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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM... - BIBLIOTECA NM
1587 - pelo colono Gabriel Soares de Sousa

"Os marmelos são tantos que os fazem de conservas, e tanta marmelada que a levam a vender por as outras capitanias." E não havia formigas...!?!

Ao longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

O Brasil mal começava  a ser povoado, quando o colono português Gabriel Soares chegou à Bahia, nela permanecendo por 17 anos, durante os quais se fez senhor de engenho e proprietário de roças e fazendas. De volta à Europa, estava na capital espanhola quando redigiu esta carta, em que ofertou seu livro a Cristóvão de Moura:

"Obrigado de minha curiosidade fiz, por espaço de 17 anos que residi no Estado do Brasil, muitas lembranças por escrito do que me pareceu digno de notar, as quais tirei a limpo nesta corte em este caderno, enquanto a dilação de meus requerimentos me deu para isso lugar; ao que me dispus entendendo convir ao serviço de El-Rei nosso Senhor, e compadecendo-me da pouca notícia que nestes reinos se tem das grandezas e estranhezas desta província, no que anteparei algumas vezes movido do conhecimento de mim mesmo, e entendendo que as obras que se escrevem tem mais valor que o da reputação dos autores delas.

"Como minha tenção não foi escrever história que deleitasse com estilo e boa linguagem, não espero tirar louvor desta escritura e breve relação (em que se contém o que pude alcançar da cosmografia e descrição deste Estado, que a V. S. ofereço (...). Em Madrid, o 1º de Março de 1587 - Gabriel Soares de Sousa".

Surgiu assim a obra Notícia do Brasil, que chegou ao eminente historiador F. Adolpho de Varnhagen por cópias que confrontou, para tentar restabelecer o texto original desaparecido, como cita na introdução de seus estudos e comentários, apresentada em carta ao Instituto Histórico do Brasil, datada de 1º de março de 1851, exatos 264 anos depois, e da mesma cidade de Madrid.

A obra é dividida em duas partes: a segunda é um memorial específico da Bahia de Todos os Santos, com destaque especial para a descrição das riquezas naturais (fauna e flora); já a primeira é um roteiro da navegação pelo litoral brasileiro, de Norte a Sul, com notas sobre as peculiaridades regionais. É nos capítulos LVII a LXIV que estão as notas referentes à Capitania de São Vicente, a seguir transcritas, com os comentários originais correspondentes.

Tal transcrição é baseada no livro publicado em Santos pelo pesquisador Edgard Cerqueira Falcão, em março de 1974, com o mesmo nome original, Notícia do Brasil, dentro da coleção Brasiliensia Documenta, editada para comemorar o centenário de nascimento do professor baiano Manuel Augusto Pirajá da Silva, que também havia feito extensa análise da obra. Este sétimo volume da coleção foi impresso nas oficinas da Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais S.A., na capital paulista, em 1974:


Pormenor do Mapa da Capitania de São Vicente e Adjacências - 1553-1597,
que destaca as tribos indígenas da região litorânea paulista

Notícia do Brasil
[...]


CAPÍTULO LVII
Em que se declara a costa do Rio de Janeiro até S. Vicente.

[...]

Da ilha de S. Sebastião ao Monte do Trigo [232] são quatro léguas [1]; de Monte do Trigo à barra de S. Vicente são quatro léguas. E corre-se esta costa da Ilha Grande [57] até S. Vicente les-nordeste e oes-sudoeste.


CAPÍTULO LVIII
Em que se declara quem é o gentio tamoio de que tanto falamos.

Ainda que pareça ser já fora de seu lugar tratar aqui do gentio tamoio [58], não lhe cabia outro, por a costa da terra que eles senhorearam passar além do Rio de Janeiro até Angra dos Reis; pelo que se não podia dizer deles em outra parte mais acomodada.

Estes tamoios [233], ao tempo que os portugueses descobriram esta província do Brasil, senhoreavam a costa dele, desde o rio do cabo de S. Tomé até a Angra dos Reis; do qual limite foram lançados para o sertão, onde agora vivem. Este gentio é grande de corpo e mui robusto, são valentes homens e mui belicosos, e contrários de todo o gentio senão dos tupinambás, de quem se fazem parentes, cuja fala se parece muito uma com a outra, e têm as mesmas gentilidades, vida e costumes, e são amigos uns dos outros.

São estes tamoios mui inimigos dos goitacases [234], de quem já falamos, com quem partem [2], segundo já fica dito, e cada dia se matam e comem uns aos outros. Por esta outra parte de S. Vicente partem com os guaianases [235], com quem também têm contínua guerra, sem se perdoarem. Pelejam estes índios com arcos e flechas, no que são muito destros, e grandes caçadores e pescadores de linha, e grandes mergulhadores, e à flecha matam também muito peixe, de que se aproveitavam quando não tinham anzóis.

As suas casas são mais fortes que as dos tupinambás e do outro gentio, e têm suas aldeias mui fortificadas com grandes cercas de madeira.

São havidos estes tamoios por grandes músicos e bailadores entre todo o gentio; os quais são grandes componedores de cantigas de improviso; pelo que são muito estimados do gentio, por onde quer que vão. Trazem os beiços furados e neles umas pontas de osso compridas com uma cabeça como prego em que metem esta ponta, e para que não caia, a tal cabeça lhe fica de dentro do beiço por onde a metem. Costumam mais em suas festas enfeitarem-se com capas e carapuças de penas de cores de pássaros.

Com este gentio tiveram grande entrada os franceses, de quem foram bem recebidos no Cabo Fio e no Rio de Janeiro, onde os deixaram fortificar e viver até que o governador Mem de Sá os foi lançar fora; e depois Antonio Salema no Cabo Frio. Nestes dois rios costumavam os franceses resgatar cada ano muitos mil quintais [3] de pau-brasil, onde carregavam dele muitas naus que traziam para França.


CAPÍTULO LIX
Em que se declara a barra e povoações da capitania de S. Vicente.

Está o rio e barra de S. Vicente [236] em altura de vinte e quatro graus e meio, o qual rio tem a boca grande e muito aberta, onde se diz a barra de Estêvão da Costa. E quem vem do mar em fora, para conhecer a barra, verá sobre ela uma ilha com um monte, da feição de moela de galinha [59], com três mamilões. Por esta barra entram naus de todo o porte, as quais ficam dentro do rio mui seguras de todo o tempo; pelo qual entra a maré cercando a terra de maneira que fica em ilha muito chegada à terra firme, e faz este braço do rio muitas voltas.

Na ponta desta barra, da banda de leste, está a vila de Nossa Senhora da Conceição [237]; e desta ponta à outra, que se diz de Estêvão da Costa, se estende a barra de S. Vicente, e entrando por este rio acima está a terra toda povoada de uma banda e da outra de fazendas mui frescas; e antes que cheguem à vila estão os engenhos dos Esquertes [Schertz] de Flandres e o de José Adorno, e no rio está uma ilheta além da qual à mão direita está a vila de S. Vicente, que é cabeça desta capitania.

Pelo sertão desta capitania nove léguas está a vila de S. Paulo, onde geralmente se diz "O Campo" [238], em a qual vila está um mosteiro dos padres da Companhia, e derredor dela quatro ou cinco léguas estão quatro aldeias de índios forros cristãos, que os padres doutrinam; e servem-se desta vila para o mar pelo esteiro do Ramalho.

Tem esta vila mais dois ou três engenhos de açúcar na ilha e terra firme; mas todos fazem pouco açúcar por não irem lá navios que o tragam. E aparta-se esta capitania de S. Vicente, de Martim Afonso de Souza, com a de S. Amaro de seu irmão Pero Lopes, pelo esteiro [4] da vila de Santos, donde se começa a capitania da vila de S. Amaro.


CAPÍTULO LX
Em que se declara cuja é a capitania de S. Vicente.

Parece que é necessário, antes de passar mais adiante, declarar cuja é a capitania de S. Vicente, e quem foi o povoador dela, da qual fez El-Rei D. João III de Portugal mercê a Martim Afonso de Souza, cuja fidalguia e esforço é tão notório a todos, que é escusado bulir neste lugar nisso, e os que dele não sabem muito vejam os livros da Índia, e verão os feitos maravilhosos que nela acabou, sendo capitão-mor do mar e depois governador.

Sendo este fidalgo mancebo, desejoso de cometer grandes empresas, aceitou esta capitania com cinqüenta léguas da costa [60], como as de que já fizemos menção, a qual determinou de ir povoar em pessoa, para o que fez prestes uma frota de navios, que proveu de mantimentos e munições de guerra como convinha; em a qual embarcou muitos moradores casados que o acompanharam; com os quais se partiu do porto de Lisboa, donde começou a fazer sua viagem, e com próspero tempo chegou a esta província do Brasil, e no cabo de sua capitania tomou porto no rio que se agora chama de S. Vicente, onde se fortificou e assentou a primeira vila, que se diz do mesmo nome do rio, que fez cabeça da capitania.

E esta vila foi povoada de muita e honrada gente que nesta armada foi, a qual assentou em uma ilha, donde lançou os guaianases, que é o gentio que a possuía e senhoreava aquela costa até contestarem com os tamoios; a qual vila floresceu muito nestes primeiros anos; por ela ser a primeira em que se fez açúcar na costa do Brasil, donde se as outras capitanias proveram de canas de açúcar para plantarem e de vacas para criarem, e ainda agora floresce e tem em si um honrado mosteiro de padres da Companhia, e alguns engenhos de açúcar, como fica dito.

Com o gentio teve Martim Afonso pouco trabalho, por ser pouco belicoso e fácil de contentar, e como fez pazes com ele, e acabou de fortificar a vila de S. Vicente e a da Conceição, se embarcou em certos navios que tinha, e foi correndo a costa descobrindo-a, e os rios dela até chegar ao rio da Prata, pelo qual navegou muitos dias com muito trabalho, onde perdeu alguns dos navios pelos baixios do mesmo rio, em que se lhe afogou alguma gente, donde se tornou a recolher para a capitania que acabou de fortificar como pôde.

E deixando nela quem a governasse e defendesse, se veio para Portugal, chamado de S. Alteza, que se houve por servido dele naquelas partes, e o mandou para as da Índia. E depois de a governar se veio para estes reinos que também ajudou a governar com El-Rei D. João, que o fez do seu Conselho de Estado; e o mesmo fez reinando El-Rei D. Sebastião, no tempo que governava a rainha D. Catarina sua avó, e depois o Cardeal D. Henrique, para o que tinha todas as partes convenientes.

Nestes felizes anos Martim Afonso favoreceu muito esta sua capitania com navios e gente que a ela mandava, e deu ordem com que mercadores poderosos fossem e mandassem a ela fazer engenhos de açúcar e grandes fazendas, como tem até hoje em dia, do que já fizemos menção.

Tem este rio de S. Vicente grande comodidade para se fortificar e defender, ao que é necessário acudir com brevidade, por ser mui importante esta fortificação ao serviço de S. Majestade, porque, se se apoderarem dela os inimigos, serão maus de lançar fora, pelo cômodo que têm na mesma terra, para se fortificarem nela, e defenderem de quem os quiser lançar fora.

Por morte de Martim Afonso herdou esta capitania seu filho primogênito Pero Lopes de Souza, por cujo falecimento a herdou seu filho Lopo de Souza.


CAPÍTULO LXI
Em que se declara a capitania de S. Amaro, e quem a povoou.

Está tão mística [contígua] [239] a capitania de S. Vicente com a de Santo Amaro, que, se não foram de dois irmãos, amassaram-se muito mal os moradores delas, as quais iremos dividindo como pudermos.

Indo pelo rio de S. Vicente acima, antes que cheguem à ilha que nele está, à mão direita dele, está a boca do esteiro e porto da vila de Santos [240], por onde entra a maré, cercando esta terra até se ajuntar com estoutro esteiro de S. Vicente; e entrando por este esteiro de Santos, à mão esquerda dele está situada a vila do mesmo nome, a qual fica também em ilha cercada de água toda, que se navega com barcos, e lhe dá jurisdição da capitania de Santo Amaro; e tornando à ponta de Estêvão da Costa que está na boca da barra de S. Vicente, dela a três léguas ao longo da costa, está a vila de Santo Amaro [241], junto da qual está o engenho de Francisco de Barros.

De Santo Amaro fez Pero Lopes de Souza, cabeça desta capitania. Desta vila de Santo Amaro à barra de Britioga [Bertioga] [242] são duas léguas; onde está um forte com artilharia e bombardeiros, que se chama de S. Felipe. Por esta barra entra a maré cercando esta terra até se ajuntar com o esteiro de Santos, por onde fica Santo Amaro também em ilha, e da ponta onde está esta fortaleza [243], estão no rio duas ilhetas.

Defronte da fortaleza de S. Felipe faz uma ponta muito chegada a estoutra, onde está outra torre com bombardeiros e artilharia, que de diz de S. Tiago, e por entre uma e outra podem entrar naus grandes por ter fundo para isso, se destas fortalezas lho não impedirem; e passando adiante destas torres pelo esteiro acima, da banda da terra firme estão os rios seguintes, que estão povoados com engenhos e outras fazendas, os quais se vêm meter aqui no salgado: rio dos Lagartos [244], o Piraquê [245], o de S. João [246], o de S. Miguel [247], o da Trindade [248], o das Cobras [249], o do engenho de Paulo de Proença [250], o rio dos Frades, onde está o engenho de Domingos Leitão [251], que é já da capitania de S. Vicente, o de Santo Amaro, o do engenho de Antonio do Vale [252], o de Manuel de Oliveira [253], concluindo, é marco entre a capitania de S. Vicente e a de Santo Amaro o esteiro de Santos.

Atrás fica dito como Pero Lopes de Souza não quis tomar as cinqüenta léguas de costa de que lhe El-Rei fez mercê todas juntas, e de que tomou a metade em Itamaracá e a outra em Santo Amaro, de que agora tratamos.

Esta capitania foi povoar em pessoa este fidalgo e fez para o poder fazer uma frota de navios em que se embarcou com muitos moradores, com os quais partiu do porto de Lisboa e se foi à província do Brasil, por onde levava sua derrota [5], e foi tomar porto no de S. Vicente, donde se negociou e fez as povoações e fortalezas acima ditas, no que passou grandes trabalhos e gastou muitos mil cruzados, a qual agora possui uma sua neta, por não ficar dele herdeiro varão a quem ela com a de Itamaracá houvesse de vir [61].


CAPÍTULO LXII
Em que se declara parte da fertilidade da terra de S.Vicente.

Nestas capitanias de S. Vicente e Santo Amaro são os ares frios e temperados como em Espanha, cuja terra é mui sadia e de frescas e delgadas águas, em as quais se dá o açúcar muito bem, e se dá trigo e cevada, do que se não usa na terra, por os mantimentos dela serem muito bons e facilíssimos de granjear, de que os moradores são mui abastados e de muito pescado e marisco, onde se dão tamanhas ostras que têm a casca maior que um palmo, e algumas muito façanhosas. Do trigo usam somente para fazerem hóstias e alguns mimos.

Tem esta capitania muita caça de porcos e veados, e outras muitas alimárias e aves, e criam-se aqui tantos porcos e tamanhos que os esfolam para fazerem botas, e couros de cadeiras, e que acham os moradores destas capitanias mais proveitosos e melhor que de couro das vacas, de que nestas capitanias há muita quantidade por se na terra darem melhor que na Espanha, onde as carnes são muito gordas e gostosas, e fazem vantagem às das outras capitanias, por a terra ser mais fria.

Dão-se nesta terra todas as frutas de espinho que em Espanha, às quais a formiga não faz nojo [62] , nem a outra cousa [254], por se não criar na terra como nas outras capitanias; dão-se nestas capitanias uvas, figos, romãs, maçãs e marmelos em muita quantidade, e os moradores da vila de S. Paulo têm já muitas vinhas; e há homens nela que colhem já duas pipas de vinho por ano, e por causa das plantas é muito verde, e para se não avinagrar lhe dão uma fervura no fogo; e também há já nesta terra algumas oliveiras que dão fruto, e muitas rosas, e os marmelos são tantos que os fazem de conservas, e tanta marmelada que a levam a vender por as outras capitanias.

E não há dúvida senão que há nestas capitanias outra fruta melhor que é prata, e que se não acaba de descobrir, por não ir à terra quem a saiba tirar das minas e fundir.


CAPÍTULO LXIII
Que trata de quem são os guaianases, e de seus costumes.

Já fica dito como os tamoios são fronteiros de outro gentio, que se chamam os guaianases [63] , os quais têm sua demarcação ao longo da costa por Angra dos Reis, e daí até o rio de Cananéia, onde ficam vizinhando com outra casta de gentios, que se chamam os carijós [255]. Estes guaianases têm continuamente guerra com os tamoios de uma banda, e com os carijós da outra, e matam-se uns aos outros cruelmente; não são os guaianases maliciosos, nem refalsados, antes simples e bem acondicionados, e facílimos de crer em qualquer coisa.

É gente de pouco trabalho, muito molar [crédula], não usam entre si lavoura, vivem de caça que matam e peixe que tomam nos rios, e das frutas silvestres que o mato dá; são grandes flecheiros e inimigos de carne humana. Não matam aos que cativam, mas aceitam-nos por seus escravos; se encontram com gente branca, não fazem nenhum dano, antes boa companhia, e quem acerta de ter algum escravo guaianás não espera dele nenhum serviço, porque é gente folgazã de natureza e não sabe trabalhar.

Não costuma este gentio fazer guerra a seus contrários fora dos seus limites, nem os vão buscar nas suas vivendas, porque não sabem pelejar entre o mato, senão no campo, onde vivem, e se defendem com seus arcos e flechas dos tamoios, quando lhe vêm fazer guerra, com quem pelejam no campo mui valentemente e às flechadas, as quais sabem empregar tão bem como seus contrários.

Não vive este gentio em aldeias com casas arrumadas, como os tamoios seus vizinhos, mas em covas pelo campo debaixo do chão, onde têm fogo de noite e de dia, e fazem suas camas de rama e peles de alimárias que matam. A linguagem deste gentio é diferente da de seus vizinhos, mas entendem-se com os carijós; são na cor e proporção do corpo como os tamoios e têm muitas gentilidades, como o mais gentio da costa.


CAPÍTULO LXIV
Em que se declara a costa do rio de Santo Amaro até Cananéia.

Atrás fica dito como se divide a capitania de S. Vicente da de Santo Amaro pelo esteiro de Santos, e como a vila de Santo Amaro é cabeça desta capitania, da qual ao rio da Cananéia [256] são vinte e cinco léguas ou trinta, antes da qual se acaba a capitania de Santo Amaro, e corre-se esta costa de Santo Amaro até a Cananéia nordeste-sudoeste, e toma da quarta de leste-oeste, a qual terra é toda boa para se poder aproveitar, e tem muitos riachos, que se vêm meter no mar, entre os quais é um que está onze léguas, antes que cheguem à Cananéia, o qual faz na boca uma enseada, que tem uma ilha junto ao rio, que se diz a ilha Branca [64].

Este rio da Cananéia está em vinte e cinco graus e meio, em o qual rio entram navios da costa, e se navega por ele acima algumas léguas, e é mui capaz para se poder povoar, e para se fazer muita conta dele, por ser muito abastado de pescado e marisco, e por ter muita caça, cuja terra é muito fértil, em a qual se dão muitos mantimentos dos naturais, e se dará tudo o que lhe plantarem, e toda a criação de gado que lhe lançarem, por ter grande cômodo para isso.

Tem o rio da Cananéia na boca uma abra [6] grande, no meio da qual, bem defronte do rio, tem uma ilha, e nesta abra está grande porto e abrigada para os navios, onde podem estar seguras naus de todo o porte, porque tem fundo para isso.


[...]

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Mapa do Litoral Sudeste, cerca de 1600, no acervo do códice da Biblioteca da Ajuda (Lisboa)
Reproduzido da Enciclopédia Mirador Internacional, 1980 (página 10.218), 
Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda., São Paulo/SP

NOTAS DE VARNHAGEN (mantida a numeração original):

[57] O primeiro sesmeiro da Ilha Grande foi o Dr. Vicente da Fonseca por carta de 24 de janeiro de 1569. À ilha de S. Sebastião chamavam os indígenas, segundo Hans Staden, Meyembipe; e à dos Alcatrazes Uraritan. O morro e ponta de Caruçu chama-se hoje vulgarmente de Cairuçu, e já assim escreveram Vasconcelos e Frei Gaspar da Madre de Deus.

[58] Tamoio quer dizer "avô", "ascendente", "antepassado". Era o nome com que os indígenas de S. Vicente designavam os desta província fluminense, o que comprova as nossas fortes conjecturas de que a emigração tupi marchou do Norte para o Sul. Os tamoios chamavam-se a si tupinambás, segundo Staden; e aos vizinhos do Sul apelidavam os temiminós, isto é, seus netos ou descendentes.

[59] A ilha da barra do porto de S. Vicente, que Soares diz parecer moela de galinha, chama-se ainda hoje da Moela.

[60] Martim Afonso recebeu cem léguas de costa por doação, e não cinqüenta; e ainda assim a sua capitania saiu uma das mais pequenas em braças quadradas. Esse grande capitão não voltou a S. Vicente depois de ser donatário; mandou, sim, providências, lugar-tenentes etc.

[61] Tampouco nos consta que Pero Lopes voltasse mais ao Brasil depois de ser aqui donatário, e temos quase certeza que não.

[62] É sem verdade que Soares afirma que não havia noutro tempo formigas em S. Paulo. Já Anchieta dá delas conta. E S. Paulo é desgraçadamente terra proverbial quanto às tanajuras, às saúvas e às tocas de cupins.

[63] Em vez de Guainá ou antes Guaianá, escreve Staden Wayganna.

[64] Ilha Branca é talvez adulteração de I. do Abrigo, que é a mesma fronteira à ponta do padrão, de que no capítulo seguinte se trata.

NOTAS DO PROF. PIRAJÁ DA SILVA (mantida a numeração original):

[232] Monte do Trigo - Ilha Montão de Trigo, no litoral do Estado de S. Paulo, adiante do ancoradouro de S. Sebastião.

[233] Tamoios - O nome desses gentios foi escrito de vários modos: tamuya, tamoy, tamunha e quer dizer: avô, o ancião do céu ( Tratados da Terra e Gente do Brasil, pág. 265). Habitavam desde o Cabo Frio, às margens de baía de Guanabara, até ao estabelecimento dos portugueses em S. Vicente. Eram sinceros aliados dos franceses e por esse motivo foram derrotados por Mem de Sá em 1567. A Confederação dos Tamoios é o título do excelente poema do Dr. Domingos José Gonçalves de Magalhães, uma das jóias da literatura brasileira.

Gabriel Soares diz que os tamoios eram grandes músicos, bailadores e compositores de cantigas de improviso. Serão eles os precursores dos nossos célebres cantores de tiranas ou desafios, como se chama no Sul?

[234] Guaitacases - ou melhor Goitacás plural de Goitacá, de Guatá + = corredor. Do verbo guata, se deriva guataar, o que anda, o andejo (Bapt. Caetano, op. cit., pág. 246). Os Goitacás dividem-se em três hordas: Goitaca-açu, Goitacá-mopi e Goitacá-jacoritó. Estendiam-se pelas planícies hoje conhecidas por Campos dos Goitacases.

"Os Waitaka, que, por engano, foram identificados com os Puris e os Coroados, provavelmente, faziam parte das antigas camadas de povos que ocupavam as costas do Brasil, muito antes que os tupis se assenhoreassem delas. Pertenciam, sem dúvida, a esta antiga camada étnica sul-americana, da qual as tribos Gês são as mais conhecidas representantes. Todavia, não é absolutamente certo, ser preciso colocá-los entre os Gês. Em meados do século XVI, os Waitaka ocupavam a parte litorânea, que vai do rio Cricaré (hoje rio S. Mateus) ao cabo de S. Tomé . Alguns cronistas lhes dão limites mais setentrionais. Por mais imprecisas e contraditórias que sejam as fontes das nossas informações, a respeito das fronteiras exatass dos Waitaka, todas elas são acordes em considerá-los como senhores incontestados desta planície, cortada de lagoas e lagos, pobre de árvores, mas, extraordinariamente fértil e propícia à criação; por isto, ainda hoje conserva-se o nome de Campos dos Guaitacases, os quais começam perto da Lagoa Feia e se findam na foz do Paraíba". (Métraux - Les Indiens Waitaka. 1929, págs. 1007-216, Journal de La Société des Americanistes de Paris. Nouvelle Serie T. XXI).

[235] Goaianases - de coia-anã - coianã = "os parentes dos aliados" e até "os aliados parentes" (Bapt. Caetano, op. cit., pág. 246, Tratados da Terra e Gente do Brasil). Dominavam no Estado de S. Paulo, antes da fundação da Capitania de S. Vicente. Eram mais pacíficos do que os tamoios.

Antes da chegada de Martim Afonso, obedeciam a dois chefes: Tibiriçá e Caiubi. João Ramalho casou com uma filha de Tibiriçá. "Os goianases combatiam no campo, como acontecia com os goitacases, o que parece lhes dar uma origem comum, e faz supor que umas e outras destas tribos viveram por longo tempo em sítios semelhantes. Os Waianazes (escree Laet) ocupam a ilha Grande. São medrosos, pequenos, barrigudos, de pés chatos. Homens e mulheres deixam crescer o cabelo. Acha este autor e com razão, que os Puris do interior são semelhantes aos Waianazes. Defendem-se das chuvas com ramos de árvores entrelaçados, e cobertos de palma" (Gonçalves Dias, Brasil e Oceania. Rev. Inst. Hist. Geog. Bras. T. XXX, 2ª parte, pág. 52, ed. 1867). Estes brasilíncolas se estendiam desde Angra dos Reis até Cananéia.

De referência ao conhecimento da etnografia brasileira escreveu o Dr. H. von Ihering: "Neste sentido o Roteiro de Gabriel Soares é de suma importância. Não obstante o autor desse Roteiro não ter vivido em S. Paulo, ele manifesta conhecimentos profundos das tribos, que então habitavam o território do Estado de S. Paulo. Os principais entre estes, segundo sua narração, eram os seguintes: os tupinambás, os carijós e os guaianás". (Rev. Mus. Paul., vol. VII, pág. 216)

Entre os Zês (Gês) meridionais estão incluídos os Wayana (Guaiana, Wayanna, Goianás etc. sinônimos: Chobacas, Coronados, Caaigua e "Tupi"). Esses índios são os antepassados dos Kaingang, dos Sokleng e dos Aweicomá modernos. Desde os primeiros tempos da conquista portuguesa, são eles mencionados no território do atual Estado de S. Paulo, desde a baía de Angra dos Reis até Cananéia (Gabriel Soares de Sousa, cap. LXIII).

Na realidade, seu domínio era muito mais vasto e correspondia à superfície de extensão dos Caingang e Soquileng modernos.

Rui Dias de Guzman (pág. 26) menciona os Guaiana e Chobaca como tribos aparentadas, habitantes das margens dos rios Negro e Piquiri.

Acrescenta que essa nação é desconhecida dos espanhóis e a existência dela foi revelada pelos Guaranis. Lozano (T. I, pág. 418), ainda no século XVI, conhecia sob o nome de Guaiana, os Caingang do Iguaçu. Vivem, diz ele, do Iguaçu ao mar. Entre os Guaiana, isto é, os antigos Caingang, é preciso colocar os Coroados de Lozano (T. I, pág. 69), que habitavam os Campos dos Campeiros, do Guarairu, do Caiiú, dos Cabeludos e dos Coroados, entre os rios Huibai e Iguaçu, os Guañanás, os Gualacho, na região do Iguaçu e os Tsiqui, que viviam próximo dos Cabeludos, na região do Iguaçu, e sem dúvida também os Caaingúa dos Jesuítas, que vagavam nas matas, entre os rios Paraná e Uruguai, perto de Acari (no Guaíra). (Cf. Revista del Instituto de Etnologia de la Universidad Nacional de Tucumán. T. I. Entrega 2ª, págs. 110, 111).

[236] Rio e Barra de S. Vicente - De acordo com a descrição que se encontra no Roteiro é a barra de Santos. - Veja-se o que escreveu Gabriel Soares: "E quem vem do mar em fora para conhecer a barra, verá sobre ela uma ilha com um monte, da feição de moela de galinha, com três mamilões".

A ilha é a da Moela, situada fora da barra de Santos. Próximo a esta barra ficava a fazenda de Estêvão da Costa, na ilha de S. Amaro. Daí proveio também a denominação de barra de Estêvão da Costa. "O Vigário Gonçalo Monteiro, lugar-tenente de Martim Afonso, deu terras na ilha de Guaibe, em 1536, a Estêvão da Costa, chegado à capitania no ano anterior". (Rev. Inst. Hist. Geogr. Bras. T. IX, pág. 160). Pela amplitude descrita, a barra deve ser compreendida entre as pontas de Itaipu e do Munduba. Talvez seja esta a Ponta de Estêvão da Costa a que se refere Gabriel Soares. O antigo porto de S. Vicente é a baía de Santos. (Cf. Mapa nº 2 - Diário da Navegação, op. cit.).

"Em 1536, o Vigário Gonçalo Monteiro, substituto de Martim Afonso, em S. Vicente, deu terras na ilha de Guiabé ou Guaimbe, a Estêvão da Costa, aí chegado em 1535". (Cf. Hist. Geral do Brasil, Varnhagen, T 1º, pág. 205). A fazenda de Estêvão da Costa na ilha de S. Amaro de Guaibe está assinalada num precioso mapa seiscentista, constante de um Códice da Biblioteca da Ajuda, da mesma época, e reproduzido na História da Colonização Portuguesa do Brasil (Vol. III, pág. 229).

Rio S. Vicente - desde 1502 até 1532 foi sempre o atual estuário de Santos. "O famoso bacharel de Cananéia foi o fundador do povoado chamado de São Vicente, levantado pelos anos de 1510/1516 no mesmo lugar, onde hoje fica a cidade e do primeiro porto de São Vicente (junto à Ponta da Praia, no estuário santista), origens um e outro das duas cidades atuais, São Vicente e Santos". (Cf. História de Santos, pág. 35, Vol. I, Francisco Martins dos Santos).

O novo Porto de S. Vicente ficava defronte da Vila de S. Vicente, fundada em 22 de janeiro de 1532. O rio Iriripiranga é o atual Casqueiro. (Vd. Geografia do Estado de São Paulo - Afonso A. de Freitas, 1906, pág, 31).

Rio Estreito - era um dos braços do antigo rio de S. Vicente (Cf. Mapa nº 9 e pág. 341, Diário da Navegação). A ilheta a que se refere o autor do Roteiro é a ilha do Mudo ou Porchat. O novo Porto de S. Vicente possuía duas entradas: uma chamada Barreta, que desapareceu, era situada entre a ilha Porchat e a praia de Itararé; a outra, hoje única, está entre a mesma ilha e uma ponta da qual os morros de Xixová e Paranapuan ficam a cavaleiro. (Op. cit., pág. 340).

[237] Vila de N. S. da Conceição - A povoação de N. S. da Conceição de Itanhaén foi a segunda que Martim Afonso de Souza fundou, supõe-se, entre 1532 e 1534. Porém, só no ano de 1561 foi elevada à categoria de vila. (Cf. Encicl. e Dic. Intern. e Crônica do Imp. do Brasil, Melo Morais, pág. 80). Na opinião do Dr. A. E. Taunay a povoação foi fundada, ao que parece, em 1549.

Itanhaén provém de itá = pedra + nhaén = bacia, alguidar: bacia de pedra. (O Tupi, 3ª ed., pág. 2320. Para Martins, ita-nhaén = prato de ferro. (Beiträge zur Ethnographie. Vol. II, pág. 505). Não confundir com Itanhaé - de itá = pedra + nheeng = fala: pedra que fala, eco - Cachoeira no Tietê.

O engenho de Martim Afonso de Souza, na Vila de S. Vicente, sob a invocação de S. Jorge, passando a pertencer a Erasmo Schetz (Esquert) e a seu cunhado Jean Vlemincky, ficou sendo chamado engenho S. Jorge dos Erasmos. Os Schetz eram originários da Francônia ou de Maestricht. Esquertes ou Esquetes dizem os documentos antigos. Esquertes de Frandes (Flandres) escreveu Gabriel Soares.

"Até o ano de 1533 eistiu em a vila de S. Vicente o seu fundador Martim Afonso de Souza (Livr. de Registo de sesmarias, tit. 1555 cit., pág. 103) e nela estabeleceu o primeiro engenho de açúcar que houve em todo o Brasil, com invocação de S. Jorge; depois, com grande aumento de fábrica e escravatura, passou a ser dos alemães Erasmo Esquert e Julião Visnat, e se ficou chamando S. Jorge dos Erasmos". (Livr. do Registo de sesmarias, tit. 1555, pág. 42, 61, 84 verso, Rev. Trim. do Inst. Hist. e Geogr. T. IX, 2ª ed., pág. 144).

[238] No Roteiro não há referências a S. André da Borda do Campo.

A povoação, junto à casa de João Ramalho, foi por ele fundada serra acima, na saída da mata, e erigida em vila a 8 de setembro, do ano de 1553, com o nome de S. André da Borda do Campo. Era situada à margem direita do ribeirão Guapituba, afluente do rio Tamanduateí, pela margem esquerda, no município de S. Bernardo. (Cf. Dic. Geog. da Prov. de S. Paulo, Dr. J. Mendes de Almeida).

"Em 1560, a rogo dos Jesuítas de Piratininga, mandava Mem de Sá ao velho náufrago, agora patriarca dos mamalucos, que demolisse o arraial andreense e incorporasse a sua gente aos moradores de S. Paulo". (Af. Taunay). Hoje se acha dentro dos limites da freguesia de S. Bernardo. A Vila de S. Paulo, "onde geralmente se diz o Campo", fundada a 25 de janeiro de 1554, nos campos de Piratininga é, hoje, a grandiosa Cidade de S. Paulo, um dos orgulhos do Brasil.

Em 1532 Martim Afonso fundou a primeira Pirantininga, nos Campos Elíseos ou imediações. Esta povoação, quase exclusivamente de gentios, não se desenvolveu.

A segunda - S. Paulo do Campo de Piratininga - foi fundada pelos Jesuítas, no local hoje chamado Triângulo, antigo Inhapuambuçu. (Cf. Cidade de Anchieta. Baptista Pereira, Rev. Arq. Munic. Vol. XXIII). Piratininga quer dizer; o secadouro de peixe, porque depois da enchentes o peixe ficava fora, em seco, exposto ao sol. Piratininga era o primitivo nome do rio Tamanduateí.

Tamanduateí - de tamonduátei: tamanduás em grande número. (O Tupi). Tamanduateí = tamandetá-i: rio de muitas voltas. (Primeiras Noções de Tupi, Plínio Airosa). Tamandataí - de ta-mondé-ati-i: rio onde se apanham as gaivotas - ati. (Beiträge zur Ethnographie. Martius).

Em carta do Padre Nóbrega, escrita de S. Vicente a 15 de julho de 1553, consta: "E pelo Campo, daqui doze léguas, se querem ajuntar três povoações numa para melhor aprenderem a doutrina cristã e mostrarem grande fervor e desejo de aprender o que lhes preguem". Pródromos da fundação de S. Paulo, anotou o Padre Serafim Leite. (Vd. Novas Cartas Jesuíticas, pág. 44). A referência feita pelo cronista Gabriel Soares de Sousa, neste capítulo, diz respeito à Vila de S. Paulo do Campo de Piratiningga, atualmente a majestosa Cidade de S. Paulo, uma das glórias do Brasil.

[239] Era realmente tão mística a capitania de S. Vicente com a de S. Amaro, que durante muitos anos reinou confusão na maneira de discriminá-las, no tocante às ilhas de S. Vicente e S. Amaro. (Corog. Hist. Melo Morais. T. , pág. 325). O esteiro de Santos é o canal do mesmo nome.

A Vila de S. Vicente, na ilha de Guaiaó, Ingaguaçú, Engaguaçu, Morpion ou de S. Vicente, fundada por Martim Afonso de Souza, deu nome a toda a capitania. Morpion é vocábulo de origem duvidosa. - Jean de Léry diz ser o nome dado ao forte de Bertioga pelos índios. Thevet aplica-o à Capitania de S. Vicente, mas Hans Staden o deu à ilha de S. Vicente, com a grafia Urbioneme. Morpion, Urbione, certamente, procedem do mesmo tema - Uirá-ipãu, exprimindo a ilha dos pássaros. Assim ensinou Teodoro Sampaio. (Op. cit).

Em 1932, foram celebradas festas patrióticas muito expressivas, em comemoração ao 4º centenário da fundação de S. Vicente.

[240] Vila de Santos - Na ilha de S. Vicente fundou Braz Cubas um pequeno povoado - o Porto de S. Vicente. Aí instituiu um hospital, sob a invocação de Todos os Santos, donde proveio a denominação da vila e depois cidade de Santos. A povoação prosperou rapidamente e o seu fundador, como loco-tenente do donatário, lhe deu foral de vila, aos 19 de janeiro de 1545. A Vila de Todos os Santos é hoje a histórica cidade de Santos, com o seu famoso porto. O magnífico panorama que se descortina do alto da serra é uma das belezas do Brasil.

Por outro lado, a acreditar-se Gabriel Soares, o terreno onde se fundou Santos era numa ilhota destacada da de S. Vicente, por estreito canal, que pouco a pouco se foi aterrando. (Cândido Mendes, Rev. Inst. Geogr. Bras. T. XL, 2ª parte, pág. 327).

Até 1543 residiu Braz Cubas na ilha Pequena, mais tarde chamada de Braz Cubas e hoje de Barnabé.

[241] Vila de Santo Amaro - A ilha de Santo Amaro era chamada Guaimbê, pelo gentio. Guaimbê será o imbé - corr. de - ibá-eimbê: iba = madeira + eimbê - derivado de embir = dar lascas para embira - Philodendron Imbé Schott. Num mapa da região de Santos e São Vicente, vêem-se a ilha de S. Amaro, em 1534, com a denominação de Guaibe ou do Sol e a de S. Vicente, com a de Gouiaó, onde assentam, hoje, as cidades de Santos e São Vicente. O Porto das Naus fica fronteiro ao verdadeiro Porto de S. Vicente.

Figurou nos portulanos com os nomes de Gaiabê - Goanás (Reinel) ou ilha do Sol (Pero Lopes 1532).

Até 1545 não se dava a essa ilha o nome de S. Amaro, somente depois que Jorge Ferreira e mais habitantes principais de Guaibê intentaram criar nela uma vila, e com efeito deram princípio a uma povoação, e edificaram uma capela a S. Amaro, o título da capela se comunicou à povoação, à ilha e às 50 léguas de Pero Lopes de Souza, as quais entraram a se chamar capitania de S. Amaro, depois que erradamente supuseram incluídas nelas, a ilha do mesmo nome, por ser esta a última terra povoada, pertencente à doação do dito Pero Lopes.

Eis a origem do nome da Capitania, que não proveio da Vila. Em S. Amaro de Guaibe, nunca houve vila alguma: a capela se arruinou e a povoação se extingüiu antes de ter pelourinho. (Corogr. Hist. Melo Morais. T. I, pág. 252). Em gravuras e códices quinhentistas vem assinalada a Vila de S. Amaro. (Vd. Hist. Col. Port. do Brasil. vol. III, págs. 225-229).

[242] Barra e canal de Bertioga - Bertioga - corr. de Buriquioca - buriqui = espécie de macaco - oca = morada; casa de buriquis. (T. Samp.).

Bertioga (Brikooka escreveu Hans Staden) vem do tupi - pirati - oca = paradeiro das tainhas, por ser o canal um excelente abrigo dos cardumes desses peixes. (H. Staden, Viagem ao Brasil, Public. da Academia Brasileira, 1930, Nota 29). A barra da Bertioga também era chamada rio de S. Vicente (Cf. Hist. da Col. Port. do Bras. Vol. III, pág. 223). Os tamoios assaltaram e tomaram a Fortaleza de S. Filipe, levantada por Martim Afonso, na Bertioga. Depois disto se edificou a de São Tiago, na margem setentrional da barra de Bertioga e Jorge Ferreira reedificou a de S. Filipe (Corog. Hist. Melo Morais, T. I, pág. 256).

No seu excelente livro Estudos da Língua Nacional, diz o provecto Dr. Artur Neiva: Bertioga é corruptela de Beriguioca, tal como escreveu o pe. José de Anchieta, na sua célebre epístola ao padre Mestre Diogo Laines, preposto da Companhia de Jesus, o ano de 1565. Birigui é nome vulgar dado a insetos brasileiros, sugadores de sangue e pertencentes ao gênero Flebotomus.

Foram pela primeira vez assinalados, em 1903, pelo notável sábio brasileiro, dr. Adolfo Lutz. O trabalho inicial foi publicado no Brasil-Médico.

[243] Fortaleza de S. Filipe e de S. Tiago - Em 1550 foi a Fortaleza de S. Tiago ou S. João da Bertioga atacada pelos tamoios, que se apossaram dela e levaram preso o famoso Hans Staden, seu comandante. De tamanha importância bélica era essa posição, que D. João III, por provisão de 18 de junho de 1551, ordenou que se refortificasse a barra de Bertioga, autorizando a despender a vultosa soma, para a época, de 3.000 cruzados. Em 1557 se iniciaram as obras do Forte de S. Filipe ou S. Luís, na ilha de S. Amaro. Sobre essas relíquias históricas, escreveu Afonso de E. Taunay um artigo na Rev. do Serv. do Patrimônio Hist. e Art. nº I - 1937.

[244] Rio dos Lagartos - No Livro de Toda a Costa da Província de Santa Cruz, feito por João Teixeira Albernaz, Ano D. 1666 vem assinalado o R. dos Lagartos, próximo ao Forte de S. Tiago, ao rio dos Piragues, mais ao Sul, e deságua no Oceano. Consultamos o precioso livro de João Teixeira Albernaz na Mapoteca do Itamarati, onde existem inestimáveis documentos. Esse rio ao qual se referiu Gabriel Soares, a meu ver, é o atual rio Tapanhaú. (Cf. Mapa organizado por José Castiglione com a colaboração do historiador Francisco Martins dos Santos. Município de Santos, 1940).

No município de Santos há um pequeno rio - o Jacareguava, que deságua no lagamar da Bertioga. (Cf. Dic. Geogr. da Prov. de S. Paulo. Dr. João Mendes de Almeida).

Jacareguava - corr. iacaré-guaba - a comida dos jacarés, o bebedouro ou viveiro dos jacarés. S. Paulo. (Cf. O Tupi).

O rio Cubatão era, outrora, chamado - rio Ururaí. (Cf. Rev. Inst. Hist. Geogr. S. Paulo. Vol. XIV, pág. 15). Ururã, iacare, em tupi significam: lagarto d'água. (Vd. Vocab. na Língua Brasílica, Plínio Airosa). Ururau, espécie de grande sáurio, mui voraz, qaue vive nos rios e lagos. Rio Ururaí - de ururã = o jacaré + i - rio. (Vd. Dic. Vocab. Bras. Visconde de Beaurepaire Rohan).

A história ainda faz menção de uma tribo ururaí, pertencente à confederação guaianá, que ocupava um dos recantos dos campos de Piratininga e tinha por chefe o cacique Piquerobi. (Cf. Quadro Hist. da Prov. de S. Paulo, pág. 16, J. J. Machado de Oliveira).

Devem-se proibir as traduções dos topônimos tupis para o português, como se deu, na Bahia, com o da localicade Jaguaquara para Toca da Onça).

[245] Rio Piraqué - corr. pirá-iquê - o peixe entra. Significa estuário ou esteiro, aonde o peixe entra, para a desova ou para comer. Alt. Piraquê, perequê. S. Paulo. (Cf. O Tupi).

O rio Perequê-Açu, no Estado de S. Paulo, banha o município de Ubatuba e deságua na foz do rio Guaratuba.

O rio Perequê-Mirim, no município de Ubatuba, deságua na foz do rio Itaguaré e ambos no porto de Itaguaré.

Também há, na ilha de S. Amaro, um rio Perequê (Piraiquê), o qual deságua no Oceano, próximo ao Morro do Vigia. Existe, ainda, outro rio Perequê, marginado pelo 2º Caminho de Piratininga, chamado também Caminho do Padre José (Vd. Mapa do Município de Santos, organizado pelo cartógrafo José Castiglione, com a colaboração do historiador Francisco Martins dos Santos, 1940).

[246] Rio São João - Rio que deságua no Canal da Bertioga, no município de Santos. Rio S. João vem assinalado numa carta geográfica de S. Vicente, Santos e Santo Amaro, no fim do século XVI. Códice da Biblioteca da Ajuda. (Cf. Hist. da Col. Port. do Brasil. T. III, pág. 229).

[247] Rio S. Miguel - é o atual Rio Cabuçu.

[248] Rio da Trindade - no Estado de S. Paulo; nasce no morro do Cabuçu e se lança no braço de mar de Bertioga. Tem 5 km de curso. (Cf. Dic. Geogr. do Brasil, Moreira Pinto).

[249] Rio das Cobras - Rio Mogi, no município de Santos. Mogi é corruptela de mboi-gi = o rio das cobras. Esse pequeno rio deságua no lagamar de Santos.

[250] PAULO DE PROENÇA - Isabel Cubas casou em 1557, em Santos, com Paulo de Proença, natural da vila de Alemquer, da comarca e bispado da cidade da Guarda. Luís Gonzaga da Silva Leme, na Genealogia Paulistana, Vol. 6º. pág. 179. acrescenta, anotando: "Em um manuscrito deixado por Pedro Taques, encontramos o seguinte: No princípio da povoação da Vila de Santos, que fundou Braz Cubas, natural da cidade do Porto, cavaleiro fidalgo, provedor da fazenda real, e, depois, capitão-mor governador da Capitania de S. Vicente, loco-tenente do donatário dela, o fidalgo Martim Afonso de Souza, veio a ela Paulo de Proença, natural da comarca e bispado da cidade da Guarda, na província da Beira Alta, em 1540.

"Era este Paulo de Proença parente de Antonio de Proença, natural da vila de Belmonte, moço da câmara do Infante D. Luís, duque da Guarda, que em S. Paulo foi capitão de cavalos e ouvidor da Capitania de S. Vicente, em 1599, e casou-se na dita vila de Santos, com D. Maria Castanho, que de Portugal tinha vindo com seus pais, Antonio Rodrigues de Almeida, cavaleiro fidalgo da Casa Real, proprietário dos ofícios de escrivão da ouvidoria e das datas [7] de sesmarias em 1555, por mercê do donatário Martim Afonso de Souza, feita nesse ano, e, ao depois, foi capitão-mor governador, e ouvidor loco-tenente da capitania de Santo Amaro, por nomeação e provisão de D. Isabel de Gamboa, autora e administradora de seu filho donatário, Martim Afonso de Souza, o moço, feito em Lisboa aos 7 de setembro de 1557, e de D. Maria Castanho, ambos naturais de Monte-Mor, o Novo". (Págs. 179-180).

"D. Maria Castanho, natural de Monte-Mor, o Novo, casou na vila de Santos, pelos anos de 1564 até 1565, com Antonio de Proença, natural da vila de Belmonte, moço da Câmara do Infante D. Luís, senhor de Belmonte, e duque da Guarda. Deste nobre matrimônio procedem os Proenças Castanhos, da Capitania de S. Paulo e da do Rio de Janeiro, pelo ramo que a ele se passou, como veremos no § 4º. E estes Proenças são distintos de outros Proenças Varelas, que são Cubas, da vila de Santos, donde passaram para S. Paulo e vila de Parnaíba, e propagaram já com apelidos de Proenças Abreus, de que temos escrito um título. Em S. Paulo se estabeleceu o dito Antonio de Proença, onde fez muitos serviços ao rei e à república. (Pedro Taques, Nobiliarquia Paulistana História e Genealógica - por Afonso de E. Taunay, pág. 237).

[251] DOMINGOS LEITÃO - fidalgo da Casa Real, era casado com D. Cecília de Góis, filha de Luís de Góis. Diz Pedro Taques que esse casal veio para S. Vicente em companhia de Luís de Góis. Se os consortes vieram, tornaram para o Reino, e foram morar na Vila de Castelo Bom; porque Domingos Leitão doou à sua sobrinha Isabel Leitão, casada com Diogo Rodrigues, um pedaço de terras do engenho da Madre de Deus, por escritura lavrada na Corte de Lisboa, pelo tabelião Bartolomeu Gomes, aos 2 de fevereiro de 1574. Um ramo desses Leitões se passou para o Rio de Janeiro e tem Jazigo na Capela de S. Cristóvão da Igreja de S. Bento, com campa de mármore e nele gravado um leitão, se a memória não me engana. (Memória para a Hist. da Capit. de S. Vicente, Fr. Gaspar da Madre de Deus. Pág. 152).

[252] ANTONIO DO VALE - João Gonçalves, meirinho de S. Vicente, obteve do Capitão-mor Gonçalo Monteiro, em 4 de abril de 1538, uma sesmaria das terras de Iriripiranga. Veja-se o que escreveu Fr. Gaspar da Madre de Deus: "Entre vários títulos da sua fazenda de Sant'Ana, conservava minha Mãe, D. Ana de Siqueira e Mendonça, uma escritura de troca, que o dito João Gonçalves fez com Antonio do Vale, em S. Vicente, aos 3 de junho de 1538, e nela vem copiada a sesmaria na qual diz o Capitão-mor: "Por Joam Gonçalves Meirinho, morador em esta Vila de S. Vicente, me foi feita petição, que lhe desse um pedaço de terra nas terras de Iriripiranga, para fazer fazenda como os outros moradores, visto como era casado com mulher, e filhos em a dita terra, passa de um ano, e é o primeiro homem, que à dita Capitania veio com mulher casado, só com determinação de povoar etc.". Parece que a primeira mulher branca que passou à Nova Lusitânia, Brasil, foi a de João Gonçalves.

[253] MANUEL DE OLIVEIRA - Manuel de Oliveira Gago, foi moarador em Santos, onde está sepultado na capela-mor da Matriz, com a seguinte inscrição: "Aqui jaz Manuel de Oliveira Gago, humilde amigo dos pobres, 1º filho de Antonio de Oliveira, fidalgo, o qual no derradeiro dia, com os mais será ressuscitado - 1580". Foi o fundador do engenho de açúcar de N. Senhora da Apresentação; foi casado e deixou nobre geração em Santos. (Pedro Taques, Op. cit., pág. 483).

Não será este o citado pelo cronista, Gabriel Soares de Sousa?

No final do capítulo também há referências a uma neta de Pero Lopes de Souza, que herdou a capitania, por não ter ficado dele herdeiro varão. Chamava-se ela D. Isabel de Lima de Souza e Miranda e foi a 5ª donatária. D. Isabel de Lima era filha de D. Antonio de Lima e D. Jerônima de Albuquerque e Souza. Casou duas vezes, a primeira com André de Albuquerque e a segunda com Francisco Barreto de Lima; não deixou descendentes.

[254] Nesse capítulo faz o autor encomiásticas referências ao clima e à fertilidade das capitanias de S. Vicente de S. Amaro, onde prosperavam admiravelmente a vinha, o trigo, as laranjeiras, que não eram perseguidas pelas formigas, por não se criarem naquela terra, como nas outras capitanias. Esta afirmativa não é exata, conforme se lê na carta de Anchieta escrita de S. Vicente, em maio de 1560, na qual menciona a abundância das formigas e os estragos por elas causados.

[255] Carijó ou cari-oc = filhos dos valentes ou cari-ió = descendentes dos brancos ou dos anciâos. (Tratados da Terra, pág. 236). Índios da Província de S. Paulo que habitavam até a Lagoa dos Patos.

[256] Rio da Cananéia - Julgamos ser a barra de Cananéia com o braço de mar, chamado Mar Pequeno. O Rio de Cananor, canal de Cananéia, era o Rio de Cananéia do portulano de Reinel. Este nome foi dado a 29 de fevereiro do ano bissexto de 1504, na quinta-feira seguinte ao 1º domingo da quaresma, quando se lê a perícope XV do Evangelho de S. Mateus, em comemoração do encontro de Jesus com a mulher de Cananéia, cuja filha sarou. (Hist. Col. Port. Brasil. Vol. II, pág. 434).

Diz Gabriel Soares que por aí entram navios da costa e navegam, por ele acima, algumas léguas. Os principais riachos dentre os muitos existentes nessa costa são: Conceição, Guaraú, e o rio Ribeira do Iguape.

Teria sido este último ou a barra de Icapara o riacho a que se referiu o cronista, situado "a 11 léguas antes de chegar à Cananéia"? Na opinião de Reinel a Ilha Branca é a Ilha Comprida, Ilha da Praia, Ilha do Mar. A Ilha Branca somente será identificada com a Ilha Comprida e, jamais, com a Ilha do Bom Abrigo.

A ilha que se acha na grande abra, bem defronte do rio, é atualmente a do Bom Abrigo. Dizemos atualmente, porque, em 1531, esta ilha do Bom Abrigo vem designada impropriamente como Ilha de Cananéia, por Pero Lopes de Souza. (Cf. Diário da Navegação, pág. 202).

A ilha do Bom Abrigo, situada na entrada, forma a barra falsa ao Norte e a barra de Cananéia ao Sul (Vd. Rev. do Arq. Municipal de S. Paulo, Vol. XX, A. Paulino de Almeida).

A pouca distância dela, e para o Sul, se encontra o ilhéu chamado Filhote, cuja altitude é de 40 metros.

Possui a ilha do Bom Abrigo o porto da Prainha, magnífico ancoradouro. Foi descoberta pelos primeiros navegantes, em 1501 a 1503, e figura nos antigos mapas. Martim Afonso de Souza aí aportou a 12 de agosto de 1531 e se demorou 44 dias no ancoradouro chamado Porto da Prainha. Até 1601 não possuía denominação alguma; apenas era indicada pelo simples vocábulo - ilha ou ilha da barra.

Somente nos documentos do século XIX em diante, começaram a aparecer as palavras: Abrigo e Bom Abrigo. (Vd. Rev. Inst. Hist. Geog. S. Paulo, Vol. 34, pág. 45. Dr. A. Paulino de Almeida).

A outra ilha que se acha dentro da abra, referida neste capítulo, deve ser a atual de Cananéia, separada do continente pelo Mar de Cubatão e da Ilha Comprida pelo Mar Pequeno. Nela está a cidade do mesmo nome. Ao Sul da Barra de Cananéia se encontra a Ilha do Cardoso, montanhosa, afastada do continente pelo tortuoso canal - Varadoiro de Ararapira e das outras ilhas pelo Mar ou Baía de Trapandé.

NOTAS DO EDITOR DE NOVO MILÊNIO:

[1] Légua - Medida européia de comprimento, correspondente ao arco de 1 grau de meridiano terrestre, ou a 3 milhas náuticas européias, quatro quilômetros. Já a légua brasileira (também chamada de légua 20 ao grau) é geralmente considerada como a vigésima parte do grau de meridiano, embora existam também conversões a 1/18 e 1/17,5; corresponde a três milhas brasileiras ou cerca de 5.556 metros.
A légua marítima equivale a 5.599 metros de comprimento, enquanto a légua terrestre vale 4.828 metros, nos padrões atuais. A légua de sesmaria é uma medida de área (6.600 x 6.600 metros, ou 43.560.000 metros quadrados), também encontrada como medida de comprimento, correspondendo aproximadamente a 6.600 metros.

[2] Partem - tem aqui o sentido de "guerreiam, litigam".

[3] Quintal - antiga medida brasileira de peso, diferente do quintal americano ou inglês. Um quintal equivale a 60 kg.

[4] Esteiro -  caminho marítimo (braço de rio ou de mar, que se estende pela terra, por exemplo) também encontrado no sentido de caminho terrestre (trilha).

[5] Derrota - aqui no sentido de rota marítima, de seguir a rota ou rumo.

[6] Abra - baía, ancoradouro.

[7] Data - aqui no sentido de medida de área. Em Minas Gerais, São Paulo e Paraná, é uma porção de terreno com 800 a 880 m². Existiam na época colonial outras medidas assemelhadas. Por exemplo, uma data de campo vale 1.650 x 1.650 metros ou metade de uma data de mato (1.650 x 3.300). Vale ainda 1/4 da sesmaria de mato (que mede 3.300 x 3.300 m) ou 1/48 da sesmaria de campo (que mede 6.600 x 19.800 m).

Veja também:

Edição digital distribuída pelo site Domínio Público (arquivo PDF com 2,07 MB)

BIBLIOTECA NOVO MILÊNIO: Notícia do Brasil

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