Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0260x.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 11/05/07 22:47:34
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MEDICINA
Ambulatório Gaffrée e Guinle

Texto publicado no jornal santista A Tribuna - terça-feira, 13 de maio de 1930 (página 2 - ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução parcial da matéria original

Ambulatório Gaffrée e Guinle

Inauguração do edifício e das suas novas instalações - O que é esse grande e importante estabelecimento destinado aos desfavorecidos da fortuna

Desde outubro de 1926, vem o Ambulatório Gaffrée e Guinle funcionando em Santos, dentro do programa que lhe foi traçado: profilaxia e diagnóstico da sífilis e das doenças venéreas, sejam quais forem as suas manifestações e tratamento gratuito daqueles que, desfavorecidos da fortuna, não o possam realizar nos consultórios de clínica particular.

Acomodado provisoriamente no grande salão central do velho edifício da Alfândega, depois de adaptado a esse destino, ganhou depressa freqüência animadora, que não cessou de crescer até agora.

Logo de início, ao se inaugurar o Ambulatório, a Companhia Docas de Santos - que o fundou com o compromisso de custeá-lo - afirmara, pela voz do seu inspetor geral, dr. Ismael de Sousa, que dentro em breve seria ele dotado com "um edifício próprio", onde mais amplos recursos lhe pudessem ser dados "de modo a estender, ainda mais, o seu raio de ação".

E a promessa será fidagalmente cumprida, hoje, 13 de maio, data em que a Empresa Portuária de Santos franqueará ao público, definitivamente instalado, o Ambulatório Gaffrée e Guinle.

Vale realçar como exemplo único o fato de uma empresa particular retirar uma parte de seus lucros para devolver ao meio em que se desenvolveu, transformada num serviço de assistência social.

Uma das pedras fundamentais do seu programa é cuidar da profilaxia e tratamento dos marítimos. Empresa portuária que é, atende assim ao apelo simpático da rainha dos belgas, revigorado posteriormente pela Liga das Nações, dirigido às companhias de portos do mundo inteiro, para que promovessem todas as facilidades de profilaxia e tratamento dos marujos.

Fachada do grande edifício, especialmente construído para instalações do "Ambulatório Gaffrée e Guinle", à Praça da República n. 18

Foto e legenda publicadas com a matéria

O edifício está situado na parte central da cidade, à Praça da República, com saída ampla para a Rua Antônio Prado, e confronta, por essa última fachada, o armazém número cinco da Companhia Docas de Santos.

Ocupa quatro pavimentos, ligados por quatro elevadores e um monta carga. A entrada abre-se para duas salas de espera, uma para homens, outra para mulheres e crianças, inteiramente separadas. À meia parede divisória destas duas salas está colocada a ficharia.

O pavimento térreo, daí por diante, é destinado aos serviços de homens. Estes constam das seções seguintes:

Sífilis - Duas salas para exame clínico (ns. 1 e 2); vestuário e instalações sanitárias para médicos (n.3); instalações sanitárias para doentes (n. 4); três consultórios para injeções e curativos (ns. 5, 6 e 7), de paredes ladrilhadas de branco e piso impermeável, também ladrilhado. Em todos os consultórios, instalação de água corrente, bem como, nas destinadas a tratamento, tomadas de eletricidade e gás combustível nas paredes. A seção de sífilis está entre duas amplas áreas de iluminação e todas as suas dependências recebem luz direta e ventilação suficiente.

Vias urinárias - Salas de Diatermia e Endoscopia (ns. 8 e 9) com piso especial isolado; gabinete médico (n. 10); sala de pequena cirurgia (n.11); quatro consultórios (ns. 12, 13, 14 e 15) para lavagens e curativos. Como a seção anteriormente descrita, possui as mesmas instalações de água, eletricidade, gás e esgoto. Está também entre duas áreas e portanto com as mesmas vantagens de aeração e luz direta.

Serviço preventivo e de lento tratamento - Ocupa a parte final do pavimento térreo. É uma série de pequenos consultórios individuais, onde, em cada um, está instalado um aparelho de auto-lavagem. Novas instalações sanitárias e lavabos nesta seção. Há ainda no pavimento térreo um salão que dá saída para a Rua Antônio Prado, o vestiário de enfermeiros e o depósito.

Primeiro andar - A frente é ocupada pela sala de estar dos médicos, que serve também de biblioteca (n.101) e pelo gabinete do diretor do serviço (n. 102). Em seguida, o serviço de sífilis para mulheres (ns. 103 a 109) e o de ginecologia (ns. 110 a 117), o primeiro igual ao seu homônimo de homens e o segundo igual ao de vias urinárias.

Mais adiante, o serviço de crianças: amplo salão de espera, e duas salas (ns. 122 e 123) para interrogatório, pesagem e exame clínico; três consultórios (ns. 119, 120 e 121) para injeções e curativos.

Segundo andar - De frente, a secretaria e almoxarifado (ns. 201 e 202). Depois vem o apartamento para o enfermeiro residente (n. 203). Em seguida as duas enfermarias de repouso e pequena cirurgia, uma para homens (n. 208) e outra para mulheres e crianças (n. 204).

Há também nesse pavimento o laboratório químico, para preparo de soluções anti-sépticas, preventivos anti-venéreos e esterilização de material (n. 207). Em frente à instalação de raios X (n. 209), gabinete médico (n. 210) e câmara escura.

A área restante do segundo pavimento é ocupada pelo laboratório que se compõe de seis salas (ns. 211, 212, 213, 214, interna, e 215), destinadas respectivamente à colheita de material, aparelhos, sorologia, bacteriologia, química e gabinete médico.

Terceiro andar - Grande salão para conferências e educação sanitária (n.303); gabinete dentário (n. 304) e serviço de otorrino-laringo-oftalmologia (ns. 304, 306 e 307). Neste último pavimento ficaram ainda três grandes cômodos disponíveis, que terão destino conforme as necessidades do serviço. Só o último deles, que olha para o mar, poderá ser desdobrado em oito consultórios.

O elevador central, próprio para transportar doentes em maca, sai do meio do andar térreo, entre os serviços de sífilis e vias urinárias, passa no primeiro andar entre os mesmos serviços de mulheres e transportará os portadores de crises, acidentes e os operados, diretamente às portas das enfermarias, abrindo-se de um lado para a enfermaria de homens; do outro para a de mulheres.

Equipamento - A ficharia está disposta em área suficiente para guardar os arquivos e possui quatro guichês, que servem para a sala de espera de mulheres e crianças, e quatro para a de homens.

Ao nível dos guichês, amplo balcão onde se acomodam bem os pequenos arquivos de índice.

Seção de sífilis - Sala de exames - possui todo o material necessário a exames clínicos, estetoscópios, martelos de vários tipos, aparelho para medir pressão arterial, cadeira própria para a exploração de reflexos, manômetro Claude, para pressão raquiana, leito para doentes. Salas de curativos e injeções  cada uma delas possui o seu armário para material, esterilizadores elétricos e de gás, mesas e braçadeiras para injeções. A sala especialmente destinada às injeções intravenosas comunica diretamente com o elevador para doentes.

Seção de vias urinárias - Salas de diatermia e endoscopia: aparelho potente de diatermia Penetrotherm, da casas Sanitas, com capacidade para aplicação simultânea em cinco doentes. A sala de endoscopia dispõe dos mais modernos aparelhos da especialidade, como sejam: combinação do apreensor e do litotridor do dr. Marion; cisto-uretroscópio Mac-Carty; combinação cisto-uretroscópica Marion; combinação de cistoscópios para crianças, modelo Marion; combinação de cistoscópios do dr. Flandrin; mesa universal, sobre rodas, para cautérios, luz, correntes galvânicas, farádicas e galvano-farádicas. Sala de cirurgia: mesa Drapier, dotada de múltiplos movimentos e arsenal cirúrgico para qualquer operação de pequena cirurgia da especialidade. Iluminação a lâmpada asciática. Lavabo de pedal. Salas de lavagens e curativos: mesas Brandão Filho, todas elas ligadas diretamente ao esgoto do prédio. Irrigadores de paredes, esterilizadores a gás e eletricidade, água corrente, quente e ria. Auto-tratamento: seis boxes, tendo cada um o seu aparelho de auto-lavagem; uma pressão pequena, num dispositivo especial, faz encher o irrigador com a solução anti-séptica, em temperatura conveniente, e o próprio doente se incumbirá do seu tratamento.

Primeiro andar - Sala de diretoria com o mobiliário necessário. Biblioteca e salão de médicos, com estantes para livros e revistas, ampla mesa, poltronas.

Seção de Sífilis - Mulheres - Mesmo equipamento que a de homens.

Seção de ginecologia - Aparelho de diatermia para três doentes e material para endoscopia nas salas de curativos, mesas ginecológicas (tipo Moura Costa), com os assentos e encostos de vidros, também ligadas à rede de esgotos; o mais, igual às de vias urinárias.

Seção de crianças - Sala para vias urinárias, com mesa especial ligada ao esgoto; salas de injeções e curativos, com mesas Fernandes Figueira e, em todas elas, água corrente e esterilizada a gás e eletricidade. Dois consultórios para exame clínico, com o material propedêutico necessário, balanças, toesas, leito etc.

Segundo andar - Secretaria, com todo o material de expediente.

Almoxarifado - Grandes armários presos às paredes, guardam o material para suprir todas as seções do Ambulatório.

Apartamento para o zelador - Quarto de dormir, sala de jantar e cozinha com o mobiliário; instalação sanitária respectiva.

Enfermarias - Quatro leitos em cada, armário guarda-roupa, esterilizadores e água corrente. Instalações sanitárias, anexas.

Sala de esterilização - Mesa ladrilhada, com pia no centro, várias tomadas de gás e armários na parte inferior, dois aparelhos completos para esterilização a gás, em autoclaves, do material cirúrgico, pensos e água, estufa tipo "Poupinel" de ar seco para esterilização a gás.

Raios X - Sala com pintura especial, indo do cinza claro do teto ao cinza escuro do rodapé. Mesa de exame, com os seguintes característicos: oscilação automática, com motor elétrico, permitindo a radioscopia e radiografia vertical em todas as incidências; e tela e radiografia vertical até dois metros e cinqüenta, variando a incidência; estereoradiografia; radioscopia e radiografia em posição horizontal com a empola em cima ou em baixo; radioscopia e radiografia em posição de Tredenlenburg. Seletor de "Beclere" com doze écrans reforçadores para tirar radiografia em séries. Filtro anti-difusor, de "Poter Bucky"; aparelho gerador dando cem mil volts e cem mil ampères em radiografia; mesa de comando com duas regragens independentes para a escopia e grafia; passagem instantânea da escopia à grafia.

Gabinete médico - Com arquivo especial para radiografias, câmara escura com aparelhagem para revelar filmes.

Laboratório - Gabinete médico com mobiliário e arquivos.

Sala de química - Mesas de mármore artificial, com tomada de gás, eletricidade, armários e prateleiras para reativos.

Sala de bacteriologia - Mesa de ladrilho com água corrente no centro, várias tomadas de gás, armários e prateleiras para material; 2 microscópios "Zeiss", sendo um binocular, com jogo completo de oculares e objetivas; dispositivo para ultra-microscopia, centrifugadores manuais e elétricos; aparelhagem para a correção "ph" nos meios de cultura.

Sala de sorologia - Mesma mesa que a de bacteriologia, geladeira elétrica, armários e prateleiras; completo equipamento para as pesquisas sorológicas.

Sala de aparelhos - Balanças de precisão com jogos de pesos respectivos; centrifugadores elétricos, autoclave, forno de "Pasteur", banho "maria" a gás e eletricidade, estufa para culturas.

Além disso, inúmeros aparelhos para pesquisas clínicas; nefelômetro, polarímetro, hematímetros para células do sangue e do licor, aparelhos para dosagem de glicose, uréia e dos pigmentos biliares nos líquidos orgânicos; filtros de vários tipos, pipetas automáticas etc.

Terceiro andar - Salão de medicina social, com mobiliário necessário.

Serviço dentário - Equipamento completo.

Serviço otorrino-oftalmo-laringológico - Sala para exame da visão, com câmara escura anexa. Salas para exames de ouvidos, nariz e garganta. A aparelhagem para atender às manifestações da sífilis e das outras doenças venéreas nestes órgãos está a chegar da Europa, e o pedido obedeceu, como, aliás, todos os outros, à orientação dos especialistas no assunto.

O teto do prédio é de concreto armado, com camada isolante de calor e na sua superfície externa estão colocadas as casas de máquinas dos elevadores, os transformadores de corrente elétrica e uma grande caixa d'água, que é cheia por bombas situadas no piso de uma das áreas, onde se encontra um outro grande reservatório de água.

Assim, está garantida, em qualquer emergência, a distribuição de água a todo o prédio.

A aparelhagem sanitária se distribui, metódica e suficiente, para todos os andares do prédio. A área do centro tem instalado um "destróier" a gás para a incineração dos pensos poluídos, bem como de toda a varredura do edifício.

Compõe-se o corpo clínico do Ambulatório "Gaffrée e Guinle" dos seguintes médicos:

Eduardo Boaventura, diretor.

Augusto Cerqueira, assistente do Laboratório.

Martins Sampaio, assistente do serviço de crianças.

José Cardamone, assistente do serviço de sífilis.

Jayme Gonçalves, assistente do serviço de ginecologia.

Armando Berenguer, assistente do serviço de vias urinárias.

Hermano Vasconcellos, assistente de ginecologia.

Castello Branco, assistente de sífilis.

João Carlos de Azevedo, assistente do serviço de vias urinárias.

Dirceu Santos, assistente do serviço de sífilis.

Ranulpho Prata, assistente de radiologia.

Cyro Domingues, assistente voluntário do serviço de sífilis.

Os algarismos abaixo mostram os serviços já realizados na instalação provisória do Ambulatório "Gaffrée e Guinle", entre 1 de outubro de 1926 e 30 de abril do corrente ano:

Foram feitas 7.317 matrículas, sendo 4.460 homens e 1.91 mulheres, crianças 963: total 7.317.

Distribuição de doenças: homens 4.996, mulheres 2.140, crianças 967: total 8.103.

Freqüência de doentes 217.746, sendo 140.552 homens e 53.595 mulheres.

Tratamento: injeções 122.191, sendo de Neosalvarsan 16.654, mercúrio 46.463, iodureto de sódio 2.305, outras, bismuto, vacinas etc.; 56.819 curativos 111.216; exames de laboratório: positivos 1.676, negativos 1.297; reações de Wassermann: positivas 4.443, negativas 9.284, duvidosas 120; exame e outras pesquisas 1.530; total das consultas 225;724.

- A inauguração do novo edifício e das modernas instalações do Ambulatório "Gaffrée e Guinle" realizar-se-á hoje, às 15 horas, tendo sido para o ato distribuídos convites às autoridades civis e militares, classe médica, imprensa, pessoas gradas etc.

A sala onde funciona o bem montado laboratório da farmácia do Ambulatório

Foto e legenda publicadas com a matéria

Texto publicado no jornal santista A Tribuna - quarta-feira, 14 de maio de 1930 (página 2 - ortografia atualizada nesta transcrição):


Drs. Oscar Weinchenck e Ismael de Sousa, cel. Cândido Gomes, dr. Victor de Lamare, respectivamente presidente, inspetor geral, superintendente e engenheiro-chefe da Cia. Docas de Santos, sentados; e o dr. Edgardo Boaventura, diretor clínico do laboratório e auxiliares, por ocasião da inauguração

Foto e legenda publicadas com a matéria

Ambulatório Gaffrée e Guinle

A inauguração do novo edifício e das modernas instalações do importante estabelecimento - Como decorreu a solenidade inaugural

Realizou-se, ontem, às 15 horas, com grande solenidade, a inauguração do magnífico edifício mandado construir especialmente pela Companhia Docas de Santos, à Praça da República n. 18, para nele ser instalado o Ambulatório Gaffrée e Guinle, estabelecimento que vem prestando os mais assinalados serviços à população pobre da cidade.

À hora marcada, achavam-se presentes os convidados, que foram recebidos à porta principal do grande edifício, pelos srs. drs. Oscar Weinchenck e Ismael de Sousa, cel. Cândido Gomes, dr. Victor de Lamare, respectivamente presidente, inspetor geral, superintendente e engenheiro-chefe da Cia. Docas de Santos.

Dentre os numerosos convidados, notavam-se os srs. dr. José de Sousa Dantas, prefeito municipal; d. José Maria Parreira Lara, bispo de Santos; Antonio Luís Pimenta, presidente da Câmara Municipal de São Vicente; dr. Bernardo Browne, gerente da Cia. City; cap.-de-mar-e-guerra Varella Quadros, capitão do porto; dr. Severiano Miranda, diretor da Faculdade de Farmácia e Odontologia de Santos; Otto Uebele, cônsul da Alemanha e da Áustria; sr. Abelardo Torres, representando o sr. Alfredo Seabra, inspetor da Alfândega; dr. Pedro Paulo de Giovanni, representante dos diretores da Sociedade Beneficente dos Condutores de Veículos; prof. Antonio Primo Ferreira, delegado distrital do ensino; Adelson Barreto, vereador; Oscar Lundqwist, cônsul da Suécia; dr. Othon Feliciano, dr. Martins Sampaio, dr. Navajas Filho, dr. Bruno Barbosa, vereador; cav. uff. Augusto Marinangeli, dr. Arthur Costa Filho, dr. Agenor Silveira, Júlio Murat, pela Polícia Marítima; dr. Horácio Brandão, René Schuster, representante do Banco Italo-Belga; dr. Arthur Porchat de Assis, Adelino Ferraz de Barros, pela Creche "Anália Franco"; Aristides Cabrera Corrêa da Cunha, pela Sociedade Portuguesa de Beneficência; Francisco da Costa Pires, Arlindo Aguiar Júnior, Ataualpa Moreira, Michel Alca, Horácio de Lamare, Laércio Azevedo, subdelegado de Vila Mathias; Antonio Domingues Pinto, Arthur Alves Wright, dr. Alberto de Moura Ribeiro, D. Monteiro Morgado, pelo Real Centro Português; dr. Theophilo Falcão, dr. Hugo Santos Silva, dr. Luís Silva, dr. Leão de Moura, dr. Gastão Dessart, dr. Ignácio Tavares Guimarães, Jayme Hummel, por si e Carlos Hummel; Duarte Pacheco, por si e Duarte Pacheco e Cia.; Miguel Carlos Araújo, Manoel dos Santos Silva, Felippo Tomaselli, Carlos Augusto de Araújo, Adolpho Soares Filho, Vicente Duarte, José A. Menezes, Joaquim Gomes Fonseca, Alexandre A. Ribeiro, Ulyssses S. Pinto, João Magri, José Martins, José de O. Freitas, Antonio Abrantes e Euclydes Augusto Cordeiro, pela S. União Operária; dr. Raul Leite, dr. A. Cerqueira, Mário Silva de Sousa, Joaquim Hernella, pela S. Espanhola de Socorros Mútuos; prof. Ary Lourenço, dr. Cyro Domingues, Estácio Azevedo Marques, Antonio do Canto e Castro, Heitor de Castro, pelo Rádio Clube de Santos; Francisco Martins Leite, Durval Ferreira, Antonio Gouvêa de Sousa Pinheiro, por si e Bento de Sousa e Cia.; Francisco Fernandes Júnior, Mário de Oliveira, dr. Hermano Vasconcellos, José Domingues Duarte, Benedicto Egydio de Sousa, pela Ass. Auxílio aos Necessitados; Irene Egydio de Sousa, José Villela, Mário Negrão e José Campos Júnior, pela Sociedade B. D. Pedro II; capitão Arthur Alves Pacheco, Gomes dos Santos Netto, pela "A Gazeta", de S. Paulo; Dirceu Santos, dr. S. A. Almeida Prado, secretário da Bolsa Oficial de Café, Álvaro José Alves, major Amadeu Ratto, Amadeu Brandão, Rocha Soares, Benedicto Merlin, pela "Folha de Santos"; Décio de Andrade, pela redação d'"A Tribuna"; e muitas outras, cujos nomes não conseguimos anotar.

Trocados os cumprimentos, os convidados, acompanhados dos diretores da Companhia Docas e do Ambulatório, fizeram minuciosa visita a todas as suas dependências, mostrando-se agradavelmente impressionados com tudo o que lhes foi dado ver.

Após, num dos departamentos do grande edifício, foi servida aos presentes uma mesa de doces, champanha e outras bebidas finas.

A  sala de radiografia, munida do poderoso "Faiffe-Gallot-Solon", cuja aparelhagem constitui a mais moderna instalação do gênero até hoje montada no Brasil

Foto e legenda publicadas com a matéria

Por essa ocasião, o dr. Oscar Weinschenck, presidente da Cia. Docas de Santos, pedindo a palavra, pronunciou o seguinte discurso:

"Meus senhores!

"Há dias, comemorando o relatório da diretoria da Companhia Docas de Santos à assembléia dos acionistas, a Folha de Santos disse:

"Mas é forçoso reconhecer que aquela (a Companhia) não vê por um prisma egoístico os seus exclusivos interesses; reparte-os em benefícios pela prosperidade, pelos melhoramentos e pelo conforto da nossa cidade; prodigaliza a um dos mais importantes portos comerciais da América do Sul um serviço completo e irrepreensível, contribuindo em muito para o nosso progresso; e aos seus milhares de operários conforta na medida do possível, com trabalho, salários, cuidados e assistência modelares".

"Com prazer vimos esse comentário do jornal santista e justa era sua leitura nesta solenidade, pois festejamos hoje a instalação definitiva do Ambulatório Gaffrée-Guinle, obra de assistência social que a Companhia inaugurou em 28 de setembro de 1926, no velho edifício da Alfândega, e à qual procura dar, cada dia, maior eficiência.

"A instalação do Ambulatório para a profilaxia das moléstias venéreas foi julgada necessária, para o tratamento de nossos empregados e com esse objetivo restrito foram feitos os primeiros planos e estudos. Mas, por que não ampliar os benefícios dessa obra a toda a cidade e, de um modo geral, a quantos freqüentam o porto de Santos? Fazendo essa ampliação, a Companhia Docas de Santos executaria o programa traçado a todos os países pelo 'Comité' de Higiene da Sociedade das Nações, o qual se inspira nas condições especiais dos embarcadiços e homens do mar, cujo nomadismo obrigatório agrava nos grandes portos o máximo problema sanitário das aglomerações urbanas.

"Essas razões levaram a Companhia a não limitar a seu pessoal o serviço que ia prestar e levaram-na a inaugurar o Ambulatório, ainda mesmo em sua instalação provisória, abrindo-o a quem necessitasse do tratamento específico e não tivesse facilidades para custeá-lo. Assim, a obra social da Companhia Docas de Santos passou além das fronteiras de seus estabelecimentos.

"Deixamos hoje as instalações provisórias e iniciamos o serviço no novo edifício, construído especialmente para o fim a que se destina. Acabastes de visitá-lo e tereis visto que nenhuma restrição se fez, visando uma instalação completa e moderna. Desejávamos dar ao nosso Departamento Médico todos os elementos para que seu trabalho fosse eficiente, não só no tratamento de quem, para isso, procure esta casa, como para que um centro de estudo e de pesquisas aqui se criasse. E estamos certos de alcançarmos os dois grandes objetivos, pois contamos com a dedicação do dr. Edgardo Boaventura, digno chefe do departamento, e de seus esforçados auxiliares, dedicação e esforços de que já deram inegáveis provas.

"Neste local, em 1892, instalou-se o escritório do Tráfego da Companhia Docas de Santos. Era um prédio então novo, que fora construído por Francisco de Paula Ribeiro, um dedicado companheiro de Gaffrée e Guinle, que, com meu inolvidável pai, Guilherme Benjamin Weinschenck, guiou, em Santos, os primeiros passos da empresa, vencendo toda a sorte de dificuldades, entre as quais devemos assinalar as que decorriam da descrença de muitos, no futuro do empreendimento. A empresa, porém, cresceu. Seus serviços exigiram mais amplas instalações e a casa foi deixada.

"Passados 38 anos, eis-nos de novo no antigo local, de novo iniciando serviços, mas, serviços de outra ordem. Com efeito, nas proporções em que a Companhia os franqueia à cidade e ao porto de Santos, esses serviços transcendem as raias das necessidades internas da empresa e estendem seus benefícios a toda a cidade e à própria comunhão internacional.

"A empresa, certamente, visa lucros para os ingentes capitais empregados nas suas grandes instalações; nem de outro modo ela poderia subsistir e prosperar. Mas, antes de tudo, ela executa um serviço público e tem plena consciência do papel social que desempenha na economia da grande região que lhe é tributária. Seu escopo e dever primordial é proporcionar serviços eficientes, vindo em segunda linha a honesta e justa preocupação de vê-los razoavelmente remunerados. Esse dever, porém, a Companhia não o entende estreitamente; não o limita na órbita das suas obrigações contratuais, relativas ao tráfego das mercadorias; mas, espontaneamente, os alarga até a cooperação na obra coletiva da assistência social, por se sentir solidária com a ação do poder público nesse sentido, e por querer o bem e a grandeza da cidade generosa onde, há mais de 40 anos, ela armou sua tenda de trabalho.

"A obra já realizada por este Ambulatório não é pequena, pois desde sua instalação foram matriculados em seus serviços 7.317 pessoas, deram-se 222.475 consultas, fizeram-se 122.191 injeções, 111.216 curativos, 13.842 reações de Wassermann, 5.503 exames diversos de laboratório e ainda se examinaram 3.249 pessoas não venéreas.

"Diante de tal trabalho, fomos levados a executar a obra que vindes de percorrer e onde os serviços que crescem sempre terão campo para sua melhor execução.

"A diretoria da Cia. Docas de Santos usa desta oportunidade para, mais uma vez, patentear seu reconhecimento aos herdeiros do saudoso Francisco de Paula Ribeiro, pela sua valiosa contribuição para a obra que realizamos.

"Dessa distinta família, com efeito, recebeu a Companhia, em doação, o velho edifício em que funcionaram seus escritórios, o qual com o prédio vizinho que adquirimos, e com as obras realizadas, foi transformado na casa que visitastes.

"Cabe-me, igualmente, lembrar aqui o nome do sr. Xisto Vieira, antigo inspetor da Alfândega, que foi quem nos permitiu utilizar o velho edifício de sua repartição para a instalação provisória do Ambulatório, assim como os seus prezados sucessores que mantiveram tal concessão.

"À ilustríssima Câmara Municipal desta cidade apresentamos os nossos agradecimentos por haver, atendendo a pedido nosso, isentado este prédio de todos os impostos municipais que sobre ele pudessem recair.

"O ilustre sr. prefeito desta cidade é igualmente merecedor de nosso reconhecimento por haver relevado o pagamento de emolumentos desta construção, assim como facilitado tudo quanto estava a seu alcance para pronta execução desta obra.

"Ainda em nome da diretoria da Companhia Docas de Santos, desejo salientar os esforços e a dedicação de nosso inspetor geral, dr. Ismael de Sousa, e de seus dignos auxiliares, assim como de nossos bons operários, para que ao Ambulatório nada faltasse, não só quanto às instalações, como quanto à perfeição da obra realizada. E, estou certo de que os resultados desses esforços e dedicação devem ter feito desaparecer, da lembrança dos engenheiros que aqui trabalharam, os maus momentos que os médicos lhes causaram, com exigências de mais um tubo, mais um furo, mais dez centímetros nesta mesa, aquela porta mais para lá. Vejo, com efeito, engenheiros e médicos evidentemente satisfeitos.

"Agradeço muito a todos os presentes seu comparecimento a esta solenidade. A presença das altas autoridades federais, estaduais e municipais, que honram-nos compartilhando em nossa alegria, evidenciam o interesse do poder público por obras como esta e o apoio que assim trazem à Companhia, é um incentivo para que ela continue na diretriz adotada.

"Minhas senhoras e meus senhores, muito obrigado".

As suas últimas palavras foram abafadas por prolongadas palmas.

A seguir, o dr. José de Sousa Dantas, prefeito municipal, pronunciou feliz improviso, agradecendo as referências feitas pelo dr. Weinschenck à Prefeitura Municipal, agradecimento esse extensivo à Companhia Docas de Santos, em nome da cidade, pelo melhoramento importantíssimo com que acaba de dotá-la.

O ato foi abrilhantado pela banda de música do Tiro de Guerra 598 (Docas de Santos).

Aspecto da assistência, por ocasião das saudações, após a cerimônia inaugural

Foto e legenda publicadas com a matéria