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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Igrejas
Convento do Carmo - efemérides (6)

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Este extenso trabalho sobre as igrejas do Carmo foi organizado durante alguns anos pelo pesquisador de História e professor Francisco Vazquez Carballa - muitas vezes narrando histórias em primeira pessoa por ter vivido naquela área -, e que em novembro de 2018 enviou o material para divulgação por Novo Milênio:
 

Efemérides do Convento do Carmo de Santos

Francisco Vazquez Carballa

Naufrágio do navio Sirius
Imagem in CD-ROM Benedito Calixto - 150 anos, editado em 2003 pela Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto Santos/SP

IRMANDADES DO CONVENTO OU A ELE LIGADAS

IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DA BOA MORTE - 1793

No princípio uma irmandade que abrigou muitos escravos (nativos negros da terra) e posteriormente os africanos, além de muitos colonos devotos seus - com a difusão pela vila de Santos e por todo o Brasil pelos Jesuítas até 1759 -, os irmãos da Boa Morte se instalaram na Igreja do Hospital da Misericórdia em 1652 e com a ruína do prédio se instalaram no Convento do Carmo em 1750 e posteriormente a confraria foi oficialmente reconhecida e registrada no cartório e na C úria Diocesana com sede em São Paulo em 1793, seguindo a ordem do bispo.

Já verifiquei as atas da irmandade e me chamaram a atenção duas menções, sendo uma delas a missa realizada em um domingo de 1906 pela irmandade: uma missa fúnebre pelo 12º bispo de São Paulo, dom José de Camargo Barros. Ele morreu no “desastre do Sirius” que afundou durante o retorno da Itália em 4 de agosto daquele ano, dando a boia para um religioso mais jovem e absolvendo até o fim as pessoas, segundo se pode ver no desenho feito por Benedito Calixto que está em São Paulo.
Outro trecho que me chamou a atenção foi aà suspensão das missas e festejos por ocasião da epidemia de gripe espanhola em 1918.

Compraram, no início do século XX, uma parte da grande quadra da Irmandade do Senhor dos Passos ao fundo do cemitério do Paquetá (lado esquerdo), sendo possuidores de muitas campas.

Houve a necessidade de comprarem lanternas de procissão, pois no início do século XX os irmãos do Senhor dos Passos não as queriam emprestar e assim foram adquiridas lanternas grandes e pequenas que ainda estão em seu patrimônio, junto com a cruz processional do início do século XVIII que ainda é usada.

Foi deixado em custódia no Museu de Arte Sacra de Santos (MASS) o esquife de Nossa Senhora da Boa Morte, com seus dois pequenos cavaletes, duas lanternas de procissão estilo manuelino, a vara do provedor, um tablado feito em madeira bruta envernizada de amparar a cruz e lanternas com local para vara (que até então ficava no canto do consistório) e quatro almofadas de ombros em cor roxa que estavam no esquife. Assim foram preservadas essas peças de se perderem pela falta de cuidado, havendo um recibo na confraria, um no Museu de Arte Sacra de Santos e outro comigo - que intermediei, entre as duas partes.

Pertenci à confraria por devoção: entrei em 6 de agosto de 1989, ficando até 1999, quando sai da Irmandade por não concordar com alguns itens apresentados, entre eles o desprezo da instituição por seus bens custodiados no MASS.

Para a comemoração dos 200 anos (1793/1993) nas festividades da irmandade fui nomeado festeiro junto com o Irmão Terceiro Waldemar Tavares Jr. (falecido em 2017) sendo organizada uma exposição de objetos antigos, tríduo, missa festiva e procissão.

IRMANDADE DE NOSSO SENHOR DOS PASSOS - 1760

Foi instalada na Igreja da Ordem Primeira do Carmo em 1 de junho de 1760, fixando-se aí a devoção da Procissão do Encontro, que foi memorável em tempos passados, atraindo muitos fiéis ao evento na Semana Santa, quando todos aqueles bairros eram populosos e não comerciais.

Compraram em 1850 a imagem grande do Senhor dos Passos com sua cruz, que passou a figurar nas procissões do encontro [22] ocupando um altar do presbitério. Antes disso, provavelmente usavam a imagem do mesmo título que se venera no altar do 6º passo da paixão na igreja dos Terceiros Carmelitas - a única que havia na região até então.

Compraram a imagem de Nossa Senhora das Dores em 1900, sendo que primeiro compraram a menor; por não ser adequada em tamanho ao Senhor, acabaram adquirindo a maior [22a], ocupando o outro altar do presbitério da igreja conventual, sendo que a irmandade possivelmente não tinha em sua posse as duas imagens (do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores). Se as tinha, trocou por imagens novas, mas não temos referência disso até o momento. Foi possivelmente a Virgem Dolorosa que se venera no Valongo a que tomava parte no sacro cortejo e se encontrava com Jesus carregando a cruz antes dessa época e da inauguração da igreja dos Terceiros carmelitas. Eles terão em seu patrimônio sacro uma imagem de roca da Virgem dessa devoção que ainda pode ser vista na capela funerária que existe ali, segundo afirmações do livro Santos Noutros Tempos.

Hoje sabemos que o andor da Senhora saía da igreja de Santo António do Valongo e o do Senhor dos Passos saía da igreja da Ordem Primeira do Carmo, encontrando-se na frente da capela da Graça. Com sua demolição, o encontro foi transferido para a frente da Igreja do Rosário dos Pretos.

Podemos concluir sobre a procissão que a Virgem Dolorosa saía da igreja do Valongo, o que nos leva a supor que era a imagem do século XVIII dos franciscanos que seria usada no encontro ou a imagem dos Terceiros Carmelitas que se encontra na igreja ao lado da Ordem Primeira do Carmo. Para tirar tal dúvida seria necessário pesquisar as atas de ambas as ordens para se ter uma afirmação correta.

Posteriormente, os membros da Irmandade do Senhor dos Passos vão adquirir suas próprias imagens, entre elas a do Senhor já em meados do século XIX e da Senhora no seu final, terminando a necessidade do empréstimo de qualquer das duas.

Possuem dois jazigos no cemitério do Paquetá, com muitas sepulturas e algumas monumentais; venderam uma parte do terreno que haviam adquirido para a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte em meados do século XX.

Existe a referência da saída da irmandade em 1956 por causas somente por eles conhecidas: saíram das dependências do Convento do Carmo e passaram a ter seu consistório em uma sala alugada no prédio da Humanitária. Ocorre que tiveram a perda do seu consistório na igreja por ter que ceder seu espaço em 1922 para a construção do Panteão dos Andradas, até que a prefeitura resolveu o problema doando um terreno na praça em 14 de setembro de 1962, onde deram início à construção de sua igreja sede no bairro do Boqueirão - que foi elevada a paróquia em 4 de março de 1966 - sendo usado o salão abaixo da nave e presbitério da grande igreja [22b]. Os documentos mencionam a sua conclusão, inauguração e decerto benção em 1971, e finalmente a doação da igreja para a Cúria Diocesana de Santos.

Suas lanternas de procissão, cruz, roupa do Senhor em veludo roxo bordado com fio de prata, andores e demais objetos paralitúrgicos ficaram custodiados no Museu de Arte Sacra de Santos até que os retornaram para a igreja onde está tudo exposto, menos a roupa antiga que tinha ametistas encastoadas: estas se perderam e a roupa se estragou com a falta de cuidados.

ASSOCIAÇÃO DAS TEREZITAS

Grupo de mulheres que usavam suas roupas comuns e uma fita ao pescoço na cor marrom e branca com a medalha da Santa francesa, sendo que nos anos 90 frei Rafael concedeu à diretora da associação uma relíquia de Santa Terezinha de Liseux. Sua fundação era algo ligado a meados do século XX passado, mas nunca me deram mais informações, por mais que eu perguntasse.

Eram as responsáveis pela missa festiva que havia dedicada à sua oraga e a distribuição de rosas aos devotos, além de entoarem o hino “Do teu belo jardim Terezinha” acompanhadas pela comunidade.

No dia dedicado à santa ou mensalmente havia a missa e o altar estava bem adornado.

ADORAÇÃO PERPÉTUA

A obra diocesana da Adoração Perpétua do Convento do Carmo de Santos foi ereta no ano de 1956 e foi muito frequentada enquanto o bairro não ficou totalmente deserto de moradores.

Durante a exposição do Santíssimo a eucaristia era colocada na grande custódia e por vezes era colocada na frente da mesma uma pequena bandeira, toda bordada com delicadas flores pelo frei Rafael (que era exímio bordador). Com esse pequeno estandrate, retirado algum tempo antes da bênção diária do Santíssimo, evitava-se assim as profanações que poderiam ocorrer.

Antes, era marcado para cada membro um horário para ficar em prece constante. Para isso, havia atrás da porta de acesso ao claustro uma pequena caixa onde ficava a ficha de cada uma das pessoas que se propunham a fazer guarda para Nosso Senhor.

Isso começava muito cedo; com o tempo, começou a ser das 8h00 até as 18h00, quando era retirado o Santíssimo Sacramento da custódia no nicho do retábulo e levado até o altar onde havia o canto do Tantum Ergo em latim e outras vezes em português; depois, a benção era seguida de missa diariamente, ficando assim os adoradores de Jesus Eucarístico livres de fazer a guarda devida, por não estar mais exposto.

Foi em um desses momentos que cona Conceição passou pour uma experiência mística que a levou a custear a construção da capela do Senhor dos Passos [12b].

 

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