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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - URBANISMO (S)
Começa a guerra do (ao) lixo (7)

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Metropolização, conurbação, verticalização. Os santistas passaram a segunda metade do século XX se acostumando com essas três palavras, que sintetizam um período de grandes transformações no modo de vida dos habitantes da Ilha de São Vicente e regiões próximas.

Um dos grandes problemas que a Baixada Santista sentia já então a necessidade de equacionar era o da destinação do lixo. Curiosamente, enquanto o mundo todo fala em proteção ambiental e em reciclagem, em Santos as autoridades municipais continuam com a visão de enterrar todo o lixo, sufocando até mesmo a ação espontânea de parte da população que se dispõe a fazer a seleção do lixo. Com isso, cria vários problemas: o da destinação de uma quantidade maior de lixo, em termos de volume depositado e danos ambientais; o social, com o destino das famílias que ficam impedidas de sobreviver com esse trabalho; e o financeiro, pois além de não lucrar com a reciclagem o município (ou a metrópole) ainda tem de arcar com o ônus da destinação do lixo.

Apesar de as soluções terem começado a ser implantadas na Baixada Santista já na década de 1980, o mesmo assunto que já era tratado em 1976 voltou assim a ser tema de matéria publicada em 19 de novembro de 2004 no jornal santista A Tribuna:

Gerlaque sustenta a mulher e dois filhos com a atividade, que lhe rende até R$ 800,00 por mês
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria

LIXO RECICLÁVEL
PMS paga por serviço que poderia dar lucro
ONG tem proposta para alterar o atual modelo de coleta seletiva

Da Reportagem

Há um ano, todos os dias, João Gerlaque, de 48 anos, vai para a rua recolher material reciclável. Começou revirando sacos de lixo em busca de latinhas de alumínio, mas hoje, dono de uma Kombi, o catador vai diretamente nos prédios "de seus conhecidos", que guardam para ele todo tipo de produto que possa ser reaproveitado.

Gerlaque sustenta a mulher e dois filhos pequenos com a atividade, que lhe rende até R$ 800,00 por mês, dinheiro suficiente para também pagar as prestações da Kombi usada, comprada há quatro meses.

O trabalho poderia render mais, não fosse a "enorme concorrência" relatada pelo catador. "Tem muita gente pegando lixo com pequenos caminhões e caminhonetes pela Cidade".

Segundo a ONG Recicla Brasil, mesmo com tantas pessoas sobrevivendo do serviço, a Prefeitura gasta R$ 1 milhão por ano para manter a Coleta Seletiva, realizada pela Terracom em toda a Cidade.

De acordo com Jaime Caettano, gerente da ONG, a coleta seletiva "oficial" recolhe apenas 1,2% de todo o volume de material reciclável produzido na Cidade. O resultado é que, segundo estimativa da ONG, R$ 17 milhões em lixo reaproveitável vão parar anualmente no Aterro Sanitário do Sítio das Neves.

Segundo números da Secretaria Municipal de Meio-Ambiente (Semam), são recolhidas 150 toneladas de material reciclável mensalmente, quantidade prejudicada pelo serviço paralelo, segundo a própria Semam.

Gerlaque vende em São Vicente o lixo recolhido em Santos. "As equipes da Terracom reclamavam que a gente coletava o material antes deles. Mas eu não ligava, o lixo estava na rua".

Diferente de Gerlaque, que mantém "colaboradores", muitos coletores aproveitam o cronograma da Terracom para pegar o lixo reciclável deixado na rua pela população. Para isso, basta passar pelas ruas onde a coleta seletiva está programada antes do caminhão da Terracom, aproveitando o lixo deixado na calçada pela população.

17

milhões
de reais por ano, em lixo reaproveitável, 
vão parar no Aterro Sanitário, 
segundo cálculos da entidade

 

Lixo em dinheiro - A ONG Recicla Brasil tem uma proposta para alterar o atual modelo de coleta seletiva. A idéia é alternar dias recolhendo o lixo orgânico (restos de comida) e o material reciclável (papel, plástico, vidro e metais).

O lixo orgânico seria recolhido às segundas, quartas e sextas-feiras. O reciclável, terças, quintas e sábados. "Isso acabaria com a coleta seletiva, porque os mesmos caminhões da coleta normal recolheriam o lixo reciclável", diz Caettano.

As pessoas que trabalham coletando o lixo nas ruas seriam aproveitadas na usina de separação e reciclagem, que precisaria, segundo a ONG, de 700 funcionários para lidar com o aumento do volume recolhido nas ruas.

Além do melhor aproveitamento dos recursos, 70% do lixo deixaria de ser depositado no aterro sanitário, o que aumentaria a vida útil do local de 20 para 34 anos.

Em 2005, a ONG vai começar a recolher assinaturas para que a coleta alternada seja transformada em lei. "A Prefeitura poderá deixar de pagar pela coleta seletiva e ter lucro com a venda do material reciclável", conclui Caettano.


Caettano: coleta oficial recolhe apenas 1,2% do material reciclável
Foto: Irandy Ribas, publicada com a matéria

Quanto custa
Material Preço por tonelada
Papelão R$    230,00 (prensado)
Papel branco R$    350,00
Alumínio R$ 3.800,00
Vidro incolor R$    180,00 (limpo)
Vidro colorido R$      10,00 (limpo)
Garrafa PET R$    820,00 (prensada e limpa)
Embalagem Longa Vida R$    220,00 (prensada)
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