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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Demografia-1913
Mudanças no crescimento populacional (6)

Os problemas de um recenseamento, apesar dos critérios adotados

Em 1914, foi publicada pela Prefeitura Municipal de Santos a obra Recenseamento da Cidade e Município de Santos em 31 de dezembro de 1913, que faz parte do acervo do historiador santista Waldir Rueda. Além de uma análise sobre o estado do município nesse ano, o livro apresenta a metodologia e os resultados do censo, e faz ainda comentários sobre os recenseamentos anteriores (ortografia atualizada nesta transcrição):

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PRIMEIRA PARTE
PREMIÈRE PARTIE
V - A população, segundo as idades e os sexos

O quadro que vai na página XI (Segunda parte) demonstra-nos a atual composição da população municipal, segundo as idades.

Dividindo-se as idades em três grandes períodos, obteremos a seguinte demonstração:

Grupos

 

Número de

 

Proporção sobre o total
da população recenseada

H.

M.

Total

Homens

Mulheres

Total

Menores de 0 a 15 anos
15.343
15.826
31.169
17,27
17,82
35,09
Adultos de 15 a 60  "
33.271
22.828
56.099
37,45
25,68
63,13
Velhos de 60 anos para cima
810
766
1.576
0,92
0,86
1,78
Soma
49.424
39.420
88.844
55,64
44,36
100,00
Idades ignoradas
58
65
123
     
Soma geral
49.482
39.485
88.967
     

A população adulta representa, pois, mais de 63% da população recenseada; a população infantil pouco mais de 35% e a velhice, menos de 2%. A população feminina, no primeiro grupo, é um pouco superior à masculina, pois é sabido que nessa época morrem mais homens do que mulheres.

Comparando-se estes algarismos, com os do censo geral de 1872, único que, apesar de suas deficiências, se presta para confrontos, obtemos o seguinte resultado:

Grupos de idade

 

1872

 

1913

H.

M.

Total

H.

M.

Total

Menores de 0 a 15 anos
18,96
21,33
40,29
17,27
17,82
35,09
Adultos de 16 a 60  "
34,99
23,18
58,17
35,45
25,68
63,13
Velhos de 60 anos pª. cima
0,79
0,75
1,54
0,85
0,93
1,78
Soma
54,74
45,26
100,00
55,57
44,43
100,00

O grupo até 15 anos, em 1872, era mais forte que em 1913 e o grupo de adultos era mais fraco. Mas a diferença entre um e outro grupo, em cada ano, resulta mais vantajoso para o ano de 1913, como se vê desta demonstração:

Ano de 1872 Ano de 1913
Meninos 40,29 35,09
Adultos 58,17 63,13
17,88 28,04
Saldo de adultos a favor do ano de 1913 10,16
Soma 
 28,04

Continuando a examinar minuciosamente o mapa, vejamos agora qual é a proporção do elemento masculino sobre o feminino, em cada grupo de idades, e relativamente aos dois anos que nos estão servindo para o estabelecimento das imprescindíveis confrontações estatísticas no estado da população santista.

Grupos de idades

 

Total de indivíduos

 

Homens por 100 mulheres

1872

 

1913

1872

1913

M.

F.

M.

F.

De menos de 1 ano
72
61
1.502
1.544
118,0
97,2
De 1 a 5 anos
230
207
4.830
5.467
111,1
88,3
 "   6 "  10 "
841
680
4.572
4.625
123,6
98,8
 " 11 "  15 "
591
505
4.439
4.190
118,0
105,9
 " 16 "  20 "
606
506
5.136
4.454
119,7
115,3
 " 21 "  25 "
581
477
5.865
4.256
125,9
137,8
 " 26 "  30 "
604
509
7.135
3.867
120,6
158,6
 " 31 "  40 "
935
754
8.882
5.330
124,0
166,6
 " 41 "  50 "
385
315
4.468
3.652
122,0
122,3
 " 51 "  60 "
94
73
1.785
1.269
125,3
140,6
 " 61 "  70 "
39
33
611
519
118,1
117,7
 " 71 "  80 "
18
17
164
178
105,8
92,4
 " 81 "  90 "
10
9
27
54
111,1
50,0
 " 91 " 100 "
2
6
6
11
33,3
54,5
 " mais de 100
2
3
2
4
66,6
50,0

No ano de 1872 o sexo masculino predominou em todos os grupos de idade, menos na extrema velhice, em que a preponderância coube ao sexo feminino. Em 1913, o sexo feminino predominou até os 10 anos e dos 71 em diante, até ao termo da escala. O masculino preponderou dos 11 aos 70.

O estudo do mapa das idades mostra, mais uma vez, a verdade do que já temos dito em relação às deficiências fatais dum trabalho desta natureza, que depende sempre, e essencialmente, das informações prestadas, com maior ou menor exatidão, por cada habitante do lugar.

É uma pura questão de consciência mais ou menos reta e mais ou menos cívica, informar com maior ou menor verdade à administração pública sobre o que é justo que ela indague e procure saber ou deixar totalmente de ministrar-lhe quaisquer informações de caráter individual.

Não há lei capaz de forçar o indivíduo a dizer de suas condições pessoais o que ele não queira dizer, por medo, por interesse ou por vaidade. É por isso que, apesar das resoluções aprovadas pelo Congresso Estatístico, reunido em Petrograd, em 1872, tornando obrigatória a declinação, por extenso, do nome dos indivíduos recenseados, a fim de serem facilmente corrigidas as respostas errôneas ou inverídicas, governos há que preferem tolerar a substituição da ordem nominal pela ordem numeral, para que cada pessoa fique plenamente à vontade no preenchimento dos boletins censitários.

Há pessoas que, por mera vaidade, procuram iludir as indagações relativas à idade, à cor e à profissão. A Comissão de Recenseamento, seguindo a orientação moderna, permitiu que as pessoas a recensear substituíssem os seus nomes por algarismos. Poucas, porém, utilizaram-se dessa permissão, trazendo a generalidade das listas os nomes por extenso, de cada habitante, o que contribuiu para que o recenseamento municipal se ressentisse dos mesmos vícios notados nos recenseamentos de outras localidades.

Quem examinar, por exemplo, com atenção o nosso mapa das idades, verá que, ao passo que dos 15 aos 25 anos, o excesso de homens sobre mulheres é pouco mais de 33%, a partir dos 25 aos 30 tal excesso vai a mais de 45%. Isto prova que aqui, como em toda a parte, a mulher paga igualmente o seu tributo à vaidade, inscrevendo-se no grupo de idades menos avançadas - fenômeno constatado, neste particular, pelos tratadistas que se têm ocupado da matéria.

Mas, em Santos não foi apenas o belo sexo que cedeu a tal irresistível impulso. Alguns representantes do sexo feio, para escapar às dificuldades, deixaram em branco o quesito relativo à idade; outros, conhecidos da Comissão, diminuíram-na, e foi preciso retificar seus insidiosos informes.

Não são, aliás, fatos isolados os que citamos em relação a esta tendência; em S. Paulo, no recenseamento de 1893, um escritor que faleceu coberto de glórias recusou-se peremptoriamente a devolver a sua lista, para não dar a conhecer um detalhe íntimo de sua vida conjugal - a idade de sua esposa, de alguns anos superior à sua. Foi preciso recorrer à intervenção de um chefe político, também já falecido, para se conseguir a devolução da lista, mediante uma fórmula conciliatória: a declaração de idade igual para ambos os cônjuges.

A verdade, porém, é que semelhante tendência é, nos homens, pouco apreciável, sob o ponto de vista estatístico, e não influi nos resultados gerais dos censos, o que não acontece com as mulheres, cuja massa numérica desequilibra a média dos algarismos obtidos.

Resumindo: do recenseamento de 1913, por idades e sexos, verificam-se duas coisas: 1ª) que na idade infantil há um saldo a favor do elemento feminino; 2ª) que dos 16 aos 70 anos, a população masculina prepondera, resultando, no total, um excesso de 10.000 homens.

Essa verificação prova que o trabalho foi bem executado. É sabido que em toda a parte do mundo nascem mais homens que mulheres; mas, na primeira idade, os óbitos masculinos são muito mais numerosos do que os femininos. Na própria vida uterina esse fenômeno se manifesta, pois os natimortos do sexo masculino são em maior número do que os do sexo feminino, em qualquer país.

Recorrendo-se ao mapa do movimento da população, que vai inserto na terceira parte deste volume (página XXXVIII), ver-se-á que em Santos, em 1913, a morti-natalidade de homens foi superior à de mulheres. Os fisiologistas e os estatísticos supõem que a razão desse fenômeno reside no fato de ser o varão maior que a fêmea, e, portanto, mais difícil o parto.

Quanto ao predomínio numérico da população masculina na idade adulta, explica-se pela circunstância de sermos um país de imigração. Em todos os países imigrantistas, o elemento feminino prepondera, pelo afastamento dos homens, em grandes massas; os que vêm para as nações emigrantistas aumentam o número dos adultos.


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