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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Demografia-1913
Mudanças no crescimento populacional (7)

Os problemas de um recenseamento, apesar dos critérios adotados

Em 1914, foi publicada pela Prefeitura Municipal de Santos a obra Recenseamento da Cidade e Município de Santos em 31 de dezembro de 1913, que faz parte do acervo do historiador santista Waldir Rueda. Além de uma análise sobre o estado do município nesse ano, o livro apresenta a metodologia e os resultados do censo, e faz ainda comentários sobre os recenseamentos anteriores (ortografia atualizada nesta transcrição):

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PRIMEIRA PARTE
PREMIÈRE PARTIE
VI - Instrução e Religião

Relativamente ao estado de instrução do nosso povo, os algarismos afirmam que, num total de 88.967 habitantes, apenas 32.154 sabiam ler e escrever. Acrescentando-se a esse número 6.763 crianças de ambos os sexos, que freqüentavam escolas, teremos uma totalidade de 38.917.

Há, porém, mais 11.131 crianças menores de 6 anos que, por não se acharem ainda em idade de receber instrução, não podem avultar no algarismo dos analfabetos e devem ser deduzidas da população total, que ficará assim reduzida a 77.656 almas. A percentagem de analfabetos fica, então, reduzida a um pouco menos de 50%.

A de adultos masculinos, sabendo ler e escrever, é de 47,85 e a de adultos femininos é, nas mesmas condições, de 32,57. Em compensação, a proporção de meninas freqüentando escolas é mais alta que a de meninos. Estes são, naturalmente, mais traquinas e menos dóceis à voz dos pais do que aquelas. Além disso, é de supor que os filhos varões dos pais proletários sejam cedo entregues a algum ofício externo que lhes assegure um ganha-pão modesto para auxiliar a família; e isso os priva de freqüentar a escola.

A população infantil em idade escolar era grande: 17.826 pessoas. Dela somente 40% recebiam instrução. Por quê? Deficiência de escolas, falta de recursos, ignorância dos pais? Não sabemos. Como, porém, melhorar o precário grau de instrução, acusado pela estatística, de uma população onde apenas metade da população sabe ler e escrever, se nem 40% das crianças em idade escolar é mandada aos estudos?

A instrução estava mais disseminada na zona urbana (52,86) que na rural (30,11).

Comparemos a instrução do nosso povo com a de outras cidades brasileiras, com recenseamentos conhecidos:

Cidades

Anos
do
censo

População 
(excluídos os menores de 6 anos)

Adultos sabendo
ler e
escrever

Menores freqüentando
escolas

Percenta-
gem de adultos

Percenta-
gem de menores

Bragança

1903

33.168
6.439
1.255
19,4
4,0
Campos

1892

105.544
19.937
6.743
18,8
5,9
Capital

1893

110.380
46.696
8.808
42,4
7,7
Itatiba

1904

17.341
8.502
815
48,9
4,7
Lençóis

1905

11.023
1.585
361
14,3
3,2
Niterói

1892

54.855
16.983
2.691
30,9
4,9
Piraju

1904

13.509
2.610
347
19,3
2,6
Petrópolis

1892

29.331
8.443
1.571
28,7
5,3
Rio de Janeiro

1906

703.555
348.996
72.076
49,6
10,2
Santos

1913

77.656
32.154
6.763
41,4
8,2
Vassouras

1892

38.727
10.123
1.478
26,0
3,8

Do ponto de vista da instrução quanto à população infantil em idade escolar, o quadrinho que segue estabelece comparações:

Cidades

Anos
do
censo

População 
em idade escolar

Menores freqüentando
escolas

Percentagem de menores freqüentando escolas sobre o total da população escolar

Bragança

1903

11.038
1.255
11,3
Campos

1892

27.925
6.743
23,1
Capital

1893

27.947
8.808
30,4
Itatiba

1904

5.776
815
14,1
Lençóis

1905

3.676
361
9,8
Niterói

1892

9.738
2.691
27,6
Piraju

1904

3.928
347
8,8
Petrópolis

1892

5.327
1.571
29,6
Rio de Janeiro

1906

149.446
72.076
48,2
Santos

1913

17.826
6.763
37,7
Vassouras

1892

8.153
1.478
18,1

Os quadrinhos acima demonstram que, apesar de tudo, Santos está bem colocado entre as várias cidades brasileiras, relativamente ao grau de instrução elementar de seus habitantes. Em matéria de adultos, sabendo ler e escrever, apenas o Rio de Janeiro, Itatiba e S. Paulo se mostram superiores, ficando-lhe muito abaixo Bragança, Campos, Lençóis, Niterói, Piraju, Petrópolis e Vassouras.

Quanto à disseminação da instrução primária pela população infantil em idade escolar (6 a 15 anos), verifica-se que a situação do nosso Município só é inferior à do Rio de Janeiro e de São Paulo. As outras localidades vêm-lhe muito abaixo.

Para a alta percentagem de analfabetos contribui muito poderosamente a massa proletária da população estrangeira, sobretudo a portuguesa, a espanhola e a italiana. Num estudo que fizemos separadamente dos quadros gerais, após a conclusão dos trabalhos censitários, verificamos que em 100 indivíduos de cada nacionalidade abaixo discriminada, sabiam ler e escrever:

Indivíduos

 

Número de indivíduos

 

Sabem ler e escrever

 

Percentagem

H.

M.

Total

H.

M.

Total

H.

M.

Total

Portugueses
14.986
8.069
23.055
6.421
1.275
7.696

42,84

15,80

33,38

Espanhóis
4.828
3.515
8.343
2.321
863
3.184

48,07

24,55

38,28

Italianos
2.066
1.488
3.554
1.020
379
1.399

49,37

25,47

39,36

Para os cálculos acima, tomamos como base a população de cada nacionalidade em todos os grupos de idades, sem exclusão dos menores de seis anos, visto que se não fez a discriminação de cada uma delas segundo as idades. O cálculo mostra que das três colônias a mais escassa é a mais culta - a italiana, sendo a mais inculta, justamente a mais numerosa - a portuguesa. A espanhola está no meio da escala, que é a seguinte:

Nacionalidades

Analfabetos por 100 indivíduos

Italiana 50,63 H. 74,53 M. 60,64 indivíduos
Espanhola 51,93  " 75,45  " 61,72   "
Portuguesa 57,16  " 84,20  " 66,62   "

Os italianos contam com um total de 60,64% de indivíduos analfabetos, sendo 50,63% de homens e 74,53% de mulheres; os espanhóis, um total de 61,72% de analfabetos, sendo 51,93% de homens e 75,45% de mulheres; os portugueses 57,16% de homens e 84,20% de mulheres, ou sejam 66,62% de analfabetos. Fizemos os nossos cálculos unicamente sobre essas três colônias, que são as que mais contribuem pelo seu número para a composição demográfica de Santos.

A população, quanto ao seu espírito religioso, compunha-se de 88,36% de católicos, 4,66% de acatólicos e 6,97% de indivíduos que se disseram irreligiosos ou não declararam seguir qualquer dos cultos conhecidos.


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