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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [03]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho informa, nas páginas 23 a 27, a seguir reproduzidas (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte


Rochas colossais em Vila Velha, Paraná
Foto publicada com o texto, página 24

Geologia

Geologia no Brasil oferece um campo vasto e ainda pouco estudado. De fato, a constituição do solo é apenas mais ou menos conhecida nas zonas povoadas, ao longo do litoral, nas margens dos cursos de água mais importantes, nos pontos onde chegam as estradas de ferro e nos outros pontos de acesso relativamente fácil.

Do interior do país vasto e ignoto, poucas são as informações detalhadas que se tem; e o estudo sistemático da Geologia, entregue aos diversos governos dos estados da União, só tem tido importância relativa no estado de São Paulo. Ainda assim, é interessante em seus aspectos a geologia do Brasil, a qual apresenta, devido à vastidão do país, uma variedade enorme na constituição do solo e subsolo, proveniente da diversidade de condições fisiológicas, modo diverso na ação dos agentes mecânicos e predominância duns ou outros agentes químicos.

Daremos neste trabalho, que forçosamente tem de ser curto, uma descrição do modo de operar dos agentes formativos geológicos do Brasil; em seguida, diremos algumas palavras sobre os rearranjamentos principais a que no Brasil têm sido submetidas as rochas; e terminaremos com a Geologia Histórica do país, partindo do período arqueano até o aparecimento do Homem sobre a Terra.

Geologia Dinâmica – O trabalho direto da atmosfera, por transporte, desgastamento e deposição de material por meio de ventos não é, no Brasil, muito sensível. Há no país poucos lugares onde o solo seja de tal modo árido, que permita a ação intensa das tempestades de areia; entretanto, ao longo da costa dos Estados do Rio Grande do Norte e do Ceará,as areias das dunas têm sido levadas pelo interior, à distância d'algumas milhas; e em alguns lugares, formam lombadas de mais de trinta metros de altura e de muitos quilômetros de extensão.

Na costa do Ceará, onde os ventos reinantes são de Sudeste, as dunas freqüentemente se acumulam no lado Sul das bocas dos cursos de água, obrigando-os a seguir para o Norte, a fim de rodear a areia, que obstrui os seus canais.

No estado do Maranhão, a areia se tem acumulado por tal modo na fortaleza da Ponta da Areia que, a não se tomarem providências contra a sua invasão crescente, a referida fortaleza virá fatalmente a desaparecer, como tem acontecido a cidades e monumentos da África setentrional.

Como exemplo de transporte de material constitutivo para a formação de rochas, é muito notável o das rochas eólicas de Fernando de Noronha, feitas quase inteiramente de fragmentos de conchas, de modo que são elas queimadas para a obtenção de cal.

O trabalho indireto da atmosfera, no Brasil, por diferenças de temperatura, não é também muito sensível. Nas diversas regiões do Brasil, onde a temperatura nunca desce a zero, as rochas expostas sofrem apenas uma mudança de temperatura de 57 graus centígrados; no entanto, os "boulders" provenientes da ação desta mudança de temperatura se encontram de todos os tamanhos, em todas as regiões do Brasil, e até próximo ao Rio de Janeiro existem, em várias ilhas situadas na baía de Guanabara.

O trabalho geológico de evaporação, que consiste na deposição de material mineral por meio da evaporação da água, em que se achava em solução, tem, no interior de Pernambuco, um exemplo muito característico. Assim é que, perto de Buíque, certos arenitos contêm quantidades consideráveis de salitre, que é um mineral muito solúvel. Quando as camadas que o contêm estão expostas ao ar, as águas se evaporam e o salitre cristaliza-se e desintegra as rochas, formando covas de alguns centímetros de profundidade, as quais, às vezes, tomam proporções de verdadeiras cavernas.

Em grande parte do vale do S. Francisco, encontram-se rochas salíferas, de onde extraem os habitantes da zona grandes quantidades de sal comum, a que chamam "sal da terra". Tais depósitos são conhecidos no interior pela denominação de "barreiros"; e é comum ver o gado procurar esses barreiros, à procura do sal, que ingere, lambendo a terra.

A água como agente mecânico representa, no Brasil, um papel considerável. Na Serra do Mar, as rochas são, em grande parte, constituídas pelo mineral feldspato, o qual, pela decomposição, se transforma em caulim, que, quando molhado, se torna muito escorregadio, originando as quedas de barreiras tão freqüentes na Serra do Mar.

O trabalho de erosão e deposição pelos cursos de água torna-se patente no Rio S. Francisco, que tem, em sua barra, um semicírculo de bancos de areia trazida do interior das terras. Quando o rio está cheio, o enorme volume de águas e a impetuosidade da corrente empurram estes bancos mar afora; quando, porém, se dá a vazante do rio, a maré transporta novamente os bancos para a foz. Este fenômeno de bancos de areia movediça se dá também na boca do Rio Cotinguiba e no Rio Grande do Sul, onde a desobstrução da barra tem custado ao governo brasileiro somas consideráveis.

As "terras caídas" da região amazônica constituem outro caso de erosão pelos cursos de água. Nos grandes rios da região, as correntes, em certos pontos, atacam sem cessar as barrancas marginais e as vão solapando, de modo que as ribanceiras argilosas, sem arrimo suficiente, ficam à mercê da primeira enchente, que as arrasta finalmente, levando, às vezes, enorme extensão de solo, com toda a vegetação da sua superfície.

Fernando de Noronha apresenta um bom exemplo da água do mar como fator mecânico de caráter destrutivo. Nesta ilha, cavaram as ondas uma abertura na rocha, a que se deu a denominação de "Portão", situada na extremidade Sudoeste da ilha.

Devido à rapidez com que, tanto esta ilha como a da Trindade, vão sendo cortadas pelo Oceano, oferecem elas, quase por todos os lados, encostas abruptas de desembarque mui difícil; e não pode haver dúvida de que foram essas ilhas muito extensas em período anterior; as suas margens, porém, têm sido continuamente desmoronadas pelas vagas e o material transportado pelas correntes.

O trabalho das ondas das marés é, no Brasil, caracterizado pelo fenômeno a que, na região, chamam "Pororoca", constituído pela onda de maré, que se forma dentro ou perto da boca do Rio Araguari, na foz setentrional do Rio Amazonas. Estas ondas são principalmente violentas no tempo das águas vivas; elevam-se então a uma altura de 3 a 6 metros numa extensão de cento e sessenta quilômetros; devastam as florestas e carregam as árvores, arrancadas pelas raízes, como se fossem feixes e palha; escavam a terra até grandes profundidades; e transportam os materiais para longe, formando novas ilhas e atulhando os velhos canais.

A explicação da pororoca do Rio Amazonas é que, quando as águas vivas ou maré de sizígia, movendo-se no Atlântico profundo e vasto, se aproximam das águas rasas da boca Norte do Amazonas, a onda, cujo movimento, até aí livre, fica abruptamente perturbado, rebenta violentamente sobre os baixios.

O gelo, inexistente  no Brasil, não teve papel algum como fator geológico. Acreditou-se, há tempos, que o Brasil tivesse sido glaciado em período remoto; não há, porém, provas concludentes da ação glacial em parte alguma do país.

Os processos e operações geológicas dos agentes químicos são invisíveis em sua marcha e só com o correr do tempo se tornam apreciáveis os seus resultados. São estes notáveis em São Paulo, onde a fértil "terra roxa" só é encontrada nos pontos em que certas qualidades ou rochas têm sofrido decomposição. O mineral feldspato é o componente principal dos granitos e gnaisses brasileiros; quando estas rochas sofrem decomposição, forma-se o caulim, com ótimas qualidades de pureza.

Nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas, Espírito Santo e ainda outros, encontram-se as rochas graníticas decompostas até uma profundidade de 30 metros; e esta decomposição se estende, em alguns casos, a 100 metros de profundidade. Um dos efeitos locais de erosão química é a formação de cavernas e sumidouros; acontece, às vezes, que a drenagem duma região calcária seja feita por cursos de água subterrâneos, e outras, que o sumidouro se encha de terra, formando-se em suas bacias pequenas lagoas.

As famosas cavernas da Lagoa Santa, da Lapa Nova de Maquiné e da Lapa Vermelha, no estado de Minas Gerais, acham-se em rocha calcária, assim como as cavernas salitrosas de Minas setentrional. O famoso santuário do Bom Jesus da Lapa, na margem direita do Rio S. Francisco, no estado da Bahia, acha-se numa caverna, num barranco de cerca de 50 metros de altura, aberta no calcário e siluriano superior daquela região.

Não possuindo o Brasil vulcões em atividade, a ação dos agentes ígneos oferece atualmente pouco interesse; entretanto, é fácil de ver que a estrutura colunar das lavas da Ilha de Fernando de Noronha atesta uma atividade vulcânica não pequena, em períodos remotos; e de fato, tanto esta ilha como a de Trindade podem ser consideradas vulcões brasileiros aparentemente extintos.

No continente, no interior do Estado de S. Paulo, existem extensas áreas cobertas por lençóis de rochas eruptivas, encontrados expostos nos municípios de Piracicaba, Santa Bárbara, Rio Claro, Limeira e outros. Este mesmo grande lençol eruptivo se estende às sumidades da Serra de Apucarana e da Serra Esperança, no estado do Paraná. Outros lençóis semelhantes são também encontrados em Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Os terremotos e suas conseqüências são desconhecidos na história do Brasil, a tal ponto que pequenos abalos sísmicos, de que há notícia, ocorridos em Pernambuco em 1811 e em Goiás em 1826 e em 1834, são recordados como fatos extraordinários. Mais recentemente, em Petrópolis a 9 de maio de 1886 e em Bom Sucesso no estado de Minas Gerais a 4 de abril de 1901, se deram também abalos, mas de caráter insignificante.

Mudanças de nível, devidas à ação no interior da crosta terrestre, são assinaladas no Brasil próximo ao Cabo de S. Agostinho, em Pedras Pretas, onde as rochas próximas à praia são esburacadas pelos ouriços do mar, a uma altura que não deixa dúvida sobre a existência duma elevação na linha do litoral. O mesmo fato é observado em alguns pontos da baía do Rio de Janeiro. Em Vitória, próximo ao pico de granito, Morro 1º de Março, existe a dois metros acima do nível do mar uma linha horizontal, que demonstra igualmente uma elevação do solo no litoral.

Dos agentes orgânicos, com papel destrutivo, existem no Brasil os ouriços do mar, que cavam buracos até nas rochas mais duras, o que se observa freqüentemente na costa do Norte do Brasil e com especialidade nos recifes de Pernambuco.

Como agentes orgânicos protetivos ou preservativos, devem ser contados as algas, mexilhões e cracas, que cobrem os recifes do Norte do país, tornando possível a sua conservação contra o poder destrutivo do oceano. Os extensos mangues da costa do Brasil não só protegem a terra contra o atrito das correntes das marés, como também, reprimindo-as, aceleram a formação da terra firme nas partes rasas dos estuários.

Ao longo do Amazonas, existe enorme variedade de árvores e plantas, cujos galhos se inclinam e mergulham no rio, quebrando a força da correnteza e protegendo as margens, de modo a impedir, até certo ponto, o corte rápido das barrancas daquele grande rio.

Agentes orgânicos, com papel construtivo, são encontrados no lado Sueste da Ilha Fernando de Noronha, onde existem depósitos compostos de fragmentos de muitas espécies de animais e plantas marinhas. Outros depósitos, de origem siliciosa e orgânica, atribuídos á secreção que fazem as esponjas de partículas microscópicas chamadas espículas, são encontrados nas pedreiras negras do estado de Sergipe, ou em pedreiras nos estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Depósitos fosfáticos originados pelos excrementos dos pássaros e outros animais marinhos são encontrados na Ilha Rapta em Fernando de Noronha.


Gruta do Inferno, Mato Grosso (Voyage au tour du Brésil)
Imagem publicada com o texto, página 25

Geologia Estrutural – A Geologia Estrutural oferece no Brasil bons exemplos de endurecimento de rochas. No Estado de Minas Gerais, se encontra uma crosta ferruginosa, conhecida pelos nomes de "canga" e "tapanhoacanga", que é produzida pela oxidação dos minérios de ferro expostos na superfície. Estes minérios, originariamente moles e incoerentes, pela combinação com o oxigênio do ar, formam uma crosta dum ou mais metros, onde se acham embebidos muitos fragmentos de rocha.

Entre os arraiais de Inficionado e Água Quente, no mesmo estado, existe uma planície, coberta com um lençol desta canga ou minério de ferro oxidado, encerrando cascalho e outros fragmentos, a qual, em alguns lugares, apresenta uma espessura de dez metros. Na Ilha de Fernando de Noronha, há dunas de areia, contendo muitos fragmentos de corais e conchas; quando a chuva cai sobre esta areia, a água dissolve parte do carbonato de cal, tornando, depois de se infiltrar para baixo, a depositá-lo mais ao fundo da duna, transformando-se aí a areia em rocha dura cimentada pelos calcários.

Outro fenômeno estrutural na geologia é o das falhas. São estas freqüentes no solo brasileiro; e em alguns pontos, apresentam dimensões gigantescas. Na opinião de Derby, a escarpa que atravessa o estado do Rio Grande do Sul, ao norte dos rios Ibicuí e Jacuí, e que forma a face ocidental da serra do Espinhaço nos estados de Minas Gerais e Bahia, não é senão uma falha colossal com um comprimento de 1.000 quilômetros.

Na formação estrutural dos depósitos de aluvião aurífero no Brasil, o processo geológico seguido é o mesmo que ocorre por toda a parte onde estes depósitos são encontrados. Provém o ouro da decomposição sofrida por um veeiro, cujo material foi transportado pelas águas a um ponto favorável à concentração. Aí se deposita o ouro de envolta com as areias mais pesadas e com o cascalho.

No Brasil, os diamantes também se apresentam em depósitos de aluvião, sendo provavelmente oriundos da decomposição da rocha estratificada da região diamantina, que, desembaraçados da matriz encaixante, foram pelas águas arrastados e acumulados nos cursos de água antigos ou recentes.

Geologia Histórica -  Na América do Sul, as rochas arqueanas encontram-se ao longo duma cinta mais ou menos quebrada na costa ocidental, desde a Terra do Fogo até o Istmo de Panamá. Formam também grande parte das terras altas da Guiana e do Brasil setentrional e grande parte do planalto brasileiro, ao Sul do Amazonas. O fato de não se terem encontrado fósseis nas rochas antigas, que formam o planalto de Minas Gerais e Goiás, dificulta a determinação dos períodos a que pertencem as rochas mais antigas dessas regiões.

São provavelmente arqueanos os gnaisses granitóides da Serra do Mar, Serra da Mantiqueira e Serra do Espinhaço, como também algumas das rochas que os acompanham. Estas rochas se estendem desde a República do Uruguai, através do estado do Rio Grande do Sul, ficando reduzidas a uma zona estreita ao longo do litoral, nos estados de Santa Catarina, Paraná e S. Paulo, para depois de alargar e ocupar grande parte dos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás e Bahia.

Aparecem também rochas arqueanas nos restantes estados da União. É possível que alguns dos depósitos de ferro e de manganês existentes no Brasil pertençam ao período arqueano; a sua idade, porém, não foi ainda satisfatoriamente determinada. As jazidas de mármore, encontradas nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Ceará e Goiás, pertencem provavelmente à idade arqueana.

Do período paleozóico, não se pode com segurança afirmar que existam rochas no Brasil, em qualquer dos sub-períodos cambriano ou siluriano inferior. É, entretanto, possível que uma parte das rochas da Serra do Espinhaço, incluindo as que, em Minas Gerais, Bahia e Goiás, contêm os depósitos de ouro, ferro e manganês, bem como os sedimentos metamorfoseados de grande parte do interior de Bahia, Sergipe, Alagoas e outros estados do Norte, pertençam a este período.

No siluriano superior, existem rochas referidas a este sub-período, na parte Norte do Amazonas. Ali, jazem elas sobre granitos e quartzitos, desde próximo ao Rio Jari, ao Norte de Almeirim, ao longo duma zona que corre para o Oeste, cruzando o Rio Uatumá, ao Nordeste de Manaus. Têm-se encontrado fósseis nestas rochas, nas cachoeiras dos rios Trombetas, Curuá e Macuru, fósseis esses que são os mais antigos achados no Brasil.

No Rio Trombetas, as rochas silurianas formam uma zona da largura de seis a oito quilômetros, exposta na primeira cachoeira deste rio. A espessura da camada siluriana, neste ponto, pode ser calculada em 300 metros. Os fósseis encontrados no Trombetas são o Orthid freitana, Anodortopsis, F. subrecta etc., e sugerindo uma equivalência com o Niagara o Singulops derbyi, Anabaia paraia, Tentaculites sp. etc.

Em Bom Jesus da Lapa, sobre o Rio S. Francisco, Derby achou corais fósseis (Favosites e Chetetes), os quais ele considera como sendo provavelmente da idade siluriana. As rochas devonianas jazem por cima das camadas silurianas, ao longo do lado setentrional do vale do Amazonas, desde um ponto ao Norte de Almeirim para Leste, até o Rio Uatumá. Foram encontrados fósseis nestas rochas ao redor da povoação de Erere e nas margens dos rios Macuru e Curuá. Estas rochas têm uma espessura de 10 metros e a inclinação de cinco graus sudoeste e acham-se associadas a camadas mais possantes de folhelhos argilosos pretos e avermelhados, contendo fósseis, os quais dão à formação uma espessura total de 200 metros, pelo menos.

Os fósseis das camadas devonianas da região do Amazonas compreendem várias espécies das famílias Bryozoa, Brachiopoda, Lamellibranchios, Gasteropoda, Pteropoda e Trilobita. Foram também determinadas camadas devonianas sobre a chapada a Leste de Cuiabá no estado de Mato Grosso, as quais, segundo Castelnau, se estendem para o lado Sudoeste do estado de Goiás e vão até a margem oriental de Mato Grosso na Serra da Taquara, a Oeste do Rio Pitombas. Os fósseis aí encontrados foram, entre outras espécies, as seguintes: a Phacops brasiliensis, Tentaculites bellelus, Chonetes falkandia, Leptocelia flabelites etc. Encontram-se também rochas devonianas nos estados de São Paulo e Paraná e é possível que também as haja nos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

As rochas da idade carbonífera só se encontram no vale do Amazonas. Apresentam-se elas no Rio Tapajós, desde as cachoeiras até perto de Aveiros, numa extensão de cento e trinta quilômetros, indo daí para o Oeste e para o Leste, paralelamente ao eixo principal do vale do Amazonas. No lado Norte do vale amazônico, as camadas carboníferas são encontradas na vizinhança de Alenquer e se estendem, para o Norte, ao longo dos rios Curuá, Macuru e Trombetas. São folhelhos, arenitos e calcários, sendo os fósseis encontrados, principalmente, entre estes últimos, que têm uma espessura de oito metros e são empregados para o fabrico da cal.

As rochas carboníferas da região amazônica, até onde são conhecidas, mostram, pelos seus fósseis, serem depósitos marinhos e não se têm encontrado camadas de carvão associadas a elas. A espessura das camadas deste sub-período é calculada em cerca de 600 metros e, como apenas em pequena parte foi examinada detalhadamente, é possível que haja também depósitos de água doce, oferecendo assim alguma probabilidade de existência de carvão.

No estado de Sergipe as rochas cretáceas expostas a Leste da Serra de Itabaiana são sobrepostas a camadas sedimentares, cuja idade não foi determinada, sendo possível que esta seja carbonífera ou talvez mais antiga.

Certas rochas dos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que têm sido consideradas como sendo da idade carbonífera, são agora referidas à permiana.

Os fósseis carboníferos encontrados no Brasil compreendem várias espécies de Brachipoda, Lamellibranchios, Gasteropoda, Bryozoa, Corais, Echinodermata, Trilobitas e Foraminífera.

As rochas permianas têm sido reconhecidas nos estados de S. Paulo, Paraná, Sant Catarina e Rio Grande do Sul; são constituídas por folhelhos e arenitos moles com camadas subordinadas de calcário silicioso. Delgadas camadas de carvão constituem uma feição muito persistente desta idade e, nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, dão ensejo à exploração industrial, como na bacia do Arroio dos Ratos, no primeiro desses estados, e na do Rio Tubarão, no segundo.

A ocorrência destes depósitos de carvão e de troncos de árvores silificados (crucíferas e fetos arborescentes) indicam que as condições predominantes no tempo da deposição eram as de terra firme e lagoas de água doce.

As plantas fósseis encontradas nas camadas carboníferas do Brasil são das espécies Lepidodendrum pedroanum, Lepidodendrum derbyi, Odontopteris plantiana, Dadoxilom pedroi etc.

Os depósitos de carvão no Rio Grande do Sul se apresentam em quatro bacias. As bacias do Rio Tubarão e do Rio Verde, no estado de Santa Catarina, eram provavelmente, como as do Rio Grande, ligadas entre si, sendo umas e outras mais tarde destacadas umas das outras, por denudação. O recente e muito importante estudo detalhado das bacias do Tubarão e Passa Dois sugeriu a hipótese de que o carvão destas áreas se afunda debaixo das terras altas, que ficam para Oeste. Encontram-se nessas bacias fósseis vegetais ainda não estudados e classificados, tais como madeiras silificadas em um belo estado de conservação. Nestas mesmas camadas, se têm encontrado um sáurio Stereosternum tumidum, Cope, um dente dum batráquio gigantesco Labyrinthodou, e dentes e escamas de peixes gonóides. Nas formações brasileiras desta idade, como nas correspondentes da Austrália, Índia e África Meridional, se nota uma curiosa mistura de formas permianas com outras, que geralmente caracterizam a idade mesozóica.

As camadas atribuídas por Derby ao sub-período triássico ocupam uma extensa área na parte central e ocidental da bacia do Paraná, nos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, São Paulo e Paraná, e grande parte da bacia do Uruguai, nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Estas camadas não têm, entretanto, apresentado fósseis; a sua referência ao triássico baseia-se no fato da sua superposição às camadas permianas e na semelhança das suas rochas, principalmente das eruptivas, com as triássicas da Europa e da parte oriental da América do Norte. Estas rochas são constituídas por arenitos moles e avermelhados quase sempre associados a rochas eruptivas na maior parte porfiríticas. O conjunto destas camadas triássicas atinge, em diversos lugares, uma espessura de 500 e mais metros, sendo a espessura normal de 100 a 300 metros.

No estado do Sergipe se encontram também, ao longo do Rio Piauí, arenitos moles, que têm sido atribuídos ao triássico. Rochas da idade pirássica não são exatamente conhecidas no Brasil. Entretanto, entre os fósseis encontrados nas camadas cretáceas do estado de Sergipe, existem alguns, cujo aspecto é jurássico; mas a preponderância das indicações mostra que o conjunto das camadas pertence à idade cretácea. As rochas cretáceas acham-se distribuídas ao longo da costa, desde os Abrolhos até o Amazonas; e na bacia amazônica, até perto do sopé dos Andes, e no planalto central, em grande área, abrangendo grande parte das bacias dos rios S. Francisco, Parnaíba e outros adjacentes.

Ao longo do litoral, as rochas que se atribuem à idade cretácea, ocupam bacias destacadas, que penetram algumas dezenas de quilômetros no interior do continente. Das bacias marítimas, a mais bem conhecida é a do estado de Sergipe, nas vizinhanças das cidades de Maroim e Laranjeiras; e aí foi feita uma grande coleção de fósseis pela extinta Comissão Geológica do Brasil, coleção descrita pelo dr. C.A. A. White, que identificou 48 espécies de Lamellibranchios, 17 de gasteropodas, 14 de cefalópodes e 11 de equinodermes.

No estado de Pernambuco, nas vizinhanças da Ilha Itamaracá e no Rio Maria Farinha, existe outra bacia deste período, onde o sr. White identificou 76 espécies de fósseis, das quais 6 apenas idênticas às da bacia do Sergipe. Os vertebrados acharam-se representados nas camadas de Maria Farinha e Itamaracá por um réptil Hyposaurus derbianus e por duas espécies de tubarões, Galeocando pristodontus e Apocopodon sericeus, e uma espécie do tipo ordinário de peixe Enchodus subaequilateris.

Ao Norte da bacia pernambucana, fica a da Paraíba do Norte, onde os poucos fósseis encontrados são de tipos caracteristicamente cretácios; são duma espécie de Cephalopode Spenodiscus.

No estado do Rio Grande do Norte, calcários fossilíferos se apresentam em vários pontos ao longo da estrada de ferro, que da capital se dirige para o Sul, a poucos quilômetros da costa. Nas ilhas e margens da Baía de Todos os Santos, apresentam-se camadas de conglomerados, arenitos e folhelhos, contendo restos de répteis e peixes associados com moluscos de água doce, crustáceos, bivalvos (Eutomostracos) e fragmentos de madeira, que indicam que os depósitos se formaram numa bacia de água doce.

A ocorrência de madeiras carbonizadas tem dado lugar a diversas explorações em busca de carvão, especialmente na ilha de Itaparica, mas, segundo Rathburn, que examinou minuciosamente esta ilha, só se encontram pequenos fragmentos destacados, que muitas vezes se transformam em azeviche. Entre os restos de répteis, Marsch identificou uma espécie de crocodilo (Crocodilus hartii) e de dinossauro (Thoracosaurus bahiensis). Ao Sul da cidade da Bahia, nas margens do Rio Maraú, Gonzaga de Campos refere a existência de camadas de arenito, contendo madeiras carbonizadas, que ele julga serem idênticas às rochas semelhantes da vizinhança da Bahia.

No planalto central, as camadas cretáceas se apresentam com a espessura de cerca de 300 metros, formando chapadas, que caracterizam especialmente a região entre o Rio S. Francisco e os rios Jaguaribe, Parnaíba e Tocantins. Destas chapadas, a mais bem conhecida é a da Serra de Araripe, no extremo Sul do estado do Ceará, em cuja base se encontram concreções calcárias, contendo peixes fósseis belamente conservados.

No vale do Amazonas, Derby tem atribuído à cretácea as camadas de arenitos de vários serrotes nas vizinhanças de Monte Alegre e Óbidos, baseando-se para isto na ocorrência de madeiras e folhas fósseis.

Na parte superior do mesmo vale, na região da fronteira com a Bolívia, Chandless achou, nas margens do Rio Aquiri (Acre), restos duma espécie de Mesosaurus que é um gênero característico da idade cretácia. Há ainda um grande crocodilo (Dinosuchus terror) que tem sido descrito como proveniente do estado do Amazonas, não se sabendo, porém, exatamente, de que localidade, nem se pertence à cretácea ou ao período terciário.

As rochas terciárias cobrem uma zona estreita ao longo da costa, desde as vizinhanças de Vitória no estado do Espírito Santo, para o Norte, até o vale do Amazonas. Em diversos lugares, esta zona é estreita ou está mesmo completamente destruída. Em Ilhéus, por exemplo, não existem rochas terciárias na costa. Ao norte de Ilhéus, a zona continua estreita e quase sem interrupção até perto do Cabo de São Roque.

No Sul do estado da Bahia, esta zona forma uma extensa chapada que, elevando-se para o interior, penetra entre os picos de rochas cristalinas da Serra dos Aimorés. As rochas consistem principalmente de arenitos e folhelhos de cores extremamente variegadas e tão moles que podem antes ser considerados areias e argilas. Estas rochas jazem em camadas horizontais, que não têm sofrido perturbações, a não ser uma falha ocasional.

Em Maraú, ao Sul do estado da Bahia, existe um depósito duma substância especial, chamada turfa, que contém cerca de 80 por cento de matérias betuminosas, as quais têm sido aproveitadas para a extração de óleos minerais. Em geral, os depósitos terciários são pobres em fósseis.

A turfa de Maraú contém folhas de plantas dicotiledônias, que também têm sido encontradas próximo a Alagoinhas. Na região do Alto Amazonas, se apresentam em diversas localidades depósitos com moluscos de água salobra indicativos de deposição em estuários.

Existem diversas bacias terciárias, espalhadas pela superfície do planalto central. A mais conhecida e extensa é a do vale do Alto Paraíba, no estado de S. Paulo, que se estende desde Cachoeira até Jacareí, com um comprimento de 112 quilômetros. Outra semelhante se apresenta no vale do Tietê. Nas vizinhanças de Taubaté, na bacia do Paraíba, existem folhelhos betuminosos, que produzem cerca de 100 litros de óleo por tonelada e têm também sido explorados para a fabricação de gás; contêm restos bem conservados de peixes, dos quais foram classificadas as seguintes espécies: Arius iheringi, Tetragonopterus arrus, Tetragonopterus ligniticus e Percichthys antiquus. Em Minas Gerais existe uma bacia terciária em Gandarella, a 60 quilômetros ao Norte de Ouro Preto e ao pé da Serra do Caraça, com uma elevação de 1.100 metros acima do nível do mar.

Durante o período pleistoceno ou quaternário, foi o Brasil habitado por mamíferos gigantescos, tais como o Mastodonte, o Megatherium e o Glyptodonte, todos agora extintos. Restos do Mastodonte têm sido encontrados em diversos lugares, principalmente em redor de Águas Belas, no estado de Pernambuco.

Nas vizinhanças da Lagoa Santa, na região do Rio das Velhas, estado de Minas Gerais, achou o naturalista dinamarquês Lund, em cavernas e poços, grande número de fósseis da idade pleistocena; com estes restos, foram encontrados instrumentos de pedra, que parecem indicar ser o homem contemporâneo com estes animais na América do Sul. Muitas das raças primitivas enterravam os seus mortos em grandes potes ou urnas de barro queimado, ajuntando muitas vezes instrumentos de pedra e osso. Na Ilha de Marajó existem alguns dos mais notáveis montes funerários conhecidos. O professor Reinhardt, de Copenhague, que tomou conta das coleções feitas por Lund, dá o seguinte sumário das conclusões que se derivam do seu trabalho:

1. No tempo pleistoceno, o Brasil foi habitado por uma fauna mamífera muito rica, da qual se pode dizer ser a fauna atual apenas um resto pequeno ou definhado, visto que muitos gêneros e até grandes grupos sistemáticos, tais como famílias e ordens, têm desaparecido e muitos poucos apenas têm continuado a existir até nossos dias.

2. A fauna mamífera brasileira, durante o tempo pleistoceno, apresentou a mesma feição especial que atualmente distingue a fauna sul-americana da do Velho Mundo, visto que os gêneros extintos pertencem a famílias e grupos que ainda hoje caracterizam particularmente a América do Sul. Somente dois destes gêneros (um extinto, o Mastodonte, e o outro ainda vivo, o cavalo) pertencem a famílias que são hoje limitadas ao Hemisfério Oriental, e assim formam exceção à regra.

3. As ordens mamíferas não eram, antigamente, em muito, mais ricas em gêneros do que agora. Os Ruminantes, Paquidermes, Elefantes e Carnívoros têm sofrido a maior perda; ao passo que algumas ordens dais como os Cheirópteros e Macacos, contêm, talvez, mais gêneros hoje do que antigamente.

4. Na América do Sul, a fauna mamífera pleistocena era mais distinta da atual, e era mais especialmente rica em gêneros peculiares e agora extintos do que era o caso com a fauna correspondente do Velho Mundo.

5. A pobreza em grandes animais (quase se pode dizer o caráter anão da fauna mamífera sul-americana de nossos dias, em comparação com os mamíferos do Hemisfério Oriental) era muito menos saliente, ou antes não existia de todo na fauna pré-histórica. Os Mastodonotes, Macrauchênias, Toxodontes, com os gigantescos tatus e preguiças, bem podiam competir com os elefantes, rinocerontes e hipopótamos que neste tempo habitavam a Europa.


Caverna do Avanca, Jaguará, Rio das Velhas
Imagem publicada com o texto, página 26

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