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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BANCOS
Por onde passa o dinheiro (4)

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Porto de grande importância no comércio internacional brasileiro e na movimentação marítima de cargas do Estado de São Paulo, Santos concentrou um número incomum de empresas bancárias e afins. Centro internacional do comércio do café, local de veraneio dos detentores das maiores contas bancárias nacionais, a praça também reúne e reuniu uma série de serviços correlatos, de poupança, de capitalização e financiamento, seguros mútuos e outras atividades.

Um dos principais estabelecimentos bancários, o Banco do Brasil, foi enfocado nesta matéria do jornal santista A Tribuna, em 3 de julho de 1991 (considerada aqui a retificação sobre troca de legendas das fotos, publicada no dia seguinte):


O prédio da Associação Comercial, na primeira década deste século (N.E.: século XX, mais precisamente: 1902). Resultante da reconstrução de sua primeira sede, destruída por incêndio , e reduzida a escombros. Neste prédio, no pavimento térreo, junto à Rua Tuiuti, instalou-se a agência do Banco do Brasil de Santos, que fora fundada em 22/08/1908
Foto e legenda publicadas com a matéria

Breve história de grande agência bancária santista

Francisco de Marchi

Gratos momentos viveu a Cidade, em 14 de junho. Com a inauguração de moderníssimas instalações e do novo visual da agência central do Banco do Brasil. O ato público sagrou avanços técnicos, para agilização de suas operações.

Partindo do âmbito nacional para, a seguir, deter-me sobre a velha Santos, desejo lembrar que o Banco do Brasil - hoje constituindo extraordinária rede de estabelecimentos, cobrindo o País, foi criado por alvará imperial de 12/10/1808. Destinava-se a aceitar depósitos, fazer descontos, emitir moeda. Tempo de vida fixado: 20 anos.

Com estatutos aprovados em 12/10/1809, apenas em 11/12/1809 iniciaria suas atividades. Seria favorecido com regalias: monopólio do comércio de ouro e prata, pau-brasil etc.

Carlos Siqueira da Cunha, em excelente reportagem na revista AABB-Santos - maio/agosto 1958 -, reporta que o declínio do banco decorreu de emissões feitas sem lastro-ouro. O ouro era desviado para o estrangeiro, tornando delicada a situação do Tesouro. E de nada valeram as diligências do Governo para evitar a quebra iminente do banco, cuja liquidação era prevista na lei de 23/09/1829. O banco foi obrigado a suspender suas atividades em 11 de dezembro de 1829, data em que terminava, conforme seus estatutos, o prazo de sua existência, entrando depois em liquidação.

Já, de acordo com Afonso Arinos de Melo Franco (História do Banco do Brasil) é afirmado que o primeiro Banco do Brasil, uma vez liquidado, pagas e deduzidas todas as despesas, deu para o reembolso de todos os acionistas em apreciável percentualidade quanto ao capital integralizado. O que teria provocado da parte do eminente Pandiá Calógeras comentário irônico: os valores reembolsados aos acionistas demonstravam que o banco não se encontrava em insolvência.

Muitos bancos foram criados depois. De natureza pública, ou por iniciativa de particulares. Igualmente autorizados a emitir moeda. Em 1851, o grande Irineu Evangelista de Almeida, por iniciativa privada, criaria um Banco do Brasil (autorizado a funcionar pela lei 801 de 5/7/1851. Seria o segundo Banco do Brasil). Estreitou suas ligações com o Banco Comercial do Rio de Janeiro, em franca prosperidade. Em 1853, o governo - tendo visconde de Itaboraí como ministro da Fazenda - pela lei 683 de 5/7/1853 e com a anuência dos acionistas, conseguiu fundir os dois bancos, para constituição do terceiro Banco do Brasil (oficial). Com estatutos aprovados, iniciou atividades em 10 de abril de 1854. Esse terceiro banco também entraria em liquidação: fundir-se-ia com o Banco dos Estados Unidos do Brasil para chamar-se, segundo desejo do marechal Floriano, Banco da República do Brasil.

E em 1905, escreveu Carlos Siqueira da Cunha, após atravessar as vicissitudes da especulação bolsista (encilhamento) ocorrida nos primeiros anos da República, foi o instituto remodelado, restituindo-se-lhe a denominação de Banco do Brasil (quarto).

Deve ser acentuado que a partir de 1870, por iniciativa do visconde de Itaboraí, foram os objetivos do Banco do Brasil multiplicados. Naquela época já havia se constituído em banco misto, podendo ampliar, em múltiplos campos, a faixa de seus financiamentos e operações.

O santista Daniel de Castro, então funcionário da agência do Banco do Brasil (local), teve ocasião de escrever na revista Desed (Departamento Geral de Seleção e Desenvolvimento do Pessoal - número maio/junho 1970 - publicação editada no Rio), que a agência do Banco do Brasil de Santos fora criada em 22/08/1908 e que a A Tribuna, periódico local, comunicara na edição desse dia que o banco começara a funcionar naquela data. Os vales-ouro para pagamentos de direitos na Alfândega, até então emitidos pelo Banco Comércio e Indústria de São Paulo, passavam a ser competência única do Banco do Brasil, nos termos de ordem telegráfica do sr. ministro da Fazenda. E que a agência não faria funcionar sua carteira de cambiais, até a regularização de seu serviço interno.

Daniel também referiu que a agência iniciara suas atividades em prédio já há muito demolido e que grupava 11 funcionários, incluídos administradores. Mas, com o crescimento de seu quadro de funcionários e aumento do volume de operações, tornara-se necessária a transferência de seus serviços para dependências mais amplas e adequadas - primeiramente em 1910 - para uma parte do prédio da Associação Comercial de Santos. E que, posteriormente, depois de sucessivas mudanças, a agência se fixaria no prédio da Praça Mauá, 19.

Em seu início, a agência esteve em prédio (já desaparecido), na Praça da República esquina da Rua Martim Afonso, local onde funcionou a Casa Bancária Branco & Cia. e hoje, em nova edificação, atua a sucessora daquela Casa Branco Adm. e Serviços Ltda.

Esclarecedor - Tem sido divulgado que o ano em que a agência do BB (a quarta instalada no País) teria se transferido para dependências da Associação Comercial de Santos, foi 1910. Todavia, no ano de 1907 a Associação se desdobrava para reconstruir o prédio de sua sede social - o primeiro - destruído por voraz incêndio. Alberto Veiga, que fora secretário e redator de Tribuna do Povo na época em que o jornal era dirigido por Olímpio Lima, na ocasião (1907) era chefe do expediente e arquivo da Associação. Em alentado relatório referira os nomes dos sócios que, espontaneamente, subscreveram apreciáveis quantias destinadas às obras de reconstrução da sede (entre eles a Cia. Docas, a City, a Cia. Registradora de Santos). A City também se incumbira da iluminação a gás na parte superior e a instalação de luz elétrica no pavimento térreo.

Depois (consta de documento da Associação), em reunião de diretoria de 11/12/1908, foram os presentes informados de proposta verbal da agência do Banco do Brasil, nesta cidade, para arrendamento, por cinco anos, dos salões do pavimento inferior do prédio reconstruído.

A proposta não deu lugar a polêmicas. A Associação dispunha de espaço suficiente, no andar de cima, para a montagem de suas projetadas seções, sem prejuízo do funcionamento do banco no andar térreo. E havendo necessidade de minorar as despesas feitas com a reconstrução da sede, a diretoria decidiu submeter a proposta à deliberação da Assembléia Geral. Esta, em sessão de 15 de dezembro de 1908, resolveu, por unanimidade, autorizar a diretoria a efetivar o arrendamento solicitado, pelo prazo de cinco anos, por 750$000 (setecentos e cinqüenta mil réis mensais) a partir de 15 de janeiro de 1909.

Como se vê, a agência do banco, criada em 22/08/1908, somente a partir de 15/01/1909 teria assegurado o direito de se utilizar do pavimento térreo da Associação. Como, se em várias fontes, é referido que a agência somente em 1910 se alojara no prédio? Creio que a diferença do tempo entre 1909 e 1910 gastou-a a Associação na transferência de determinados serviços, além do perdido na adaptação dos salões arrendados às exigências dos setores que ali deveriam operar. Não encontramos documentação pertinente a posteriores renovações do arrendamento; mas vim a saber que a agência em 1918 esteve instalada em prédio em que funcionava o Banco Noroeste do Estado de São Paulo e, em 1922, no prédio da Praça Mauá, 19. Sairia deste local para estabelecer-se no prédio da Rua XV, onde atualmente, com as fachadas inteiramente remodeladas, funcionam todos seus serviços.

Por ocasião do centenário da elevação de Santos à condição de Cidade - 26/01/1939 - a agência ainda sediada na Praça Mauá, 19, fez o lançamento da pedra fundamental do edifício a ser erigido em terreno de sua propriedade. No mesmo local em que agora o banco se encontra instalado. O lançamento da pedra fundamental foi solene. Contou com a presença do dr. Ademar de Barros, então governador do Estado. As obras do novo edifício, somente iniciadas em 1954, foram conclusas em 1958. Tratava-se da mesma construção que, remodelada espetacularmente, ganharia nova imagem e que, recentemente, em 14 deste mês, após brilhante ato público, teve inauguradas as novas instalações.

Com respeito ao edifício oficialmente inaugurado em 22/08/1958 no transcurso do jubileu de ouro da agência, há curioso episódio, em que é interveniente Eduardo Salim Haddad, empresário ligado a longo tempo ao setor cafeeiro. Discutiam projetistas e altos funcionários do banco, que participariam da administração da construção: "Estimamos os custos da construção em 90 milhões de cruzeiros, mas estão nos acenando apenas com verba de 50 milhões!"

"Como? - retrucou Haddad (já foi dono de imobiliária e entendia do ramo) - Esse prédio tem mais de 15.000 m² de construção. Vocês gastarão, espremendo os preços dos materiais e de mão-de-obra através de severo controle, não muito longe de 10.000 cruzeiros por m². O edifício terá seu custo total ao redor dos 150.000 milhões!" (N.E.: SIC: a multiplicação correta resulta em Cr$ 150 milhões).

Houve quem empalidecesse. Mas, já a inflação começava a pôr os dentes à mostra. Orçamentos de serviços e fornecimento de materiais mudando a toda a hora. Haddad tinha faro. Palpitara com acerto!

Realmente, surgiam imprevistos de toda a sorte. Muito má a qualidade do solo. A água aflorava, a ínfimas profundidades. Não esquecer que o Ribeirão do Carmo, vindo dos lados do "Tororó", corria pela Rua Augusto Severo, em direção ao lagamar.

Na revista AABB-Santos de 1957 perlustrei ótima reportagem de Dalmo Teixeira Filho sobre fases da construção do edifício (revista feita por gente do banco, apaixonada pela vida da comunidade e pela História, como Nélson Ribeiro, que buscou auxiliar-me dentro do possível). Fotos do Dalmo evidenciaram a colocação nas "panelas" dos grossos ferros de armação das colunas, generosa quantidade de chumbo e estanho. Colocados "a quente", interjuntando-se em ideal aderência, para impossibilitar infiltrações de água. Além desses cuidados, o revestimento da base das colunas, com espessas folhas de cobre. Sobre tais expedientes, os engenheiros, encarregados de acompanhar o empreendimento, muitas histórias poderiam contar!

Política humana - Eduardo Salim Haddad asseverou-me que muitas vezes o Banco do Brasil - fosse qual fosse a região em que estivesse sediado - agia mais como estabelecimento de fins sociais, do que propriamente como instituto de natureza comercial.

Dada firma, possuidora de esplêndidas fazendas de café, encontrava-se em precária situação financeira. Situação que vinha de longa data, reflexos negativos de longínqua crise mundial, que a endividara. Os encargos para resgate da dívida, longe de diminuírem, haviam crescido como uma bola de neve. Seus dirigentes, em companhia de Haddad, foram ao Banco do Brasil para auscutarem a possibilidade de não serem de pronto executados.

Propôs o banco, então, aos solicitantes: a) O banco instalaria nas fazendas elementos de sua confiança, desde que contasse com "carta branca" para administrá-las; b) No curso da administração, o banco, por decisão própria, poderia supri-las de meios na satisfatória manutenção de seu funcionamento; 3) O banco cobrir-se-ia quanto aos seus créditos, com a compensação de resultados positivos das fazendas, por vindouros.

Após anos seguidos de inexorável administração, a dívida foi quitada; o saldo havido entregue ao dono e a liberação de todas as fazendas! Essa política humanitária foi-me também ressaltada por Alberto Ferreira, uma das nossas mais altas expressões de nosso comércio cafeeiro. Frisou este: enquanto outros bancos tomavam as fazendas de seus devedores, o Banco do Brasil evitava lançá-los ao desespero.

O Banco do Brasil, nesta cidade, já não constitui estrela solitária, confinada, como em tempos idos, à sua agência no velho centro. Outros rebentos surgiram, novos brotos aparecem. Agências autônomas, subagências, novos postos. Há agora agências no Boqueirão, no Gonzaga, na Ponta da Praia e em fase de instalação, na Vila Matias. E dependências externas (pequenos postos funcionando dentro de empresas ou repartições): na Alfândega, na Capitania dos Portos, na Detel (Embratel), no Foro de Santos, no Sesi (Ponta da Praia), no Tecon (Terminal de Contêineres) e Tedesp (Petrobrás, na Alemoa).

Desdobramento a favorecer usuários, libertando-os de longas deslocações e congestionamentos, de perda de tempo, agilizando negócios, realizáveis quase na porta da residência do correntista! Espanta-nos o entusiasmo e vitalidade da tradicional instituição. O banco, dia a dia, se rejuvenesce! Não foi sem razão que a revista Exame (agosto 90) colocou o Banco do Brasil entre os 50 maiores bancos brasileiros, analisados no ano de 1990, confrontados os volumes de empréstimos e patrimônios!

Nota - Como fecho deste curto levantamento, meus agradecimentos ao gerente da agência do Banco do Brasil de Santos (Centro), Antônio Carlos Daud, por facilitar-me a busca de elementos ligados à memória do banco.

As fotos que ilustram este trabalho foram cedidas por Jaime Caldas.


Foto apanhada no início deste século (N.E.: século XX), mostrando o prédio no qual, em 1922, funcionaria a agência do Banco do Brasil de Santos, então alojando o Grande Hotel e Rotisseria Sportsman, com os andares superiores destinados à atividade hoteleira. No pavimento térreo, choperia, petisqueiras, música. Na calçada, cadeira e mesas para uso da clientela. Ao fundo, em direção ao cais, o primeiro prédio da Associação Comercial, destruído por um incêndio
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