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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CARNAVAL
Tempo de Carnaval (27)

Memórias da festa santista
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Matéria publicada pelo semanário santista Jornal da Orla, edição de 2 e 3 de fevereiro de 2008, versões eletrônica e impressa:
 


Imagem: arquivo pessoal de J. Muniz Jr., na capa da edição de 2 e 3/2/2008 do Jornal da Orla

Memórias do Carnaval santista

Mirian Ribeiro

Santos tem tradição em carnaval e já teve época, na década de 50, de ser considerado o segundo melhor carnaval do país, perdendo apenas para o Rio de Janeiro. Tempos mais vibrantes e bem mais inocentes nas ruas e salões. Não faltava diversão para o folião, participando ou assistindo aos desfiles de blocos, ranchos, cordões, corsos, escolas de samba, concursos de fantasias luxuosas, bailes... Imaginem que até o final da década de 50 os foliões presos por desordem só eram soltos ao meio-dia da quarta-feira de Cinzas, quando uma pequena multidão formava-se em frente à Cadeia Velha, na Praça dos Andradas, para zombar dos arruaceiros que saíam da prisão ainda fantasiados, em grupos.

A folia começa semanas antes, com as famosas batalhas de confete, cada semana em um bairro; no início dos anos 90 a Prefeitura tentou reviver, mas não com o mesmo esplendor. Até a década de 60 os blocos carnavalescos, com seus luxuosos carros alegóricos, eram a atração do carnaval santista. As escolas de samba levaram anos para se livrar da fama de reduto de malandragem, isso num tempo que vadiagem dava cadeia.

Há pessoas que tiveram suas vidas irremediavelmente associadas ao mundo do samba e do carnaval, tornando-se verdadeiras lendas, algumas ainda vivas. O que lhe vem à memória ao ouvir nomes como Dráusio da Cruz (que batiza a atual passarela do samba, na Zona Noroeste), Cabo Roque, Tia Isaurinha, Waldemar Esteves da Cunha e outros tantos? Inclusive o do historiador J. Muniz Jr. que está à procura de patrocínio para o livro recém-concluído sobre a história do carnaval santista.


E é o próprio J. Muniz quem relata fatos que marcaram o carnaval santista, com a autoridade de quem testemunhou como folião durante décadas. "Até os anos 60 a meca do carnaval era a Praça José Bonifácio, que ficava rodeada de barraquinhas vendendo comida e bebida e no centro tinha roda de samba. Dali saíam os blocos de sujos, na base do vai quem quer e como puder. Na General Câmara e Praça Mauá eram feitos a apoteose e os concursos oficiais".


"As misses"

Foto: Arquivo pessoal de J. Muniz Jr., publicada com a matéria

Blocos, ranchos, choros, cordões

Dengosas do Marapé, Favoritas do Sultão, Bloco das Esmeraldas, Chineses do Mercado, Mariposas de Santo Antonio, Romanos do Campo Grande, As Misses, Gueixas do Atlanta, Cruz de Malta, Oswaldo Cruz, nomes que ficaram na história dos blocos santistas. Desfilavam no Banho da "Dª Dorotéia" e também no carnaval oficial. Surgiram em 1915 como a grande atração do carnaval santista e assim permaneceram até o início dos anos 60. Até o começo de 70 só desfilavam homens; para as mulheres restavam os ranchos e escolas de samba. O bloco era marcado pelo ritmo da marcha, batucada e carregava estandarte, além de carros alegóricos. 

O bloco Chineses do Mercado não teve longa vida, mas foi um dos mais famosos, lembrado até hoje pelo luxo de suas fantasias, carros alegóricos e apresentação teatral. O bloco foi formado em 1950 por um estivador filho de italianos, Humberto Sposito, e já naquele ano empatou com o Babys do Jardim da Infância, do Bairro Chinês, até então campeão dos desfiles. Até o final da década, quando se desfez, o Chineses foi imbatível, vencendo todos os concursos.

Os ranchos tinham acompanhamento de marcha-rancho, um ritmo mais cadenciado. Apenas três se diferenciavam dessa cadência: o Novo Horizonte e o Arrasta-Sandália, ambos de maioria negra e que saíam com samba. Já o Vassourinhas, de maioria nordestina, colocava o povo para dançar ao ritmo do frevo.

Além dos choros (que, como o nome diz, tocavam choros com acompanhamento de cantor) e cordões (em forma de cortejo), tinham também as tribos carnavalescas, com os foliões vestidos de índios. As mais famosas eram a Aymoré, Tupinambás da Penha e Índios da Areia Branca.


Desfile da X-9, no Gonzaga, em 1955

Foto: Arquivo pessoal de J. Muniz Jr., publicada com a matéria

Exposição mostra antigos carnavais

Até o dia 29 deste mês está aberta a exposição fotográfica Carnaval, Quem Lembra?, montada pela Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams) no Mercado Municipal (Praça Iguatemi Martins s/nº, Vila Nova) São 11 painéis com reproduções de imagens de corsos, bailes e desfiles, que podem ser apreciados pelo público de segunda a sábado das 7h às 18h e aos domingos das 7h às 13h.

A exposição destaca ainda as festas nas ruas, os concursos de fantasias e a participação marcante do Rei Momo santista Waldemar Esteves da Cunha, o de reinado mais longo do Brasil. Tem também o Carlitos santista, interpretado por Mário Rodrigues Filho em 1948, que ganhou diversos prêmios até o fim da década de 1960. Há também um painel dedicado aos famosos blocos carnavalescos.


Banho de Dona Dorotéia

Foto: Arquivo pessoal de J. Muniz Jr., publicada com a matéria (mostrada assim, espelhada, como se nota no texto da frente do carro. O cartaz ao fundo é que deveria ser visto pelo avesso)

Dona Dorotéia e Agora Vai

O "Dª. Dorotéia Vamos Furar Aquela Onda" foi criado no Clube Saldanha da Gama em 1923 e durante décadas foi a grande atração do domingo que antecedia o carnaval, com o desfile de blocos patuscos e não-patuscos pela avenida da praia. Infelizmente, acabou na década de 90 devido à violência. Outro que ganhou fama em outros tempos foi o Bloco Agora Vai, que desfilava na véspera do "Dª. Dorotéia", nas ruas da Vila Matias. O nome (N.E.: Dorotéia) teria sido inspirado em um personagem cômico de uma peça que na época estava em cartaz no Teatro Guarany.


Favoritas do Sultão

Foto: Arquivo pessoal de J. Muniz Jr., publicada com a matéria

Corsos

Surgiram na década 20 e permaneceram até os anos 60. Um animado carnaval motorizado primeiro pelas ruas do centro e depois pela avenida da praia, com o desfile de carros abertos e enfeitados; dentro, foliões fantasiados lançavam serpentina e confetes nos outros carros.


Salão do Santos FC, 1952

Foto: Arquivo pessoal de J. Muniz Jr., publicada com a matéria

Bailes de salão e concursos de fantasia

Quem vê a escassez de bailes em salões nos dias de hoje mal acredita que já houve tempos em que essas festas pipocavam por tudo que era lado da cidade, dos grandes e tradicionais clubes até pequenos salões pelos bairros.  No passado, os bailes agitavam os salões do Parque Balneário Hotel, Miramar, Clube XV, Centro Espanhol, Coliseu, Humanitária e outros.

Alguns deles continuaram realizando bailes até a década de 80, quando a atração ainda abarrotava os clubes da cidade, como o Atlético, Santos, Portuguesa, Portuários, Caiçara, Regatas, Sírio etc. A cidade também sediava concursos de fantasias luxuosas nos salões do Parque Balneário, Internacional, Caiçara, atraindo estrelas das plumas e paetês como Evandro Castro Lima e Clóvis Bornay.


Bateria da X-9

Foto: Arquivo pessoal de J. Muniz Jr., publicada com a matéria

Personagens do samba e da folia

Dráusio da Cruz - estivador, começou no Novo Horizonte, foi para a Brasil e na década de 50 fundou a Império do Samba. Era considerado um grande baliza e mestre do samba, gostava de mandar e por isso decidiu montar seu próprio império, que brilhou na avenida na década de 60. Sua mãe, Tia Elvira, era a madrinha da Império.


Dráusio

Foto: Arquivo pessoal de J. Muniz Jr., publicada com a matéria


Dr. Henrique da Cunha Moreira - fundou a Sociedade Carnavalesca Santista em 1857, a primeira forma organizada de carnaval na cidade. Médico, gostava de fazer benemerências, mas nessa época não atendia ninguém para se dedicar integralmente à diversão.


Waldemar da Cunha

Foto: Arquivo pessoal de J. Muniz Jr., publicada com a matéria

Eterno Rei Momo - Waldemar Esteves da Cunha cumpriu o reinado mais longo do Brasil: de 1950 a 1991. Hoje está aposentado da folia.  O primeiro Rei Momo de Santos foi Eugênio de Almeida, o popular Tosca, em 1935. 

Cabo Roque - Eugênio Pedro Ramos, "O Condestável" viveu até quase 100 anos (faleceu na década de 90) e era cabo três vezes: cabo-verdiano por nascimento, cabo foguista da marinha mercante por profissão e cabo do samba. Casado com Tia Inês, o casal dedicou a vida à X-9, tirando até dinheiro do bolso para levar a escola para a avenida.
 


Daniel Feijoada

Foto: Arquivo pessoal de J. Muniz Jr., publicada com a matéria

 

Daniel Dias do Nascimento - o Daniel Feijoada, considerado o maior sambista que Santos já teve. Estivador, era baliza, passista, batuqueiro, porta-estandarte, compositor e partideiro, começando na Novo Horizonte e depois na Brasil.

Cabo Laurindo - o Diplomata do Samba. Estivador de profissão, fundador da X-9, Vitória e Brasil.

Tia Isaurinha - porta-bandeira da Brasil, casada com Vadico, estivador e integrante da  bateria, ambos fundadores da escola. A filha Sandra é a atual porta-bandeira.



Neth de Lima

Foto: Arquivo pessoal de J. Muniz Jr., publicada com a matéria

Neth de Lima - puxadora de samba, cantava sem microfone, espalhando a voz pela avenida. Era do grupo cantores de rua, que contavam só com a garganta para levar o samba, caso de Georgina, da Novo Horizonte, e Olívio Pereira, da Brasil.


Naum Caetano

Foto: Arquivo pessoal de J. Muniz Jr., publicada com a matéria

Naum Caetano da Silva - o Magnífico. Até hoje é tido como o melhor mestre-sala de Santos. Saiu dois anos como destaque na Império do Samba e outros 14 como mestre da X-9. Trabalhou na Cosipa e, depois, na Prefeitura de Santos.


Clydia

Foto: Arquivo pessoal de J. Muniz Jr., publicada com a matéria

Tias Clydia e Netta - no mundo do samba, tia é um título de nobreza para a mulher, assim como cabo indica posição elevada na hierarquia. As duas foram fundadoras do Rancho.

J. Muniz Jr - Marechal do Samba. Autor de livros, ritmista, passista, mestre-sala compositor, autor de enredo, cronista carnavalesco. Este ano está completando 60 carnavais.


J. Muniz Júnior

Foto: Arquivo pessoal de J. Muniz Jr., publicada com a matéria

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