio Lima, contou-nos Norberto de Paiva Magalhães que, quando dirigia A Tribuna, foi à Agência Magalhães obter empréstimo, sob vale, na importância de 500$000, alegando necessitar adquirir papel e gás para poder o jornal sair no dia seguinte. E ele, Norberto, observou que, à porta do estabelecimento de seu pai, Olímpio fora abordado por uma mulher andrajosa rodeada de vários filhos pequenos. E viu quando o dono de A Tribuna passou à pobre mulher a cédula de 500$000.

Interpelado por José de Paiva Magalhães, respondeu com convicção:

- Não faz mal. O jornal não sai amanhã!

Depois de cerca de 40 dias internado num hospital de São Paulo, atacado de mal incurável, trouxeram Nascimento Júnior para Santos e internaram-no no Hospital da Santa Casa. Veio para morrer, o que ocorreu a 29 de maio de 1959, exposto o corpo no salão nobre do Paço, transformado em câmara ardente. Verificou-se o enterro no dia seguinte, no Cemitério do Paquetá. Quando o esquife passou diante da redação de A Tribuna, que Nascimento Júnior dirigiu durante 50 anos, discursou o jornalista dr. Paulo Hourneaux de Moura.

Fase Santini - Com a morte de M. Nascimento Júnior, assumiu o cargo de diretor do tradicional matutino o seu genro, Giusfredo Santini, que ocupava a superintendência, agora confiada ao neto Roberto Mário Santini. Homens experientes, dedicados e voltados para os mais aperfeiçoados métodos de imprensa, os Santinis não apenas observaram a orientação basilar do velho Nascimento, como ainda ofereceram ao jornal substanciais recursos de modernização.

A redação e várias outras unidades, além dos salões dos dirigentes, transferiram-se para prédio de 10 andares da Rua João Pessoa, 129, onde também ficaram as duas rádio-difusoras vinculadas à A Tribuna, sejam Rádio Atlântica e Rádio A Tribuna.

Atualmente, o jornal é executado pelo processo nylon-print, moderníssimo. Não só veio a alterar o sistema de composição através da linotipo, como, de resto, acabou com as velhas e tradicionais oficinas, nem sempre bem arejadas. Agora, opera-se em salas laboratoriais. Do quente provindo de chumbo escaldante chegou-se ao frio cortante e opositivo.

Processo de apreciável avanço na técnica gráfica, de que A Tribuna é dos raros jornais do país a adotá-lo, circunstância que atesta o senso renovador e desenvolvimentista de Giusfredo Santini e seu filho Roberto Mário Santini. Foi aplicado nesse matutino, por etapas, a última das quais em maio de 1978, quando passou a ser totalmente utilizado.

Quanto às linotipos, seu aproveitamento interessou à Gráfica A Tribuna, na composição de livros, boletins, impressos e jornais de órgãos classistas, esportivos e outros.

Gente de hoje - Dirigida por Giusfredo Santini e como superintendente Roberto Mário Santini, A Tribuna dispunha em 1979 dos seguintes elementos na redação, por ordem alfabética:

Accindino Souza Andrade, ilustrador; Ademir Henrique, repórter fotográfico; Alcyr Correa de Mello, chefe de Reportagem; Almir Alcântara Zacharias, contínuo; Américo Fernandes Filho, auxiliar de administração; Américo Ruiz Júnior, copidesque; Amílcar Pires da Silva Bastos, repórter; Ana Maria Pereira Sachetto, redatora de Artes; Anésio Borges, repórter fotográfico; Antônio Alberto de Aguiar, copidesque; Antônio Maria Pires de Carvalho, redator; Antônio Marques Fidalgo, repórter; Arcídio Lima Barbosa, laboratorista; Arnaldo Giaxa, repórter fotográfico; Áureo de Carvalho, repórter; Cândido Gonzalez, repórter fotográfico; Carlos Amaral Marques, repórter fotográfico; Carlos Eduardo Feliciano, chefe Depart. Arquivo e Pesquisa; Carlos Henrique Klein, editor-chefe; Carlos Henrique Soares Novaes, contínuo; Carlos Pimentel Mendes, repórter; Cláudio João Canais Antunes, auxiliar de arquivo; Cláudio Lemos Ferreira, diagramador; Clóvis Murilo Figueiras Galvão, subsecretário; Dirceu Fernandes Lopes, repórter; Djalma Paulo da Silva Filho, laboratorista; Emmanuel Leon Sztanjnbok, redator; Eraldo Silva, laboratorista; Eron Brum, subsecretário; Evaristo Pereira de Carvalho, chefe dos fotógrafos; Evêncio Martins da Quinta Filho, redator; Francisco Dias Herrera, repórter fotográfico; Gilberto Bezerra da Silva, repórter; Hamilton Iozzi Correia, repórter; Hamleto Di Rosato, redator; Helena de Oliveira, diagramadora; Hélio Schiavon, repórter; Isaías Augusto, encarregado dos contínuos; Ivan Berger, repórter; Jadir Muniz de Souza, contínuo; João Carlos Moraes Camargo, redator; José Reis Filho, diagramador; José Rodrigues, redator; Jóbson B. de Barros, repórter; José Carlos Bento Silvares, repórter; José Carlos de Ulhoa Cintra, redator; José Carlos Silva, redator; José Douglas Pereira Pinto, repórter; José Eduardo Barbosa, arquivista pesquisador; José Lima, redator; José Virgílio Silveira Sanches, repórter; Lauro Delgado Tubino, subsecretário; Lauro Freire da Silva, diagramador; Leda Valéria Pereira, repórter; Luiz Augusto Lane Valiengo, repórter; Luiz Carlos Braga Ribeiro, redator; Luiz Gonzaga Alca de Sant'Ana, redator; Lydia Federici, redatora; Marcelo Luciano Martins Di Renzo, repórter; Márcio Luiz Bernardes Calves, repórter; Marcos Sérgio Gomes, contínuo; Maria Elizabeth Albernaz Capelache de Carvalho, repórter; Mário Severiano Santana, contínuo; Mário Skrebys, repórter; Miriam Guedes de Azevedo, redatora; Nadine Salvagni Felippe, repórter; Noé José de Queiroz, arquivista pesquisador; Oriette Oliva Tavolaro, redatora; Oscar Menezes Barbosa, redator; Ouhydes João Augusto Fonseca, redator; Rafael Dias Herrera, repórter fotográfico; Rafael Souza Silva, diagramador; Reynaldo Salgado, repórter; Roldão Mendes Rosa, redator; Rômulo Merlin Júnior, redator; Ronaldo Prezado Mattos, contínuo; Roque José Alves de Lima, repórter; Rosa Maria Bastos Santos, redatora; Rubens Onofre, redator; Sérgio Aparecido Gonçalves, redator; Sérgio Luiz Correa, repórter; Sérgio Salles Galvão Filho, redator; Sílvio Guimarães, repórter fotográfico; Taís Assunção Curi, repórter; Teresa Beltrame de Souza, diagramadora; Therezinha de Jesus Bueno Wolf, redatora; Vera Lúcia de Souza Dantas Leon Sztajnbok, repórter; Walter Rozo, redator; e Joaquim Ordonez Fernandes de Souza, repórter. Gerente executivo: Antônio Ferreira Pires.

1º número de A Tribuninha

Imagem publicada com o texto, na página 81

Curiosidades - A Tribuninha, suplemento infantil de A Tribuna, começou a circular a 24 de agosto de 1960, numa quarta-feira, como se publicava todas as quartas-feiras. Atualmente sai às segundas-feiras. Desde o começo, o redator responsável é o jornalista Hamleto Rosato (Tio Leto), que, explanando o surgimento do jornalzinho, assinalava: "Tanto quanto possível, este Suplemento será feito pelas crianças e para as crianças. É claro que daremos uma orientação. E esta é bem simples. Desejamos apenas que A Tribuninha seja instrutiva, educativa e recreativa".

Mais adiante:"O futuro pertence às crianças de hoje. Nós, adultos, temos um compromisso para com o Brasil. Um Brasil de amanhã. Um Brasil que se avizinha melhor. Vamos, pois, ter fé, preparando-nos para o dia de amanhã".

O artigo-programa termina com agradecimento aos professores Joaquim Silveira, diretor do Departamento de Educação da Prefeitura; Suetônio Bittencourt Júnior, delegado regional do Ensino, e dona Diva Fialho Duarte, inspetora dos Parques Infantis.

- Quando dirigida por Olímpio Lima, A Tribuna não deixava escapar oportunidade para fustigar o intendente Malta Cardoso. Certa ocasião, agastado, o chefe do Executivo teria comentado que mandaria expulsar os não-santenses, o que fez recrudescer a campanha movida por Olímpio. Na edição de 10 de abril de 1903, por exemplo, A Tribuna publicou este curioso convite: "Convidam-se as pessoas que não nasceram em Santos e não querem ser postas fora pela gola, depois de terem pago impostos, a comparecerem a esta redação para assinarem requerimento ao sr. Malta Cardoso, intendente municipal, solicitando-lhe carta de naturalização de santenses".

- A Tribuna deu várias edições especiais e comemorativas. Três delas, todavia, como consagradoras de eventos, devem ser destacadas não apenas pela quantidade de páginas - cem ou mais - senão também pela apresentação realçada da matéria: a do Centenário da Cidade, a do 50º aniversário e a do 75º aniversário do jornal.

- Seções que, publicadas em períodos recuados, fizeram sucesso e se tornaram famosas: Rabujices de um velho; Balas de Estalo e O Elixir tem consumo.

- Houve época, não tanto remota, em que A Tribuna não retificava notícias por motivo fundamental: exatas, corretas e verdadeiras. Redatores e revisores tinham a grande preocupação de não errar. A nota informativa tinha de ser real, enfocando o assunto com clareza e fidelidade, jamais por "ouvir dizer". A verdade e só a verdade era dogma. O secretário não brincava em serviço. Sempre carrancudo. Depois de ler e reler o original, perguntava ao redator: Está certo isso? Olhe lá!

Sucedeu que, certa noite, humilde, gaguejando, o homem foi ao secretário e exibiu-lhe o jornal: "Doutor, eu ainda não morri, como está dizendo A Tribuna".

O secretário leu-a. ficou mais sério. Fechado. Coçou a cabeça e disse ao defunto que nada poderia fazer. Ante a insistência, o secretário, que era Otávio Veiga, chamou o Benedito Merlim, que cozinhava o movimento social, e determinou-lhe com azedume: "Faça uma notícia do nascimento deste cidadão".

E olhando firme e grave para a vítima: "É a única coisa que podemos fazer, ouviu? Este jornal não retifica nada".

- Por volta de 1955, o pessoal de O Diário, concorrente de A Tribuna, fez greve geral para obter aumento de salários por mais de uma vez negado pela direção dos Diários Associados. Nós outros, de A Tribuna, que espontaneamente obtivemos o reajustamento salarial, decidimos entrar em greve de solidariedade. Só a turma da redação. E por uma hora, das 20 às 21 horas. Nascimento Júnior, como o fazia todas as noites, foi às 20,30 horas à redação. Na qualidade de secretário, ponderou-lhe este escrevedor que estávamos em greve de solidariedade com os companheiros de O Diário. Todavia, para não prejudicar ostensivamente o jornal, alimentamos de originais as oficinas por espaço de duas ou mais horas. Nascimento Júnior, rindo-se, exclamou:

- Ué! Por que vocês não fazem greve de solidariedade todas as noites?

- Se Tribuna do Povo e depois A Tribuna, de Olímpio Lima, viviam às turras com os paredros políticos e autoridades do município, sobrando flechas para os jornais concorrentes, empregando linguagem contundente, não é menos certo que outros órgãos de publicidade, como Diário de Santos, também se destacavam pela violência do palavreado. Sobretudo quando dirigido pelo dr. Isidoro Campos, filho do fundador do jornal, Diário de Santos armou luta pessoal sem tréguas contra Olímpio Lima, que contra-atacava sem dó nem piedade.

Tornou-se, na época, célebre o caso polêmico entre os dois jornais pelo modo livre e insultuoso como ambos se haviam. Diário de Santos levava evidente vantagem, pois costumava investir contra os pontos considerados fracos do oponente, ou seja, o aspecto financeiro. O dr. Isidoro Campos, em meio à refrega, recordou e relacionou os casos dos donativos e subscrições encaminhados à redação de Tribuna do Povo, em favor de vítimas de naufrágios, terremotos, enchentes e infelizes doentes moradores em Santos, cujo dinheiro não era entregue a seus donos ou entregue só pela metade. Diário de Santos publicou tudo com documentos, deixando Olímpio Lima irritadíssimo e furioso, não desmentindo, é claro, mas usando o antídoto que lhe era comum: a ofensa.

Eis aqui, reproduzida, a seção Piadas, habitual em Diário de Santos, na edição de 28 de maio de 1903:

- Mamãe! Por que é que o Olímpio em vésperas de festas religiosas fala tanto em Cristo e engraxa a Igreja?

- Porque ele é católico, filho!

- E por quê, mamãe, no Cartório de Protestos, ele figura como protestado?

- Para provar ainda que é católico e não protestante!

Aconteceu... - Havia ingressado na redação o repórter Luís Carlos Braga, o Braguinha, procedente do Correio Paulistano, de São Paulo. Desde logo quis saber se o superintendente do jornal era boas pedras, pois precisava fazer vales seriados para pagar a pensão paulistana e trazer a pequena bagagem para Santos. Animamo-lo. Acompanhamo-lo ao Giusfredo Santini, que, em resposta, deu-lhe o talão de vales para preencher a quantia solicitada. Enquanto o Braguinha rabiscava o papelucho mais usado no jornal, e com tal agilidade que parecia familiarizado com esse tipo de adiantamento monetário, Giusfredo Santini, irônico, pespegou-lhe:

- Você é jornalista de verdade. Bateu todos os recordes. Ainda nem começou a trabalhar no jornal e já faz vales seriados!

- Nem tudo se perdeu no incêndio proposital que A Tribuna sofreu no dia 24 de outubro de 1930. O fogo destruiu maquinaria, retorceu, inutilizando-os, ferro e aço, derrubou paredes, devorou madeiramento, enfim, aniquilou respeitável acervo gráfico. Tudo foi assolado, desmanchado, desfeito, menos um punhado de pequeninos papéis. Duvidam? Pois daí a dias, dentro dos envelopes de pagamento, surgiram os vales comuns e os vales seriados que haviam escapado ao extermínio total. Quase todos, redatores, gráficos e administrativos ficaram decepcionados.

Ninguém compreendeu a razão da existência dos vales, se aço e ferro ficaram destruídos!

- Oswaldo Du Pain também pertenceu ao corpo redatorial de A Tribuna. Inteligente, destemido e valente, apesar de ter pouco mais de meio metro de altura, enxuto de carnes e sempre jovial e sardônico. (N.E.: SIC. Seu neto Oswaldo A. Martins informa, em mensagem a Novo Milênio datada de 17/9/2008, que conforme o certificado de reservista em seu poder, Osvaldo Du Pain tinha altura de 1,62 m).

Certa vez, quando fazíamos reportagem futebolística no campo do Santos FC e estávamos abancados no pavilhão de imprensa, que ficava na margem direita do campo, lado da Rua José de Alencar, ouvimos bater com insistência no portão. Foi atender o funcionário encarregado de tomar conta do pavilhão dos escribas.

E o Du Pain.

- Quem era?

- Era o pessoal do Ipiranga que queria entrar por aqui. Eu lhes expliquei que o portão deles era lá na rente!

- Ué, eles estavam certos. Então este não é o portão dos fundos?

- Certa ocasião seu Nascimento mandou vir de sua fazenda, em Serrana, um barril de pinga. Fez questão que o pessoal a experimentasse e desse sua opinião. Muita gente sorveu a pinga do barril colocado na área da administração. De fato, a pinga parecia boa, dessas que fazem rosário no cálice. Explicava seu Nascimento que a maior despesa entre a fazenda e Santos era o transporte ferroviário ou rodoviário. O resto era barato. Poderia vender a um cruzeiro o litro que ainda dava lucro, argumentava.

- É boa, Olao?

- Parece que sim, seu Nascimento. Não conheço bem a qualidade dessa bebida. Mas uma coisa lhe pergunto, seu Nascimento.

- Qual é?

- Não lhe bastava A Tribuna para envenenar o povo?

Até o velho riu.

- A Tribuna dispõe de uma sirene que se tornou tradicional na Cidade. Desde 1928, há 50 anos, o aparelho vibra às 12 horas, todos os dias, ou em casos de acontecimentos de elevada ressonância, como por exemplo para anunciar o fim da Guerra Mundial (2ª).

A primeira sirene tocou experimentalmente a 19 de dezembro de 1928. Quando da inauguração do prédio da Rua General Câmara, 90-94, a 24 de dezembro de 1932, foi inaugurada nova sirena, que funcionou até 30 de dezembro de 1977, quando foi desativada, substituída por outra mais moderna, que soou pela primeira vez ao anunciar o advento de 1978. Só uma vez houve toque duplo. Foi durante a 2ª Guerra Mundial. Hugo Ferreira de Paiva, que trabalhava no balcão de anúncios, fez o aparelho soar às 12 horas em ponto. Um ou dois minutos após, entrando para o serviço, Joaquim Carranca Serra, o Serrinha, foi à campainha e deu outro toque, mais estridente que o anterior. Todo mundo acorreu ao balcão, na certeza de que a guerra havia terminado.

A desculpa foi uma só: defeito mecânico!

Caricatura de Oswaldo Du Pain, em 1939, conservada pela sua família

Imagem enviada a Novo Milênio em 18/9/2008 pelo seu neto, Oswaldo A. Martins

 

Certificado de Reservista de Oswaldo Du Pain

Imagem enviada a Novo Milênio em 18/9/2008 pelo seu neto, Oswaldo A. Martins


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