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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM...
1870 - pelo Almanaque de Santos-1971

Esse ano foi o do surgimento da Associação Comercial de Santos. Memória da época foi feita em edição especial sobre o centenário daquela entidade

Ao longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Na obra Almanaque de Santos - 1971, editado no final de 1970 por Ariel Editora e Publicidade, de Santos/SP (tendo como redator responsável o falecido jornalista Olao Rodrigues), as páginas 170 a 300 formam uma Edição Comemorativa do Centenário da Associação Comercial de Santos, na qual o jornalista traçou este panorama de como era Santos na época do surgimento daquela associação:

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Clique na  imagem acima para ampliá-la. É uma montagem com três fotos em seqüência, de Santos, vendo-se a cidade e o porto, com navios a vela e o terminal ferroviário junto ao cais. Uma quarta foto mostra a cidade, em vista obtida desde a outra margem do estuário, tendo ao fundo em destaque o Monte Serrate. As fotos são de 1868

Imagens de Edward Haigh (de Londres/Inglaterra), enviadas a Novo Milênio por Bruce Baryla, de New York/NY (EUA), com a intercessão do pesquisador paulistano Werner Vana, em 21/1/2004

Imagem de Santos no ano da fundação da A.C.S.

Em 1870, quando da fundação da ACS, Santos ainda se debatia com muitos problemas que estorvavam seu crescimento urbano-social.

Município há 31 anos, faltava-lhe a principal das reivindicações: a construção do porto em bases seguras e duradouras, não apenas para servir e incentivar o comércio de mercadorias e de navegação, mas também para sanear as principais áreas e livrar a indefesa população dos males epidêmicos a que estava permanentemente exposta.

O porto, que já era dos primeiros do Império, com seus trapiches inseguros e obsoletos, estava aberto aos mercados da Europa e Rio da Prata; em que pese a precariedade de instalações, fora visitado no período de 1870-71 por 163 embarcações de longo curso, com capacidade de 84.424 toneladas. Havia 4 linhas estrangeiras, entre as quais a Chargeurs Réunis e a Liverpool Brazil and River Plate Mail Steamer, além de 2 linhas nacionais para o serviço de cabotagem, a Companhia de Navegação Paulista, que dispunha de 4 navios, e a Companhia Nacional de Navegação a Vapor, cujos barcos tocavam aqui uma vez por mês.

Em 1874, ano da instalação da Praça do Comércio, foi de 12.856 o movimento de passageiros, superior ao do exercício anterior, que registrou 8.751.

A Companhia Macaé e Campis por algum tempo fez trafegar pelo porto um de seus navios, retirado da carreira, bem como por aqui navegaram os barcos da Clyde Line, dissolvida pouco antes de 1870.

O Nelusko, da companhia belga, desapareceu depois de receber em Santos 2.372 sacas de café, como mais dois outros naufragaram, um dos quais, procedente de Glasgow, saíra de Santos para Hamburgo com 19.254 sacas de café.

Para os Estados Unidos ainda não havia linha direta e essa falta era sentida pela diretoria da Associação, que considerava de muito proveito para a expansão do comércio santista as relações com os mercados da república norte-americana.

Em seu primeiro Relatório, a diretoria presidida pelo comendador Nicolau Vergueiro assinalava que "achando-se atualmente interrompidas as comunicações entre o Rio de Janeiro e Nova Iorque, por não ter podido renovar seu contrato a linha Garrison, e mostrando-se algumas outras companhias dispostas a fornecer propostas ao Governo Geral, seria ocasião azada para lembrarem-se do Porto de Santos, mandando-nos seus vapores e satisfazendo assim as reais necessidades do nosso Comércio".

Em 1870, que foi o ano da fundação da gloriosa Associação Comercial de Santos, a exportação de café pelo Porto, em sacas de 60 quilos, montou a 543.425 volumes, no valor oficial de 10.754:924$222 (Cr$ 10.754,92), contra 596.505 sacas, no valor de 13.483.019$676 (Cr$ 13.483,02) no exercício anterior.

O algodão, que era a mercadoria imediatamente mais exportada, atingiu 109.513 fardos de 50 quilos, no valor oficial de 3.266:161$000 (Cr$ 3.226,16).

O movimento de importação produziu a arrecadação de 2.155:103$968 (Cr$ 2.155,11), entre as mercadorias provenientes do exterior: o de cabotagem acusou a arrecadação de 16.943:294$360 (Cr$ 16.943,30).

A Alfândega arrecadou 2.080:238$478 (Cr$ 2.080,24) e a Mesa de Rendas, no mesmo exercício, 611:261$968 (Cr$ 611,26), com o total de 2.691:500$446 (Cr$ 2.691,51) entre as duas repartições.

Também em 1870, como já referimos, entraram no porto 163 embarcações, com 84.424 toneladas; saíram 166, com 84.431 toneladas.

Santos em 1868

Imagem feita por Edward Haigh (de Londres/Inglaterra), enviada a Novo Milênio por Bruce Baryla, de New York/NY (EUA), com a intercessão do pesquisador paulistano Werner Vana, em 21/1/2004

Eis os pontões ou trapiches que em 1870 existiam em toda a extensão da praia, para embarque e desembarque de mercadorias, bem assim seus proprietários:

Rua da Alfândega – Herança de Inácio Antônio Lisboa

Beco do Arsenal – Antônio Tibúrcio Rodrigues

11 de Junho – João Antônio Fernandes Casigo

Praia – Alexandre Geremias da Silva

Consulado – Mesa Provincial

Capela – C. Budich & Cia.

Sal – Sousa Queirós & Vergueiro

Estrada de Ferro – (Inter-muros) Cia. Estrada de Ferro de Santos

Barca – Lebe Irmão & Fidélis.

Movimento da estrada de ferro em 1870 – Indubitavelmente, a San Paulo Railway Co., que em 1867 inaugurou o tráfego entre o Planalto e a Baixada, foi eficiente coadjuvadora da expansão sócio-econômica do Município.

Em 1870, a estrada de ferro transportou 75.399 passageiros nas três classes, bem assim 15.118 volumes como bagagem; 3.343 animais e 102 dúzias de aves. A receita foi de 1.932:577$650 (Cr$ 1.932,58), elevando-se a despesa a 785:599$670 (Cr$ 786,00), havendo, pois, lucro de 1.206.777$970 (Cr$ 1.206,80).

Mercado monetário – Antigamente se procedia no Rio de Janeiro, principal praça do Império, à liquidação da maior parte das transações operadas em Santos. Por essa razão, nossa Praça acompanhava e sentia todas as oscilações do mercado do Rio e teve de suportar sérios prejuízos decorrentes da crise que em maio de 1875 se abatera sobre a Praça da Capital do Império e que culminou com o fechamento de três bancos, dois dos quais – o Mauá & Cia. e o Deutsche Brasiliannische – estavam estreitamente vinculados à Província pelo vulto das operações que empreendiam, notadamente o primeiro, que era em Santos o mais antigo e prestava ao Comércio e à Lavoura relevantes serviços.

Vale recordar que o Banco Mauá tinha suas instalações na atual Rua Frei Gaspar n. 2, onde ainda se localizam os escritórios da acreditada firma Hard Rand S.A. Exportadora e Importadora, cujo gerente, sr. Francisco Ferreira, é o atual tesoureiro de nossa Associação.

A situação economicamente catastrófica da Praça carioca repercutiu e alcançou o comércio santista, que já se via alarmado com sérios problemas, como as intensas geadas que em julho de 1875 assolaram a Lavoura e tornaram menos que regular a safra do café, além de depreciar-lhe a qualidade; se tudo isso não bastasse, a nossa Praça ainda suportou o fenômeno da cultura do algodão, em completa decadência, com possibilidade de extinguir-se, como o consideravam os homens de cúpula do nosso Comércio, tornando, ipso facto, menos próspera a riqueza econômica da Província.

Os produtores de algodão, naquela época recuada, foram levados ao desalento em face do desenvolvimento espantoso das culturas nos Estados Unidos e Índias, o que levou o produto a preços mais baixos nos mercados consumidores, além de injustamente onerados com os direitos de exportação.

Vamos falar, ainda que rapidamente, do mercado cambial. Quase todos os títulos que compreendiam os produtos de exportação, e em especial o café, eram negociados no Rio de Janeiro, onde se liquidavam as transações concernentes às mercadorias importadas, como já referimos. Em 1875, ano do início da atividade efetiva da ACS, "montavam a 700.000 libras, aproximadamente, as somas negociadas na Praça, atendendo-se a que o valor da maior parte da importação direta e o rendimento da Estrada de Ferro de Santos a Jundiaí são daqui remetidas", segundo se lê no Relatório da primeira diretoria.

Santos em 1868

Imagem feita por Edward Haigh (de Londres/Inglaterra), enviada a Novo Milênio por Bruce Baryla, de New York/NY (EUA), com a intercessão do pesquisador paulistano Werner Vana, em 21/1/2004

Transporte coletivo por bondes de burros – Pela lei n. 67, de 10 de abril de 1870, a Câmara Municipal concedeu privilégio por 50 anos a Domingos Moutinho para explorar o serviço de transporte de passageiros por meio de muares e servido de trilhos, nos limites da Cidade.

Esse serviço foi inaugurado em 9 de outubro de 1872, partindo os carros do Largo do Rosário, hoje Praça Rui Barbosa. A linha de passageiros para o bairro de Embaré só começou a funcionar em 7 de setembro de 1873. Em 1874, o movimento de passageiros foi de 87.045, e o de cargas alcançou 301.015 volumes, com o peso de 31.337.765 quilos; no ano seguinte, foi bem maior o número de passageiros transportados – 116.928 -, enquanto o de volumes atingiu 261.001, com o peso de 26.236.274 quilos.

No dia 24 de outubro de 1875 deu-se a inauguração da linha de bondes para S. Vicente, explorada por Jacob Emerich & Ablas, segundo contrato firmado em 1873 e autorizado pela lei provincial n. 42, de 3 de abril desse ano. Essa linha, que tinha a extensão de 9 quilômetros, começava no Itororó e alcançava o vizinho município pelo caminho do Norte.

Epidemia da febre amarela – Devido às sofríveis condições sanitárias, a Cidade foi castigada por epidemias de febre amarela, como em 1874, quando no último mês se instalou a Associação e se elegeu a primeira diretoria. A moléstia irrompeu na baía, entre os tripulantes e navios ancorados nos portos do Bispo e do Consulado, não tardando a propagar-se por toda a Cidade.

Mais de 500 pessoas foram atacadas pela doença, de caráter mortífero, 300 das quais receberam tratamento no hospital da Santa Casa da Misericórdia.

"Passados os dias tristes do primeiro semestre, a Cidade voltou à habitual quietação, continuando o indiferentismo da Municipalidade pelas coisas relativas à saúde pública. Entretanto, o obituário geral mostrava a benéfica ação da água, que, abundante e mais pura, desde o ano de 1872 abastecia a Cidade", comenta Francisco Martins dos Santos, em História de Santos.

Capela de Santo Antônio do Embaré – Dava-se no dia 19 de outubro de 1875 a inauguração da Capela de Santo Antônio do Embaré, na praia da Barra, mandada construir pelo barão (depois visconde) do Embaré, que era vice-presidente da Associação Comercial.

Celebrou a primeira missa, depois de benzer o templo, o vigário de Santos, padre Scipião Ferreira Goulart Junqueira.

Em 1875, quando d. Pedro II pela segunda vez esteve em Santos e pela primeira vez visitou a sede da nossa Associação, o barão de Embaré recepcionou o imperador em seu solar da Rua Direita, hoje 15 de Novembro, e ainda em sua chácara da Barra.

Santos em 1868

Imagem feita por Edward Haigh (de Londres/Inglaterra), enviada a Novo Milênio por Bruce Baryla, de New York/NY (EUA), com a intercessão do pesquisador paulistano Werner Vana, em 21/1/2004

41 casas comissárias e 27 exportadoras – Em 1870 – exatamente há um século – havia no município 41 casas comissárias de café e 27 casas exportadoras e importadoras, além de 12 outras que exploravam o comércio de comissões em geral e 7 armazéns de sal.

Vamos assinalar também o número de unidades outras do Comércio e da Indústria, bem assim o de médicos, advogados, professores, outras categorias profissionais e as autoridades civis e militares que serviam em Santos naquele recuado período, que marcou o surgimento da nossa Associação.

São informações seguras, de fonte idônea, buscadas em Reminiscências de Santos, de autoria de João Luís Promessa, que o lançou em 1930.

Antes, assinalaremos, por nossa conta, que na época circulavam na Cidade os jornais Diário de Santos, surgido em 1872, com redação na Rua Direita (hoje 15 de Novembro) n. 5, gerido pelo bacharel José Emílio Ribeiro Campos; Imparcial, com redação na Rua do Rosário n. 101 (hoje Rua João Pessoa), fundado a 1º de janeiro de 1870, de propriedade de José Inácio da Glória, e Revista Comercial, fundado a 2 de setembro de 1849, que foi o primeiro jornal a surgir em Santos, fundado pelo dr. Guilherme Délius, médico alemão, natural de Hamburgo, professor e tradutor juramentado da Alfândega, folha que desapareceu depois de 24 anos de existência.

A Igreja Matriz – Todos os Santos – a terceira edificada no local em que hoje dominam as praças da República e Antônio Teles, foi concluída em 1754, quando no dia 1º de junho desse ano o vigário padre Faustino Xavier do Prado procedeu â bênção do adro. Em 1908, no dia 6 de janeiro, por força de acordo entre a Câmara Municipal e o Bispado de S. Paulo, foi demolida a velha igreja matriz, consoante a lei municipal de 5 de junho de 1907, que a havia desapropriado para o alargamento da atual Praça da República.

"Desapareceu com isso – escreve Costa e Silva Sobrinho em Santos Noutros Temposparte do nosso passado, porque ela, a Cidade, já não poderá dizer: 'Eu vi nascer os Andradas e o poeta Martins Fontes, vi ainda nascer o visconde de S. Leopoldo e Vicente de Carvalho, poeta máximo do Brasil. Vi d. Pedro II, em fervorosas preces, obsecrar ao Senhor a grandeza e felicidade da Pátria. Eu assisti às festas da Independência, da Abolição e da República. Vi e senti, falando-se ao mesmo tempo de modo total e esquemático, esta terra crescer e chegar ao fastígio de suas glórias'".

O velho teatro – Havia em 1870 um teatro, aliás o primeiro que se estabeleceu em Santos. Funcionava em prédio arcaico do Largo da Coroação, hoje Praça Visconde de Mauá, no ponto até há pouco ocupado pela agência de passageiros da Viação Cometa.

Muitas companhias nacionais e estrangeiras passaram pelo velho teatro, como a Lírica Italiana, em 1875, que realizou a primeira temporada lírica em Santos, com a representação de Lucia de Lamermoor.

O teatro "era iluminado a vela de cera e candeias de azeite. Não havia cadeiras. De posse de seu bilhete, o espectador já sabia que tinha de levar uma, duas ou mais cadeiras, conforme o número de pessoas. As famílias numerosas faziam conduzir as suas cadeiras por escravos, que as colocavam na platéia ou nos camarotes presas por fita ou marcadas com papel com o nome do dono. Em regra, após os espetáculos, as famílias abalavam para casas atrás de um escravo de cacete na mão e lanterna acesa, para alumiar as ruas afogadas na escuridão".

As autoridades em 1870 – Segundo Reminiscências de Santos, em 1870 estava assim constituída a Câmara Municipal: vereadores – dr. Inácio Walace da Gama Cócrane, cel. Antônio Pereira da Silva, alferes José Teixeira da Silva Braga Júnior, cap. Joaquim José dos Santos Cruz, Francisco de Paula Coelho, José Carneiro da Silva Braga, ten-cel. Cândido Anunciado Dias e Albuquerque, cap. Firmino Xavier e Joaquim da Rocha Leite.

Fórum: juiz de Direito, dr. Caetano José de Andrade Pinto; juiz municipal de Órfãos, do Comércio e Provedoria, dr. Francisco Rodrigues Soares; promotor público, dr. Eduardo Ernesto Xavier; deputados provinciais, dr. Francisco Ribeiro de Escobar, dr. Inácio Walace da Gama Cócrane, dr. Joaquim Lopes Chaves, padre Vicente Valadão e dr. José Antônio de Magalhães Castro.

Polícia: delegado, dr. Francisco Rodrigues Soares; subdelegado, Francisco de Paula Coelho.

Repartição eclesiástica: vigário da Vara, padre Scipião Ferreira Goulart Junqueira; examinador sinodal do bispado; clérigos padres Joaquim José de Sant'Ana (padre-mestre), Luís Alves da Silva, Manuel Macedo Vieira da Rosa e Scipião Ferreira Goulart Junqueira.

Alfândega: inspetor, dr. João Inácio Vieira da Mota; guarda-mor major Rodolfo Júlio de Balbi; tradutor juramentado, dr. Guilherme Delius; despachantes gerais, cap. Joaquim Inácio dos Santos, João Xavier da Silveira, José Honório Bueno, João da Luz Pimenta e Francisco Xavier da Silveira Júnior; ajudantes, Henrique Pedro de Oliveira, José Moreira de Sampaio e Carlos Moreira de Sampaio.

Mesa de Rendas da Província: administrador, maj. Francisco Martins dos Santos; escrivão, maj. Higino Botelho de Carvalho; agente, Benedito Alves da Silva.

Correio: agente, Fernando Leite da Fonseca; ajudante, Antônio Joaquim Ferreira Paranhos; carteiro, Antônio Augusto da Silva; praticante, Feliciano Narciso Bicudo.

Inspeção de Saúde do Porto: inspetor, dr. Henrique da Cunha Moreira; secretário, cap. Antônio Marques de Sais.

Comando Militar da Praça: comandante, cel. Manuel Rolemberg de Almeida; ajudante-de-ordens, alf.-honorário Antônio Carlos da Silva.

Capitania do Porto: capitão do porto, capitão-de-mar-e-guerra reformado José Eduardo Wanderkolk; prático-mor, José Vieira do Couto; secretário, Francisco Xavier de Aguiar Andrade. 

Advogados: drs. Alexandre Augusto Martins Rodrigues, José Antônio de Magalhães Castro Sobrinho, Joaquim Roberto de Azevedo Marques Filho e Luís Ernesto Xavier.

Solicitadores: João da Silva Oliveira, Pacífico Frederico Freire, Antônio Joaquim de Oliveira Barata e Bernardes Clementino Nébias.

Médicos: drs. Henrique da Cunha Moreira, J. O. da R. Bom Sucesso Galhardo, Alexandre Bousquet, Frederico von der Meden e Moisés Rodrigues de Araújo Castro.

Profissões: Havia em 1870 no município: dentistas, 2; tipógrafos, 10; impressores, 6; arquitetos, 3; professores de piano e canto, 4; professores de música, 7; professor de desenho, 1; veterinários, 3; afinadores de pianos e órgãos, 3.

Indústrias, artes e outras categorias: armadores, 2; agentes de casas comerciais, 2; depósito de móveis, 1; depósito de instrumentos musicais,1 ; fábricas de charutos, 5; fábricas de licores e vinagre, 4; fábricas de carros, troles etc., 2; fábrica de cerveja, 1; fábrica de cal, 1; ourives, 3; oficinas de alfaiate, 3; marceneiros, 4; carpinteiros, 12; alfaiates, 13; funileiros e latoeiros, 6; oficinas de ferreiro, 4; contratadores de obras, 6; pedreiros, 11; pintores e vidraceiros, 6; barbeiros e sangradores, 5; mestre calceteiro, 1; mestre calafate, 1; sapateiros, 9; tanoarias, 6; bufarinheiros, 2; oficinas de seleiro, 3; seleiros e colchoeiros, 4; lojas de tamancos, 3; tintureiro, 1; encadernadores, 3; escultor, 1; açougues, 4; padarias, 5; café e bilhares, 4; hotéis, 4; casas de pasto, 4; casa de banhos (Ao Cisne Santista), 1; loja de mármore, 1; e salsicharia, 1.

Comércio: lojas de fazendas, 15; lojas de ferragens, 5; lojas de roupas feitas, 4; mascates, 4; lojas de armarinhos, 9; lojas de artigos de escritório, 6; lojas de louças e vidros, 6; depósitos de açúcar, 3; depósitos de farinha de trigo, 2; depósitos de calçados, 5; depósitos de querosene, 3; depósitos de frutas, 2; botequins, 58; armazéns de secos e molhados por atacado, 15; armazéns de secos e molhados a varejo, 32; armazéns de secos e molhados e toucinho, 6.

Em 1870, era comandante da Fortaleza da Barra Grande o maj.-honorário Manuel Antônio de Lima Vieira; do Forte Augusto, na qualidade de zelador, o cap. Antônio Martins Fontes; e a Fortaleza de São João da Bertioga era comandada pelo cap. Manuel do Espírito Santo Guimarães. Comandava a escola de Aprendizes Marinheiros o 1º-tem. José Carlos Palmeira, e a Praticagem do Porto era exercida pelos práticos José Bento dos Santos, Duarte José de Almeida, Joaquim Miguel e Joaquim Sereno. O farol da Ilha da Moela tinha o seguinte pessoal: 1º faroleiro, Manuel Francisco Dias; 2ºs faroleiros, Francisco Borges e Lourenço de Sousa; patrão de lancha de socorros, Procópio Fernandes Martins.

O prédio da Cadeia estava situado, até 1870, no local em que hoje é a Praça da República. O Quartel, até aquela data, localizava-se pouco adiante, no logradouro que é em nossos dias a Praça Teles.

Santos em 1868

Imagem feita por Edward Haigh (de Londres/Inglaterra), enviada a Novo Milênio por Bruce Baryla, de New York/NY (EUA), com a intercessão do pesquisador paulistano Werner Vana, em 21/1/2004

Santos era assim – Que era Santos na época em que a Associação Comercial engatinhava?

"A Cidade, que cresceu sem nenhum plano sanitário, não tinha esgoto. Poucas eram as ruas calçadas. Na maioria estreitas, mal niveladas e sem sarjetas para o escoamento das águas pluviais, o que causava constantes inundações. A água do abastecimento público tornava-se cada vez mais escassa. A população valia-se, por isso, dos poços e chafarizes. Muitas vezes, quando necessitava alguém de um copo de água, tinha de ir buscá-lo na carranca ou na bica do chafariz mais próximo.

"Atravessavam a Cidade as águas turvas e tardas dos ribeiros do S. Bento, do S. Jerônimo, do Macaia, do Carmo e dos Soldados, os quais eram desabertos e recebiam o despejo de muitas sentinas. Daí errar sempre em suas margens, ou nas trêmulas pontes de pau que as atravessavam, um cheiro abominável. Nas praças e nos quintais havia pântanos. E a decomposição das substâncias animais e vegetais neles depositadas, que o sol estreitava, ornavam-se focos de malária e outras febres perniciosas.

"Os cortiços, feitos de tábuas e cobertos de zinco, compunham-se em geral de um só cômodo, acanhadíssimo, que servia de dormitório, sala de jantar, cozinha e retreta. Era indescritível o desconforto e imundície em que viviam os moradores desses cubículos, todos eles construídos nas zonas mais centrais da Cidade. O transporte de café para bordo e das cargas para a estrada de ferro havia aumentado enormemente o número de carroças e, por conseguinte, o número de cocheiras, que eram construídas sem qualquer asseio, tornando-se viveiro feracíssimo de moscas e mosquitos. Do Valongo ao Paquetá, serviam as praias de depósito de lixo da Cidade, onde longo tempo permaneciam a descoberto, entre o lamarão e a areia, até que os rolos verdes da preamar o arrastassem para a correnteza do canal.

"No porto, os navios, ao lado uns dos outros, desfraldando bandeiras de diversas nações, permaneciam dias a fio na tarefa de carga e descarga. O cais, por carência de armazéns, vivia abarrotado de mercadorias, cujos fardos invadiam a Rua Xavier da Silveira e ali ficavam ao sol e ao relento, inflamando em certos indivíduos o delírio da rapina".

Assim era Santos 19 anos depois de fundada a nossa Associação, em 1889, segundo se expõe em Santos Noutros Tempos, do mestre Costa e Silva Sobrinho, no capítulo da visita de Rui Barbosa, em 1890.

Santos tinha 9.191 habitantes – Em 1871, quando ainda não se completava um ano de fundação da Praça do Comércio, procedeu-se ao penúltimo Recenseamento em Santos pelo Governo do Império.

Francisco Martins dos Santos, em sua História de Santos, forneceu-nos detalhes interessantes da vida da Cidade.

Apurado ficou que a população de Santos compreendia 9.191 habitantes; desse total, 7.585 eram livres, sendo 4.108 homens e 3.477 mulheres; os escravos somavam 1.606, entre 915 do sexo masculino e 691 do feminino. Havia 1.577 estrangeiros na população santista de 1871, preponderando os portugueses, em número de 931; seguiam-se quantitativamente os africanos, que compreendiam 255; alemães, 137; franceses, 75; norte-americanos, 35; ingleses, 31; e italianos, 18. Entre os brasileiros de outras províncias, os de Minas Gerais eram em maior número – 1.811; depois, os paranaenses, 513; baianos, 211; e goianos, 178.

Havia 1.382 prédios – A população de 9.191 habitantes morava em 1.382 prédios, inclusive os dos morros, travessas e praias.

Tal número de moradias, francamente, era muito pouco, mesmo há 100 anos, ou pouco antes, de onde nos vem a convicção de que Santos, com passado de gloriosa integração na vida política, administrativa, científica e cultural do País, era muito acanhada e lenta em sua capacidade urbano-social, mesmo sopesado o recuo do tempo.

Neste 1970, em pesquisa preliminar, a agência regional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, revelada no mês de março, Santos possuía 93.039 domicílios, sendo 92.506 urbanos e 533 rurais.

10 escolas públicas primárias – Ainda segundo Francisco Martins dos Santos, em História de Santos, havia em 1871 e, por certo, no ano anterior, quando da fundação da ACS, 10 escolas públicas primárias, sendo 6 para meninos e 4 para meninas.

Calculava-se a população em idade escolar em 2.198 crianças ou o quádruplo das que freqüentavam as escolas. A quantidade de analfabetos representava 66% da população de 9.191 almas.

Abastecimento de água – Autorizada pela Assembléia Provincial pela lei n. 65, a Câmara Municipal lavrou em 25 de fevereiro de 1870 contrato com os srs. João Frederico Russel, Tomás Cócrane e Eduardo Eweret Benest para execução do serviço de abastecimento de água potável, parte da qual seria captada no Rio das Pedras, em Cubatão.

De acordo com a convenção firmada, o preço de cada barril de 20 litros era de 20 réis, correndo as despesas de canalização por conta dos particulares, obrigando-se, contudo, os concessionários a instalar mais 4 chafarizes nos seguintes locais: Porto do Bispo, Praça do Andrada, Largo do Carmo e Rua dos Quartéis, em frente da chácara do sr. Paulino Rato, no ponto hoje ocupado pelo Moinho Santista S.A., que era o extremo da Cidade de um século atrás, naquela faixa.

Também se comprometiam a conservar os demais chafarizes, que se situavam no Largo da Coroação, Largo da Misericórdia e Largo da Imperatriz, dispondo de 12.000 litros por dia cada qual.

De conformidade com o Relatório número 1 da ACS, o fornecimento diário de água, em tempos normais, estava calculado em 400 mil litros, distribuídos por 13 chafarizes e fontes.

Também a Câmara Municipal contratou o serviço de abastecimento de água na praia do Embaré, mandando ali construir 6 pilastras, que deveriam entre si guardar distância de 1 quilômetro. Nas ruas por onde passava o encanamento geral foram colocados 31 registros ou válvulas para extinção de incêndios.

Iluminação a gás – O serviço de iluminação a gás de hulha, de que foram concessionários igualmente os srs. João Frederico Russel, Tomás Cócrane e Eduardo Eweret Benest, compreendendo 87 lampiões públicos, elevado sucessivamente esse número a 314, teve festiva inauguração no dia 7 de setembro de 1872, de acordo com o Relatório da primeira diretoria da ACS.

Entrementes, em História de Santos, Francisco Martins dos Santos assinala que os concessionários se obrigavam a instalar 200 lampiões nas ruas e praças, tendo cada combustor a intensidade de 9 velas e funcionando todas as noites, "mesmo nas de luar", como dizia a cláusula 10ª do contrato. O preço para a Câmara e o público era de 25 réis (Cr$ 0,00.0025) por hora de cada bico de 9 velas, ficando ressalvado o direito à Municipalidade de permitir a substituição do gás por outro agente novo produtor de luz.

Dos esgotos ainda não se cogitava...