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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - II GUERRA
Santos na II Guerra Mundial (5)

Sociedades secretas também praticaram atos terroristas em Santos, numa tentativa de desmentir que o Japão tivesse perdido a Segunda Grande Guerra
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A Segunda Guerra Mundial foi traumática para os santistas, que temiam ataques por submarinos alemães ao porto e pela aviação nazista à Usina Henry Borden ou à própria cidade. Japoneses, italianos e alemães tiveram de deixar a região às pressas, pelo receio que colaborassem com seus países de origem, então inimigos do Brasil. E a cidade também compareceu com sua cota de sacrifício humano e material para o esforço de guerra brasileiro, enviando seus pracinhas para o combate nos campos de batalha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália.

Mas, após o anúncio da vitória dos Aliados sobre as nações do Eixo, grupos de japoneses formaram sociedades secretas que apelaram para a falsificação e a violência, numa tentativa de provar que o Japão estava vencendo a guerra e que as notícias do fim do conflito não eram verdadeiras. No jornal santista A Tribuna, em 26 de outubro de 1946, há um amplo noticiário na última página sobre as atividades de uma dessas organizações secretas, a Shindo Remmei:


Kasuiti Kashimoto, reorganizador e secretário-tesoureiro da Shindô-Remmei 
e chefe do pelotão de execução, quando era ouvido pelo delegado Elpídio Reali
Foto publicada com a matéria

Detido em Santos o secretário-tesoureiro da Shindô-Remmei

Reorganizou essa sociedade secreta e criou os "batalhões suicidas", os famosos "Toko-Tai", para executar os nipônicos que não atendessem às suas chantages

Preso também o farmacêutico Mitsuo Fujii, de Tupã, responsável pelos crimes ali cometidos pelos terroristas

Caíram em mãos da polícia outros japoneses membros da "Sociedade dos Patriotas", de São Paulo

A Delegacia de Ordem Política e Social, superiormente dirigida pelo operoso delegado dr. Elpídio Reali, vem de capturar vários terroristas nipônicos, entre os quais um dos mais destacados membros da Shindô-Remmei, que foi o organizador dos batalhões de suicidas, cuja responsabilidade assumiu, e um outro nipônico, farmacêutico em Tupã, de onde se acha foragido, envolvido em todas as ocorrências sangrentas verificadas naquela localidade. Os demais presos pertencem a uma outra sociedade secreta de S. Paulo, denominada "Sociedade dos Patriotas".

Quem é Kasuiti Kashimoto - Kasuiti Kashimoto é a principal figura dos terroristas detidos em Santos. Residia em Guaraçaí, até 24 de maio, exercendo a profissão de alfaiate. Chefiava a seção da Shindô-Remmei na Alta Noroeste. Nessa ocasião, a polícia de S. Paulo desenvolveu tenaz campanha contra as sociedades nipônicas. Kashimoto, na sua qualidade de chefe da organização, na alta Noroeste, passou a ser procurado pela polícia.

Chamado para reorganizar a Shindô-Remmei - Logo após os primeiros momentos de confusão, os remanescentes da Shindô-Remmei trataram de reorganizar-se e um cidadão nipônico, que aparece em documentos apresentados com o nome de Kawahara, de Jundiaí, intitulando-se presidente da sociedade, mandou chamar Kashimoto, para lhe confiar a tarefa de proceder à reorganização da sociedade. A fidelidade e o entusiasmo do alfaiate para com os ideais terroristas, mereceram-lhe a "honra" de ser indicado para essa destacada missão, pela zona onde residia e operava.

Kashimoto não teve dúvida em abandonar sua família e ir para S. Paulo, a fim de se entregar de corpo e alma à sua tarefa. Nomeado secretário-tesoureiro da sociedade, passou a trabalhar ativamente, recebendo colaborações financeiras das filiais, passando a viver exclusivamente à custa da organização.

Um documento comprobatório - Kashimoto foi detido, depois de localizado por um cidadão nipônico, que vem trabalhando ativamente em colaboração com a polícia, para exterminar a rede de terrorismo nipônico, na alfaiataria da rua Senador Feijó, 59-A, onde se empregara, sendo após realizada uma busca em seu quarto, onde foram apreendidos importantes documentos comprobatórios de sua atividade. Uma carta destinada a outro terrorista, presumivelmente elemento de destaque na organização secreta, diz o seguinte: "- Agora, nossa organização passará a ter ação subterrânea. Vou mandar pelotões de suicidas. Desejava que o sr. chefiasse eles".

Os batalhões suicidas - Negou-se Kashimoto a explicar a quem era destinada essa carta. A princípio, tentou negar sua responsabilidade nas acusações de que era alvo, mas, diante das provas evidentes, resolveu confessar que ele fora realmente o reorganizador da Shindô-Remmei, e que ele mesmo preparara os batalhões de "Toko-Tai", ou batalhões suicidas, numa reunião havida a 28 de maio deste ano, à rua Paracatú, 8, em Jabaquara.

O primeiro batalhão suicida organizado por Kashimoto era constituído por 18 homens. Era o pelotão de execução, por ele próprio chefiado.

Dinheiro recebido por Kashimoto - Entre os documentos apreendidos no quarto de Kashimoto, figuram dados sobre dinheiro que lhe fora enviado. Entre essas remessas figuram as seguintes: Cr$ 500,00, da Sociedade Moços da Shindô-Remmei, de Nova Granada; Cr$ 100,00 da filial de Igarapava; Cr$ 200,00, do nipônico Fujiwara, de Lavinha, na Noroeste; Cr$ 1.000,00, do súdito japonês Kawahara, de Jundiaí; Cr$ 1.000,00, da filial de Alfredo Castilho.

Mudou-se para Santos - Esteve residindo em S. Paulo, até o mês passado, hospedado no Parque Pedro II, 7622, na Pensão Felicidade. Em virtude da atividade da polícia em torno dos remanescentes da Shindô-Remmei, resolveu vir para Santos, onde passou a residir à rua Senador Feijó, 436, alugando um quarto, passando a receber os elementos ligados à organização que chefiava. Servia-lhe de elemento de ligação o dono do Hotel 7 de Setembro, Tetuso Miyashiro, que também foi preso.

Aparece um criminoso de Tupã - Em Santos, Kashimoto entrou em ligação com outros terroristas japoneses. Depois de detido, revelou o nome de dois japoneses que o procuraram, os quais foram presos, verificando-se ser um deles Mitsuo Fujii, o qual, conforme noticiário publicado oportunamente pela imprensa, é terrorista dos "Toko-Tai", perseguido pela polícia paulista, como responsável pelas ocorrências sangrentas ali verificadas. Fujii era farmacêutico em Tupã e, na sua farmácia, eram planejados os crimes que os "toko-tai" perpetravam. Sua família está toda presa, sendo ele o único então foragido. Apesar de sua fotografia publicada nos jornais e dos documentos encontrados em seu poder, Fujii insiste em negar a autoria da responsabilidade que lhe é atribuída.

Outros nipônicos detidos - Juntamente com Fujii, foi preso Choichi Chida, também foragido da polícia, e que residia em Bastos. Em virtude da prisão de Kashimoto, foram detidos em Santos Takeshi Ueda e mais dois, Hendo e Miraki, que pertencem a uma outra organização terrorista de S. Paulo, denominada "Sociedade dos Patriotas".

Seguem paa S. Paulo - Kashimoto, Fujii, Chida e seus companheiros, depois de ouvidos pelo dr. Elpídio Reali, e de tomadas por termo suas declarações, serão encaminhados à Superintendência de Ordem Política e Social, à qual estão afetos os inquéritos sobre as atividades terroristas japonesas em S. Paulo.

Presta preciosa colaboração à polícia - Está prestando valiosa colaboração à polícia, na repressão à onda de terrorismo que assola os meios nipônicos do Estado de S. Paulo, o jovem Yoshiro Tachibana, que, em virtude de sua nacionalidade, falando japonês, tem grande possibilidade em se infiltrar nos círculos dos seus patrícios, e desmascarar as atividades dos criminosos elementos das organizações secretas.

Tachibana ludibriou Kashimoto, identificando-o e fazendo-o prender, apresentando-se-lhe como membro de uma filial de Shindô-Remmei, a trazer dinheiro para lhe entregar.

Não existem mais motivos patrióticos - Não são mais motivos patrióticos que animam os terroristas nipônicos, declarou-nos Tachibana. Todos eles estão certos de que o Japão perdeu a guerra, e a maior parte dos líderes das organizações secretas pouco se estão incomodando com isso. São chantagistas da pior espécie, que, sob falso pretexto patriótico, exploram o fanatismo de muitos patrícios, para deles se servirem como instrumento para extorquir dinheiro dos elementos abastados e, quando suas pretensões não são atendidas, fazem-nos executar os crimes contra os recalcitrantes, para amedrontar os demais.

Presos em S. Paulo outros membros da Shindô-Remmei - S. PAULO, 25 (Da sucursal) - O Serviço Secreto da Secretaria da Segurança Pública, a cargo do delegado Geraldo Cardoso, há dias, descobriu que elementos japoneses estavam distribuindo circulares aos seus patrícios, por meio das quais solicitavam a contribuição de 10 centavos por pessoa de nacionalidade japonesa, para formarem um fundo de reserva destinado ao custeio de uma caixa de auxílio ao Japão. As circulares terminavam com uma exortação ao fanatismo nipônico, e traziam o endereço do local onde deveriam ser remetidas as importâncias destinadas a esse fim, afirmando que tudo estava a cargo do Camechi Tokohama, à rua Porfírio de Azevedo, 151, no bairro da Penha.

A chefia do serviço secreto, logo que foi informada sobre o assunto, entrou em investigações, apurando que um outro grupo de japoneses procurava manter a sociedade "Shindô-Remmei", e com esse dinheiro formar novos grupos terroristas, para continuar a mesma campanha criminosa com eliminação de japoneses esclarecidos, que aceitaram a derrota do Japão. Diante da conclusão, o fato foi levado ao conhecimento do diretor do Departamento de Ordem Política e Social, que, de acordo com as instruções baixadas pelo Secretário da Segurança Pública, determinou a prisão dos envolvidos no plano do restabelecimento da "Shindô-Remmei". A chefia do serviço secreto compareceu ao local indicado para mandar as contribuições, detendo Kameigi Yokohama, apurando também que a "Shindô-Remmei" já estava com uma nova diretoria constituída pelos japoneses Paulo Hurikawa, presidente; Sheity Hajakawa, financiador, e Quillshy Cawachima e Issamo Maeda, que foram presos hoje no prédio da rua Menezes Lopes, 22, antiga residência de Seichi Tonary, que está preso e faz parte do grupo de japoneses que devem ser deportados.


OS TERRORISTAS DETIDOS EM SANTOS - Da esquerda para a direita: Kasuiti Kashimoto, a figura proeminente do bando; Hitsuo Fujii, farmacêutico em Tupã, co-autor de vários crimes; Ueda e Chida, da Sociedade dos Patriotas; Miyashiro, dono do Hotel "7 de Setembro", e elemento de ligação, e, por último, Yoshio Tachibana, que colaborou na captura dos seus patrícios criminosos
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