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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [39-B]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho é a seguir reproduzido, em suas páginas 639 a 655, referentes à capital paulista (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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Santos em 1860
Foto-montagem publicada com o texto, página 639

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A capital (A)

A cidade de São Paulo, capital do Estado de São Paulo, hoje a segunda cidade do Brasil e a terceira da América do Sul, tem apresentado nestes últimos anos um desenvolvimento verdadeiramente notável. Transformou inteiramente o seu aspecto de velha cidade colonial na realidade duma importante metrópole, digna capital de um grande e progressivo Estado.

São Paulo era antigamente dividida em duas partes distintas. Uma, a antiga, entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú, dominando os campos de Piratininga, conservava ainda o cunho da velha arquitetura portuguesa e as ruas eram sujas e mal calçadas; nesta parte, ficavam situadas as usinas e fábricas; as casas eram baixas e insalubres, as ruas estreitas e lamacentas; a rede de esgotos, mal disposta, era uma fonte de constantes epidemias. A outra parte da cidade, mais moderna, obedecia a um plano mais bem lançado; tinha ruas largas, casas mais arejadas e uma ou outra "vila" elegante.

Ao cabo, porém, de poucos anos, depois que São Paulo, resolutamente, enveredou pela senda dos melhoramentos, estas condições estão totalmente mudadas: a cidade velha foi, por assim dizer, completamente arrasada; e agora, uma grande cidade moderna se ergue no lugar ocupado pela casaria antiga, desprovida de ar, luz e higiene.

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Importantes ruas em São Paulo: 1) Ruas Direita e 15 de Novembro; 2) Largo da Sé; 3) Rua Maranhão; 4) Largo São Bento; 5) Rua São José, mostrando o novo Teatro
Foto-montagem publicada com o texto, página 640

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Não é possível falar na transformação, aumento, saneamento e embelezamento de São Paulo sem citar o nome do dr. Antonio da Silva Prado, durante muitos anos prefeito da cidade. A ele, com efeito, cabe a glória de ter criado a cidade de São Paulo moderna; por sua iniciativa, secundada pelo espírito adiantado dos paulistas, foram rasgadas as amplas avenidas, orgulho da cidade; levantados os edifícios monumentais, que colocam São Paulo a par das mais adiantadas cidades da Europa; e organizados os serviços públicos sobre bases modelares. A impressão do forasteiro é a melhor possível, favorecida ainda pela topografia do solo, onde se ergue a cidade.

Cortada por avenidas largas, plantadas com árvores de magnífico efeito; com grande número de largas praças e jardins cuidados a capricho; com as ligeiras ondulações de seu solo cobertas pela multidão de casas, de vários andares e geralmente pintadas de cores claras; as suas lojas e armazéns amplamente providos de um mostruário rico e elegante; um comércio e uma indústria que, no Brasil, só cedem à Capital Federal; centro de vida intelectual, política, comercial e industrial de um dos Estados mais prósperos da União, a cidade de São Paulo possui justamente o conjunto de circunstâncias que, aliadas ao esforço progressivo e esclarecido dos paulistas, os "yankees" do Brasil, a tornam uma grande e adiantada metrópole.

Fica a cidade situada a 23º36' de latitude Sul e a 3º71' de longitude Oeste do Meridiano do Rio de Janeiro, à altitude de 750 metros, no planalto formado pela Serra do Mar, estendendo-se com pequenas ondulações do solo em direção à Serra da Cantareira, ao Norte. Fica à margem esquerda do Tamanduateí, afluente do Tietê, que cortando todo o Estado de São Paulo mais ou menos no centro, se lança no Paraná; a confluência do Tamanduateí com o Tietê se dá mais ou menos a três quilômetros ao Norte da cidade. São Paulo dista do Rio de Janeiro 496 quilômetros, pela Estrada de Ferro Central do Brasil, cujos trens fazem a viagem em cerca de 10 horas; dista de Santos, seu porto marítimo, 79 quilômetros, que se transpõem em duas horas, pela São Paulo Railway; é ligada ao interior do Estado por uma ótima rede ferroviária, que compreende, entre outras, a Estrada de Ferro Paulista, a Mogiana, a Sorocabana etc.; e hoje, pela Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, acha-se ligada aos Estados do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

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Os parques em São Paulo: 1) Jardim da Luz; 2 e 6) Parque da Antartica; 3) Parque Cantareira;

 4 e 5) Praça da República
Foto-montagem publicada com o texto, página 641

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O clima da cidade de São Paulo é em extremo agradável e salubre, principalmente no verão. Desconhecem-se ali, quer o frio intenso, quer o calor abrasador. À noite e pela manhã, os ventos correm do Sudoeste, trazendo a brisa do mar; à tarde, vem do Noroeste, das regiões interiores. Para os europeus, constitui um dos climas mais apropriados do Brasil; os estrangeiros se aclimatam em São Paulo com a maior facilidade, o que mostra a excelência do clima.

A temperatura média anual é de 18,2ºC.; sendo a máxima, raras vezes atingida, de 39,5º, e a mínima, também pouco freqüente, de 2,5º. A altura de chuva caída no município é em média anual de 1.315 milímetros. As chuvas caem principalmente nos meses de março, outubro e novembro; e são raras nos meses que correspondem ao inverno, isto é, em junho, julho e agosto.


Membros da Câmara Municipal de São Paulo: 1) Dr. Gabriel Dias da Silva (presidente); 2) Dr. João Mauricio de Sampaio Vianna; 3) Oscar Porto; 4) Dr. Francisco Alves da Cunha Horta; 5)  Dr. Armando da Silva Prado; 6) Dr. Augusto Gomes de Almeida Lima (vice-presidente); 7) Major Alvaro Ramos (diretor geral da Prefeitura); 8) Dr. Ernesto Goulart Penteado; 9) Dr. Francisco Xavier Paes de Barros; 10) Barão Raymundo Duprat (prefeito); 11) Dr. Carlos Augusto Garcia Ferreira; 12) Dr. Mario do Amaral (secretário)
Foto-montagem publicada com o texto, página 642

São Paulo é uma das mais antigas cidades do Brasil; a sua história remonta a pouco depois do descobrimento do Brasil pelos portugueses, em 1500. Quando pretendiam estabelecer-se na parte do litoral correspondente ao Estado de São Paulo, encontraram os portugueses em São Vicente um marinheiro, João Ramalho, náufrago de uma expedição anterior, o qual, tendo captado a amizade do gentio, se havia casado com uma filha do chefe índio Tibiriçá. João Ramalho tinha-se fixado em Santo André da Borda do Campo, onde hoje, na cidade de São Vicente, fica o subúrbio de São Bernardo.

Em 1522, o jesuíta José de Anchieta, missionário, que então se dedicava à catequese do gentio nos campos de Piratininga, no interior da região fronteira a São Vicente, pensou em fundar um colégio nesse local, para a educação não só dos jovens portugueses como também para a do gentio. Levando avante o seu intuito, conseguiu estabelecer o colégio, e como a primeira missa aí rezada tivesse lugar no dia do aniversário da conversão de São Paulo, a 25 de janeiro de 1554, tomou o estabelecimento o nome daquele santo.

Pouco depois, os chefes índios dos campos de Piratininga ali recebiam o batismo, exemplo seguido pela maioria das tribos, e eram convencidos pelos jesuítas a virem estabelecer-se nas imediações do colégio. Tibiriçá e sua tribo foram dos primeiros a atender ao chamado dos jesuítas; e pouco depois, imitavam-no, com suas tribos, os principais chefes do litoral. Em pouco, crescia a povoação de modo a suplantar Santo André; e em 1560, o governador geral Mem de Sá conferia-lhe os foros de vila, com a denominação de São Paulo de Piratininga. Daí provém a denominação de "piratininganos" dada aos primeiros habitantes da cidade.

De 1612 a 1660, foi a colônia agitada por dissensões internas entre os colonizadores portugueses e os jesuítas, que queriam obstar aos maus tratos dados ao gentio, e à sua escravidão. As lutas entre o gentio, instigado pelos jesuítas, e os colonizadores portugueses, paralisaram por completo o desenvolvimento da nova vila. Terminaram elas com a expulsão dos jesuítas, e a vila começou a desenvolver-se de um modo extraordinário. Daí partiram as "bandeiras" ousadas, que em busca do ouro, iam devassar o vasto interior do país.

Em 1681, o marquês de Cascais fazia São Paulo cabeça da capitania; e por lei de 24 de julho de 1711 recebia São Paulo, de d. João V, rei de Portugal, os foros de cidade. Em 1745, tornava-se sede de um bispado e em 1815, por ocasião da elevação do Brasil a Reino Unido ao de Portugal, foi feita capital da Província de São Paulo, continuando a sê-lo depois da proclamação da Independência em 1822. Muito próximo a São Paulo, no córrego Ipiranga, foi dado o grito de "Independência ou Morte!" por d. Pedro I. Com a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, ficou São Paulo sendo a capital do Estado.

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Belas residências em São Paulo: 1) Vila "Nina"; 2) Residência do engenheiro Max Hehl em Higienópolis; 3) Palácio presidencial; 4) Palácio do Governo
Foto-montagem publicada com o texto, página 643

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Ocupa hoje São Paulo uma área de 33.605 quilômetros quadrados, incluindo os subúrbios e arredores; a cidade propriamente dita, excluindo os lugares ainda pouco edificados, sobre uma área de cerca de 594 hectares. A área calçada a paralelepípedos de pedra ou madeira, ou asfaltada, era em 1908 de 1.741.155 metros quadrados, sendo que, dez anos atrás, se resumia a 857.816, ou menos de metade.

De 1900 a 1909, foram plantadas nada menos de 23.427 árvores para arborização das ruas e praças públicas. Existem na zona urbana 32 avenidas, 41 boulevards, 903 ruas e 32 travessas; as grandes praças, algumas das quais ajardinadas, são em número de 20, as pequenas em número de 33, havendo ainda 3 jardins públicos.

Em 1875, quando se iniciou em São Paulo o período de transformação, havia apenas 2.992 casas; em 1886, esse número subia a 7.012; e em 1891, a 10.321. De então para cá, o aumento foi ainda mais rápido: em 1895, o número de casas era já de 18.505; em 1900 o número de edificações na zona urbana era de 21.656; em 1905, de 25.976; e em 1909, de 30.997, com uma renda oficialmente calculada em Rs. 40.451:803$000, correspondente ao valor real de Rs. 404.518:020$000.

A par do desenvolvimento material da cidade, crescia a sua população de um modo extraordinário, sem exemplo no país. A população, em 1872, era apenas de 26.048 habitantes; em 1886, de 47.697; em 1890, de 60.934; em 1900, de 239.820, e em 1910 de 350.000 habitantes.

O extraordinário aumento, que se nota entre 1890 e 1900, foi, em grande parte, devido ao grande número de imigrantes, principalmente italianos, que se fixaram na cidade; na última década, porém, foi o grande aumento, que se observa na natalidade, a circunstância que mais concorreu para o novo crescimento da população. Em 1910, o número de casamentos foi de 2.353; o de nascimentos 12.287, e o de falecimentos 6.246.

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Avenida Paulista
Foto-montagem publicada com o texto, página 644

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Entre as avenidas, ruas e praças que mais realçam a beleza da cidade, contam-se a magnífica Praça da República, a soberba Avenida Paulista, com uma esplêndida arborização e ladeada por palacetes e residências particulares de nobre arquitetura, a qual todo o paulista menciona com justo orgulho; as Avenidas Tiradentes e Rangel Pestana, a Alameda Antonio Prado etc.

As ruas de São Bento, 15 de Novembro e Direita formam o centro comercial da cidade; e o famoso Triângulo delineado por estas três constitui também uma zona de elegância, com outros tantos pontos de reunião nos seus numerosos bares, cafés e confeitarias. Da Rua Direita, um viaduto, com 800 pés de comprimento e 50 de largo, liga a cidade antiga à nova. É conhecido pela denominação de Viaduto do Chá, devido à cultura de chá, que em tempo existiu no vale por ele atravessado. Hoje, esse vale está ocupado por numerosos pomares, que abastecem os mercados da cidade.


Novo Paço Municipal de São Paulo
Imagem publicada com o texto, página 645

No Largo do Palácio, situado no centro da cidade, ficam o Palácio do Governo e as Secretarias de Estado; daí, partem, em várias direções, as ruas principais que põem os diversos bairros em comunicação com o centro da cidade.

O limite Norte é demarcado pelo curso sinuoso do Tietê, além do qual fica a Serra da Cantareira, donde provém a água para o consumo da cidade. A Avenida Tiradentes atravessa esta parte da cidade, indo até as margens do Tietê; é servida em toda a sua extensão por uma linha de tramways (N.E.: bondes) elétricos e oferece um dos mais belos passeios da cidade. A Avenida Rangel Pestana, partindo da parte central da cidade, estende-se até o distrito industrial do Braz, passando ao lado do Largo da Concórdia, onde existe um mercado.

O distrito do Braz, há alguns anos atrás um verdadeiro charco, está hoje completamente saneado, coberto de edificações e fábricas; aí, como nos distritos modernos da cidade, as ruas se cortam em ângulo reto e são igualmente espaçadas. Na parte Sul, as ruas principais são as da Liberdade, Santo Amaro e Consolação, que todas vão ter à soberba Avenida Paulista, a rua nobre da cidade, asfaltada e profusamente arborizada e iluminada. Próximo a uma das extremidades desta, fica o Jardim da Aclimação, que é o jardim botânico.

Os subúrbios são em extremo pitorescos e atraentes, pela variedade e elegância das residências particulares que neles abunda: Santa Cecília, Palmeiras, Vila Buarque e principalmente Higienópolis são os bairros escolhidos pelos milionários para a sua residência. Em Higienópolis, entre outros palacetes, nota-se o do conde Alvares Penteado, situado no meio de luxuoso parque.


O novo Palácio das Indústrias em São Paulo
Imagem publicada com o texto, página 645

Dos vários jardins públicos de São Paulo, o mais antigo, o da Luz, é também o maior e mais belo; fica situado na parte Norte da cidade e foi criado por Carta Régia de 1790, mas só se completou em 1825, ano em que foi franqueado ao púbico, por ordem do primeiro presidente da Província de São Paulo, visconde de Congonhas do Campo.

O Jardim da Luz é um parque magnífico que além das suas árvores antigas e frondosas possui diversos lagos artificiais, e canteiros que ostentam a mais profusa variedade de flores, dispostas e tratadas com verdadeiro gosto.

A um lado do Jardim da Luz, fica a monumental Estação da Luz, "terminus" paulista da São Paulo Railway. É a melhor e mais bela estação de estrada de ferro no Brasil; e tem em um de seus ângulos uma torre de grande altura, de onde, para todos os lados, se descortina o panorama encantador da cidade. Próximo ao Jardim, ficam também os edifícios do Liceu de Artes e Ofícios, Escola Prudente de Moraes, Casa da Correção e o enorme Quartel da Polícia de São Paulo. Outro parque digno de menção é o da Antartica, a alguns minutos da cidade, provido de várias diversões e onde, aos domingos, se vê uma concorrência numerosa e animada.

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O Teatro Municipal, São Paulo
Foto-montagem publicada com o texto, página 646

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Dos edifícios de São Paulo, o que mais merece especial menção e notícia detalhada é o monumental Teatro Municipal, recentemente terminado. Sobranceiro ao vale do Anhangabaú, ocupa esse teatro, com o seu parque, o quarteirão limitado pelas ruas de Itapetininga, Conselheiro Crispiniano, do Teatro e Formosa. O edifício cobre uma área de 3.612 metros quadrados e tem 86 m de comprimento por 42 m de largura. Compõe-se de três corpos: o corpo da fachada, o corpo central, onde fica situada a sala de espetáculos, e o corpo posterior.

Tem sete pavimentos, dos quais um subterrâneo, cinco correspondendo aos planos e ordens da sala de espetáculos e um sob a cúpula central. No pavimento do subsolo, acham-se instaladas as galerias, câmaras e maquinismos de ventilação, caldeiras de aquecimento, aparelhos de resfriamento etc.

O pavimento que se poderia denominar do rés-do-chão, fica 12 degraus acima do nível da rua, e compreende: no corpo anterior, o vestíbulo principal, dois vestíbulos laterais, escada nobre, salas de administração e para venda de bilhetes, bar e restaurante; no corpo central está a sala de espetáculos com a platéia, tendo as arquibancadas dispostas em curva ligeira, com 263 poltronas de orquestra e 231 poltronas gerais; em plano um pouco mais alto, ficam 24 frisas, com cinco lugares e mais duas na ribalta, na boca de cena, com 10 lugares cada; comporta este pavimento 634 espectadores; no mesmo pavimento, no corpo posterior, fica o palco com as suas naves laterais e ao fundo os aposentos e salas para artistas, camarins etc.

O terceiro pavimento da primeira ordem compreende as mesmas divisões do pavimento inferior; a sala de espetáculos tem neste pavimento dois camarotes de boca, com antecâmaras privativas; 22 camarotes, com varandim saliente e balcão ao centro, com três filas de poltronas e 58 lugares; comporta a primeira ordem 188 espectadores.

O quarto pavimento, da segunda ordem, constitui o andar nobre do edifício; a sala de espetáculos, neste pavimento, compreende dois camarotes de boca com dez lugares cada um e com vestiários, gabinetes e salões privativos, destinados um ao prefeito e o outro ao presidente do Estado, e um balcão contornando a sala, com poltronas dispostas em duas filas laterais e quatro centrais; nos dois setores existem ainda dez camarotes. Comporta esta ordem 234 espectadores; neste pavimento fica, na parte anterior, situado o foyer.

O quinto pavimento ou terceira ordem compreende dois camarotes de boca e 31 camarotes comportando 175 espectadores. O sexto pavimento compreende as duas torrinhas ou camarotes de palco, o balcão ao centro, os balcões laterais e as galerias ou "Paraíso" com dez filas de cadeiras numeradas; comporta esta ordem 585 espectadores. Tem assim o Teatro Municipal uma lotação de 1.816 espectadores. O sétimo pavimento consta de uma sala única, circular, por cima do auditório, com 30 metros de diâmetro.

A arquitetura externa do edifício é composta no estilo Renascimento barroco, com uma sobriedade clássica, sem excessos de aplicação decorativa. De um e outro lados, sobre o ático, existem grupos de estatuaria de bronze, representando respectivamente o Drama e a Música, cada grupo composto de três figuras. Ao lado do corpo principal da fachada, ficam dois terraços sobre arcaria e colunatas, no centro dos quais estão colocadas duas outras alegorias em bronze. A fachada lateral compõe-se de uma parte central e de dois corpos simétricos, com três portadas sobre um balcão de consoles, com balaustrada de grés.

Internamente, o vestíbulo, com a sua cor homogênea, branca, é duma encantadora simplicidade artística; a escada nobre é de mármore branco com a balaustrada de mármore amarelo da Itália. Os arcos que encimam os vãos das portas e janelas têm um desenho caprichoso, afastando-se da forma comum em arco circular. A vasta sala do andar principal tem a sua ornamentação interna composta por candelabros de bronze dourado, aplicações de cobre dourado, espelhos, capitéis e festões dourados e balaustradas de mármore e ferro dourado.

O foyer tem a sua arquitetura interna mais opulenta e variada, sobre o estuque; notam-se os mármores de Itupararanga e da Itália; e os vãos são guarnecidos de aplicações e ocupados por peças decorativas de grande valor. O teto divide-se em três seções, ocupadas por outras tantas telas decorativas do artista Oscar Pereira da Silva.

No auditório, os camarotes salientam-se em balcão, apoiados em finas colunas douradas. A coloração geral, em branco e ouro, continua a tonalidade harmônica observada no interior do edifício; o frontão do palco é ocupado pr um belo friso esculpido, representando o nascimento de Vênus; no centro do teto está o magnífico plafonnier dourado com pendentes de cristal lapidado.

A orquestra, de acordo com o princípio wagneriano, fica colocada em plano inferior ao da platéia. Todo o mobiliário do teatro é luxuoso e confortável. A ventilação é feita por meio de ar captado no exterior e aquecido ou resfriado, conforme a temperatura a manter na sala de espetáculos.

O Teatro Municipal de São Paulo dispõe do melhor e mais moderno maquinismo e das melhores condições que se encontram nos teatros estrangeiros, de moderna e luxuosa construção. A construção deste teatro monumental, que sobremodo honra a capital paulista, foi entregue a um grupo de arquitetos de eleição, os srs. F. P. Ramos de Azevedo, Domiziano Rossi e Claudio Rossi. Iniciaram-se as obras sob a administração do prefeito conselheiro Antonio Prado, a 26 de junho de 1903, ficando inteiramente pronto o teatro a 30 de agosto de 1911. O espetáculo inaugural realizou-se a 11 de setembro de 1911 com a ópera Hamlet.

Entre outros numerosos e belos edifícios públicos de São Paulo, mencionaremos o Palácio Municipal, na Praça Municipal, ornada com jardins floridos e cascatas; o Palácio do Congresso, o Edifício do Correio, a Bolsa, a Biblioteca de S. Paulo, que é incontestavelmente a segunda do Brasil, a Catedral etc.

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Monumento do Ipiranga: 1) O monumento, tal como se acha presentemente (123 m, 50 de comprimento por 32 de altura na ala central). Nesse sítio foi proclamada a Independência do Brasil em 1822; 2) Interior do monumento, galeria no 1º andar; 3) O cavaleiro tenente-coronel Tomaso Gaudenzio Bezzi, delegado geral da Cruz Vermelha no Brasil, autor e construtor do monumento; 4) O edifício como será quando completo (fotografia do modelo na escola Politécnica de São Paulo)
Foto-montagem publicada com o texto, página 647

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O monumento do Ipiranga, erigido em 1885, a poucos passos do lugar exato onde foi dado o grito da independência, constitui um trabalho primoroso de arquitetura no Brasil. Obra do cav. Tomaso G. Bezzi, que na beleza do desenho e harmonia de proporções patenteou o seu talento de grande arquiteto, tem hoje instalado ali um museu que possui verdadeiros tesouros históricos e científicos.

A seção de taxidermia, riquíssima, contém enorme variedade de aves das florestas brasileiras; a coleção de borboletas é inesgotável; do reino mineral, existem amostras numerosas e de grande valor, sistematicamente dispostas de modo a facilitar a sua inspeção; os exemplares do reino animal são também interessantes e acham-se admiravelmente conservados. Existem ainda preciosas coleções etnográficas e uma galeria de pintores nacionais.

O museu Ipiranga fica situado a meia hora, em tramway, do centro da cidade, no meio de um parque admirável. Colocado numa eminência, oferece uma vista magnífica da cidade que a seus pés se estende de colina em colina.

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Na cidade de São Paulo e seus arredores: 1) Praça Antonio Prado; 2) Posto Centra de Desinfecção; 3) Parque Cantareira; 4) O Mercado; 5) O Reservatório; 6) Avenida Tiradentes
Foto-montagem publicada com o texto, página 648

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A instrução pública na Capital, como em todo o Estado, é objeto do maior zelo. Na cidade de São Paulo, as escolas públicas para a instrução primária são em número de 161 e compreendem dois cursos: elementar e complementar. Além destas, existem várias escolas particulares e jardins de infância.

Os estabelecimentos de instrução secundária são também numerosos, uns estaduais, outros federais e ainda outros particulares. Um deles, o Ginásio de São Paulo, com o seu curso equivalente ao do Ginásio Nacional, teve em 1906 uma freqüência de 187 estudantes.

Contam-se depois, entre os mais importantes: o Colégio Mackenzie que, além da instrução secundária, mantém cursos de Engenharia Prática; Ginásio de São Bento, dirigido pelos Beneditinos; Ginásio Diocesano, mantido pelo arcebispado, e que tem um curso de admissão ao Seminário; Colégio Anglo-Brasileiro e muitos outros.

Dos estabelecimentos de ensino superior, o mais antigo é a Faculdade de Direito fundada em 1827. Esta escola, mantida pelo governo federal, ocupa o antigo convento dos frades Franciscanos. O seu curso é de 5 anos e a sua matrícula compreende 500 estudantes. A Faculdade de Direito de São Paulo goza de alta reputação e de todos os pontos do Brasil vão estudantes fazer ali o seu curso.

A Escola Politécnica de São Paulo, outro importante estabelecimento de ensino superior, foi fundada em 1894. É mantida pelo Governo do Estado e possui magníficas instalações e um corpo docente de primeira ordem. Existe na Escola um curso preliminar de um ano, seguido de um curso geral de dois anos, depois do qual seguem os estudantes os cursos especiais nos seguintes ramos de Engenharia: Civil, Arquitetura, Industrial, Agronômica, Mecânica e Eletricidade. A sua freqüência foi em 1906 de 165 estudantes matriculados.

A Escola de Farmácia, instituto de ensino livre, subvencionada pelos governos federal e estadual, tem os três cursos: de Farmácia, Odontologia e Obstetrícia. Em 1906, a sua freqüência foi de 290 estudantes do sexo masculino e 77 do sexo feminino.

A Escola de Comércio é também uma escola livre, subvencionada pelos governos federal e estadual; está instalada em um magnífico edifício e tem cursos completos de línguas, escrituração e contabilidade mercantil e economia política. A sua freqüência foi, no último ano letivo, de 307 estudantes.

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Escolas e colégios de São Paulo: 1) Escola Normal; 2) Escola Politécnica; 3) Liceu de Artes e Ofícios; 4) Ginásio Nogueira da Gama; 5) Liceu do Sagrado Coração de Jesus
Foto-montagem publicada com o texto, página 649

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A instrução profissional recebeu nos últimos anos um grande impulso, contando São Paulo vários destes estabelecimentos. O Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, dirigido por uma associação particular, ocupa um belo edifício, de construção recente. Além dos cursos de instrução primária, línguas e ciências, há ainda o ensino de desenho e sua aplicação às artes e indústrias, modelagem e pintura, marcenaria, serralheria etc. Em suas bem montadas oficinas são executadas mobílias e bronzes artísticos que gozam em São Paulo de alta reputação. O número de alunos matriculados no Liceu é superior a 800.

O Colégio do Sagrado Coração, fundado em 1889 pelos padres Salesianos, para o ensino de ofícios, conta cerca de 800 alunos; são dignos de nota os trabalhos de impressão e encadernação ali executados. Figuram ainda entre os estabelecimentos de ensino profissional em São Paulo: o Instituto D. Rosa, fundado pela família Souza Queiroz, para a educação de meninos desamparados; e o Seminário das Educandas, para meninas órfãs, mantido pelo Estado.

O Conservatório, instituição de caráter particular, fundado em São Paulo, para o ensino de música e arte dramática a alunos de ambos os sexos, recebe do Estado uma subvenção. Na Casa de Correção, nos arredores da cidade, fundada pelo Governo do Estado, é ministrado o ensino profissional aos jovens delinqüentes suscetíveis de corretivo pela educação e trabalho.

Além das bibliotecas existentes nos estabelecimentos de ensino superior, mantém o Governo do Estado uma Biblioteca Pública, que é no Brasil a segunda, isto é, apenas inferior à Biblioteca Nacional na Capital da República. Publicam-se em São Paulo 14 jornais, uns de manhã e outros de tarde, dos quais os principais dispõem de ótimos serviços telegráficos e de informações locais. Alguns destes últimos publicam habitualmente de 6 a 8 páginas de grande formato. O mais antigo é o Correio Paulistano, que foi fundado em 1854; são também muito lidos o Estado de São Paulo, o Diário Popular etc. Há também vários semanários, alguns dos quais ilustrados; e há também, redigidos em italiano, alemão, francês e sírio, periódicos importantes.

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1) Rua São Bento; 2) Avenida Brigadeiro Luiz Antonio
Foto-montagem publicada com o texto, página 650

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Intelectualmente, é São Paulo um dos centros mais desenvolvidos do Brasil. Entre as suas sociedades científicas e literárias salientam-se: o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo em correspondência com os institutos da Europa e América, a Sociedade de Etnografia e Civilização dos Índios etc.

Há bastantes anos que São Paulo se esforça por tornar perfeitas as suas condições de higiene, salubridade e assistência públicas. Além da fiscalização, que sobre os serviços públicos exerce o Departamento de Higiene, tem este também a seu cargo os trabalhos de desinfecção, para os quais há um posto central perfeitamente aparelhado e um Hospital de Isolamento, para onde são prontamente transportados os doentes de moléstias infecciosas. A vacina de Jenner, preparada no Instituto Vacínico de São Paulo, é distribuída por todo o Estado.

Há ainda o Instituto Bacteriológico, que se ocupa de análises legais de toda a sorte; o Instituto Soroterápico de Butantã, para a preparação dos soros anti-diftérico e anti-ofídico e da tuberculina; o Instituto Pasteur, para o tratamento anti-rábico, existindo também neste instituto cursos de Bacteriologia e tratamento de moléstias tropicais.

O Governo possui, além do Hospital de Isolamento, o magnífico Hospital da Polícia, com acomodação para 200 doentes. Entre os hospitais mantidos por associações particulares, contam-se a Santa Casa da Misericórdia, a Beneficência Portuguesa, o Hospital Samaritano, o Sanatorium Santa Catharina, a Maternidade etc. Possui também a cidade de São Paulo vários asilos para órfãos e outros para a mendicidade; estes são, na maior parte, de iniciativa particular, mas subvencionados pelo Governo do Estado ou pela Municipalidade.

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Higienópolis, mostrando o Palacete Penteado
Foto publicada com o texto, página 653

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Dos serviços públicos da cidade, os de tramways elétricos e iluminação elétrica estão a cargo da São Paulo Light & Power Co. Ltd. Possui esta Companhia 125 quilômetros de linhas, estabelecidas por toda a cidade, em todas as direções. Os serviços são executados em excelentes condições de rapidez e comodidade. A companhia transportou, em 1910, 260.597 passageiros.

Para a produção de energia elétrica para força e luz, tem a Companhia a sua Usina Geradora a curta distância da cidade, aproveitando as quedas do Rio Parnaíba; e aí desenvolve 12.000 hp. A iluminação pública e particular da cidade compreende 52.778 lâmpadas. A Companhia fornece também energia a 661 motores, que em diversas fábricas e oficinas desenvolvem 9.555 hp.

A cidade de São Paulo tem agora também um excelente serviço de veículos de praça, feito por particulares e por várias companhias. Como acontece no Rio, o automóvel suprimiu ali, quase completamente, a tração animal; e a maioria dos veículos de praça é constituída por "táxis".

A iluminação a gás é feita pela São Paulo Gas Co. Ltd. que, em 1909, forneceu 8.966.379 metros cúbicos de gás para iluminação pública e particular. O serviço de abastecimento d'água, a cargo do Governo, é feito com água trazida da Serra da Cantareira; e a rede de distribuição tem um desenvolvimento de 454.814 metros.

A rede de esgotos está hoje admiravelmente disposta e tem um desenvolvimento de 965.257 metros. Os serviços de limpeza e irrigação das ruas, a cargo da Municipalidade, são fiscalizados com desvelo; e São Paulo, como o Rio de Janeiro, faz a esse respeito melhor figura que muitas cidades importantes da Europa.

O Matadouro Municipal é higiênico e amplamente instalado. Em 1909, foram abatidos 59.195 bois, 3.331 vitelas, 42.534 porcos e 9.584 carneiros.

Além da magnífica Brigada Policial do Estado, tem a cidade um corpo de 1.184 guardas civis, admiravelmente instruído, a que está entregue o policiamento dos cinco distritos em que se acha dividida, cada um deles a cargo de um delegado.

São Paulo é a sede de um Arcebispado, de que dependem os Bispados de Taubaté, Campinas e Botucatu. Além da Catedral, possui a cidade grande número de igrejas católicas. Há também um templo anglicano, vários templos e escolas presbiterianas, metodistas ou batistas, uma sinagoga judaica e um templo grego ortodoxo. Existem várias lojas maçônicas filiadas ao Grande Oriente do Estado, cuja sede é em São Paulo.

Se são grandes os progressos realizados nos outros ramos de atividade, na cidade de São Paulo, mais notáveis se tornam ainda os que têm tido o comércio e indústria da metrópole paulista. De todas as cidades do Estado, é São Paulo, com enorme vantagem, o mais importante centro industrial; e no Brasil, só o excede o Rio de Janeiro. As suas manufaturas incluem uma variedade enorme de produtos, vendidos não só aos mercados do interior do Estado, como também nos Estados mais afastados da União.

A manufatura de sacos atingiu grande desenvolvimento, empregando-se, entre outras fibras têxteis, a aramina, proveniente de uma planta cultivada em vários municípios do Estado. Para o emprego industrial desta fibra, foi, em 1903, estabelecida na cidade de São Paulo, com o capital de Rs. 1.000:000$, uma fábrica com 60 traves, que produz anualmente 800.000 sacos, empregando 700.000 quilos de aramina.

Entre as indústrias de comestíveis, a que maior desenvolvimento apresenta, é a de massas alimentícias; as diversas empresas desse gênero produzem 650.000 litros de massas, em parte consumidas no Estado e em parte exportadas para outros Estados. Possui São Paulo vários moinhos para a produção de farinha de trigo, entre eles o Moinho Matarazzo, cujo maquinismo é acionado por dois motores elétricos de 750 hp e cuja produção anual sobe a Rs. 6.345:000$000.

O fabrico de cerveja tomou também um desenvolvimento considerável; é representado pela Companhia Antarctica Paulista, cujos produtos em nada sofrem com a comparação à melhor cerveja alemã. A manufatura de garrafas e outros artigos em vidro é representada por três fábricas, das quais a mais importante, a fábrica de Santa Marina, produz anualmente cerca de 3.000.000 de garrafas. Existem ainda numerosas fábricas de sapatos, chapéus, fundições em ferro ou bronze, olarias, oficinas mecânicas, fábricas de pregos e parafusos etc. etc.

O desenvolvimento da indústria na cidade de São Paulo fica bem patente pelo aumento do número de empresas e de seu capital que nos três anos de 1907, 1908 e 1909 se verifica. Assim, em 1907 o número de empresas era de 713 com o capital total de Rs. 21.677:488$440; em 1908, o número de empresas era de 900, com o capital de Rs. 21.861:265$990, e em 1909, o número de empresas elevava-se a 1.008, com o capital de Rs. 23.284:717$143.

Em 1907, as fábricas e oficinas, inscritas no registro oficial de imposto do consumo, eram em número de 729; em 1908, subiam a 839, das quais 79 grandes. Em 1909, contavam-se 851 assim classificadas: fábricas de tecidos, 22; de chapéus, 152; de bebidas, 57; de calçado, 348; de fumo, 130; de perfumarias, 32; de fogos de artifício, 2; de produtos químicos, 53; de vinagre, 8; de conservas, 23; de bengalas, 5; de cartas de jogar, 3.

Como a indústria, tem o comércio paulista acompanhado o desenvolvimento da cidade; assim, no curto período de dois anos de 1907 a 1909, o número de casas comerciais passou de 3.604 a 4.351 e o seu capital de Rs. 55.748:887$000 a Rs. 61.302:227$998. O número de sociedades anônimas, no mesmo período, passou de 83 a 139 e o seu capital de Rs. 235.856:842$000 a Rs. 301.029:915$500. O comércio a retalho de São Paulo tem sempre um estoque variado de toda a sorte de mercadorias; as casas de ourives e objetos de arte competem no luxo de instalação e profusão de mostruário com as melhores do Rio de Janeiro.

Escala da imigração italiana e de outras nacionalidades, que se dirige aos diversos pontos do Estado, cidade rica e em pleno período de desenvolvimento, São Paulo naturalmente reteve uma parte dessa emigração e atraiu outras que se fixaram em seus limites. Apresenta por isso, mais que nenhuma outra cidade no Brasil, um aspecto cosmopolita. A língua italiana é ouvida constantemente nas ruas da cidade, e os jornais em línguas estrangeiras são numerosos. Em São Paulo não há miséria, pois que os salários são relativamente elevados e a vida módica. A população é sinceramente religiosa, sendo as festas de igreja e procissões em geral muito concorridas.

São Paulo conta grande número de clubes sociais e esportivos e várias sociedades recreativas. O domingo é o dia de festa por excelência. Ao domingo, o movimento nos lugares de passeio e recreativos, no prado de corridas da Moóca, nos teatros, nos cinematógrafos, cresce de um modo extraordinário; e os jardins públicos enchem-se de povo. O atletismo goza em São Paulo do favor público; e matches de foot-ball, corridas de bicyclette, regatas etc. se realizam sempre, com entusiástica e numerosa assistência.

Não é sem razão que se considera o paulista o yankee no Brasil. E o verdadeiro segredo da prosperidade da cidade reside justamente no esforço de seus habitantes que trabalham unidos para a supremacia intelectual, econômica e política da sua formosa capital, fruto grandioso dum labor de poucos anos, mas no qual se empregou a mais formidável energia.

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O Correio Geral
Foto publicada com o texto, página 653

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