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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BIBLIOTECA - TEATROS
Memórias do Teatro de Santos (19)


Clique na imagem para voltar ao índice da obraComo em muitas outras cidades brasileiras, a memória do teatro santista raramente é registrada de modo ordenado que permita acompanhar sua história e evolução, bem como avaliar a importância dos artistas no contexto nacional, rememorando as grandes atuações, as principais montagens etc.

Uma tentativa neste sentido foi feita na década de 1990 pela crítica teatral santista Carmelinda Guimarães, que compilou depoimentos escritos e orais, documentos e outros registros, nas Memórias do Teatro de Santos - livro publicado pela Prefeitura de Santos em 1996, com produção de Marcelo Di Renzo, capa de Mônica Mathias, foto digitalizada por Roberto Konda. A impressão foi da Prodesan Gráfica.

Esta primeira edição digital em Novo Milênio foi autorizada pela autora, Carmelinda Guimarães, em 6 de janeiro de 2011. O exemplar aqui utilizado foi cedido pelo ator santista Osvaldo de Araujo:

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Memórias do Teatro de Santos

Carmelinda Guimarães

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Lendas e Mitos da Cidade de Santos

Por várias gerações, o teatro grego tem influenciado a dramaturgia ocidental. Encenadas em várias partes do mundo, as tragédias gregas continuam desafiando o mundo moderno.

O homem evoluiu de tal forma que muitas vezes nos perguntamos qual a receita que dramaturgos como Ésquilo, Sófocles e Eurípedes utilizaram para perpetuar suas obras. Ao ler ou assistir tragédias gregas em montagens tradicionais ou contemporâneas é fácil perceber o fenômeno: o segredo reside no conteúdo – elas retratam as lendas e os mitos do povo grego. A dramaturgia grega é toda ela inspirada na Ilíada e Odisséia, de Homero. Um homem que se preocupou em registrar a cultura espontânea herdada através da tradição oral de seu povo que os historiadores denominam de Literatura Folclórica. Por entender que o folclore é uma ciência sociocultural que estuda a cultura espontânea do povo numa sociedade letrada, por orientação da nossa coordenadora Carmelinda Guimarães fui vasculhar a Literatura Folclórica da cidade de Santos.

Ao ler Lendas e Tradições de uma Velha Cidade, de autoria do historiador Francisco Martins dos Santos, fiquei surpresa por já conhecer algumas estórias.

Não havia lido em livros. Ouvi quando criança Dona Manuela, nossa vizinha portuguesa, contar do Milagre de Nossa Senhora do Monte Serrat cada vez que íamos ao sopé do Morro São Bento assistir a procissão passar.

Sempre fui condicionada pela sociedade letrada a compreender que lendas são relatos do povo que não possuem fundamento por não existir comprovação através de documentos.

Hoje, atuando como coletora de dados e pesquisando timidamente a aculturação de nossas lendas e mitos, percebo a importância dessa cultura.

Segundo as folcloristas Julieta e Fernanda Macruz, "o vocábulo Lenda vem de legenda, isto é, aquilo que está sendo lido pelo lente (aquele que lê), é fruto de ensino medieval religioso... refere-se a milagres ocorridos com os santos e tinha como finalidade induzir à piedade os católicos. As lendas se folclorizavam. Sempre um processo de popularização, trazendo para o âmbito do folclore os retratos do maravilhoso, cujas fantasias convidam a penetrar no universo do encantamento, onde há a solução desejada pelo leitor ou pelo ouvinte".

"Os Mitos ou assombrações tratam da descrição de seres, fenômenos ou ocorrências relatadas como sobrenaturais e com ação no céu, na terra e na água. A mitologia não é o estágio primitivo da religião. É o acervo de nossos  mitos: projeções culturais que personificam fantasias humanas de poder, feiúra, assombro, até mesmo autoridade, com vivência cultural limitada ao seu campo de atuação. Aparecem, agem e somem. Mito é crendice e não crença.

A lenda mais antiga de nossa cidade é o Milagre de N. Sra. do Monte Serrat. É a padroeira de nossa cidade. Foi trazida para o Brasil por Braz Cubas, que era devoto da santa francesa e para ela mandou erigir uma capela no morro que mais tarde recebeu o nome da padroeira. Em 1542, ao ser invadida a cidade por piratas ingleses, o povo subiu o morro em busca de proteção. Os piratas, após saquear e incendiar a cidade, saem no encalço dos moradores com o objetivo principal de saquear a igreja. Em determinado momento ocorre uma espécie de terremoto. Uma avalanche de terra abate-se sobre os invasores que fogem apavorados. O povo entendeu que Nª. Sra. fez com que os invasores não os maltratassem. Para o povo ocorreu um milagre. (N.E. a história é aqui descrita de forma folclorizada, a história registra de modo diferente: a imagem da padroeira foi trazida da Espanha em 1590 pelo governador-geral do Brasil, d. Francisco de Souza, e o ataque pirata, dos holandeses comandados por Spielbergen, foi em 1615).

Em 1860 a cia. canadense São Paulo Railway Company, ao adquirir toda margem esquerda do Valongo, resolve destruir a atual Igrejinha do Valongo para ampliar a nova estação ferroviária. A população e a Ordem de São Francisco se mobilizaram, mas de nada adiantaram os protestos e pedidos. A ordem da demolição fora autorizada pelo Império. Trabalhadores iniciam a remoção interna para o início dos trabalhos.

Para surpresa de todos, a imagem de Santo Antônio do Valongo não sai do nicho devido ao peso descomunal que a mesma adquire. A população, do lado de fora, rezando, e segundo o povo ocorreu um milagre. Apavorados, os trabalhadores abandonam o local e se recusam a obedecer a ordem de demolir a igrejinha.

A Pedra da Feiticeira – Recebeu este nome devido a uma velha maltrapilha e feia que residia numa cabana atrás da pedra localizada antigamente perto do Corpo de Bombeiros. A pedra hoje não mais existe, uma vez que foi dinamitada. No entanto, conta-se que a feiticeira assustava toda a população do centro. Era tão feia que só saía à noite. A imaginação popular atribuía mil peripécias à sua feiticeira. Na verdade, em 1850 todos descobrem que a feiticeira era uma viúva que fugiu com um militar abandonando os filhos à própria sorte. Criados pelos parentes, um deles ficou muito próspero: o sr. Antoninho da Alfândega, que, no leito de morte, vítima de tuberculose, é visitado pela feiticeira. Espantados, ouvem o relato da história dela narrada por d. Angelina. A feiticeira veio dar adeus e pedir o perdão de seu filho caçula.

O Fantasma do PaquetáAparecia sempre à meia noite, ora de preto ou de banco, com um lenço enxugando as lágrimas. Acenava para as pessoas após vagar pelas imediações e depois entrava no cemitério. Em 27/07/1900 o jornal Tribuna do Povo registra a intervenção da polícia, que, após tentar capturar o fantasma que amedrontava a população, dispersa a multidão utilizando a cavalaria. Uma vez, na noite em que a polícia ficou de plantão esperando o fantasma, ele não apareceu.

O Fantasma do Municipal – Não se sabe quem foi ou o que fez na vida anterior. Sente-se a sua presença. Dizem que é uma mulher que foi cantora, atriz e bailarina.

A Loira da Divisa – Aparece no José Menino no verão dirigindo um carro vermelho. Unhas longas pintadas de vermelho. Oferece carona aos adolescentes que vão surfar pela madrugada e os contamina com o vírus da Aids.

A Loira dos Taxistas – Bela e sensual. Toma o táxi perto do Bar do Almeida. Seduz os taxistas sem que percebam. Termina seu trajeto na Rua Xavier da Silveira. O beijo dela é gelado e o calafrio que os taxistas sentem os deixa imobilizados. É nesse momento que rouba a féria do dia.

A Loira do Banheiro – É um mito geral de Norte a Sul do País que surgiu na década de 70. Aparece no banheiro das escolas para os meninos. Possui algodão no nariz ou gilete na mão. Às vezes aparece com os pulsos cortados. Dizem que foi aluna que se apaixonou por um professor e ao descobrir que ele era casado suicidou-se no banheiro da escola.

A Dama da Noite – De negro, surgiu num baile da Humanitária. Seduz um rapaz namorador que, ao levá-la até sua casa na Rua Bittencourt, empresta-lhe uma capa. Ao retornar na semana seguinte para buscar a capa, descobre que a moça falecera há muito tempo. Vai até o cemitério do Paquetá e para sua surpresa encontra sua capa sobre a campa. A Dama da Noite virou filme de terror.

Pesquisa de Urivani Rodrigues de Carvalho.

Cena de Metamorfose, com Roberto Arduim. Foto de 1974

Foto publicada com o texto