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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MONTE SERRAT
Os milagres no Monte Serrat

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Originado nos tempos medievais, no Velho Mundo, o culto a Nossa Senhora do Monte Serrat data da época colonial no Brasil e em Santos foi reforçado por diversos episódios considerados milagrosos, tanto que a santa foi escolhida como padroeira da cidade. As duas histórias principais são a da invasão dos piratas holandeses comandados por Spielbergen em 1615 e a do navio a vapor Araguary em 1926.

O jornal santista A Tribuna, na série de reportagens Conheça o seu bairro - Monte Serrate, publicada em 3/6/1982, relata:

(...) Em 1614, quando os holandeses invadiram a Ilha de São Vicente, as populações das vilas de Santos e São Vicente refugiaram-se no monte, rezando e pedindo proteção à Virgem. Quando os invasores aproximaram-se do alto do morro, uma avalanche de pedras matou muitos deles e colocou os demais em fuga. Nossa Senhora do Monte Serrate fizera seu primeiro grande milagre e, desde essa época, a população a considera padroeira de Santos.

Em 1954, quando se completava o centenário da definição do dogma da Imaculada Conceição, o Papa Pio XII decretou o Ano Santo Mariano. Houve festas em todo o mundo e, associando-se aos festejos, a Câmara Municipal de Santos oficializou o título de padroeira a Nossa Senhora do Monte Serrate. No ano seguinte, o Papa ratificou o ato, determinando a coroação canônica.

A Santa é também protetora dos navegantes e a ela se atribui outro grande milagre: livrou o barco nacional Araguary de naufrágio certo, em 1926. Quando os tripulantes já não conseguiam controlar a situação, resolveram ajoelhar-se em um dos conveses, rezar e evocar a Virgem, prometendo celebração de missa em ação de graças se o vapor conseguisse aportar em Santos. No instante seguinte a tempestade cessou e o mar entrou em calmaria.

Por essas e por outras, o Monte Serrate é um dos principais pontos de afluência de romeiros em todo o Brasil e centro de uma das grandes festas religiosas da Igreja Católica. A tradição se renova a cada ano: no dia 5 de setembro, a imagem de Nossa Senhora deixa sua capela e segue, em procissão, para a Catedral, onde é rezado um tríduo. No dia 8 de setembro, consagrado a ela, há missa solene, pela manhã, e à tarde, a imagem volta ao Monte Serrate. Antes de subir o morro, o cortejo pára em frente da Prefeitura, e o chefe do Executivo renova a consagração de Santos à Senhora do Monte. Feriado, a Cidade reza e festeja ao mesmo tempo.

Em sua ermida, no Monte Serrate, a imagem de Nossa Senhora fica no altar-mor, num nicho. A capela, bem simples, não comporta mais de 200 pessoas e ostenta, na parede lateral, um crucifixo de madeira: representa o Senhor do Bonfim, que é conduzido em procissão uma vez por ano, no domingo seguinte à festa da padroeira. Ao lado, uma sala repleta de ex-votos comprova a devoção dos fiéis. Tem de tudo um pouco: fotografias, penas e braços mecânicos, vestidos de noiva e cadernos escolares.

Não há dúvida: quem chega a Santos logo tem sua atenção despertada pela capela branca, que do alto do Monte Serrate domina toda Santos. Durante o dia, é vista de vários pontos: à noite, uma estrela marca o seu lugar no cume da elevação.

A tradição que se perdeu

A tradição que se perdeu no tempo, mas ainda permanece na memória dos mais antigos: no dia 5 de setembro, o povo subia o morro e, durante os dias de festejos, ficava vigiando Santos. Por quê? Ora, à espera do desembarque dos holandeses. A vigília continuava até o momento da oração e do milagre, no dia 8. Aí, todos explodiam em festa, havia queima de fogos e repique de sinos.

Morreu também o costume de se fazer rodas de samba. A cada ano as cenas se repetiam: os batuqueiros subiam o morro e lá ficavam, comendo ou bebendo pinga. O samba da pesada surgia bonito, entre os surdos, pandeiros e cuícas, sempre regado a goles de caninha. A garrafa corria de boca em boca, às escondidas do policiamento.

Em meio à animação, um batuqueiro executava o dizendo no pé, uma reverência, até tocar na perna de outro. Era o que bastava para começar uma dança semelhante à capoeira.

Quando um dos batuqueiros conseguia derrubar o outro, o coro não deixava por menos e cantava: "Facão bateu em baixo, a bananeira caiu..." Se o que caiu queria voltar à forra e não conseguia, se ouvia um outro refrão, em tom de zombaria: "Pau rolô, caiu/lá na mata ninguém viu...". Em compensação, quem ganhava a luta era festejado com um canto de vitória: "Morão! Morão! Vara madura que não cai..."

Esses grupos de batuqueiros chamavam-se Embaixadas. Às vezes, a dança virava briga feia e a brincadeira terminava em ampla e irrestrita pancadaria. Isso quando os rapazes não rolavam as escadarias do monte, de tão embriagados que ficavam. Por essas e por outras, o clero pediu à polícia que acabasse com os batuques no alto do monte.

E os piqueniques que se fazia durante os dias de homenagem à padroeira? José Gonçalves, que trabalha no bar do antigo cassino, ainda se lembra. As famílias se juntavam e lá iam morro acima, carregando leitão, cabrito e garrafão de vinho. Tudo do bom e do melhor. Brincadeiras não faltavam, e imagine-se a gozação que houve quando aqueles quatro homens apareceram carregando um pão de 30 quilos!

Para alguns, nem sempre tudo acabava bem: José Gonçalves recorda aquele final de tarde, a família descendo o morro, o avô com um garrafão de vinho na mão. Alguém se atreveu a mexer com a sua tia e o velho não perdeu tempo: atacou-lhe o garrafão nas costas. Coisas como essa, quem consegue esquecer?

Capela no alto do Monte Serrat (foto: Secom/Prefeitura Municipal de Santos)
Capela no alto do Monte Serrat
Foto: Secom/Prefeitura Municipal de Santos

Outro relato é extraído de História de Santos/Poliantéia Santista (de Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti, 1986, Editora Caudex Ltda., São Vicente/SP) - as imagens abaixo são da primeira vez que a festa foi transmitida por uma câmera Web, ao vivo, pela Internet, em 1999:

Todo aquele que é santista ou mora em Santos conhece a devoção desta terra a Nossa Senhora do Monte Serrat. Todos os anos, a imagem desce da sua capela, no alto do monte, para a Catedral, e volta no dia 8 de setembro, após três dias de homenagens, numa festa popular em que a Cidade é novamente consagrada à sua padroeira.
Missa na Catedral de Santos, com a imagem de 
Nossa Senhora do Monte Serrat presente (à direita na foto)

Missa na Catedral de Santos, com a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat presente (à direita na foto)O culto à mãe de Deus existe desde os primeiros tempos do Cristianismo e o primeiro santuário de que se tem notícia histórica é o da Síria, em 390. O culto mariano foi definido, no Concílio de Éfeso, no ano 431. No fim da Idade Média, a Europa romântica e gótica ergueu muitas igrejas, verdadeiros centros de arte e religião que exaltavam o culto à Virgem Maria.

O culto a Nossa Senhora do Monte Serrat surgiu na Espanha, durante a Reconquista, época de lutas entre os cristãos contra os mouros que tinham invadido a Península Ibérica (Portugal e Espanha). Para escapar aos saques, igrejas e capelas foram desativadas, sendo muitas das suas imagens escondidas.

Segundo a tradição, teria sido um pastor que encontrou, na Catalunha, numa área deserta, uma imagem da Virgem Maria com o menino, dentro de uma caverna. A região tem um relevo muito especial, estranho, de rochas agudas que lembram, no horizonte, os dentes de uma gigantesca serra de cortar. Daí o nome de Monte Serrate. O pico mais alto mede 1.235 metros e chama-se São Jerônimo. Curiosa coincidência com a história do Monte Serrate de Santos, cujo primeiro nome era morro de São Jerônimo. Da Catalunha (Espanha) a devoção a Nossa Senhora do Monte Serrat espalhou-se pela França, Itália, Portugal, Países Baixos, Alemanha, Áustria, Tchecoslováquia e outros.

Exerceu marcante influência nas lendas da cavalaria medieval, como na História de Carlos Magno e os Doze Pares da França.

Celebração litúrgica na Praça José Bonifácio

Celebração litúrgica na Praça José BonifácioTrazido pelos espanhóis, veio o culto para a América Central, ainda na época de Colombo, e depois para o México, Peru, Equador, entre outros. De Portugal chegou à Bahia, no tempo de Tomé de Sousa e o "...Santuário de Nossa Senhora do Monteserrate, protetora da Catalunha, fundaram Senhores da Torre que chamam Garcia Dias Ávila..." (antes de 1580), segundo frei Santa Maria no Santuário Mariano de 1723.

O grande impulso a essa devoção foi dado por D. Francisco de Sousa, governador geral, viajando pela Bahia, Paraíba, Rio de Janeiro, São Paulo, Santos e Sorocaba. D. Francisco chegou a Santos em 1599, em pleno período espanhol, e governou o Brasil até 1605. Voltou novamente ao Brasil em 1608, para governar a Repartição do Sul e morreu pobre, em 1611.

Um requerimento de frei Bernardo de Braga, provincial da Ordem de São Bento, informa que D. Francisco de Sousa "... foi o que fez a ermida e pôs a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat na Vila de Santos e a dava aos provinciais de São Bento, se na dita vila assistissem...".

Três pessoas podem ter projetado e construído a Capela do Monte Serrat: Irmão Francisco Dias, jesuíta, português e arquiteto; o florentino Baccio de Filicaia, o alemão Geraldo Betting, engenheiros, todos amigos de d. Francisco. As fontes não esclarecem o ano da construção, sendo aceito o período de 1599 e 1605 ou entre 1609 e 1611.

Multidão aguarda a chegada da procissão no alto do 
Caminho Monsenhor Moreira, no Monte Serrat

Multidão aguarda a chegada da procissão no alto do Caminho Monsenhor Moreira, no Monte SerratA capela foi construída segundo um modelo funcional e simples que, devido a condições semelhantes de propósitos e meios, foi repetido em todo o Brasil. A construção sofreu muitas alterações e ampliações nos seus quase quatro séculos de existência. Hoje, a igreja é de responsabilidade da Mitra Diocesana de Santos, assim como o Mosteiro de São Bento, que antigamente estavam, os dois, aos cuidados da Ordem de São Bento (tradicional guardiã dos Santuários do Monte Serrat).

A subida do monte é feita pelo caminho Monsenhor Moreira, onde há 14 quadros em bronze da Via-Sacra, inaugurados entre 1939 e 1941.

Em Santos existem duas imagens bem diferentes. Na Igreja do Carmo, existe uma réplica da original da N. S. do Carmo, que é do século XI ou XII, em estilo romântico, em madeira, pintada de dourado. Pelo fato de a madeira estar negra, é chamada de "La Moreneta".

Segundo a tradição, a imagem achada no Monte Serrate teria vindo de Jerusalém para a Espanha e por isso ela é também chamada de "Jerusalamita".

Uma reportagem do antigo O Diário encontrou e fotografou uma imagem que foi apontada como a primeira imagem do Monte Serrat. A fotografia mostra a madona numa cadeira barroca, tendo na base dois anjos serrando um monte, segundo alguns, acrescentados. Do espaldar da cadeira, em forma de coração, surge um sol com raios enormes. Não se sabe onde se encontra essa imagem. Teria sido esta a primeira imagem doada por D. Francisco.

Devoção: fiéis beijam a fita ligada à imagem milagrosa,
no interior da capela do Monte Serrat

Devoção: fiéis beijam a fita ligada à imagem milagrosa, no interior da capela do Monte SerratA segunda, é a atual, atribuída ao escultor beneditino frei Agostinho de Jesus, por D. Clemente M. da Silva Nigra. É de barro cozido, com 40 cm de altura, feita entre 1652 e 1655. Ela pertence ao importante grupo de imagens de barro, realizadas pela escola beneditina de escultura do século XVII. Maria está sentada numa cadeira de braços com o menino em pé sobre os joelhos.

São muitos os significados religiosos da devoção. A começar pela construção da capela no alto de um morro de 150 metros, para onde foi difícil levar o material. Na mitologia, a montanha é símbolo primordial, pois representa segurança e uma maior proximidade com Deus. Ir à montanha significa uma forma de ascensão religiosa. O monte é a lembrança da terra, a grande mãe que nutre o homem, da qual ele depende para a sua sobrevivência. Tornou-se costume católico a consagração dos montes a Deus ou aos Santos.

Incontáveis são os milagres atribuídos a Nossa Senhora do Monte Serrat desde o século XVII, tempos de invasões corsárias, como a do holandês Spilbergen, em 1615, registrado pela tradição do desmoronamento sobre os invasores. Frei Santa Maria escreveu: "Com esta santíssima imagem têm muito grande devoção os moradores daquela vila, e assim eles, como os religiosos monges, a servem e festejam com muita grandeza e devoção (...) é muito grande o concurso da gente de toda aquela vila que vai louvar e visitar aquela milagrosa senhora, porque, além de ter casa de muita romagem em todo o ano, neste seu dia é muito maior o concurso. Nele lhe vão a oferecer as suas ofertas e a pagar os seus votos".

Essa descrição, anterior a 1723, serve muito bem para a festa do dia 8 de setembro. No século XIX, a festa do Monte Serrat reunia multidão que rezava e se divertia barulhentamente. Havia reclamações sobre aspectos da festa, considerados demasiado lúdicos. Nessa época, só a festa no Monte Serrat durava três dias.

A festa é encerrada com a procissão do Senhor do Bonfim, cuja imagem é uma das mais notáveis obras de arte de Santos. A devoção do Bonfim originou-se em Setúbal, Portugal, e veio para o Brasil em 1745, para a Bahia, estando ligada ao culto mariano.

Nossa Senhora do Monte Serrat

Nossa Senhora do Monte SerratA devoção tornou-se tão forte que, em 1955, Nossa Senhora do Monte Serrat foi proclamada, oficialmente, padroeira de Santos, assim como inspirou versos aos poetas, como Thales de Melo e Martins Fontes, e na prosa, páginas como a de Lydia Federici.

Na música, destaca-se o hino composto por Rodoreda, em 1923, e o da coroação, de Jesus de Azevedo Marques, com letra do padre Edmundo Cortez.

Mas é a subida da colina, que começa junto à famosa Fonte do Itororó, a presença maciça do povo levando a imagem, as rodas de samba na festa do morro que provam que a devoção a Nossa Senhora do Monte Serrat, além de herança histórica, é uma das mais importantes tradições do povo santista.

Nossa Senhora do Monte Serrat é padroeira de Santos, por lei sancionada pelo prefeito Antônio Feliciano em 1954 e coroada cerimoniosamente em 8 de setembro de 1955.

Partitura do Hino Oficial de Nossa Senhora do Monte Serrat, apresentado em 11/11/1975

Texto do monsenhor Primo Vieira e música do padre Ximenes Coutinho
Reprodução enviada a Novo Milênio pelo professor e pesquisador Francisco Carballa

HINO DE NOSSA SENHORA DO MONTE SERRAT

(versão atualizada)

Refrão:
Aos vossos pés suplicando
Erguendo a humilde voz:
Nossa Senhora do Monte
Rogai a Jesus por nós!
 
  Nossa Senhora do Monte,
Que estais no Monte a rezar,
Pedi pelos vossos filhos,
Que não vos cessam de amar!
A vossa ermida tão clara
Como uma hóstia de luz,
Fala de vossa presença,
Celeste Mãe de Jesus!
 
  Nas horas mansas e boas,
Nas horas tristes e más
Dai-nos o vosso sorriso
E as vossas bênçãos de paz
Sois a nossa padroeira.
Sentimos rezando a vós,
O céu mais perto da terra
Porque estais perto de nós
 
  Nossa Senhora do Monte,
Que estais no Monte a rezar
Descei até vossos filhos
Vinde conosco ficar
Ficai conosco Senhora,
Rezai, conosco, também
Agora e na nossa morte,
Pelos séculos, amém
 


Imagem padrão de Nossa Senhora do Monte Serrat,
usada nas publicações religiosas e nos santinhos

 


"Verdadeiro retrato de N. S. do Mont Serrate que se publicada na edição especial da Revista da Semana/Jornal do Brasil de janeiro de 1902

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