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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA
Zêgo

Evêncio Martins da Quinta Filho, quando atuava na redação de A Tribuna, como colunista de televisão, constantemente era cumprimentado pelo agora editor de Novo Milênio com alguma referência ao dia da semana. De segunda a quarta, o comentário era de que o Zêgo estava muito adiantado no tempo, pois era "da quinta"; de sexta-feira em diante, estava ultrapassado, defasado - pela mesma razão.

Apesar de sua língua ferina, Zêgo nada respondia, não se abalando com o que sabia ser apenas uma piadinha entre amigos. São dessa época (1978 a 1981) as lembranças do contato com o colega, que após sua morte seria homenageado com a denominação de uma rua situada no Conjunto Habitacional da Caneleira.

Em 27 de outubro de 1995, matéria do mesmo jornal A Tribuna registrava a dupla homenagem que seria prestada nesse dia - a ele e a outro jornalista falecido pouco antes, Rômulo Merlin Júnior, que havia sido editor de Sindical nesse jornal. A matéria sobre as novas ruas na Caneleira incluiu um resumo biográfico de Zêgo (falecido em 18 de fevereiro de 1991):


Foto: arquivo, publicada com a matéria

Irreverência marcava Zêgo

Pesquisa A Tribuna

Evêncio Martins da Quinta Filho, o Zêgo, começou sua carreira jornalística em A Tribuna, convidado pelo então secretário do jornal, Geraldo Ferraz, em 1962, onde teve oportunidade de acompanhar de perto, como repórter, os movimentos estudantis e sindicais, antes e depois da Revolução de 64.

Autodidata, formado na prática de escrever, além de repórter ele chefiou a Reportagem Geral, passando também pelas editorias de Arte & Variedades, Nacional e de Pauta (que faz um roteiro dos assuntos a serem abordados). Escreveu críticas na área cultural, mas foi como cronista de televisão que ficou consagrado publicamente, assinando como Zêgo durante 22 anos a coluna Pois é... de A Tribuna. Tinha um estilo irônico e irreverente.

Como repórter, Evêncio entrevistou pessoas famosas, como o ator Kirk Douglas e o general Charles De Gaulle, além dos ex-presidentes da República Castelo Branco, Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici.

O jornalismo, todavia, não foi a sua única atividade. Também era dramaturgo, introduziu o Teatro de Arena em Santos e, entre as peças que escreveu, premiadas, estão a Moto Infinito, Enquanto o Rei Joga Buraco e A Rosa Verde, além de Num Bar Qualquer (Troféu Melhor Espetáculo de 1959). Um ano antes, em 1958, fora o Melhor Autor Nacional de Teatro.

Foi casado com Maria Alice Dias de Carvalho da Quinta e teve duas filhas, Maria Fernanda e Maria Cristina.

Uma cena da peça Na Época dos Inocentes, de Siegfried Lenz, apresentada
de 18 a 22 de janeiro de 1965 na antiga sede da Sociedade Italiana de Beneficência
pelo grupo Os Independentes, com direção do jornalista Evêncio Martins da Quinta Filho
Foto: acervo de Alice Quintas, publicada em 13 de agosto de 2004
na seção Imagem do Passado do jornal santista A Tribuna

Entre os textos de Zêgo, um deles rememora a Vila Belmiro em que ele nasceu. Foi publicado em 15/7/1982, dentro da série Conheça Seu Bairro, em A Tribuna.

Uma de suas crônicas regulares, publicada em A Tribuna em 31 de dezembro de 1990, foi transcrita no livro 36 mil dias de Jornalismo - A história nas páginas de A Tribuna (de Eron Brum, 1994, Editora A Tribuna, Santos/SP). Na época, o jogador de futebol Gerson havia protagonizado campanha publicitária de ampla repercussão, com o mote de que o certo era levar vantagem em tudo, daí a citação nesse texto:

POIS É...
O que diz a bola de vidro fumê

Zêgo

Amigos, eis-nos no limiar de uma nova era. Para muitos, a década de 90 começou no dia 1º de janeiro do ano passado. Para outros, mais rigorosos nestas coisas de cálculos celestes, a década começa mesmo amanhã. Não pretendo reabrir aqui a discussão sobre tão significativo tema, mesmo porque não ia adiantar nada, já que de qualquer modo amanhã estaremos na década de 90.

E o que é que isto muda em nossas vidas? Aí é que está: não muda nada. Neris de pitibiriba, como se dizia antanho. Você abre seu envelope de pagamento e vê que a grana é a mesma. Vai ao supermercado e vê que os preços não são os mesmos. Portanto, está absolutamente fora de questão ficar discutindo se já estávamos na década de 90, ou se só entraremos nela amanhã, certo? (Este certo deve ser pronunciado com o sotaque do Gerson, certo?).

O que realmente importa é que no dia 31 de dezembro baixa em mim o Caboco Bidu, e eu começo a fazer previsões. Até hoje não acertei nenhuma, mas isto não tem a mínima importância, pois tem um bocado de adivinhos profissionais por aí que também não acertam e mesmo assim não perdem a pose. Por exemplo, existe aquela vidente mineira que disse ter recebido uma mensagem de Juscelino Kubitschek afirmando que o Afif Domingos seria o próximo presidente da República. Quando ficou evidente que ela havia errado, a tchurma foi lá cobrar o erro e ela, candidamente, disse que quem havia errado era o Juscelino, não ela.

Deste modo fica fácil fazer previsões. Eu não recebi nenhuma mensagem do Além, mas posso afirmar com base em visões psicodélicas que aquele tiro só pegou o tigre da inflação de raspão, e a fera vem por aí fula da vida, depois de lamber a ferida. Acautelai-vos, pois.

Uma recomendação que faço a todos: se começarem a ver anõezinhos verdes depois de beberem alguns copos de uísque ou vinho, isso significa que, ou você está bêbado ou os marcianos acabam de invadir a Terra. No segundo caso, comunique-se com a delegacia de polícia mais próxima.

Mais uma previsão tirada do fundo do baú: o Brasil não levantará o campeonato mundial de futebol deste ano. Ah, outra previsão que captei no meio da fumaça de meus sonhos: no fim de 91, a Globo brindará seus telespectadores com um especial de Roberto Carlos; a Ana Raio vai se apaixonar pelo Zé Trovão, e os dois vão formar a dupla Tempestade na Pradaria; o Ricardo e a Isadora se unirão para deixar o velho capo dom Lázaro completamente abilolado; o povo espanhol verá horrorizado o resultado da aventura em co-produção de novelas empreendida com o Brasil, ao assistir Lua Cheia de Amor. O elenco da novela também. Aliás, Suzana Vieira já se declarou desgostosa com o papel absolutamente cretino que lhe destinaram nesta novela.

Há os ultra-pessimistas que apostam até num golpe militar. Consultei minha bola de vidro fumê e ela me garantiu que isto está absolutamente fora de questão, mesmo porque outro dia um influente político de direita foi visto tentando cooptar um militar de alta patente, e este cortou logo a conversa com um: "Tu é besta. Quem é que quer pegar este abacaxi?".

Portanto, meus amigos, o pior que poderia nos acontecer seria o ano de 91 ser pior do que o de 90. Mas, pelos estudos que fiz, deu para concluir que isto é impossível. Vai ser mais ou menos igual, o que já é de dar arrepio em minhoca. Os sobreviventes de 90, se tiverem jogo de cintura, poderão chegar ao final de 91 e exclamar: "Cacetada! Mais um ano igual a este e eu emigro para o Paraguai..."