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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Igrejas
Convento do Carmo - efemérides (8)

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Este extenso trabalho sobre as igrejas do Carmo foi organizado durante alguns anos pelo pesquisador de História e professor Francisco Vazquez Carballa - muitas vezes narrando histórias em primeira pessoa por ter vivido naquela área -, e que em novembro de 2018 enviou o material para divulgação por Novo Milênio:
 

Efemérides do Convento do Carmo de Santos

Francisco Vazquez Carballa

NOTAS DE RODAPÉ

[01] – Ordem Primeira são os frades, Ordem Segunda são as freiras e Ordem Terceira são os devotos associados nessa irmandade.

[02] [02a] [02c]- Relatado do livro Piratas no Brasil pág. 44: a ilha de Braz Cubas atualmente é conhecida como Ilha Barnabé, pertencente por último ao senhor Barnabé Francisco Vaz de Carvalhaes. Desde 1930, é ocupada por depósitos de combustiveis e produtos perigosos do complexo portuário santista.

[03] - Temos o relato resgatado e publicado no dia 31 de março de 1925, noticiando o Jornal A Tribuna e igualmente exibido no site Novo Milênio http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0188s.htm). Verifiquei o jornal na hemeroteca de A Tribuna e assim tive acesso às duas fontes desse importante relato, no jornal e no site onde está mais fácil de apreciar por estar a ortografia corrigida. Quando foi reaberta a igreja reformada ao público foi feito um resumo do histórico da presença carmelitana em Santos através de seus arquivos - chamados por muitos historiadores de preciosos por serem os únicos além dos da Santa Casa que resistiram ao tempo e assim foram esses preciosos dados usados neste trabalho.

[04] – Pesquisa e monografia de Mateus Rosada.

[05] - D. José Joaquim Justiniano Mascarenhas Castello Branco, secular, natural do Rio de Janeiro, de 20 de dezembro de 1773 a 28 de janeiro de 1805.

[06] [06a] – Essa preciosa obra de arte produzida em prata era cravejada de pedras semipreciosas. Seu desenho era típico do século XVIII: eu recordo bem que tinha o nome do doador visto na sua base com a data de 1705, havia uma tampa igualmente trabalhada, encimada por uma cruz bem ao gosto daqueles tempos. Logo após a morte de frei Rafael em 1998, terminada a missa de 7º dia, o cálice foi levado para o convento em São Paulo, da Rua Martiniano de Carvalho, na capital.

[07] - A palma com três coroas ou tricoroada é usada por vários Santos e Santas com significados variados. No caso de Santa Rita, seria a virtude de ser uma boa donzela, esposa e religiosa consagrada. Outro significado, como no caso de Santa Ifigênia, é a castidade, a fé e o martírio.

[08] [08a] – Evangelho de São Lucas, capítulo 2 versículos 33 a 35.

[09] – Fotos de Militão de Azevedo datadas de 1865 ou de Marc Ferrez datadas de 1880 serviram como cartões postais até cerca de 1910. Igualmente, as fotos obtidas em 1890 vão circular até 1920. Confirmando isso, percebemos nesses postais antigos a presença de prédios que foram demolidos como a velha matriz. Já esse pequeno grupo de postais foi a mim oferecido nos anos 1980 por frei Rafael M. Marinho que conhecia o meu apreço por História, recordando ainda que no convento havia muitos desses pequenos álbuns que em outras épocas eram vendidos aos visitantes, mas com o aparecimento de fotos coloridas e mais nítidas os mesmos foram deixados de lado e abandonados. Para sua composição, foram reunidas as fotos originais de vários períodos, cujo paradeiro é ignorado, havendo a possibilidade de que, se ainda existirem, estejam com o editor, onde foram impressos, aqui ou no estrangeiro - ou, quem sabe, em arquivo ou coleção particular.

[10] – Segundo Reis, cap. 13, versículos 20/21 - Então Eliseu morreu e foi sepultado. Ora, guerreiros moabitas faziam a cada ano incursões na terra.  Aconteceu que um grupo de pessoas, estando a enterrar um homem, viu uma turma desses guerrilheiros e jogou o cadáver no túmulo de Eliseu. O morto, ao tocar os ossos de Eliseu, voltou à vida e pôs-se de pé.

[11] - Havia uma senhora que frequentava a igreja diariamente e que residira por quase toda sua vida na Rua General Câmara cerca do nº 115; ela era branca, de óculos, baixinha ou ficou assim devido a sua curvatura nas costas decorrente da idade avançada. Era risonha, feliz e brincalhona, tipo santista das antigas. Sempre às 18 horas, quando frei Rafael ia buscar o Santíssimo Sacramento, ela começava a entoar com sua voz de pessoa idosa o Tantun Ergo em latim (cantado naquele templo, até o início do ano de 1998); sua voz tremula não incomodava e era seguida pelos demais. Ao lhe perguntar o repórter sobre essa questão, ela dizia que o importante era cantar para louvar Nosso Senhor.

Ela relatava ter frequentado a antiga Matriz e descrevia o percurso da procissão do Santo Enterro de Sexta Feira Santa daquela igreja. Com sua demolição, passou a frequentar o Carmo e até foi mencionada no Jornal Cidade de Santos, que a entrevistou na Igreja da Ordem Primeira. Quando a gente perguntava ou ela se recordava, fazia algum comentário de coisas referentes ao passado da cidade ou das igrejas, inclusive do Carmo e seus frades.

Ao falecer, no início da década de 1980, já nonagenária, recordo-me que seu neto trocou o seu antigo e grande gramofone por um aparelho de som três-em-um (toca fita, toca disco e rádio AM/FM) que estava na moda - nossa, como eu queria o gramofone e ela dizia que tinha o de sua família. Venderam sua mobília muito antiga e a residência, que foi demolida logo após seu passamento.

[12] [12a] [12b]- Muitas dessas varas de metal ou madeira foram retiradas das nossas igrejas, como recentemente na Igreja do Rosário dos Pretos, onde se via uma estrutura de metal que sustentava a cortina usada para vedar o barulho e evitar a entrada de poeira durante as missas e a adoração ao Santíssimo Sacramento. Igualmente, na Igreja do Valongo e na capela dos Terceiros Franciscanos ela ainda é mantida, podendo ser vista fechada no período correto.

[13] - Ocorre que uma senhora portuguesa muito devota - dona Conceição, membro da Adoração Perpétua - lá estava mergulhada em preces na hora em que a igreja ficava fechada e escutou alguém dizer com uma voz diferente das que conhecia:

- Eu quero ir lá para baixo!

Olhou para um lado e outro e voltou às suas preces; novamente a voz, mais forte:

- Eu quero ir lá para baixo!

Depois de averiguar nos dois confessionários e no claustro, voltou à sua prece e desta vez o apelo foi mais alto. Direcionando o olhar para o coro, escutou a voz vindo dele:

- Eu quero ir lá para baixo!

Em desespero, chamou frei Rafael, que descansava após o almoço e lhe contou a história. Crédulo, permitiu que a capela fosse feita às expensas de dona Conceição e a imagem fosse trazida para baixo, como está até o momento.

[14] - Em São Paulo (do Piratininga) foram os Jesuítas que difundiram a devoção à Virgem da Boa Morte e quando eles foram expulsos do Brasil em 1759, em meio a uma perseguição às devoções jesuíticas, os Santos pertencentes à Ordem foram retirados dos altares onde tinham o devocionário, seja no Pátio do Colégio ou pela cidade.

Essa perseguição chegou também aos irmãos da Boa Morte fixados na igreja da Ordem. Eles foram obrigados a explicar o que havia nos “papeizinhos” que ganhavam dos padres da Companhia de Jesus, constatando-se que eram apenas orações que deveriam ser feitas diariamente.

Tais irmãos, talvez seguindo o exemplo da irmandade de Santos, se fixaram na igreja dos Carmelitas de São Paulo e depois deram início à construção de sua própria igreja em 1802, verificando-se aqui que havia pessoas livres e brancas que sabiam ler e a mesma Irmandade era conhecida por ser composta em sua maioria de negros escravos e libertos e pardos. Dessa perseguição escaparam então a devoção ao Senhor Bom Jesus da Cana Verde chamado de Iguape, Tremembé, Matosinhos, Pirapora etc., São Miguel Arcanjo e a Senhora da Boa Morte.

[15] – Livro Santos Noutros Tempos.

[16] - Eram registrados da seguinte forma no obituário: Ano / mês / dia / número da inumação / nome / emolientes da fábrica / moléstia / idade / estado civil / naturalidade / profissão / número / jazigo / sepultura, posteriormente constaria o endereço.

[17] - Essa imagem será transferida da terceira sede da Santa Casa de Santos, (onde hoje está à saída do túnel), para a quarta sede do hospital, chegando a ser entronada na nova capela. Após uma procissão, sofreu uma queda do andor ao ser retirada sem os devidos cuidados, causando danos na imagem que seria quatro vezes centenária. Assim, os portugueses devotos compraram outra em São Paulo, trazendo-a no colo de dois deles sentados na parte detrás de um carro. Tal imagem tem a iconografia caipira (do Tupi cái = branco e pirá = que planta mato) da Rainha, segundo as referências da saudosa Irmã Melita que, além de ter sido amiga da madre Santa Paulina em vida, trabalhou na terceira Santa Casa e na quarta sede desse hospital, participando do translado e da inauguração.

[18] – Essa será a segunda sede do Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Santos e sua igreja, instalada bem na confluência das Ruas Riachuelo e Rua General Câmara, justamente onde se encontraram os ossos de sepultamentos antigos quando fizeram o banheiro público na Praça Mauá.

[19] - Marcos Lamouch fez o serviço de douração no convento do Carmo e restauro de suas imagens, no altar mor da Ordem Terceira. Restaurando a Virgem das Dores, ao lhe tirar o olhar triste que a Senhora tinha, colocou um olhar triunfante, o que lhe valeu críticas na época. Também restaurou a imagem de Nossa Senhora do Amparo da Catedral de Santos e a imagem de São Paulo Apóstolo que está na igreja do mesmo nome e pertenceu à igreja do Sagrado Coração de Jesus demolida em 1967, segundo ele mesmo afirmava.

No seu trabalho na igreja do Carmo, informou que frei Rafael M. Marinho, observando seu trabalho, acabou por dourar pessoalmente uma peça que havia na igreja, o que o deixou feliz e orgulhoso, mostrando para a gente essa sua conquista, sendo o frade conhecido por bordar paramentos e estandartes de procissão, além de alfaias e outras peças de igreja, como a bandeirola florida que se colocava na frente da custódia onde se expunha o Santíssimo.

[20] – A capela de 1560 de Santo Antônio do Guaibê, segundo medidas aproximadas que tomei, está dividida em duas partes:

- FACHADA – Base da coluna de quina 1,15 metro, parte superior da mesma 70 cm largura, parede com 93 cm de espessura, porta principal com 2 metros largura.

- NAVE - Comprimento de 11 metros, largura interna de 5,90 metros, havendo uma porta do lado esquerdo e outra do lado direito com largura de 1,60 metro e altura de 2,40 metros.

- PRESBITÉRIO - Coluna no arco do presbitério com a medida de 1,02 metro na base e 77 cm de alto, com buracos dos dois lados para o encaixe da grade de 19 cm. Também existe uma janela do lado esquerdo que está bem alta; do lado direito tem também uma porta medindo 1,52 metro de largura e 2,00 metros de altura pela parte mais alta do arco. A largura do presbitério é de 4,00 metros e o comprimento de 7,70 metros, na parte baixa tem 3,50 metros. O degrau tem 51 cm de altura. Na parte alta tem 4.20 metro (sendo 1,10 metro a parte do antigo retábulo, calculada pelos furos existentes na parede); a mesa de alvenaria que existe tem 1,80 metro de largura e 1,10 metro de altura.

Vale ressaltar que a semelhança com a Capela da Graça nos detalhes é muito consistente, o que nos leva a acreditar que José Adorno usou o mesmo projeto, mas colocaram no Guaibê portas e janelas com arco abatido ou barbacã, não havendo linhas retas - o que pode também indicar uma reforma posterior.

[21] - Conta o sr. Clovis Farias Benedito de Almeida (falecido em 2015) que em 14 de maio de 1946 reuniam-se ao começo da noite, a partir das 17h00 (como sempre acontecia), em sua sede e com a devida licença, os integrantes do partido dos comunistas, que em seu comício faziam a manifestação na Praça Barão do Rio Branco.

Estavam ali, entre tantos, Luiz Carlos Prestes, Itacy de Souza Telles, Fernando Campos, João Amazonas etc. Era o sr. Clovis então um menino com 12 anos, encarregado de carregar uma sacola de lona verde daquelas que os portugueses costumavam usar, cheia de rolhas que - segundo lhe dizia seu pai, o popular motorneiro Bacalhau -: “Filho, leve sempre muitas rolhas que deve pegar no Martins Pimenta (importador na Rua General Câmara nº 158 aproximadamente, antes da Rua Braz Cubas)”, pois isso evitaria que fossem apanhados pelos sabres dos cavalariços que - batendo nas costas dos manifestantes - abriam uma ferida que seria muito demorada e dolorida para sarar.

Os trabalhadores do porto – segundo nos informou o relator desta história -, andavam de tamancos, enquanto os trabalhadores da ferrovia dos ingleses andavam de sapatos e com salários e condições de vida melhores. Só com Getúlio Vargas os operários alcançariam melhores condições salariais e de qualidade de vida, mas nessa época anterior ainda reivindicavam isso.

Nessa época, havia militantes comunistas que trabalhavam na Prefeitura e em vários setores da cidade, principalmente na City, mas eram temidos pelos Guinle, donos das Docas de Santos, que tinham lá suas influências na Prefeitura também. Em uma ocasião, os representantes das Docas conseguiram chamar a cavalaria, pois uma greve traria sérios prejuízos e a obrigação de ceder às reivindicações dos portuários.

Com a vinda da cavalaria pela Rua XV de Novembro, onde havia um quartel pros lados do Valongo, rapidamente o sr. Clovis espalhou as rolhas pela rua e assim os cavalos se desequilibraram, de forma que os comunistas puderam fugir. Nesse ínterim, frei Mário Bastos abriu as portas da igreja conventual da Ordem Primeira do Carmo e acolheu muitos manifestantes dentro do templo.

Passou a ser proibido haver reuniões ou manifestações naquela praça, próxima ao cais, onde estava o monumento de seus administradores. Assim, passaram a fazê-las no Macuco e no Marapé, longe das tropas e com sua militância fervorosa ou fanática, mas também longe dos trabalhadores portuários.

[22] [22a] [22b] – Informações do senhor Fernando Gregório, arquiteto da Cúria Diocesana de Santos.

BIBLIOGRAFIA:

Jornal A Tribuna em 26/01/1939, 31/03/1925, 01/09/1945, 31/12/1978, 02/01/1981, 02-03/01/1982, 18/02/1998, 12/02/2009.

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COARACY Vivaldo – Memórias da Cidade do Rio de Janeiro – Livraria José Olympio Editora - 1965 – vol.03.

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MENDES, Carlos Pimentel – Site Novo Milênio (http://www.novomilenio.inf.br) – 2000.

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Hemeroteca do Jornal A Tribuna de Santos.

Hemeroteca do Centro de Cultura de Santos.

Jornais Cidade de Santos referentes aos períodos das festas.

Jornais A Tribuna referentes ao período das festas.

Museu de Arte Sacra de Santos.

Pesquisa com famílias que estão ligadas ao convento ou o frequentavam.

Pesquisas de campo.

Site da Diocese de Santos.


Fachada das Igrejas do Carmo
Foto publicada em A Tribuna de 31/3/1925

 

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