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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - URBANISMO (Y)
A cidade, corrigindo as distorções(?) - (4)

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Metropolização, conurbação, verticalização. Os santistas passaram a segunda metade do século XX se acostumando com essas três palavras, que sintetizam um período de grandes transformações no modo de vida dos habitantes da Ilha de São Vicente e regiões próximas. Entre essas transformações estava o surgimento de uma mentalidade de preservação do patrimônio cultural e arquitetônico santista, como registra esta matéria, publicada no jornal santista A Tribuna, em 25 de outubro de 2006:
 


CASARÃO DO 4º DISTRITO PASSA POR RECUPERAÇÃO – O imponente casarão no número 258 da Avenida Conselheiro Nébias, na Vila Nova, que há mais de três décadas abriga o 4º Distrito Policial, vai aos poucos perdendo o aspecto de abandono provocado pelo mau estado de conservação. Isso, graças a uma reforma idealizada pelos próprios policiais que atuam no órgão. A casa, que data de 1929, está em processo de tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio cultural de Santos (Condepasa)
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

Quarta-feira, 25 de Outubro de 2006, 06:50
4º DP
Um bom exemplo

Policiais decidem se unir para recuperar o imóvel da Avenida Conselheiro Nébias, que data de 1929 e vivia anos de degradação

Tatiana Lopes
Da Reportagem

A beleza arquitetônica do imponente casarão do número 258 da Avenida Conselheiro Nébias, na Vila Nova, que há mais de três décadas abriga o 4º Distrito Policial de Santos, vinha sendo ofuscada pelo mau estado de conservação do imóvel. Mas, por iniciativa de policiais que atuam no local, a casa, que data de 1929, começou a ser reformada em julho deste ano e está em processo de tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa).

A idéia do restauro partiu do investigador-chefe Carlos Roberto Pereira, que foi transferido da Capital para a Cidade em maio deste ano. O projeto conta com a colaboração dos delegados Arthur Luiz Carvalho de Miranda e Estevan Gabriel Urso. As obras estão sendo custeadas com recursos doados pela Libra Terminais e pela Dicico, e até com verbas do próprio investigador-chefe. A mão-de-obra é dos funcionários da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos.

8,4 mil reais

foram os recursos gastos até agora na recuperação do imóvel

 

"Até agora já gastamos R$ 8.400,00. Só no telhado, que estava com infiltração, foram gastos cerca de R$ 3 mil", diz Pereira, que não se conformou ao ver um imóvel tão bonito em péssimo estado de conservação. A última pintura da fachada tinha sido feita havia cerca de cinco anos.

Entre os trabalhos de reforma estão a pintura da fachada e da parte interna, troca de janelas e vitrais e colocação de canaletas para esconder a fiação exposta. Para realizar as intervenções no sobrado, os policiais tiveram a orientação do Condepasa.


A casa está em processo de tombamento. Na entrada, duas estátuas de cães
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

História - O terreno onde fica o casarão foi comprado pelo bananicultor José Marques Carriço, em 1929, e até hoje pertence à família. Só em 1968 é que o imóvel passou a ser alugado para a Polícia Civil.

"A casa seria construída por um cafeicultor francês, mas com a quebra da bolsa de Nova Iorque, naquele ano, ele não teve condições de começar a obra. Meu pai comprou os dois terrenos (o da casa onde hoje é o 4º DP e o do número 260, que fica ao lado) e o material de construção, que já tinha sido importado pela família", diz o advogado aposentado José Marques Carriço Filho, hoje com 80 anos.

O dono do imóvel relembra os seus tempos de infância na casa. "Mudei para cá aos 4 anos de idade. Fui criado correndo pelo quintal. Me sentia triste de ver uma construção tão bonita naquele estado", conta Carriço, que há dois anos não entrava no imóvel.

Segundo ele, antes da construção do casarão, o terreno era alugado para companhias de circo. "Quando começaram a escavar o local para construir a casa acharam vários ossos de animais enterrados".


O investigador-chefe Carlos Roberto Pereira (à dir.) mostra detalhes da ampla varanda
Foto: Marcelo Justo, publicada com a matéria

O desenho do imóvel foi feito por Domingos Tangary e o projeto arquitetônico é do engenheiro João La Scalla. Carriço conta que boa parte do material usado na construção da casa foi importada. "O encanamento e azulejos são ingleses, os lustres e vitrais das portas são cristais tchecos, o mármore é de Carrara. Acho que só a areia, o tijolo e a cal são do Brasil", lembra o dono do imóvel.

Os assoalhos de madeira do piso e da escada foram feitos por marceneiros no próprio local. A casa, com colunas em estilo greco-romano, tem uma ampla varanda em formato oval. Há ainda duas estátuas de cães na escadaria de entrada.

Conforme ele, quase tudo no sobrado permanece com as características originais. "Só lamento que as paredes dos quartos não tenham mais os lindos desenhos de paisagens pintados à mão. O meu quarto de garoto tinha motivos da Branca de Neve e os Sete Anões".


A escada, assim como o piso, possui assoalho feito por marceneiros no próprio local
Foto: Marcelo Justo, publicada com a matéria

Em 1947, o pai de Carriço ficou doente e, como não agüentava mais subir e descer as escadas da casa, mandou construir um bangalô (com um só pavimento), no terreno ao lado, onde era um jardim. "E é nessa casa que moro até hoje", diz o aposentado.

Carriço conta que, durante a explosão do gasômetro da empresa que fazia o abastecimento de energia e gás na Cidade, em 9 de janeiro de 1967, parte das portas e dos vitrais da casa se quebrou. Depois disso, o imóvel passou por uma reforma e foi alugado para a Polícia Civil.

O piso térreo - onde ficavam o hall, a sala de estar, a sala de jantar, a copa, a cozinha e um quarto -, hoje abriga a recepção da delegacia e salas onde é feito o trabalho administrativo. No piso superior - onde ficavam os quatro quartos e os dois banheiros - hoje funcionam as salas dos delegados e o cartório. Nos fundos da casa, onde era a garagem, foi construída uma cozinha, que conta com refeitório, duas pias, geladeiras, fogão industrial e ar-condicionado. "Todos os equipamentos foram doados. Falta agora ganharmos uma mesa e as cadeiras", diz o Pereira.

O neto de José Marques Carriço, que tem o mesmo nome do avô, cresceu ouvindo as histórias sobre o imóvel. "Tudo o que sei foi contado pelo meu pai. Ele lembra com detalhes de toda a história do casarão", conta o arquiteto.


Carriço: "Me sentia triste de ver uma construção naquele estado"
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

Tombamento - O pedido de tombamento do imóvel no Condepasa foi feito em 25 de março de 2004, mas o processo só foi aberto em 15 de abril do mesmo ano. Segundo o arquiteto Edson Luís Costa Sampaio, chefe do órgão técnico do conselho, este é um dos 13 processos de imóveis da Avenida Conselheiro Nébias abertos pelo Condepasa. "Ainda precisamos corrigir alguns dados sobre o histórico da casa. Mas antes temos outros processos para analisar".


Cristais tchecos embelezam os vitrais das portas do imóvel
Foto: Marcelo Justo, publicada com a matéria

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