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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CLIMA
Culpa globalizada (13)

Aquecimento global é responsável pela mudança no clima da Baixada Santista
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A grande incidência de raios na Baixada Santista já havia sido observada empiricamente, e foi confirmada neste estudo, citado em matéria do jornal santista A Tribuna, na quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 (página A-8):


Nos últimos anos, as chuvas e os ventos estão cada vez mais intensos e fortes.

Até o início do inverno, esse panorama deverá ser mantido
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria

CLIMA

Efeito colateral da ação humana

Fatos inusitados registrados nos últimos anos no País e na Baixada Santista são conseqüência do aquecimento global

Aumento da temperatura nos últimos anos e ocorrência de fenômenos naturais no Brasil chamam a atenção da comunidade científica

Sandro Thadeu

Da Redação

Os paradigmas em relação às questões climáticas caem a cada ano. Certamente, o conteúdo que os adultos aprenderam sobre o tema é, em alguns casos, o oposto do que ocorre atualmente. Para exemplificar tal situação, o livro Previsão do Tempo e Clima, de autoria de A. G. Forsdyke, de 1975, traz a seguinte frase, de maneira taxativa: "Não existem furacões no Hemisfério Sul".

A afirmação acima foi desmistificada com o registro do Catarina, o primeiro furacão da história do Brasil, em março de 2004. O ato foi considerado pelo Hadley Center (um aclamado instituto climático do mundo, situado na Inglaterra) o fenômeno mais importante do século 21.

Ao contrário do que constatado anteriormente em outras regiões do planeta, as águas do Oceano Atlântico Sul não chegavam a 28 graus Celsius - temperatura para a ocorrência desse fenômeno da Natureza. Portanto, a comunidade científica se rendeu diante desse fato, o que comprova a velocidade das mudanças climáticas nos últimos anos, devido à ação do próprio homem.

Fenômenos atípicos foram registrados recentemente na Baixada Santista. No último dia 14, ventos de 90 quilômetros/hora causaram destruição em Santos, Guarujá e São Vicente. Na tarde do dia 17, uma nuvem em formato de funil apresentava pré-condições para a formação de um tornado, conforme análise do professor de física e astronomia, Rodolfo Bonafim. O fenômeno não ocorreu, possivelmente, porque a pressão não caiu suficiente em seu centro para iniciar o espiral.

Em relação ao evento do dia 14, o docente entende que a mudança constante e velocidade dos ventos, além da forte chuva podem "caracterizar as evidências de um possível tornado", enfatiza ele, que é consultor científico da Organização Não Governamental (ONG) Amigos da Água.

O fato da ventania ter sido mais intensa nos bairros centrais, como Vila Mathias e Encruzilhada, reforça a hipótese do professor, pois a devastação ocorreu no centro desse funil.

28 graus Celsius

é a temperatura mínima das águas para a formação de furacões

  

Ciclone extra-tropical - Para comprovar as mudanças climáticas, Bonafim diz que foi registrada, no último dia 3, a formação de um ciclone extra-tropical, o que acontece normalmente entre março e abril. "Ele geralmente se forma na região do Uruguai, mas isso ocorreu numa região bem mais ao Norte, nas proximidades de Iguape, no Vale do Ribeira. Nesse dia, a Baixada registrou ventos de 70 quilômetros por hora e ressacas durante um período curto".

A professora do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas, Luci Hidalgo Nunes, explica que os fenômenos registrados ultimamente em Santos foram uma situação extrema.

No entanto, faz um alerta: "A única coisa que posso afirmar é que outro fenômeno, como um furacão, acontecerá novamente, mas não dá para precisar quando isso ocorrerá, se daqui a 10, 20 ou 30 anos".

Passado - A falta de instrumentos adequados para a leitura de fenômenos e a pequena população em comparação a hoje são fatores que dificultavam o registro preciso para explicar os motivos de grandes eventos naturais, como o de 10 de março de 1928, quando houve o escorregamento da encosta do Monte Serrat, incidente que deixou 80 mortos e oito casas soterradas.

"Hoje nós não temos tantos elementos e estudos preciosos, que necessitam de séries históricas de 30, 40 e 50 anos para falar com pouco mais de certeza se os efeitos extremos estão se tornando mais comuns. É uma falha da comunidade científica nacional", revela a professora.


O CICLO DE VIDA DE UMA TEMPESTADE

Fase de desenvolvimento - Nuvens cúmulos (em geral, em formato de cogumelos). Nesse estágio, que normalmente dura dez minutos, há pouca ou nenhuma chuva e raios ocasionais.

Fase madura - Nessa etapa, ocorrem os episódios mais significativos de chuva, raios e ventos fortes. Em casos mais raros podem ocorrer granizo e, mais ocasionalmente, tornados. Essa fase costuma durar 20 minutos, mas algumas tempestades podem ser muito mais longas.

Fase de Dissipação - A chuva perde intensidade. Ventos fortes podem ocorrer. Raios continuam a oferecer perigo.

Infográfico: arte Max e editoria

Temperatura sobe dois graus em 30 anos

A meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Neide Oliveira, afirma que o aquecimento global - fruto da própria ação humana - fez com que a temperatura em todo o mundo aumentasse de um a dois graus em todo o planeta nos últimos 30 anos.

Essa constatação pode ser observada também em Santos, ao levar em consideração as informações referentes à temperatura máxima na Cidade publicadas por A Tribuna, durante os primeiros 15 dias do ano.

Vale lembrar que os dados não são confirmados por órgãos oficiais, devido à complexidade de se fazer esse trabalho em um curto período de tempo.

O ano passado foi um dos mais quentes dos últimos 60 anos, conforme a Organização Meteorológica Mundial, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU).

Em julho último, a temperatura média foi de três graus a mais em boa parte da Argentina, Paraguai, Bolívia, Sudeste e Sul do Brasil. Alguns desses locais registraram o mês mais quente desde 1960.

Os efeitos climáticos por conta disso foram sentidos com mais intensidade a partir dessa década. Por exemplo, as rajadas de vento estão mais fortes, assim como o calor. As pancadas de chuva são cada vez mais comuns, enquanto as secas se prolongam por mais tempo do que anteriormente.

"Uma variação grande como essa em um período tão curto é preocupante, porque além de afetar os seres humanos, prejudica a flora e a fauna de diversas regiões do mundo", diz Neide.

As chuvas intensas em Minas Gerais, Rio de Janeiro, além das regiões Norte, Leste e Sul de São Paulo devem continuar até o início do inverno, devido à ação da Zona de Convergência do Atlântico Sul.

Conforme a meteorologista, que há 26 [anos] trabalha no Inmet, o La Niña também influencia bastante a temperatura no Brasil, que estará de um a dois graus acima da média.

Registros oficiais em Santos

Ano máxima (em graus)/dia mínima (em graus)/dia
2003 41,0 (12/11)   9,7 (18/8)
2004 37,0 (22/ 9) 10,8 (26/7)
2005 39,0 (29/ 8) 11,5 (26/7)
2006 39,1 (15/ 9)   8,3 (22/8)
2007 38,1 ( 9/ 3)   6,8 (30/7)
2008 35,2 (10/ 2) 12,0 ( 7/5)
Fonte: Base Aérea de Santos - colaboração José Costeira

Índice pluviométrico não teve alteração significativa

A professora Luci Nunes afirma que atualmente há menos dias de chuva, mas quando elas acontecem são mais fortes e concentrada,s o que traz problemas à população. As conclusões estão disponíveis no mestrado da geógrafa Andréa Koga, orientado pela docente.

O trabalho aponta que os índices pluviométricos nas décadas de 1960 e 1970 foram praticamente os mesmos dos anos 1980 e 1990. Entretanto, houve aumento na freqüência de eventos extremos, como prejuízos ao meio-ambiente, materiais e mortes.

Também orientada por ela, a tese de mestrado em Geografia de Ricardo Araki revela que o número de deslizamentos em Guarujá não está ligado ao crescimento de índice pluviométrico.

Número

518 deslizamentos

foram registrados em Guarujá na década de 1990

  

Enquanto de 1965 a 1988 ocorreram 81 escorregamentos, na década de 1990 tais casos somaram 518. "Deslizamentos fazem parte da evolução do planeta. A partir do momento em que esse ambiente (morros e encostas) é alterado pela população, que vive nessas áreas instáveis, a probabilidade de acidentes é maior".

"Outro fenômeno como um furacão acontecerá novamente, mas não dá para precisar quando isso ocorrerá"

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Luci Hidalgo Nunes,

Professora do Instituto de Geociências da Unicamp

Cânion urbano

Segundo a docente da Unicamp, Santos é uma das cidades onde estão localizados os chamados cânions urbanos, que são corredores artificiais de ventos nas avenidas, devido ás edificações mais altas.

"Isso não é bom, porque a brisa marítima deixa de circular mais livremente para o interior da Cidade", diz Luci Nunes.

Glossário

Zona de Convergência do Atlântico Sul - Consiste numa banda de nebulosidade semi-estacionária, que se estende desde o Sul da Amazônia, passando pela Região Centro-Oeste e prolongando-se para o Oceano Atlântico, acarretando chuvas que podem ser intensas.

La Niña - O fenômeno La Niña é o resfriamento anômalo das águas superficiais no Oceano Pacífico Equatorial Central e Oriental. De modo geral, pode-se dizer que La Niña é o oposto do El Niño, pois as temperaturas habituais da água do mar à superfície nesta região situam-se em torno de 25º C, ao passo que, durante o episódio La Niña, tais temperaturas diminuem de 23º a 22º C.

Ciclone extra-tropical - Possui dimensões da ordem de centenas de quilômetros e começa no oceano, em situações de baixa pressão atmosférica. No entanto, sua formação não depende da temperatura da água. A temperatura no interior do ciclone é mais baixa que a exterior. Diferentemente do furacão, os ventos rodam no mesmo sentido.

Furacão - Também é um fenômeno atmosférico de dimensões de centenas de quilômetros. Ele se forma nas águas quentes (temperatura maior que 27 graus Celsius) dos oceanos tropicais, apresentando temperaturas altas em seu interior. A intensidade dos furacões é classificada em categorias, de um a cinco.

 

Na edição de 19 de janeiro de 2009, na página A-4, o jornal A Tribuna registrou:

 

FOTO-LEITOR

As imagens feitas às 17h30 do sábado pela leitora de A Tribuna Marta Zanetti, a partir da Rua Delfim Moreira, no Canal 5, em Santos, mostram que havia pré-condições para a formação de um tornado, segundo análise do professor de Física e Astronomia Rodolfo Bonafim.


Foto publicada com a matéria

Estudioso em Climatologia e vice-presidente da ONG Amigos da Água, Bonafim diz que a leitora capturou a imagem de um cumulus nimbus com o topo espesso e descendo em espiral. Cumulus nimbus são nuvens que causam fortes rajadas de vento e chuvas intensas, com grande desenvolvimento vertical, com seu topo em formato de bigorna podendo atingir até 18 km de altura.


Foto publicada com a matéria

"A fotografia mostra uma nuvem começando a formar o funil de um tornado. São imagens impressionantes", diz ele. A leitora conta que o vento empurrava as nuvens com força e no final formavam um grande cone. "Depois disso, veio a chuva forte e tanto o vento quanto a chuva faziam movimentos circulares", diz Marta Zanetti.


Foto publicada com a matéria

 

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ESPECIAL NM: Duas crianças brincam com o planeta Terra (OUT/1997)

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