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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - VISITANTES
Affonso Penna, em 1906 e 1909 (B)

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Logo que foi eleito presidente da República, Affonso Augusto Moreira Penna visitou Santos (que já havia conhecido na juventude, por volta de 1871), em 1906, e voltou à cidade em 1909, dois meses antes de sua morte.

O bisneto do presidente, que tem o mesmo nome, enviou a Novo Milênio em junho de 2012 cópias das páginas 303 a 314 do livro A viagem de Affonso Penna, escrito pelo jornalista Paulo Vidal (que acompanhou a comitiva como correspondente do Jornal do Brasil), editado em 1907 pela Coleção Miguel Calmon/Museu Histórico Nacional. No contato com este site, explica Affonso Penna que seu bisavô fez a viagem "após sua eleição (março/1906) e antes da posse (15/11/1906) para melhor conhecer os problemas de cada região do nosso país. Não se limitou a visitar a capital de cada estado, tendo ido a várias cidades do interior".

Citou um resumo da viagem conforme o engenheiro Álvaro da Silveira: "de 12/5/1906 a 24/8/1906, percorreu 16.112 km por águas oceânicas e fluviais, além de 5.317 km por ferrovias". Chegou no porto de Santos em 29/7/1906, como citado na obra de Paulo Vidal (ortografia atualizada nesta transcrição):


Imagem: reprodução da página 303 do livro de Paulo Vidal

No Estado de São Paulo

S. Paulo, 29 de julho - Manhã clara, muito linda e fresca, com o sol a dourar os cumes das montanhas, tendo pulverizações de luz para todas as coisas, a de hoje, ao entrar o Maranhão no canal da barra de Santos, ao encontrar-se com lanchas e com a esquadrilha de dragas pertencentes à Companhia Docas de Santos, esse colosso a quem a velha cidade dos Andradas tanto deve do seu progresso material, do seu bem estar.

Às 7 horas o Maranhão, depois de andar mais de dois quilômetros, tendo à margem esquerda os domínios da Companhia, depois de ser saudada a sua entrada por mais de duzentos tiros de morteiros, atracava e amarrava à doca Paquetá, uma das mais afastadas da cidade e que estava cheia de povo, que invadiu o vapor, ansioso por ver o dr. Affonso Penna, por saudá-lo. Recebido pelo presidente da Câmara Municipal, dr. Almeida Moraes, pelo dr. Candido Gaffré, diretor da Companhia Docas, pelo mundo oficial e por todas as autoridades locais, s. excia. desembarcou daí a pouco, pisando terra paulista, entre os aplausos da multidão.

Nessa ocasião, chegava, em carro, o dr. Jorge Tibiriçá, presidente do Estado, em companhia do dr. Lacerda Franco e do dr. Pinheiro e Prado, chefe de polícia em exercício. O sr. presidente eleito abraçou o dr. Tibiriçá e juntos embarcaram em um bonde a vapor, que os levou à Vila Macuco, aos Outeirinhos e a outros pontos onde a Companhia Docas de Santos tem oficinas, tem trapiches, tem minas, tem pedreiras em vias de exploração. Acompanhou-os o dr. Gaffré e o sr. conselheiro Affonso Penna tudo visitou minuciosamente, percorrendo aquelas construções imensa, aquelas colossais oficinas, onde têm trabalho mais de dois mil homens e teve frases de francos elogios.

É grande, enorme, a mudança que Santos tem tido de alguns anos a esta parte. Conhecíamos muito a velha cidade e a última vez que nela estivemos foi em 1898, há oito anos, portanto. Mas nesse curto prazo ela ampliou extraordinariamente, alindou-se e hoje nada resta da feia Santos de então, porque tem formosas avenidas, construções artísticas, porque é toda calçada, bem iluminada, é uma cidade grande, moderna enfim.

Concluída a visita às instalações da Companhia das Docas, o dr. Affonso Penna foi conduzido, ainda em bonde a vapor, para a praia José Menino, para essa praia pitoresca, em alto mar, sendo-lhe ali, no elegante Hotel Internacional, oferecido pela Câmara Municipal um banquete de cem talheres. S. excia. foi saudado, em nome da Câmara de Santos, pelo vereador dr. Soter de Araújo, e s. excia. respondeu agradecendo, felicitando Santos pelo seu progresso: disse sentir-se jubiloso por esse motivo e ainda por chegar ao Estado de S. Paulo justamente na ocasião em que as duas facções políticas militantes acabavam de congraçar-se, de formar um só partido, o que certamente havia de redundar em benefício do Estado.

Houve ainda uma saudação ao dr. Jorge Tibiriçá, que fez o brinde de honra ao presidente da República.

Às 3 horas estava terminado o banquete e, embarcando nos bondes especiais que o aguardavam, o dr. Affonso Penna dirigiu-se à estação da S. Paulo Railway, onde tomou o trem especial que, às 4 horas, partia para a capital.

A nova estrada da S. Paulo Railway foi uma verdadeira surpresa para s. excia., que admirou com verdadeiro entusiasmo essa prodigiosa obra d'arte, essa subida da serra do Cubatão. O superintendente da estrada, sr. William Speers, e o chefe do tráfego, sr. Fidelis, iam explicando a s. excia. os diversos trabalhos. É, incontestavelmente, uma das mais bem feitas estradas da América do Sul, a da S. Paulo Railway, com os seus doze túneis, com os seus quinze viadutos, cada qual mais alto, cada qual dando para um mais profundo despenhadeiro.

Antes das 6 horas, o especial entrava na estação da Luz, na capital, e o dr. Affonso Penna desembarcava, recebendo cá fora, no largo, em frente à estação, onde estavam formados mais de dois mil homens da Força Pública do Estado, uma verdadeira ovação da multidão que ali se aglomerava.

Tomando um landau do palácio, em companhia do dr. Tibiriçá, escoltado por um piquete de cavalaria, s. excia. dirigiu-se imediatamente ao palacete Prates, na Alameda dos Bambus, onde ficou hospedado com seu filho dr. Alvaro Penna, drs. Aarão Reis e Sá Freire.

Os jornalistas da comitiva foram hospedados na Rotisserie Sportman, à Rua de S. Bento.

Às 7 horas havia, no Salão Steinway, um banquete político oferecido ao dr. Fernando Prestes. O dr. Affonso Penna foi convidado, mas escusou-se, alegando cansaço, e ficou em casa, nesse palacete belíssimo, luxuosamente preparado e onde se viam flores por toda parte, flores em profusão.

A cidade estava toda iluminada a pequeninas lâmpadas elétricas de cores, formando as abóbadas; as árvores resplandeciam de luzes, o aspecto era feérico, de um todo de cidade europeia, não lhe faltando nem os bulevares, de que se vê um trecho no antigo Largo do Rosário.


Imagem: reprodução parcial da página 306 do livro de Paulo Vidal

30 de julho - Não cabe aqui, nas crônicas de um ligeiro diário de viagem, enumerar ou salientar os inúmeros, enormes progressos materiais da capital do Estado de S. Paulo, desta cidade que deve ser o orgulho dos brasileiros. Quem, como nós, dela esteve ausente por alguns anos, ao vê-la novamente, sente verdadeira surpresa e, embora não queira fazê-lo, ao contemplar as belezas de arte, de estética, acumuladas em São Paulo, terá exclamações de legítima admiração. Porque S. Paulo é, em tudo, diferente das demais cidades do nosso imenso país: nos seus usos, nos seus costumes, nas suas construções, no seu comércio, na sua indústria, na sua agricultura até.

É por isso que dizemos não caber aqui, em breves linhas, uma descrição completa, ou mesmo rápida, do S. Paulo de hoje; limitar-nos-emos, pois, a fazer uma resenha muito sucinta, acompanhando o sr. conselheiro Affonso Penna nas suas visitas.

Das de hoje, a primeira de s. excia. foi ao quartel de polícia, ao chamado Quartel da Luz, situado na Avenida Tiradentes, onde foi recebido com as formalidades que lhe são devidas, percorrendo, acompanhado da oficialidade, as diversas dependências, tendo motivos para louvar a ordem, o asseio, a disciplina, as magníficas instalações que ia encontrando.

Esteve depois no Hospital Militar, belíssimo edifício, situado nos fundos do quartel, e dali, em um bonde a vapor da Cantareira, foi ao alto de Sant'Anna, onde está o quartel do contingente do 28 de infantaria do Exército, velho pardieiro, em ruínas, a cair.

Teve, assim, mais uma ocasião de ver o abandono em que estão os quartéis das forças federais em quase todos os Estados e, no do 28º, s. excia. foi o primeiro a reconhecer que o contingente não pode, absolutamente, continuar ali.

De regresso à cidade, s. excia. almoçou no palacete Prates; durante a tarde fez longo passeio pela cidade, visitando repartições estaduais, instaladas todas em verdadeiros palácios, e, à noite, ainda naquele palacete, resplandecente de luzes, ofereceu um banquete ao sr. presidente do Estado e a mais alguns políticos em evidência.

Dentre os melhoramentos mais notáveis, introduzidos em S. Pauo, avulta o do Largo do Rosário, onde existia a velha, a colonial igreja, que tornava esse centro da cidade um local feio, sem a menor noção da estética: a igreja foi demolida e, em uma parte do seu terreno, salvada do alinhamento do largo, ergue-se suntuoso edifício de cinco ou seis andares, à americana. no centro do largo fizeram-se abrigos arborizados e com os demais edifícios que existem em volta, com os luxuosos estabelecimentos, com a iluminação abundantíssima, tem-se do atual Largo do Rosário a impressão perfeita de um trecho de brilhante bulevar.

Das velhas construções da Rua Quinze de Novembro, nada mais existe; em seu lugar levantam-se suntuosos palácios e, a rematá-la, lá está a bela Galeria de Cristal, ligando essa rua com a da Boa Vista; as ruas Direita e de S. Bento e Largo de S. Bento, sofreram as mesmas alterações: armazéns elegantes ocupam prédios de três e mais andares, construídos conforme as mais modernas regras de arte e de progresso; a eletricidade derrama profusamente ondas de luz; os trottoirs são largos, cimentados caprichosamente e o calçamento é dos mais cômodos e aperfeiçoados. A limpeza dessas ruas, como do resto da cidade, é irrepreensível; o serviço de carruagens de primeira ordem e o de policiamento pode muito muito  (N.E.: SIC) bem servir de modelo a qualquer outra cidade.

Muito breve vai ser demolido todo o extenso quarteirão, compreendido entre o Largo da Sé, ruas da Esperança e Marechal Deodoro e Praça João Mendes, e em lugar dos feios edifícios nele existentes, e entre os quais se acha a Catedral, erguer-se-ão uma Catedral suntuosa e palácios para Correios, Telégrafos e Congresso do Estado, sendo que o edifício em que o Congresso funciona atualmente passará à Câmara Municipal.

Está em construção, adiantadíssima, devendo ficar pronto dentro de alguns meses, o Teatro Municipal, na Rua Barão de Itapetininga, ocupando terrenos, cujos flancos são nas ruas Formosa e Conselheiro Crispiniano. Esse teatro, de estilo leve e elegante, de linhas arquitetônicas finíssimas, sem grandes blocos de cantaria, sem colunas grossas e feias, com lotação grande, superior à do Municipal do Rio, fica à Municipalidade em dois mil e quinhentos contos, tendo o governo do Estado entrado com o terreno.

Ainda hoje está lindíssima a iluminação da cidade; as ruas do triângulo, Quinze de Novembro, S. Bento e Direita, formam extenso túnel de luz elétrica, derramada por milhares e milhares de pequeninas lâmpadas de core, dispostas em arco, e as árvores do Largo do Rosário, cheias internamente, entre as folhagens, dessas mesmas lâmpadas, dão ideia de cenas de mágica, formando o todo uma aspecto deslumbrante.

Nos jardins há concertos de bandas musicais; uma verdadeira multidão acotovela-se por essas ruas, passam equipagens riquíssimas; das confeitarias, dos bares, saem os ecos das orquestras, dos quintetos, dos sextetos, a executarem programas escolhidos; faz frio, pois o termômetro marca seis ou sete graus apenas.


Imagem: reprodução parcial da página 309 do livro de Paulo Vidal

31 de junho (N. E.: SIC - correto é 31 de julho) - Se bem que demolida no Largo do Rosário, para em seu lugar ser levantado um palácio, não desapareceu a igreja do Rosário; é que em vez da velha, da colonial edificação, construíram, em outro ponto, mais vasta, mais ampla, uma igreja moderna, misto de gótico e renascença, de arquitetura sóbria, mas elegante, e lá está a Virgem do Rosário. É no Largo do Paissandu, a dois passos do centro, em plena Rua São João, em meio de viçoso jardim, que se ergue o novo templo, prestes a ser entregue à devoção dos fiéis.

O sr. conselheiro Affonso Penna visitou hoje o Hospital de Isolamento, no Araçá, esse estabelecimento modelo, esplêndido, que de hospital só tem o nome, porquanto mais parece um parque, semeado dos pequenos pavilhões do isolamento.

Percorreu a Avenida Paulista, essa exposição do gosto artístico em construções particulares, em palacetes, em vilas; esteve na Academia de Direito, nessa velha Escola, que s. excia. cursou quando moço; esteve na Escola de Farmácia, na Politécnica, belo palácio, levantado recentemente em uma das ruas transversais da Avenida Tiradentes; visitou o quartel da Guarda Cívica, na Rua do Hospício, no antigo Hospital de Alienados, e de todas essas visitas, de todas essas excursões, recebeu a melhor, a mais grata das impressões.

Uma teve, todavia, entre toda, que mais agradou a s. excia., que mais lhe falou à alma: foi a das escolas: da Escola Normal, das Escolas Modelos, do Jardim da Infância, deste último principalmente, anexo à Escola Normal, onde centenas de gárrulas crianças, coradas, sadias, em um chilrear constante de passarada irrequieta, fizeram a s. excia. a mais tocante, a mais bela das manifestações.

Agradou-lhe imenso a Escola Normal, com o seu vastíssimo e moderno edifício, com todos os seus aperfeiçoamentos, e de s. excia. tivemos ocasião de ouvir que, no tocante à instrução primária e secundária, S. Paulo atingiu o limite do possível e nada mais tem a fazer. Os grupos escolares têm edifícios magníficos, construídos expressamente; citaremos, entre outros, os do Braz, o Caetano de Campos, Prudente de Moraes e Cesario Motta, esse grande, esse imortal paulista, a quem São Paulo deve o que hoje tem em instrução pública.

A Praça da República é outra; não é mais aquele vasto campo, abrigo de vagabundos e de circos de cavalinhos, receptáculo de canos de esgoto e de lixo, campo de montanhas russas, escuro, abandonado, por onde até bem pouco tempo era perigoso transitar à noite. Hoje é um formoso jardim, todo aberto, recortado de canais e pontes, de lagos com largos tabuleiros de relva, com abundância de flores e de luzes, com largas ruas ensaibradas, por onde bandos de crianças correm, nestas frias tardes de inverno, risonhas e contentes, vigiadas de longe pelas amas; é o jardim das crianças.

É abundante e escolhida a arborização das ruas; não há uma rua um pouco afastada do centro da cidade, que não tenha longas filas de árvores, de copa alta, diferentes todas, projetando sua benéfica sombra no passeio. Nas avenidas, essas filas são às três e às quatro; citaremos, como exemplo, a Avenida Tiradentes, com quatro renques de árvores, a Rangel Pestana, a da Independência. A várzea do Carmo, esse feio trecho de cidade, que divide o centro do populoso Braz, está em via de embelezamento, com a canalização do Tamanduateí, aterro e ajardinamento de toda a várzea, desde a Moóca ao Pari.

Uma coisa tem ainda tem ainda S. Paulo de cuja primazia se pode vangloriar: é o Conservatório Dramático Musical, fundado em 15 de fevereiro e instalado a 1 de março último, funcionando em excelente prédio na Rua do Seminário, no ângulo formado pela Rua Brigadeiro Tobias e Ladeira Santa Ifigênia.

Parece-nos ser o único estabelecimento dessa espécie, existente no Brasil, e a sua fundação é, em grande parte, devida ao dr. P. A. Gomes Cardim, que, à custa de festas e benefícios teatrais, formou um pecúlio, com o qual procedeu à instalação do Conservatório, obtendo depois um auxílio do Governo e outro da Municipalidade, e hoje o Conservatório, com poucos meses de existência, tem completa a matrícula de todos os seus numerosos cursos, rejeitando diariamente alunos.

Tem, como professores, os primeiros da capital paulista, formando associação: são diretores o senador dr. Lacerda Franco, presidente; dr. P. A. Gomes Cardim, secretário; e dr. Carlos de Campos, tesoureiro.

Entre os professores estão os drs. Wencesláu de Queiroz e Pinheiro da Cunha e os srs. Felix Otero, Gomes de Araujo, Chiaffarelli, Bastiani, Florense, Tagliaerro e H. Araujo.

Hoje, à noite, houve recepção no palácio do Governo, dada pelo dr. Jorge Tibiriçá, em honra ao sr. conselheiro Affonso Penna.

O palácio estava adornado artisticamente, só a flores naturais, camélias e orquídeas, e lâmpadas elétricas a cores.

Durante as duas horas da recepção, das 7 1/2 às 9 1/2, desfilaram por aqueles salões os representantes de tudo quanto S. Paulo tem de melhor no mundo político, nas finanças, no comércio, na magistratura, nas letras, nas artes; e do luxo, da pujança desta cidade, davam atestado as luxuosíssimas equipagens, os automóveis que enchiam o espaço a isso destinado.

O jardim fronteiro ao palácio estava também profusamente iluminado, e, no coreto ali existente, a banda da polícia, reunida, com um total de cerca de 90 figuras, sob a regência do maestro Antão, executava um programa belíssimo, aplaudido pela verdadeira multidão que enchia o jardim.


Imagem: reprodução parcial da página 312 do livro de Paulo Vidal

1 de agosto - Sob o ponto de vista industrial, S. Paulo tem progredido igualmente de um modo espantoso, e as suas fábricas, as suas numerosas usinas, estendem-se, dia a dia, aumentando as suas áreas de terrenos e de edificações. Fábricas de tecidos e de chapéus, fundições, moinhos, toda uma longa série de alveares de trabalho, onde milhares de indivíduos encontram os meios de subsistência, existem na capital paulista e em todo o estado, e pena é ser tão rápida, tão curta a nossa viagem, que não nos dá tempo de colher os dados necessários a uma descrição ampla, completa, do S. Paulo Industrial.

O serviço de bondes é admirável, e pena é não ser imitado aí no Rio; o descer dos carros, em movimento, nem do lado da entrelinha, o que é obstado por uma trave movediça; o não ser permitido fumar nos primeiros três bancos, nem viajar na plataforma e no estribo, constituem outras tantas garantias e comodidades para o público, a que nós, na capital da República, não estamos absolutamente acostumados.

Acresce que tudo isso é feito naturalmente, sem um protesto, sem uma reclamação; o passageiro não discute com o condutor, nem este com aquele; o fardamento do condutor e do motorneiro são irrepreensíveis e, o que é mais, há bondes amiúde para todas as linhas e a demora nos pontos terminais não é de um minuto; de sorte que, em S. Paulo, há de fato vantagem em se viajar de bonde, para andar depressa.

Dois outros arrabaldes da capital, que sofreram consideráveis melhoramentos nestes últimos anos, foram os da Consolação e Liberdade a Vila Mariana, um e outro alongados, com as ruas calçadas e bem arborizadas, possuindo lindíssimas construções particulares.

Abrem-se ruas em diversos pontos, mesmo no centro, e, até, na Rua Florêncio de Abreu, há uma rua que lhe passa por baixo.

O sr. conselheiro Affonso Penna esteve hoje no Posto Zootécnico da Moóca, estabelecimento estadual recentemente criado, em ótimas condições, e dessa visita trouxe agradabilíssima impressão, tal o aperfeiçoamento dos sistemas nele introduzidos, tal a variedade de animais domésticos, importados das diversas partes do mundo, para cruzamento e melhora das produções.

Faltou tempo a s. excia. para outras visitas: o Museu do Ipiranga, os reservatórios da Cantareira, Água Branca, o delicioso arrabalde Higienópolis e outros, tantos outros pontos que tornam S. Paulo a cidade lindíssima que hoje é.

Hoje devíamos ter partido para Santos, onde, embarcando no Maranhão, seguiríamos para o Sul. Atendendo, porém, ao convite do sr. presidente da República de assistir amanhã, no Rio, ás festas em honra ao sr. general Elihu Root, o dr. Affonso Penna resolveu embarcar para o Rio, e, às 6 1/2 da tarde, um especial da E. F. Central nos levará em demanda da capital da República.


Imagem: reprodução parcial da página 314 do livro de Paulo Vidal

De S. Paulo ao Rio

2 de agosto - Em todas as estações da Central, desde S. Paulo até o Rio, o sr. conselheiro Affonso Penna recebeu manifestações de apreço: bandas de música, foguetaria, flores, discursos, crianças de colégios com estandartes e multidão imensa, de encher a gare, eis o que esperava s. excia. em todas as estações em que o especial parava.

Às 6 1/2 da manhã, dávamos entrada na gare da Central de onde s. excia. tomando um landau de palácio, recolheu-se ao Grande Hotel.

Do Rio ao Paraná

3 de agosto - Foi curta, de dois dias apenas, a demora do sr. presidente eleito da República no Rio de Janeiro, o tempo estritamente necessário para assistir, no Catete, ao banquete oferecido pelo dr. Rodrigues Alves ao general Root, e, no Itamaraty, ao baile que o sr. ministro das relações exteriores ofereceu ao mesmo general; afora isso, uma visita ao Palácio da Exposição, apresentações e revistas.

[...]

Ainda segundo o bisneto do presidente Affonso Penna, este voltou a Santos para a inauguração da Escola de Aprendizes Marinheiros, em 5 de abril de 1909, pouco antes de seu falecimento em 14 de junho daquele ano. Affonso citou o artigo de J. Muniz Jr. publicado em Novo Milênio, completando: "Depois da visita a Santos, já acometido de pneumonia, inaugurou uma usina hidrelétrica em Areal/RJ".