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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1587 - BIBLIOTECA NM
1587 - Notícia do Brasil - [II - 165]

Clique na imagem para voltar ao índice desta obraEscrita em 1587 pelo colono Gabriel Soares de Souza, essa obra chegou ao eminente historiador Francisco Adolpho de Varnhagen por cópias que confrontou em 1851, para tentar restabelecer o texto original desaparecido, como cita na introdução de seus estudos e comentários. Em 1974, foi editada com o mesmo nome original, Notícia do Brasil, com extensas notas de importantes pesquisadores. Mais recentemente, o site Domínio Público apresentou uma versão da obra, com algumas falhas de digitalização e reconhecimento ótico de caracteres (OCR).

Por isso, Novo Milênio fez um cotejo daquela versão digital com a de 1974 e com o exemplar cedido em maio de 2010 para digitalização, pela Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá. Este exemplar corresponde à terceira edição (Companhia Editora Nacional, 1938, volume 117 da série 5ª da Brasiliana - Biblioteca Pedagógica Brasileira), com os comentários de Varnhagen. Foi feita ainda alguma atualização ortográfica:

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Tratado descritivo do Brasil em 1587

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Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa

SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS GRANDEZAS DA BAHIA

TÍTULO 17 — Noticia etnográfica do gentio tupinambá que povoava a Bahia

Capítulo CLXV

Que trata de como se este gentio cura em suas enfermidades.

São os tupinambás mui sujeitos à doença das boubas, que se pegam uns aos outros mormente enquanto são meninos, porque se não guardam de nada; e têm para si que as hão de ter tarde ou cedo, e que o bom é terem-nas enquanto são meninos, os quais não fazem outro remédio senão fazê-las secar, quando lhe saem para fora, o que fazem com as tingirem com jenipapo; e quando isto não basta, curam-lhes estas bostelas [pústulas] das boubas com a folha de caraoba, de cuja virtude temos já feito menção, e como se estas bostelas secam, têm para si que estão sãos deste mau humor, e na verdade não têm dores nas juntas como se elas secam.

Em alguns tempos e lugares, mais que outros, são estes índios doentes de terçãs e quartãs, que lhes nascem de andar pela calma, sem nada na cabeça, e de quando estão mais suados se banharem com água fria, metendo-se nos rios e nas fontes, muitas vezes ao dia pelo tempo da calma; ou quando trabalham, que estão cansados e suados; às quais febres não fazem nenhuma cura senão comendo uns mingaus, que são uns caldos de farinha de carimã, como já fica dito, que são muito leves e sadios; e untam-se com água do jenipapo, com o que ficam todos tintos de preto, ao que têm grande devoção.

Curam estes índios alguns apostemas e bexigas com sumo de ervas de virtude, que há entre eles, com que fazem muitas curas muito notáveis, como já fica dito atrás; e quando se sentem carregados da cabeça, sarjam nas fontes, e aos meninos sarjam-nos nas pernas, quando têm febre, mas em seco; o que fazem as velhas com um dente de cotia muito agudo, que têm para isso.

Curam as grandes feridas e flechadas com umas ervas, que chamam cabureíba [bálsamo do Peru], que é milagrosa, e com outras ervas, de cujas virtudes fica dito atrás no seu título; com as quais curam o cano [pênis], que se lhes enche muitas vezes de câncer; e as flechadas penetrantes e outras feridas, de que se vêem em perigo, curam por um estranho modo, fazendo em cima do fogo um leito de varas largas umas das outras, sobre as quais deitam os feridos, com as feridas boca abaixo em cima deste fogo, pelas quais com a quentura se lhes sai todo o sangue que têm dentro e a umidade; e ficam as feridas sem nenhuma umidade; as quais depois curam com óleo e o bálsamo, ou ervas, de que já fizemos menção, com o que têm saúde poucos dias; e não há entre este gentio médicos assinalados, mas são-no muito bons os recochilhados [indivíduos acutilados mais de uma vez ou escarmentados por danos repetidos].

Destes índios andarem sempre nus, e das fregueirices [calosidades] que fazem dormindo no chão, são muitas vezes doentes de corrimentos, a que eles chamam caruaras, de que lhes doem as juntas; das quais são os feiticeiros grandes médicos, chupando-lhes com a boca o lugar onde lhes dói, onde às vezes lhes metem os dentes, e tiram da boca algum pedaço de ferro, ou outra coisa, que lhes metem na cabeça tirar daquele lugar onde chupavam, e que quando lhes doía lhes saíra fora, onde lhes tingem com jenipapo, com que dizem que se acha logo bom.