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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - URBANISMO (D)
Favelas urbanas e desfavelamento (5)

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Metropolização, conurbação, verticalização. Os santistas passaram a segunda metade do século XX se acostumando com essas três palavras, que sintetizam um período de grandes transformações no modo de vida dos habitantes da Ilha de São Vicente e regiões próximas. Da má condução desse processo, surgem distorções, como a favelização, citada nesta matéria publicada em 12 de março de 2012 do jornal santista A Tribuna, página A-3:


Passarelas de madeira, geralmente deterioradas e com tábuas soltas, são o caminho entre favela e asfalto
Foto: Alexsander Ferraz, publicada com a matéria

A longa espera por uma moradia

Cohab atendeu 560 famílias desde 2005 e entrega 72 casas neste semestre. Mas 14.841 pessoas vivem em locais como a Vila Gilda

Alcione Herzog
Da Redação

Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que, nos últimos dez anos, 10,4 milhões de brasileiros deixaram de viver em favelas para habitar moradias mais dignas, com saneamento básico e casas de alvenaria.

Neste período, a população nacional de favelados caiu 16%. Em Santos, há uma região que se mantém fora das estatísticas nacionais: os caminhos e becos do Dique da Vila Gilda (Caminhos São Sebastião, São José e da Capela), Butantã e Vila Telma II,no Rádio Clube, e o Caminho da União, no São Manoel. Na área, cercada por mangues e pelo Rio dos Bugres, vivem 14.841 pessoas. São, segundo o censo do IBGE de 2010, 4.186 moradias precárias.

A realidade mudou pouco nos últimos sete anos. Segundo a Companhia Santista de Habitação (Cohab Santista), desde 2005, 560 famílias do Dique foram atendidas com novas moradias produzidas pela entidade executora da Prefeitura. Está prevista para este semestre a remoção de mais 72 famílias para as casas sobrepostas em construção nas ruas Flor Horácio Cyrillo e Faria Lima.

Pelos cálculos do presidente da Cohab, Hélio Hamilton Vieira Júnior, 2.600 famílias ainda estão sujeitas a alagamentos em dias de chuva e maré alta. Desse universo, fazem parte a dona de casa Adriana de Lima, de 38 anos, seu marido, o porteiro Rubens de Lima, de 45 anos, e os dois filhos.

A família vive no penúltimo barraco de um dos muitos becos do Caminho São Sebastião. A casa fica sobre o Rio dos Bugres. “Quando chove e venta, fica tudo alagado. Só se apegando a Deus para aguentar tanto tempo nesta situação".

Ao começar a relembrar os quase 20 anos de vida no local, Adriana se emociona e chora. As lágrimas são um misto de revolta e desânimo. "Já perdemos as contas de quantas vezes fomos cadastrados pela Prefeitura. Entra ano, sai ano e a gente continua aqui, sem saber se teremos um futuro melhor".

Uma casa adiante, fica o barraco de Elisângela de Lima, de 37 anos. Desempregada, ela vive no local coma filha e o neto. Da janela, assistiu, nos últimos anos, à urbanização da outra borda do canal, em São Vicente. As famílias vicentinas que viviam em palafitas a menos de 40 metros de Elisângela agora habitam casas de alvenaria.

A paisagem degradante formada por barracos de madeirite e tortos, como os da Vila Gilda, agora deu lugar a casas em chão firme ao longo de uma avenida à beira-rio.

"É duro ver que, lá, as pessoas melhoraram de vida. Fico me perguntando quando será a minha vez", lamenta.

Dificuldades - O presidente da Cohab, Hélio Hamilton Vieira Jr,, define a erradicação das moradias subnormais na Vila Gilda e no Caminho da União como uma colcha de retalhos e, ao mesmo tempo, um jogo de xadrez.

A dificuldade de resolver as pendências jurídicas e ambientais nas áreas que receberão novas moradias e a necessidade de levar em consideração os locais que receberão intervenções de drenagem e macrodrenagem do Programa Santos Novos Tempos exigem paciência e persistência para mover cada peça do tabuleiro.

“São vários projetos e todos já conveniados, desde 2007. O importante é que nada ficou parado. Lidamos com os entraves de um lado, mas procuramos avançar nas outras pontas, contratando recursos e fazendo os projetos", diz.

A área que receberá as 1.120 famílias da Vila Gilda, no Tancredo Neves, em São Vicente, ilustra a morosidade da ação integrada. Desde 2007, ela é considerada peça fundamental para dar destinação e moradia digna a quase metade das famílias que vivem em cima da maré. "Tivemos problemas com licenciamento ambiental. Agora, acreditamos que, em breve, resolveremos essas questões", espera.

O secretário municipal de Desenvolvimento e Assuntos Estratégicos, Márcio Lara, ressalta os avanços da atual administração para reduzir o déficit habitacional. "Nestes oito anos de governo, entregamos 1.383 novas moradias. São unidades que fazem parte das 5.400 previstas dentro do Programa Santos Novos Tempos".

Lara acha que, até fevereiro de 2015, as obras de drenagem, macrodrenagem e urbanização e construção de unidades previstas no programa terão sido concluídas. "Esse é o compromisso contratual junto ao Banco Mundial".

A aposentada Célia Pereira, de 63 anos, faz força para acreditar. "Espero viver até lá. São muitos anos de espera, cadastro em cima de cadastro e continuamos vivendo em meio a lixo, mau cheiro e ratos"
.


Da janela de casa, Elisângela vê o progresso habitacional em São Vicente
Foto: Alexsander Ferraz, publicada com a matéria

Mais de 50 anos de falhas

O Dique da Vila Gilda, no Rádio Clube, fica numa Área de Preservação Permanente. A favela, à margem do Rio dos Bugres, na divisa com São Vicente, ocupa área de manguezal e agride, com despejo de esgoto, o ecossistema que deveria ser o berço da vida marinha.

O lixo boia na superfície e encalha nas madeiras podres que dão sustentação às palafitas de madeirite. Para transitar entre uma moradia e outra, é
preciso se equilibrar em tábuas soltas e rachadas.

Nessas passarelas bambas e repletas de buracos, crianças brincam descalças. A água para beber é levada para as casas clandestinamente, através de canos. Toda a vez que a maré sobe, a água ingerida pela população se mistura à água podre.

O cheiro de esgoto é forte. Nos dias de calor, quase insuportável. Doenças infectocontagiosas e (muitos) ratos fazem parte da rotina.

Foi na década de 1950 que a Vila Gilda viveu o seu primeiro impacto ambiental. Naquela época, o antigo Departamento Nacional de Obras de Saneamento construiu um dique e canais de drenagem para um grande aterro hidráulico às margens do Rio dos Bugres.

A parte alta do dique era plana, para a entrada das máquinas na construção do canal. Por ela, houve as primeiras invasões, a partir de 1960. Segundo moradores, ainda há famílias chegando e se instalando.

Para o professor de Arquitetura e Urbanismo das universidades Católica de Santos e Santa Cecília, José Marques Carriço, atuais dispositivos jurídicos para moradia popular e regularização fundiária e a verba disponível para obras são suficientes para o fim das palafitas.


Adriana, Rubens e os dois filhos rezam para não chover nem ventar
Foto: Alexsander Ferraz, publicada com a matéria

A Tribuna não esquece

5 de fevereiro de 1965


Imagem: reprodução, publicada com a matéria

"Lugares como Vila Gilda são um clamoroso protesto de atraso social e de deficiência do serviço público".

Este é um trecho de editorial publicado por A Tribuna, que destacava, há 47 anos, haver 3 mil moradores na área. Sua erradicação representava “mais do que efetivos desafios no setor de habitação. (...) As condições de vida sub-humanas vão atingindo cada vez maior número de pessoas".Hoje, são quase 15 mil.

A evolução do problema

10.767 moradias estão distribuídas em 24 aglomerados subnormais em Santos

38.159 pessoas vivem em núcleos precários na cidade

4.186 moradias precárias ocupadas por 14.841 pessoas ficam nos caminhos que compõem o Dique da Vila Gilda, Butantã e Caminho da União, São Manoel e Vila Telma II

  


São Manoel, 1987
Imagem publicada com a matéria


São Manoel, 1997
Imagem publicada com a matéria


São Manoel e o Dique da Vila Gilda, em vista por satélite
Imagem publicada com a matéria


Dique da Vila Gilda, 1987
Imagem publicada com a matéria


Dique da Vila Gilda, 1997
Imagem publicada com a matéria

>>  Projetos em andamento para a Vila Gilda e o Caminho da União

  Unidades Fase Prazo Custeio Investimento (R$/milhões)
Caneleira 680 apartamentos Estaquea-mento do terreno 2013 Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) e Prefeitura Aproxima-damente 56
casas nas ruas Flor Horácio Cyrillo e Faria Lima 72 casas sobrepostas Acabamento e pintura 1º se-mestre deste ano Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Prefeitura Aproxima-damente 6
Santos O 205 apartamentos Preparação e fundação de terreno Abril de 2013 Governo do Estado, via CDHUe Prefeitura 16,2
>> Projetos previstos
  Unidades Pendências Custeio Investimento (R$/milhões)
Prainha 705 apartamentos, sendo 280 em primeira fase e 420 em segunda desapropriação de parte da área, que é particular Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Prefeitura aproxima-damente 56
Tancredo Neves (SV) 1.120 moradias falta o licenciamento ambiental Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Prefeitura aproxima-damente 87
>> Projetos da Cohab que já beneficiaram famílias da Vila Gilda
2005 - 80 casas sobrepostas
2009 - 80 apartamentos na Vila Pelé 2
2011 - 400 apartamentos na Vila Pelé 2
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