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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - AUTONOMIA
Bandeira Brasil

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Historicamente uma cidade guerreira, que sempre lutou por seus direitos, ao ponto de ser marcada com epítetos como Moscou Brasileira e Cidade Vermelha, Santos foi duramente castigada pela Ditadura Militar, com a perda de sua autonomia política e administrativa, em função de seu enquadramento como Área de Segurança Nacional.
O interventor nomeado pela Revolução para Santos, em 1969, foi o general Clóvis Bandeira Brasil. O fato foi assim noticiado pelo jornal santista A Tribuna, em 11 de abril de 1969 (exemplar no acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria

Bandeira Brasil é o interventor

O general-de-divisão Clóvis Bandeira Brasil foi nomeado ontem interventor federal no município de Santos por ato do presidente da República, e deverá ser empossado no próximo dia 14, quando finda o mandato do atual prefeito Sílvio Fernandes Lopes. O general Bandeira Brasil deixou recentemente o cargo de comandante da 11ª Região Militar, em Brasília, e havia sido transferido para a reserva do Exército.

Sua nomeação foi recebida com surpresa nos meios políticos de Santos, pois era aguardada a designação de um elemento civil para o cargo de interventor, falando-se com insistência nos nomes dos srs. Aníbal Martins Clemente, Carlos Rocha de Siqueira e Aloísio Álvares Cruz, entre outros.

A intervenção federal decretada pelo presidente Costa e Silva com base no Ato Institucional n. 7, já que o prefeito eleito da Cidade teve seus direitos políticos suspensos por 10 anos, e o vice-prefeito, sr. Oswaldo Justo, renunciou ao mandato em carta entregue ao presidente da Câmara Municipal.

O gen. Clóvis Bandeira Brasil é pessoa de confiança do marechal Costa e Silva, de quem foi subchefe de gabinete quando o presidente da República era ainda o ministro da Guerra de Castelo Branco. O novo interventor federal já comandou a Guarnição Militar de Santos durante os anos de 1966 e 1967, sendo substituído pelo general Fernando Belfort Bethlem. Ao deixar as fileiras do serviço ativo do Exército, depois de 46 anos de caserna, o general foi homenageado pelo ministro Lyra Tavares, e deverá completar 63 anos de idade no próximo dia 24 de abril.

Ingressou na Escola Militar aos 18 anos, aos 24 era aspirante, e como primeiro tenente foi ajudante de ordens do então general-de-divisão Eurico Gaspar Dutra. Foi promovido a general-de-brigada em 1964, e depois de haver comandado a Guarnição de Santos, assumiu o comando da 11ª Região Militar de Brasília, onde se reformou.

O general Clóvis Bandeira Brasil terá agora que formar com rapidez o seu Secretariado e os quadros de assessores que o acompanharão na administração do município. A cerimônia de posse não foi marcada ainda, mas deverá ser realizada no Ministério da Justiça, na presença do seu titular, Gama e Silva. A transmissão do cargo será em Santos. Os círculos políticos da Cidade aguardavam ontem ainda notícias sobre sua chegada ao município.


Depois de haver exercido o comando da Guarnição Militar da Baixada, o general Bandeira Brasil volta a Santos como interventor no Município
Foto publicada com a matéria

Noticiaria ainda o jornal santista A Tribuna, em 13 de abril de 1969, um domingo (exemplar no acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP):

Interventor toma posse amanhã

O interventor federal nomeado para Santos, general Clóvis Bandeira Brasil, será empossado amanhã em solenidade a realizar-se no gabinete do ministro da Justiça, Gama e Silva, na Guanabara. Após a posse, o general deverá retornar a Brasília, a fim de repousar durante alguns dias e preparar seus primeiros programas como interventor.

Sua chegada a Santos poderá ocorrer perto do fim do mês. Aqui, comentava-se que o interventor federal deveria nomear um Secretariado constituído de elementos apolíticos. Havia muita expectativa com relação ao comportamento do general Bandeira Brasil, que se vem mantendo em rigoroso silêncio sobre seus planos de administração.

Por outro lado, o prefeito Sílvio Fernandes Lopes aceitou ontem à tarde o pedido de demissão coletiva de todos os secretários municipais. Muitos círculos da Cidade especulavam sobre a maneira como se daria a transmissão do cargo, já que o mandato termina amanhã, sem que o interventor esteja no município.

Segundo alguns juristas, o interventor Bandeira Brasil deveria comunicar-se por telefone com a Prefeitura informando de sua posse e determinando que os diretores respondam interinamente pelo expediente das secretarias. O prefeito Sílvio Fernandes Lopes estaria assim dispensado do ato de transmissão do cargo, já que existiria um interventor federal empossado, embora ausente da Cidade.

O falecimento de Clóvis Bandeira Brasil foi registrado assim pelo jornal santista A Tribuna, em 7 de outubro de 1982:

Morre o general Bandeira Brasil

Aos 76 anos de idade, morreu ontem, por volta das 10 horas, no Hospital Central do Exército, no Rio de Janeiro, vítima de edema pulmonar, o ex-interventor, general-de-divisão R/1, Clóvis Bandeira Brasil. Ele administrou Santos a partir de abril de 1969, nomeado pelo então presidente da República, marechal Arthur da Costa e Silva, logo depois que a Cidade perdeu sua autonomia política. Foi exonerado no dia 19 de março de 1974.

O corpo está sendo velado no necrotério do Cemitério do Caju, no Rio, onde será enterrado, hoje, às 9 horas. O prefeito Paulo Gomes Barbosa decretou luto oficial por três dias e designou o chefe do cerimonial, Antônio do Nascimento, para representá-lo no sepultamento. Barbosa determinou que a Secretaria de Obras e Serviços Públicos indique uma rua, para receber o nome do ex-interventor.

A Câmara deve também prestar homenagem póstuma, suspendendo os trabalhos da sessão prevista para hoje, às 20 horas. Proposta neste sentido pode ser apresentada pela bancada do PDS.

O ex-interventor realizou uma administração controvertida
Foto publicada com a matéria

Incompreendido - Entristecido pela morte do general Bandeira Brasil, o vereador Matsutaro Uehara, que liderou a bancada da extinta Arena no período da interventoria, afirmou que ele governou dentro do princípio de austeridade que o caracterizava, em função da disciplina militar: "Ele não era um homem político, e por causa disso foi incompreendido e recebeu muitas críticas. Mas, alguns anos após sua exoneração, diversos políticos reconheceram a seriedade de seus propósitos".

Uehara era um dos poucos vereadores que mantinham contato quase que diário com o general. E garante que sua preocupação com os problemas da comunidade era permanente: "Seus 40 anos de vida militar lhe deram condição suficiente para ser um homem de gabarito e de responsabilidade".

Comentando as obras do ex-interventor, seu líder destacou a reurbanização da Praça Engenheiro José Rebouças, com a construção do ginásio de esportes (hoje denominado Antônio Guenaga) e da área de lazer infantil; o Parque Infantil M. Nascimento Júnior, na Zona Noroeste; a reforma das escolas da rede municipal; e o alargamento da Avenida Presidente Wilson, trecho do Canal 1 até a Divisa.

Outras realizações do general foram as seguintes: Posto de Assistência à Infância, no Saboó; campanha de desratização, com o extermínio de mais de 210 mil ratos no período de 71 a 73; arborização de diversos bairros; ampliação das frotas de ônibus e táxis; melhorias nos gabinetes dentários das escolas; ampliação do Horto; e reforma do PS do Macuco.

Bandeira Brasil terminou obras iniciadas na administração Sílvio Fernandes Lopes, como a Estação Rodoviária e o prédio da Prodesan. Mas deixou outras inacabadas, como o Centro de Cultura e o Elevado Aristides de Bastos Machado.

Relacionamento - O relacionamento do interventor com a Câmara não foi bom e diversos vereadores, mesmo da bancada situacionista, mantiveram-se afastados até das solenidades oficiais.

Nélson Fabiano Sobrinho, que exercia a vice-liderança do então MDB e que foi um dos maiores opositores da interventoria, lamentou a morte do general e afirmou ter combatido Bandeira Brasil porque entendia que uma série de medidas, por ele preconizadas, "feria profundamente os interesses da comunidade".

Fabiano assegura que a população nunca se esquecerá de algumas iniciativas, como a criação da verba de mordomia, a tentativa de fechamento do Colégio Municipal Acácio de Paula Leite Sampaio, a "malfadada" compra de brinquedos para o parque de diversões, o viaduto Elefante Branco, a entrega da usina de asfalto e da Rodoviária para a Prodesan, as viagens para a Europa, a criação da Taxa de Iluminação e a exigência de sacos plásticos para a coleta do lixo.

O ex-vereador lembra que um dos únicos projetos que a bancada oposicionista aceitou, mas após apresentar algumas emendas "para preservação do meio-ambiente", foi o da criação do Pólo Industrial do Vale do Rio Quilombo: "Na época, nós advertimos que o projeto nunca iria se concretizar e que só visava ao aproveitamento das águas do rio, pela Cosipa. O tempo provou que o MDB estava certo em sua previsão".

Natural do Pará - Bandeira Brasil nasceu em Belém do Pará, no dia 24 de abril de 1906. Aos 18 anos matriculou-se na Escola Militar do Realengo e em 1930 foi declarado aspirante da Arma da Cavalaria. Serviu em 23 organizações militares diferentes, entre as quais as unidades de cavalaria sediadas nas fronteiras das repúblicas do Uruguai e do Paraguai.

Dos 46 anos de serviço na ativa, 15 foram em funções privativas do Quadro de Estado-Maior e nove como instrutor. Suas promoções sempre obedeceram ao princípio de merecimento e destacam-se entre seus feitos especiais a nomeação para a Sub-chefia do Gabinete Revolucionário do então ministro da Guerra, general Costa e Silva. Depois de promovido a general, foi nomeado chefe do Gabinete Ministerial, função que exerceu até o final da gestão do presidente Costa e Silva.

Recebeu oito condecorações nacionais (Ordem do Mérito Militar, Ordem do Mérito Naval, Ordem do Mérito Aeronáutico, Medalha de Guerra, Medalha do Pacificador, Medalha Tamandaré, Medalha Santos Dumont e Medalha Militar com passador de ouro) e uma estrangeira (Medalha da Ordem de Leopoldo da Bélgica).

Na vida civil, cursou escola de engenharia, diplomando-se engenheiro-geógrafo.

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