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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [37-c]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho informa, nas páginas 476 a 480, a seguir reproduzidas (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

Finanças (cont.)

Os capitais empregados

omo país produtor o Brasil se acha ainda na sua infância, de sorte que as oportunidades para o emprego do capitão - como está assinalado em outro artigo desta obra - quase ilimitadas.

A sua enorme extensão territorial, com a correspondente diversidade de climas, a sua população proporcionalmente diminuta, os seus milhares de quilômetros quadrados de florestas e campos inaproveitados, a sua profusa capacidade de produção de todas as riquezas vegetais das zonas tropicais, subtropicais e temperadas, e ainda os seus diversíssimos e opulentos recursos minerais - são todos fatores de imensa importância para os inúmeros meios de aplicar capitais, em grande e pequena escala.

Na agricultura e na pecuária, em estradas de ferro e outros meios de transporte, em fornecimento de força e de luz elétricas, na mineração do ouro, do ferro, do manganês, das pedras preciosas, nas empresas industriais para fornecimentos exigidos, em quantidades cada vez maiores, pela população dia a dia crescente, em obras de melhoramentos urbanos e de portos - o Brasil ainda não tem senão um desenvolvimento diminuto comparativamente com o que é preciso fazer-se.

Muito se tem feito, decerto, sobretudo nos últimos anos, mas resta ainda a fazer-se muito mais, até que o país passe a ocupar o lugar que lhe é devido entre as nações, pela sua riqueza e recursos naturais.

Há poucos anos ainda, o eminente dr. Joaquim Murtinho atribuía a presente prosperidade do Brasil, sobretudo, ao auxílio do capital inglês e do trabalho italiano. E efetivamente, até poucos anos atrás, a quase totalidade dos capitais empregados nas grandes indústrias e outros elementos de progresso material do país vinha, sobretudo, dos capitalistas ingleses.

Nos últimos tempos, porém, o Brasil tem sido vivamente disputado por outros capitais, especialmente norte-americanos e canadenses, cujas operações são apoiadas por capitalistas franceses e, um pouco, belgas. Também os capitais nacionais têm crescido consideravelmente nos últimos anos; e o excesso constante das exportações sobre as importações tem determinado um largo influxo de ouro, que se distribui, em parte, pelas empresas agrícolas, comerciais e industriais do país, cujos progressos podem ser facilmente constatados de ano para ano.

Neste momento de atividades e operações, umas apenas projetadas, outras em início de execução, não é possível fazer-se um cálculo, com probabilidades de exatidão, sobre a importância dos capitais estrangeiros empregados; como é de todo impossível estabelecer-se a proporção dentro da qual contribui cada uma das nações estrangeiras.

Mesmo se fosse possível determinar a origem de todos os empréstimos contraídos pela União, pelos estados e pelos municípios, não seria possível discriminar com segurança a parte com que contribuiu cada um dos países prestamistas e inda em mãos de quem se encontram esses títulos. Tratando-se então de iniciativas individuais - isto é, de companhias funcionando no país, pra exploração dos recursos, transporte, operações comerciais e bancárias etc. - a dificuldade se torna ainda muito maior, chegando a ser insuperável, uma vez que não existem estatísticas dos capitais emitidos e é ainda mais difícil calcular a importância dos capitais particularmente aplicados.

Tudo o que se pode afirmar, com relação ao emprego de capitais estrangeiros, é que a dívida externa da União montava a £82.903.120 e Fr. 300.000.000 em maio de 1912, as dívidas dos estados eram de cerca de £44.000.000, e as dos municípios cerca de £6.000.000 - o que faz, ao todo, cerca de £145.000.000.

Um cálculo aproximativo, muito sujeito a erro, sobre os capitais estrangeiros empregados nas estradas de ferro brasileiras (não compreendidas, portanto, as linhas operadas pela União e pelos estados, como a Central do Brasil, cujos capitais estão compreendidos na dívida estrangeira), atribui-lhes a soma de £75.000.000. Este cálculo, porém, sobre não apoiar-se em dados oficiais para todos os casos, tem ainda contra si as flutuações inevitáveis nas operações ferroviárias em países que começam a se desenvolver, as freqüentes emissões novas de debêntures e a prática de companhias subsidiárias que operam com fundos de companhias aliadas.

No que diz respeito a bancos, bondes, serviços de iluminação pública, esgotos e higiene, companhias empenhadas na mineração, comércio, exploração da borracha, agricultura e atividades semelhantes, não existe a mínima informação fidedigna. Calcular em £100.000.000 o total desses capitais é apenas avançar uma conjetura, baseada somente sobre o cálculo de capitais nominais das companhias registradas no exterior, sem tomar em conta as inúmeras outras com sede no Brasil.

Somadas as três quantias já calculadas, temos um cálculo aproximado de 320 milhões de libras esterlinas, de capital estrangeiro empregado em títulos de dívida pública, estradas de ferro e companhias particulares, não incluindo aí as vastas somas aplicadas nas companhias estrangeiras de navegação, as quais, por servirem, simultaneamente, a várias outras repúblicas do continente, não podem ser levadas à conta do Brasil, somente.

Seria interessante discriminar a parte de cada uma das nações estrangeiras nesse total; mas, como já se disse, a tarefa está acima das possibilidades, a menos que nos contentemos com fornecer algumas indicações parciais.

Assim é que The South American Journal, na sua resenha do ano de 1911, calculava o total dos capitais ingleses empregados no Brasil em £164.490.322, assim distribuídos conforme a cotação de títulos na Bolsa de Londres: títulos de dívida pública, £98.691.250; estradas de ferro, £32.984.680; outras companhias, £32.814.392.

Existem, porém, muitas companhias que não se inscreveram para cotação na Bolsa; e por outro lado, um cálculo feito para 1908 dava 36 milhões de libras às companhias diversas, sendo de prever que esta cifra tenha aumentado de então para cá, com o grande desenvolvimento das explorações de borracha.

Segundo o Economist, o capital levantado em Londres, para o Brasil, durante os anos de 1909, 1910 e 911, foi, sucessivamente, de £9.218.000, £11.813.900 e £19.210.600 - incluindo títulos de dívida pública e emissões particulares.

Com tais dados, podemos concluir que - do total de 320 milhões de libras, acima calculado - a parte da Inglaterra é ainda mais da metade, ou aproximadamente 180 milhões (o jornal Le Brésil de 23 de janeiro de 1910 calculava, então, o capital inglês em 160 milhões de libras).

Os capitais ingleses estão aplicados em empresas de toda a sorte, mas especialmente em obras de porto e melhoramentos urbanos, serviços de bondes, iluminação e fornecimento de energia, exploração da borracha e das minas.

Depois da Inglaterra, vem a França,ou mais propriamente a França e a Bélgica combinadas, pois a maior parte dos empréstimos e outras emissões lançadas em Paris são cobertos por capitais franceses e belgas. Não dispomos de algarismos para avaliar o total de capitais franco-belgas empregados no Brasil; mas é sabido que, além da sua grande participação nos empréstimos oficiais, a França fornece a maior parte dos capitais operados por grandes empresas norte-americanas e canadenses, ultimamente criadas, tais como a Brazil Railway e outras menores.

No seu livro Le Progrès Brésilien, o barão de Anthouard calcula que, no começo de 1911, o total de capitais franceses empregados em valores móveis, no Brasil, devia ser quase 1.500 milhões de francos (£60.000.000), sendo que, até 1907, o total não passaria de 700 milhões.

Entre as aplicações menores dos capitais franceses figura a exploração da indústria açucareira e outras indústrias agrícolas; e dos belgas, empresas de engenharia, aplicações elétricas, manufaturas de algodão etc.

Depois desses grandes capitais, seguem-se, a longa distância: os norte-americanos e canadenses aplicados em serviços de bondes, iluminação elétrica, fornecimento de energia, trabalhos de saneamento e esgotos e comércio de café; os alemãs, aplicados na indústria manufatureira, agricultura e comércio; argentinos, ao Sul, aplicados na pecuária e indústrias anexas; e italianos, empregados em grande parte das indústrias, empresas bancárias e comerciais e na pequena lavoura de S. Paulo, sobretudo.

Como se disse, porém, no começo deste artigo, os norte-americanos estão disputando vivamente a exploração do Brasil na maioria dos ramos de atividade que, até poucos anos atrás, eram quase monopólio dos capitalistas ingleses. isto mesmo se verifica das informações prestadas, em setembro de 19112, pelo sr. dr. Pedro de Toledo, ministro da Agricultura, Indústria e Comércio, relativas ao ano de 1911. O total de capital autorizado no Brasil, durante o ano, foi de 13.597 contos papel (£906.500) de capitais brasileiros, e 311.518 (£20.767.900) de companhias estrangeiras - sendo que, deste total, só os Estados Unidos contribuíram com 212.039 contos (£14.134.900), o que representa um aumento de 803% dos empregos de capital norte-americano, em relação ao ano de 1910, e 4.537% em relação a 1909.

Combinadas as informações deste artigo com as de outros deste livro - assinaladamente Finanças, Indústrias, Comércio etc. - verificar-se-á que o capital estrangeiro absorvido pelo Brasil era empregado, até aqui, quase exclusivamente, nas indústrias extrativas e na aquisição ou aperfeiçoamento de material para instalações da indústria e do comércio.

Os dinheiros emprestados aos governos da União, dos estados e dos municípios têm sido destinados, em grande parte, a obras públicas, ao desenvolvimento e estímulo de indústrias, melhoramento dos meios de transporte e comunicação, tudo em suma que pudesse contribuir para o melhor aproveitamento dos recursos nacionais.

Mas, neste terreno mesmo, resta muitíssimo a fazer-se, faltando meios de transporte até para regiões vizinhas do litoral - o que quer dizer que muito dinheiro terá ainda de entrar no país, em próximo futuro, para dotar o país de locomoção adequada.

De que o capital será facilmente fornecido, parece não haver dúvida; pois os títulos brasileiros mantêm-se com boas cotações, sendo poucos os abaixo do par, na Bolsa de Londres, com em outras praças onde são cotados.

Além dos serviços ferroviários, existe ainda grande margem para outros serviços de interesse público, tais como abastecimento de água e luz, obras de saneamento, esgotos etc., que ainda faltam em muitas cidades mesmo de relativa importância.

Dos 42 milhões de libras que só a Inglaterra costuma empregar, anualmente, na América Latina, uma boa porção pode, pois, ser aplicada, durante anos, a tal fim. Em matéria de indústrias, há decerto, também, larga margem para o emprego de capitais, embora - como observava o sr. Hamblock, cônsul britânico, em exercício, no Rio de Janeiro, num relatório relativo a 1910 e parte de 1911 - seja este um campo em que o pequeno capitalista estrangeiro encontra no Brasil, além das surpresas duma tarifa exorbitante, a concorrência já muito considerável das indústrias do país, que, conhecendo melhor as necessidades locais, a língua e os costumes do povo, podem exercer essa atividade com maior proveito do que o que vai de fora. O sr. Hamblock indica, porém, outras oportunidades - tais como o estabelecimento de lavanderias e padarias a vapor - para o emprego dos pequenos capitais.

Outra indústria que está à espera de desenvolvimento no Brasil é a de frigoríficos. Devido ao calor e umidade duma grande extensão do Brasil, a conservação de gêneros alimentícios é muito difícil e as acomodações para tal eficientíssimas. Se, pois, o Brasil desenvolver, como pretende, o seu comércio de frutas e de carne, muitos frigoríficos terão de ser abertos em todo o país.

Fora das indústrias urbanas e das indústrias ferroviárias, há muito a fazer-se, começando justamente pela ligação das cidades ao interior onde não haja estradas de ferro ou rios perfeitamente navegáveis. Nalguns distritos existem estradas de rodagem especialmente construídas para receber grandes pesos; mas muitíssimas outras terão de ser abertas antes que as estradas de ferro cortem todo o país.

Ainda recentemente, o estado de S. Paulo garantiu a um concessionário o direito exclusivo de explorar o transporte de passageiros e mercadorias sobre as estradas de rodagem do estado, com a condição de conservá-las, fazendo as reconstruções necessárias, durante o prazo da sua concessão.

O fornecimento de energia elétrica do interior para as cidades, aproveitando as inúmeras quedas d'água dos rios, é outro recurso que terá forçosamente de ser aproveitado em breve, para mover as fábricas, usinas, engenhos e moinhos, os bondes, e talvez as próprias estradas de ferro, onde os fretes tornem o carvão demasiado caro.

Nos artigos sobre Recursos Minerais e Oportunidades para o capital, nos referimos ao muito que esperam dos capitais estrangeiros as grandes jazidas, não já de ouro e pedras preciosas, mas sobretudo de ferro e de manganês, assim como de carvão nos estados de S. Paulo para o Sul, oca etc. Ainda na pecuária e indústrias afins, que já representam algum progresso, há muitíssimo a fazer-se, mesmo para prover às primeiras necessidades locais, conforme já ficou assinalado em outros pontos desta obra.

Mas, se todos esses e vários outros campos de atividade se apresentam aos capitalistas, prontos a recompensar-lhe com segurança os capitais empregados, é certo que a verdadeira riqueza do país está sobretudo na maravilhosa fertilidade do solo, até agora não aproveitada, sequer, em proporção das próprias necessidades locais.

Nas listas de importação, figuram inda em grande escala muitos dos gêneros de primeira necessidade, como feijão e arroz, que dão no país com a máxima facilidade; e os poucos produtos vegetais exportados, fora do café e do mate, tais como o cacau e açúcar, o são em quantidade insignificante em relação à procura mundial e à capacidade de produção do país.

A cultura do trigo, entre outras, conta com a maior proteção do governo e está à espera de capitais e de trabalhadores que dêem ao Brasil, pelo menos, o necessário para o consumo interno. A cada sindicato ou cultivador de trigo, com uma área cultivada de mais de 500 acres, o governo federal oferece uma forte subvenção, além da isenção de direitos para os instrumentos agrícolas que importar.

Também aos imigrantes que se dediquem à cultura do trigo nos núcleos coloniais são oferecidos favores especiais, bem como aos moinhos instalados no interior, a fim de evitar que o grão seja transportado para ser moído fora. A moinhos que satisfaçam certos requisitos são distribuídos prêmios no valor de vinte contos de réis.

Nos artigos sobre Flora e Oportunidades para o capital, analisamos com certa largueza o muito que terão de se desenvolver toda as indústrias filiadas à exploração das matas, em madeiras de construção, plantas fibrosas, corantes e medicinais. Também neste particular, o governo oferece algumas vantagens, especialmente para o cultivo de fibras, que dispensem a importação de material para sacos e outros tecidos resistentes, bem como de papel, outra indústria que está à espera de capitais, visto como só existem no país muito poucas fábricas e o consumo de papel cresce dia a dia, com o desenvolvimento da imprensa e das escolas, bem como da burocracia.

A pomicultura, que já faz a fortuna de outros países - como os Estados Unidos - menos bem dotados do que o Brasil, tende igualmente a se expandir consideravelmente, desde que sejam atenuadas as dificuldades de transporte e outras.

Também aos cultivadores de frutas, o governo oferece prêmios que variam conforme a quantidade exportada. Uma enumeração, porém, de todas as possibilidades apresentadas aos capitalistas levar-nos-ia longe demais. As principais estão enumeradas no artigo especialmente dedicado ao assunto e um pouco por todos os demais artigos especiais desta obra.

Oportunidades para o capital

Pelo comendador A. B. Ramalho Ortigão

Redator comercial do Jornal do Commercio

estudo das oportunidades para o emprego de capital em países novos, onde muito há ainda por fazer, afigura-se-nos de iniludível conveniência no momento em que, no velho mundo, acrescem à superabundância deste fator disposições legislativas tendentes a diminuir-lhe cada vez mais a renda, seja em proveito do fisco ou no de novas e dispendiosas instituições que o socialismo e o sindicalismo vão impondo.

O capital, inteligente e suscetível por natureza, busca os pontos onde, além da segurança e garantia necessárias, encontra melhor remuneração, com a mesma espontaneidade com que a água corre da montanha à planície e forma nível onde as condições topográficas lhe oferecem conveniente reservatório.

Não é fácil problema, todavia, examinar essas oportunidades em relação ao Brasil, tão extenso, numeroso e complexo é o campo de observação, tão várias as modalidades e tais as vantagens do emprego de capital neste país promissor de resultados incomensuráveis.

No conjunto de riquezas que encerra, o Brasil representa ainda, apesar da corrente de capital estrangeiro que de ano para ano se avoluma, um novo mundo a explorar, bastante vasto para conter todos os bons elementos que para ele convirjam, bastante exuberante para assegurar êxito a todas as iniciativas bem orientadas.

A dificuldade, ao descrevê-lo, está em não se parecer hiperbólico e em resumir nos estreitos limites dum capítulo, sem muito a prejudicar, matéria que daria para alguns volumes duma obra especial e interessante. Esta é, no entanto, atarefa de que fomos incumbidos.

As riquezas do Brasil se distribuem por igual entre os três reinos da natureza; e as indústrias que nelas têm origem dividem-se em extrativa, agrícola, manufatureira e comercial.

À indústria extrativa se insinuam, no que concerne ao reino vegetal, a borracha, as fibras, o curtim, o mate, os óleos e ceras vegetais, as gomas, resinas, essências e matérias corantes, as plantas medicinais e ornamentais, as madeiras numerosas, variadas e belas, que contêm nossas florestas tropicais; no reino animal, a pesca, a caça, as peles, os óleos, a cola, as penas e animais de coleções; no reino mineral, os diamante e pedras coradas, o ouro, o ferro, o manganês, o cobre, o níquel, o mercúrio, o chumbo, o estanho, o zinco, o bismuto, o antimônio, o wolfrânio, o tungstato de cal, os grafitos, plumbaginas, seistos e grafitosos, o enxofre, o quartzo, o esmeril, a apatita, o clorofosfato de cal, o salitre, as areias monazíticas, as salinas, os mármores, pedra olar, ocras, amianto, micas e argilas, as lignites, a turfa e o carvão de pedra, não devendo também ser omitidas s águas minerais nativas, de valor incontestável.

Da borracha, que já tem nesta obra capítulo especial, não nos ocuparemos senão adiante, ao tratar da indústria manufatureira. Em fibras, tem o Brasil uma riqueza têxtil considerável, ainda em grande parte inexplorada. Iríamos muito longe, se pretendêssemos enumerar, uma por uma, as diversas espécies nativas do nosso solo, umas utilizadas pela exportação e pela indústria manufatureira, outras, em grande cópia, ainda inexploradas, conquanto encerrem apreciáveis vantagens.

O mate é, por assim dizer, o chá nativo do Brasil, que se encontra em abundância nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, São Paulo, Goiás e Minas Gerais, estendendo-se, assim, por uma área muito vasta. A produção, portanto, deste artigo, pode se desenvolver na razão direta do consumo, por mais que este aumente, pois que ela consiste simplesmente na colheita das folhas de tal arbusto, que o país possui em notável superabundância. Posto que ainda muito longe de igualar a capacidade produtiva, o consumo cresce, entretanto, em boas proporções. Não falando do consumo interno, de que não há infelizmente estatística, vê-se dos algarismos da exportação que esta aumentou de 36.120.000 quilos em 1903, a 61.034.000 quilos em 1911, apresentando assim, em oito anos, diferença de 24.905.000 quilos, ou cerca de 70% para mais.

Não menor em quantidade e importância é a nossa riqueza natural no que concerne a plantas oleaginosas e ceríferas. À frente da primeira se destaca a mamona (ricinus communis), de espontaneidade e exuberância surpreendentes. "Desde que é introduzida numa localidade - diz o autor duma pequena monografia que temos sob os olhos - a mamona não mais a abandona: assenhoreia-se das cercanias das habitações, parece em meio das culturas, reaparece depois das capinas, surge, como espontânea, nos terrenos em que se derrubaram matas virgens ou capoeirões antigos, a despeito do fogo que habitualmente se ateia para limpar esses terrenos. Impossível será desde então extingui-la, pois ela teima e persiste como uma praga, e não falta no país quem a estigmatize com esse qualificativo aviltante. É, no entanto, uma preciosidade que só nestes últimos anos tem sido explorada, como fonte de renda, de maneira digna de nota. O que há ainda a fazer, com respeito a essa exploração, é quase tudo e de valor extraordinário, em relação à utilidade dos produtos a que se presta e da procura, incessantemente crescente, que deles se faz no próprio país e no estrangeiro". Todos os estados do Brasil produzem mamona, espontânea ou em culturas, e existem no país diversas fábricas de óleo, que a utilizam como matéria prima. O maior produtor desse grão oleaginoso é Pernambuco.

A copaíba (copaifera officinalis) é outra planta oleaginosa que o Brasil produz em abundância e já se acha utilizada na indústria. Segue-se-lhe a castanha vulgarmente chamada do Pará e que é produzida no Norte do país, mas tem na sapucaia um similar que se encontra em zona muito mais vasta, para o Sul, até os estados de Minas e Rio de Janeiro. Não precisamos encarecer o valor deste produto, vantajosamente conhecido no estrangeiro. A carnaubeira é uma palmeira que, toda ela, tronco, folhas, frutas e seiva se prestam a vários fins industriais, e entre estes o fabrico de óleo e cera. É, portanto, outra fonte apreciável de riqueza, como igualmente o é o coqueiro da Bahia, que tantas matérias-primas oferece à indústria manufatureira.

Em todos os estados do Brasil existem magníficas madeiras, tanto para construção como para marcenaria. Não obstante, porém, a variedade e riqueza das nossas florestas, a exploração de madeiras é ainda muito diminuta. Só agora se começa a prestar atenção a essa importante e valiosa oportunidade para emprego de capital, e algumas empresas se têm organizado para operar nessa indústria.

A madeira que principalmente, e talvez unicamente, tem sido exportada para a Europa e os Estados Unidos da América do Norte é o jacarandá, cujo maior mercado é o Havre; também se faz algum negócio com Hamburgo. A exportação para o Havre, porém, tem diminuído, porque a França passou a suprir-se das suas colônias na África. Os Estados Unidos a compravam por intermédio do Havre, mas começam agora, ainda que em parcelas reduzidas, a procurar diretamente a mercadoria no Brasil. A base de preço para o jacarandá é a dúzia de toras, medindo cada tora de 0,30 m x 0,30 m x 3,40 m até 1,00 m x 1,00 m x 3,40 m e pesando cerca de 200 quilos. A dúzia de toras com peso até 4.000 quilos vale de 800$000 a 2:000$000, conforme a grossura, qualidade, estado de conservação e número de anos decorridos desde o corte. O jacarandá é exportado em meias toras.

As outras madeiras do país, tanto para marcenaria como para construção, valem 80$ a 90$000 por metro cúbico para toras medindo de face 0,50 m x 0,50 m ou mais, e com a extensão de 7 a 9 metros. Se esta extensão é maior e passa de 10 até 15 metros, o valor se eleva a cerca de 130$000 por metro cúbico. Quando as madeiras têm menor face, 0,25 m x 0,25 m até 0,40 m x 0,40 m com o comprimento de 8 a 15 metros, são consideradas vigamento e cotam-se à razão de 1$500 por palmo corrido. Todas essas madeiras vêm ao mercado com as faces falquejadas a machado. O frete da madeira para os portos europeus e americanos é de 30 a 35 shillings por tonelada, e regulam ser de 10$000, igualmente por tonelada, as despesas de embarque.

No que concerne ao reino animal, a indústria da pesca é bastante desenvolvida no Brasil, mas até há bem pouco tempo se exercia por processos rotineiros; só nestes últimos anos é que se tem adotado navios apropriados, cujo resultado é muito maior. Tendendo a fornecer matéria-prima muito mais abundante, deverá contribuir para o alargamento das indústrias conexas e do comércio de peixe.

Quanto à caça, ela se exerce em condições relativamente amplas, não só tendo por fim a alimentação, mas também para obtenção de outros produtos, tais como peles, óleos, cola, penas e animais de ornamentação. Em peles de animais selvagens não se faz ainda, entretanto, grande comércio; são as peles de animais domésticos e os couros, que alimentam principalmente o comércio de exportação e a indústria interna de curtume. Muito há, pois, ainda, a explorar neste particular.

Óleos extraídos de peixes, assim como de outros animais, como o azeite de peixe, o óleo de cacho de anta, o óleo de capivara, assim como o de mocotó, são objeto de indústrias especiais que abastecem principalmente o consumo local. A cola, não só a chamada cola da Bahia, mas a cola de peixe, que se fabrica nos estados do Norte, tem vasto consumo não só no país, mas também no exterior. As penas dão lugar a um movimento industrial e comercial digno de nota, sabido, como é, que as penas de garça, de avestruz e de outras aves, constituem as ricas aigrettes e guarnições que no Velho Mundo se vendem a preços consideráveis. Não menos de mencionar são os pássaros e animais de coleção e adorno que o Brasil possui e pode fornecer em profusão.

Passando ao reino mineral, não nos deteremos a falar detalhadamente dos diamantes e do ouro que o nosso país produz e cuja exploração parece suscetível de ser ainda mais desenvolvida.

Temos pressa de referir-nos ao minério de ferro que, em estado natural ou transformado pela indústria, apresenta a perspectiva mais extensa dum futuro grandioso e próspero para o país que encerra, em quantidade extraordinária, essa enorme riqueza, a qual já vai sensivelmente escasseando no resto do mundo e nas minas em exploração, cujo esgotamento progressivo se acentua à medida que aumentam as necessidades da civilização e do progresso.

Para acudir a esse esgotamento está o Brasil em condições especiais, verdadeiramente privilegiadas, possuindo montanhas de ferro que se estendem por vastas regiões e cujo minério, de excelente qualidade, daria para abastecer fartamente o consumo universal.

Não é nova a indústria siderúrgica no Brasil; mas nem por ser antiga, é menos restrita. Datam de 1590 os primeiros fornos instalados nos arredores do local em que hoje existe a cidade de Sorocaba, no estado de São Paulo. Depois, de 1606 a 1629, ouros se fundaram e funcionaram em Brapoeira. Mas não se fabricou ferro, durante mais de um século, até que em 1760 se criaram novos fornos, mais ou menos no local dos primitivos, que chegaram a produzir cerca de 60 quilos de metal por dia.

As dificuldades com que lutava essa indústria, porém, aumentadas pelas exigências do fisco, a obrigaram a cessar, e só em 1800 é que, por iniciativa do governo, veio a fundar-se a fábrica de Ipanema, próximo de Sorocaba, pertencente a uma sociedade de que o Tesouro era acionista. Esta fábrica tem tido diversas fases de decadência e renascimento e é atualmente propriedade exclusiva do governo.

Em Minas, outros fornos se fundaram no período colonial e no do Império, existindo ainda algumas usinas, das quais umas são pequenas fábricas, e outras, menos numerosas, têm bastante importância. Há cerca de três anos, o governo federal se preocupou de promover o desenvolvimento da exploração e manipulação do ferro no país e criou leis que concedem favores e isenções fiscais no sentido de suscitar o concurso do capital que o Brasil, país novo, não possui em quantidade suficiente para movimentar todas as suas fontes de riqueza; e conquanto posteriormente ocorresse o intento de concentrar esses favores numa só empresa, o Congresso Nacional se manifestou, na sua última sessão legislativa, contrário a todo privilégio ou monopólio referente a este assunto, e tomou medidas tendentes a assegurar a generalidade dessas concessões.

Também de manganês é rico o solo brasileiro, produzindo-o não só o estado de Minas, em profusão, mas também os da Bahia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Goiás e outros. A exploração deste minério, em Minas, teve princípio mui recente, em 1894, e apresenta aumento progressivo, na razão direta da sua exportação.

Pretendem os interessados nesta indústria que a elevação da cambial além de certo limite, a prejudica a ponto de poder até torná-la inexeqüível. Afigura-se-nos descabido tal receio: se, de momento, a alta cambial, modificando o nível dos valores, determina transitórios desequilíbrios na economia interna do país, não tardam os elementos a coajustar-se e outro nível se forma em condições tanto mais consistentes, quanto maior é o valor que adquire a moeda circulante em sua evolução para o tipo par.

Em areias monazíticas, é rica a nossa extensa costa, e a sua exportação se desenvolveu depois que se conseguiu extrair delas o tório. Os lignitos e a turfa também existem, bem como o carvão de pedra que tem sido objeto de exame nestes últimos anos. Cumpre ainda mencionar que a extensão das nossas costas oferece proporções para que o país se torne um dos maiores produtores de sal no mundo; assim como é conveniente informar que no país existem magníficas águas minerais naturais, frias e termais, alcalinas, gasosas, iodo-férricas, sulfatadas, sulfurosas, arsenicais e ferruginosas.

A indústria agrícola constitui, com a extrativa, a principal fonte de produção exportável do país. Se a indústria extrativa nos fornece a borracha, uma riqueza comercial, visto que ainda não a exploramos industrialmente, a agrícola nos fornece o café, outra maior riqueza da mesma espécie, ambas constituindo, convenha ou não, a base do nosso organismo econômico. Se a indústria extrativa nos apresenta, como elementos subsidiários a exportação, as peles, os couros e o mate, dá-nos a indústria agrícola o cacau, o açúcar, o algodão e o fumo. são esses os nove principais artigos de nossa exportação.

Não se pense, entretanto, que a capacidade produtiva do nosso solo e da nossa cultura se reduz aos cinco artigos enumerados. O clima do Brasil, diferente dum ao outro extremo pela grande extensão do território, comporta todos os gêneros de cultura: cereais, legumes, frutas, forragens, tudo enfim quanto produzem outros países. Assim é, por exemplo, que há dez anos, em 1902, importávamos 100.984.581 quilos de arroz para abastecer o consumo do país, no valor de 18.509:270$000; em 1908, essa importação tinha descido a 6.768.000 quilos, no valor de 1.657:001$000, sendo o excedente fornecido pela nossa agricultura.

Até o trigo, de que tradicionalmente temos sido tributários da produção estrangeira, a ponto de o recebermos mesmo em grão para alimentar os nossos moinhos, além da grande quantidade de farinha que importamos, já vai sendo vantajosamente cultivado nos estados do Sul e virá a tornar-se, um dia, importante fator da nossa produção. Não é exagero, pois, dizer-se que da terra brasileira se consegue, pela cultura, tudo quanto produz o resto do mundo.

Como indústria conexa à agricultura, a criação encontra no Brasil elementos muito favoráveis que lhe permitem ampliar-se muito além dos limites até agora atingidos. Ultimamente, tem ela despertado a atenção dos capitalistas europeus, e algumas empresas se organizaram para explorar esta indústria no nosso país. Se pensarmos que, além do seu objeto principal, esta indústria dá origem a muitas outras, entre as quais a de laticínios que importamos em considerável quantidade, veremos quanto os eu desenvolvimento corresponde às necessidades reais do nosso consumo. Para ter-se noção exata de quanto ainda apresentam margem pra desenvolver-se, no país, a indústria agrícola e suas conexas, de que principalmente provêm os artigos de alimentação e forragens, basta atender a que o valor desses artigos importados em 1909 se elevou à não pequena soma de 165.442:817$000.

Não se chega a compreender, em tais condições, quando as indústrias extrativa e agrícola ainda se encontram muito longe de atingir o apogeu, que o Brasil, país rico de elementos naturais, mas pobre de população e de capital pudesse naturalmente tornar-se também país industrial. No entanto, é preciso mencionar que a indústria manufatureira, em suas diversas modalidades, representada por fábricas que mais ou menos existem em todo o território do país, compreende, segundo a estatística organizada pelo Centro Industrial do Brasil, 3.258 estabelecimentos ocupando 151.841 operários e dando emprego a um capital de 665.976:663$000.

É de notar que à formação destes totais concorre a indústria de fiação e tecidos com 194 estabelecimentos, apenas, os quais, porém, ocupam 51.992 operários e absorvem um capital de 268.770:903$000, ou seja, mais de um terço dos operários ocupados e do capital invertido no conjunto da nossa indústria manufatureira. Como se produziu esse resultado? Não de modo natural, evidentemente, mas provocado por medidas de exceção, cujo efeito tem sido desviar o curso normal da nossa evolução econômica.

No Brasil, desde o início da sua vida de nação, é manifesta a tendência dos dirigentes a apoiar no protecionismo, mais ou menos moderado, mais ou menos exagerado, conforme as diversas fases, o desenvolvimento material do país. Isto encontra positivamente explicação na conveniência de impulsionar rapidamente à produção a iniciativa particular duma população rarefeita, dispondo de limitados meios, em um país novo em que, há um século apenas, tudo ou quase tudo estava por fazer.

Não há negar, e seria estulto desconhecer, que a esse impulso se deve, em grande parte, a rapidez com que o país evolveu, em poucos anos relativamente, da condição singela de colônia tributária à metrópole por diferentes dependências e entraves, à de nação abundante e próspera, duma abundância e duma prosperidade que muitas vezes, mesmo entre os naturais, têm dado ensejo à confusão com o caráter de nação rica, que não nos iludamos, estamos ainda muito longe de assumir.

Não há negar e é-nos agradável reconhecer o benefício desse impulso, tanto quanto a intervenção oficial se traduziu em atos e favores indiretos, no sentido de facilitar e mesmo ativar a organização econômica do país. E orientação que não repugna à boa escola, ainda que os seus cultores ortodoxos preconizem absoluta abstenção.

Pouco a pouco, porém, essa intervenção moderada e bem orientada foi degenerando em definida proteção, cujo perfil se acentuava cada vez mais e principalmente nas tarifas aduaneiras, conquanto se pretendesse e ainda agora se pretenda alegar que as respectivas taxas são unicamente fiscais, não obstante serem também as mais altas que existem no intercâmbio mundial.

Não admira, pois, que nesse meio se tenha desenvolvido, com grande vantagem, a indústria manufatureira, cuja maior expansão certamente não encontra restrição nos extremos do protecionismo oficial nem por ora na capacidade consumidora dos mercados indígenas, senão nas proporções do capital disponível e da própria capacidade de fornecer produtos que completamente substituam, em qualidade e preço, os que, apesar de tudo, caramente pagos em virtude das taxas alfandegárias, o consumidor continua a procurar, por intermédio do comércio importador, nos mercados exteriores, e cujo valor, em 1909, foi de 315.442:736$000 ou £21.029.515.

Se percorrermos a tarifa aduaneira de 9100, ainda atualmente em vigor, veremos que as taxas específicas nela compreendidas, se elevam, de modo muito generalizado, nominalmente a 50 e 60 por cento do valor oficial dos produtos, chegando mesmo, em certos casos, a 80 e 100 por cento. Não obstante já serem essas porcentagens muito elevadas, não correspondem ao valor efetivo de alguns artigos; se este fosse considerado com justeza, muitas teriam de expressar-se em 100, 200, 300 e até talvez 400 por cento em certos casos.

Ao abrigo duma tarifa assim exageradamente protecionista, como a brasileira, é realmente de admirar que a atenção dos capitalistas não tenha sido mais fortemente atraída, nos grandes centros financeiros, não só para a indústria do algodão, mas para diversas outras que igualmente têm por base matérias-primas nacionais.

Entre estas, está sem dúvida a fabricação de artigos de borracha. Se o desenvolvimento das fábricas de fiação e tecidos de algodão já chegou ao ponto de começarem a fazer-se mútua concorrência, em referência às de artigos de borracha pode-se dizer com segurança que o campo está absolutamente, completamente livre. Não existe uma única no Brasil. No entanto, o consumo destes artigos é considerável, apesar dos direitos de entrada, cujas taxas específicas são elevadas, traduzindo-se nominalmente, na tarifa, na razão de 50 por cento.

Se examinarmos a estatística do comércio exterior, veremos que o Brasil, durante o ano de 1909, importou matérias-primas e artigos com aplicação às artes e indústrias, no valor de 107.397:307$000, ou cerca de £11.030.000. Esses artigos, duma e outra classe, podem, na maior parte, ser produzidos no país. Porque o não são? Por que motivo alimentamos, além disso, uma importação de madeiras considerável, como vimos?

As causas desses fenômeno são diversas. Contribui diretamente para tal resultado, em primeiro lugar, a falta de braços e de capitais. Os existentes e os que se vão introduzindo não podem, evidentemente, empregar-se ao mesmo tempo em todos os ramos de atividade e de produção. Em seguida, vêm as dificuldades de transporte, seja pela ausência dos meios de o fazer, seja pelo seu preço muito elevado. Os nossos rios navegáveis não o são em toda a extensão, ou porque compreendam quedas de água, ou porque careçam de obras que os adaptem à navegação.

Na impossibilidade de se utilizarem de modo geral essas artérias naturais, resta o transporte primitivo, por animais, ou o transporte rápido, mas custoso, pelas estradas de ferro, onde as há. Devido às dificuldades de transporte é que, exatamente, se dá o fato de se acharem exploradas em demasia, às vezes mesmo devastadas, fontes de produção próximas do litoral, enquanto as do interior do país permanecem intactas. Nisso vemos, entretanto, mais uma demonstração de que o capital novo estrangeiro não encontra só campo vasto para o emprego direto na produção, mas também no indireto, em referência aos fatores da mesma produção.

Assim, já não falando na indústria comercial propriamente dita, que, movimentando os produtos e provendo às necessidades gerais do consumo, presta grande concurso ao desenvolvimento econômico do país, ao mesmo tempo que realiza apreciáveis resultados no que concerne à remuneração do capital - há inúmeros outros empregos, altamente recomendáveis.

A indústria bancária, nas suas diversas e extensas modalidades, constitui seguramente uma das mais consideráveis fontes de lucro, no momento atual. Novos estabelecimentos se têm sucessivamente inaugurado, na capital e nos estados, e os relatórios dos mais antigos bancos estrangeiros são concordes em afirmar que os resultados são agora mais vantajosos.

Não menos lucrativa se nos afigura a inversão de capital nas estradas de ferro que, em diferentes direções, vão pondo em comunicação diversos pontos do país, que antes permaneciam isolados pela imensidade das distâncias e o tempo preciso para as transpor por outros meios de condução. Tanto assim também o compreendem os capitalistas europeus, que têm adquirido pouco a pouco, pela compra dos respectivos títulos, as grandes estradas de ferro particulares, como a Mogiana, a Paulista e outras, além de já diretamente possuírem muitas outras e terem tomado por arrendamento quase todas as que pertencem à União Federal.

Existiam em tráfego no Brasil, ao principiar o ano de 1911, 21.325 quilômetros de estradas de ferro; estavam em construção 3.757 quilômetros e com estudos aprovados 4.110 quilômetros. Há, entretanto, grande margem para se aumentar consideravelmente a viação férrea, com grande proveito para o país e para os capitais que assim forem aplicados. Os tramways ou carris (N.E.: bondes), nas grandes cidades, e ainda nas que estão em vésperas de o ser em futuro não remoto, oferecem outra forma de emprego de capital. Assim também a navegação apresenta outra oportunidade notável. É certo que a nossa lei fundamental só permite a cabotagem e a navegação fluvial exercidas por nacionais; mas nada impede que as companhias constituídas com capital estrangeiro se organizem conforme a lei brasileira e tenham sede no país.

Outro emprego de capital que, dia a dia, manifesta maior desenvolvimento, é, sem dúvida, a energia elétrica. O fornecimento de força às empresas de transporte e às fábricas, e de luz à iluminação pública e particular, é certamente fonte segura de bons lucros.

Sem entrarmos em detalhes em referência a outros serviços urbanos capazes de remunerar fartamente o capital neles invertido, lembraremos, todavia, que a aquisição de terrenos devolutos dentro e nos arredores das grandes cidades assegura resultados apreciáveis em face do progressivo aumento de valor que nestes últimos anos tem tido a propriedade imóvel. E não menos de esperar é que esse emprego se venha depois a estender às terras de cultura, destinadas a ter valor correspondente aos resultados da sua exploração.

As obras públicas de melhoramento e construção de portos, bem como a exploração dos respectivos serviços, e o preparo dos rios e canais no sentido de desenvolver a navegação interior, sugerem novas oportunidades de relevante importância.

Para os grandes grupamentos financeiros, convém de preferência agir diretamente, organizando empresas e, sob sua imediata administração, explorando os múltiplos e variados empregos do capital. Às pequenas coligações e aos capitalistas no ponto de vista individual, cabe o contribuir para essas aplicações subscrevendo e adquirindo títulos das empresas em organização ou já fundadas, assim como os de empréstimos públicos e particulares, atinentes aos mesmos fins.

A taxa corrente dos empréstimos e descontos bancários entre nós é de 6 a 9 por cento, conforme o título, a importância e a espécie da operação. Os juros das obrigações emitidas por empresas particulares são de 6 a 8 por cento; e os dos empréstimos públicos, federais, estaduais e municipais, regulam 5 a 7 por cento. Os dividendos distribuídos por empresas particulares variam segundo o objeto em exploração. os dos bancos são geralmente de 8 a 12 por cento; mas há estabelecimentos nacionais e estrangeiros que os têm dado mais elevados, até 18 por cento.

As fábricas de fiação e tecidos, além de algumas terem desdobrado o capital pela distribuição dos respectivos fundos de reserva e de lucros suspensos, dão dividendos que ordinariamente são de 10 e 12 por cento, mas em algumas atingem 15, 20 e até 40 por cento. De modo geral se pode dizer que é considerado remunerador e bom, entre nós, um dividendo de 10 a 12 por cento ao ano.

Com a melhora das circunstâncias econômicas em geral, depois de superada a crise do café, com a entrada mais avultada de capital novo, estrangeiro, para o país e com os depósitos de ouro na Caixa de Conversão, traduzidos em correspondente emissão de notas circulantes, tem-se desenvolvido consideravelmente a procura de empregos convenientes para o capital.

A propriedade imóvel tem tido grande aumento de valor e os bons títulos de Bolsa são muito mais bem cotados. É de esperar, nestas condições, que a iniciativa particular busque, em novas criações, instituir outras fontes de riqueza, movimentando o capital que se apresenta mais fácil e espontâneo porque é mais abundante.

Não faltam, para isso, no país, elementos naturais de valor imediato e incontestável. Se atos menos ponderados da administração pública, e principalmente da política, não vierem contrariar e retardar a corrente de interesse que se formou e progressivamente se avoluma, o Brasil vai conseguir em poucos anos um grande, rápido e extraordinário desenvolvimento material.

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