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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1587 - BIBLIOTECA NM
1587 - Notícia do Brasil - [II - 153]

Clique na imagem para voltar ao índice desta obraEscrita em 1587 pelo colono Gabriel Soares de Souza, essa obra chegou ao eminente historiador Francisco Adolpho de Varnhagen por cópias que confrontou em 1851, para tentar restabelecer o texto original desaparecido, como cita na introdução de seus estudos e comentários. Em 1974, foi editada com o mesmo nome original, Notícia do Brasil, com extensas notas de importantes pesquisadores. Mais recentemente, o site Domínio Público apresentou uma versão da obra, com algumas falhas de digitalização e reconhecimento ótico de caracteres (OCR).

Por isso, Novo Milênio fez um cotejo daquela versão digital com a de 1974 e com o exemplar cedido em maio de 2010 para digitalização, pela Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá. Este exemplar corresponde à terceira edição (Companhia Editora Nacional, 1938, volume 117 da série 5ª da Brasiliana - Biblioteca Pedagógica Brasileira), com os comentários de Varnhagen. Foi feita ainda alguma atualização ortográfica:

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Tratado descritivo do Brasil em 1587

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Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa

SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS GRANDEZAS DA BAHIA

TÍTULO 17 — Noticia etnográfica do gentio tupinambá que povoava a Bahia

Capítulo CLIII

Que trata dos enfeites deste gentio.

Costumam os mancebos tupinambás se depenarem os cabelos de todo o corpo, e não deixar mais que os da cabeça, que trazem tosquiados de muitas feições, o que faziam antes que tivessem tesouras, com umas canas, que por natureza cortam muito; e alguns o trazem cortado por cima das orelhas, e muito bem aparado; os quais cobrem os membros genitais com alguma coisa por galantaria, e não pelo cobrir; e pintam-se de lavores pretos, que fazem com tinta de jenipapo, e se têm damas, elas têm cuidado de os pintar; também trazem na cabeça umas penas amarelas, pegadas pelos pés com cera, e arrecadas [brincos] de ossos nas orelhas, e grandes contas brancas, que fazem de búzios, lançadas ao pescoço; aos quais as mesmas damas rapam a testa com umas caninhas, e lhes arrancam os cabelos da barba, pestanas, sobrancelhas, e os mais cabelos de todo corpo, como já fica dito.

E quando se estes mancebos querem fazer bizarros, arrepiam o cabelo para cima com almécega, onde lhe pegam umas peninhas amarelas pegadas nele, e sobraçam contas brancas. E põem nas pernas e nos braços umas manilhas [braceletes] de penas amarelas, e seu diadema das mesmas penas na cabeça.

As moças também se pintam de tinta de jenipapo, com muitos lavores, a seu modo, mui louçãs; e põem grandes ramais de contas de toda a sorte ao pescoço e nos braços; e põem nas pernas, por baixo do joelho, uns tapacurás [ligas], que são do fio do algodão, tinto de vermelho, tecido de maneira que lhas não podem tirar, o que tem três dedos de largo; o que lhes põem as mães enquanto são cachopas, para que lhes engrossem as pernas pelas barrigas, enquanto crescem, as quais as trazem nas pernas enquanto são namoradas, mas de maneira que as possam tirar, ainda que com trabalho; e enquanto são solteiras pintam-nas as mães, e depois de casadas os maridos, se lhes querem bem; as quais moças são barbeadas de todos os cabelos que os mancebos tiram, por outras mulheres.

Estas índias também curam os cabelos para que sejam compridos, grossos e pretos, os quais para terem isto os untam muitas vezes com óleo de cocos bravos.