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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CARNAVAL
Tempo de Carnaval (16)

Lembrando os antigos desfiles na avenida
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Em 23 de fevereiro de 2004, segunda-feira de Carnaval, o jornal santista A Tribuna publicou este artigo, último de uma série de dois:
 

Regatas Santista, em 1972: Carnaval da época significava uma importante manifestação popular
Foto: reprodução, publicada com a matéria

CARNAVAL
Impactos do fim da folia

Especialistas apontam a importância do resgate do significado cultural dos festejos para impulsionar o comércio e o turismo

Fabiana Honorato
Da Reportagem

Columbinas, pierrôs, melindrosas e arlequins. Desconhecidas pelos mais novos, estas palavras imperavam nos festejos de Momo do passado, assim como outras práticas hoje em desuso. Capítulo importante da cultura popular brasileira, o Carnaval se transformou ao longo dos tempos, incorporando novos hábitos e ritmos à festa. Mas, até que ponto os reflexos destas mudanças interferem na autenticidade do evento enquanto manifestação do povo?

Para a jornalista e professora da Universidade Católica de Santos (Unisantos), Benalva da Silva Vitório, a mídia e a tecnologia transformaram o festejo em um evento homogêneo e mercantilista. "O Carnaval passou de um rito de celebração e de alegria do povo para um espetáculo de sugestão estética".

Integrando a equipe do Programa de Avaliação Institucional da Unisantos, a estudiosa analisou que esta festa é vista agora no Brasil mais como um filão comercial do que cultural.

A transformação no segmento é natural, conforme Benalva, mas, no entanto, com este novo perfil do evento veio também a violência nos grandes centros urbanos, afugentando os foliões. "As pessoas se trancam com medo do espaço público, que se tornou violento. Cabe às autoridades zelar pela segurança. Não adianta um batalhão de policiais para controlar uma manifestação popular".

Citando o Carnaval de Salvador como uma festa que ainda mantém a espontaneidade, a professora destacou o forte vínculo entre a cultura baiana e este festejo, que mantém vivas suas raízes mesmo com a influência mercantilista. "No Sul e no Sudeste o Carnaval deixou de ser uma manifestação da cultura e de suas raízes e passou a ser uma festa para vender o produto da alegria".

A pesquisadora analisou, há quatro anos, a imagem do País na imprensa portuguesa durante o Carnaval, e garantiu que falta conhecimento sobre o peso desta manifestação popular e seu real significado.

Segundo ela, o Poder Público deveria encarar este festejo com um olhar educacional, entendendo a importância de explicar nas escolas o que é o Carnaval. "Para recuperar o brilho desta festa é preciso conhecer seu significado, analisar os sambas-enredo e adereços, que são verdadeiras aulas sobre a nossa cultura".

Transformação

"O Carnaval passou de um rito de celebração e de alegria do povo para um espetáculo de sugestão estética"

Benalva da Silva Vitório
Jornalista e professora da UniSantos

Produto - Aproveitar a tradição da Cidade, celeiro do samba, para transformar o Carnaval em um produto turístico. Este é um dos caminhos para a retomada desta atividade, na opinião do professor e coordenador de Projetos de Desenvolvimento do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), Alexandre Nunes Affonso. "Este enfraquecimento teve um impacto direto na atração do turismo, que vive de pessoas que procuram o agito tradicional desta época".

Além da falta de opções no Carnaval santista, ele vê o amadorismo presente nas escolas como um fator negativo para que o evento não tenha o mesmo gigantismo presenciado em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Para mudar este cenário, o especialista citou como fundamental a união entre os representantes das agremiações e a criação de uma identidade própria para o turismo em Santos. "Qual a imagem que queremos passar? As pessoas vinham para a Cidade buscando diversão, a praia, mas também alternativas para aproveitar o Carnaval".

Carnaval santista chegou a ser o segundo melhor do País e foi realizado pela última vez em 2000
Foto: Irandy Ribas, em 7 de março de 2000, publicada com a matéria

Historiadora defende parcerias com universidades

Para não morrer no barracão das agremiações santistas, o desfile das escolas de samba de Santos, que já rendeu à Cidade o título de segundo melhor Carnaval do País, precisa de um minucioso planejamento feito por profissionais de diversas áreas.

A conclusão da professora de História e coordenadora do Centro de Estudos Folclóricos da UniSantos, Yza Fava de Oliveira, resume o que pensam os vários agentes envolvidos nesta festa. "É um evento dispendioso e é necessário organizar com antecedência a realização deste festejo".

Ela sugere que os dirigentes de escolas de samba façam parcerias com as universidades da região, a fim de contarem com os profissionais ligados à Economia, Administração, Turismo e outros segmentos.

Com o auxílio destes especialistas, o Carnaval seria esboçado num planejamento financeiro e global que definiria local do desfile, quantas escolas participariam, quantos foliões e demais detalhes.

A professora explica que, de posse deste levantamento, que deveria ser feito em conjunto com todas as agremiações, os dirigentes poderiam "vender" o evento ao poder público e, principalmente, a empresários.

"No Rio de Janeiro, as escolas recebem apoio do poder público e do empresariado e, mesmo assim, têm sérios problemas financeiros. Acho que, se o Carnaval fosse planejado e bem organizado na Cidade, o desfile ficaria muito mais interessante".

Lembrando que esta preparação em conjunto poderia resultar num evento metropolitano, Yza considera a idéia viável desde que trabalhada com seriedade. "Isto não acabaria com o segredo dos barracões, do samba-enredo, a magia seria a mesma, assim como a competição. Só a organização seria feita em grupo".

Sobre as influências que transformaram a cara do Carnaval santista, a estudiosa analisa que a cultura é dinâmica e evolui com as pessoas, mas destaca que todas as manifestações podem conviver em harmonia. "Esta evolução é natural, a cultura não é estática. Temos que preservar a tradição deste festejo, mas é impossível não se deixar influenciar pelo que acontece no segmento".

Centro - Um acervo permanente com mais de mil peças, incluindo as relacionadas ao Carnaval, é mantido no Centro de Estudos Folclóricos da UniSantos. O material, que inclui discos, livros e vídeos sobre o assunto, pode ser consultado de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 11h30 e das 14h30 às 17h30, na Rua Piauí, 48, Campus Pompéia.

Dias que antecediam os desfiles tinham clima de euforia
Foto: Sílvio Luiz, em 8 de março de 2000, publicada com a matéria

Enfraquecimento do evento prejudica turismo e comércio

Além da lacuna no aspecto cultural da Cidade, berço de sambistas ilustres que foram "exportados" para outros municípios, o enfraquecimento deste festejo em Santos também é visto com pesar por comerciantes e donos de hotéis da região.

Às vésperas do Carnaval, o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Baixada Santista e Vale do Ribeira, Salvador Gonçalves, amargava a lotação parcial de um de seus hotéis, o Ilha Porchat. "O desfile das escolas de samba era, sem dúvida, um atrativo para os turistas, que procuram opções para os dias de folia. Sem esta alternativa, ele pensa duas vezes antes de vir para a Cidade".

Segundo ele, a falta de entendimento entre as escolas de samba e poder público, aliada à polêmica quanto ao local para a realização do desfile em Santos, resultou em perdas para todos os segmentos que lucravam no Carnaval.

Enquanto os festejos de Momo têm seu brilho ofuscado, Gonçalves acredita que muitos moradores de Santos procuram em outras cidades as opções de folia enfraquecidas aqui. "Seria ótimo a volta dos desfiles, que movimentaria a região e chamaria turistas e habitantes. Todos ganhariam com este evento. Desta forma só estamos vendo uma diminuição de pessoas na Cidade durante o Carnaval".

 

Desfile das escolas era um atrativo para turistas

 

Perfil - Decadência é o termo usado pelo presidente do Sindicato do Comércio Varejista da Baixada Santista, Alberto Weberman, para definir o Carnaval santista nos dias de hoje. Assim como outros que analisam a questão, ele aponta a falta de profissionalismo na realização da festa e lamenta a evasão de moradores nestes dias.

"Muitos vão para o Interior e os que poderiam vir não se sentem atraídos. Acho que as autoridades não viram o peso que este festejo tem para o turismo e comércio da Cidade".

Segundo Weberman, o Carnaval santista poderia se transformar no perfil turístico de Santos, a exemplo de outras cidades, se contasse com uma organização profissional para angariar investidores de peso. "Sempre defendi esta idéia e acho que esta medida traria muitos empresários para investir nas escolas de samba e, conseqüentemente, mais pessoas para Santos".

Bento: SP passou na frente
Foto: Carlos Marques, publicada com a matéria

Folião lamenta ausência de desfile na Cidade

As fotos, diplomas e vestimentas guardadas com carinho pelo aposentado José Eduardo Bento, de 55 anos, são as recordações materiais dos carnavais embalados pelos desfiles da União Imperial. Hoje, quatro anos após a realização da última apresentação, estes artigos têm um valor sentimental igualado apenas à lembrança dos dias de folia.

Morador da Aparecida, Edu, como é conhecido, nasceu no Marapé e viu a fundação da agremiação ser batizada pela mãe, Elizabeth Chagas, a Tia Iza. É com saudade que o sambista recorda dos dias que antecediam os desfiles e do clima presente na Cidade naquela época. "Trabalhava nas Docas e voltava correndo para o barracão. Tínhamos tantas coisas para preparar e não podíamos deixar vazar informações sobre nossa apresentação".

O ex-presidente do Conselho da agremiação não culpa a Administração pela ausência dos desfiles, mas acredita que faltou união entre os sambistas. "As escolas não se aperfeiçoaram, acreditando neste título de segundo melhor Carnaval do Brasil. Vivemos do passado e São Paulo já passou à nossa frente".

Para não ver a data passar em branco, Edu se reúne com a família na casa da sogra para assistir a transmissão dos desfiles do Rio de Janeiro e da Capital. Quando pode, sobe a Serra para apreciar o espetáculo, mas ainda espera voltar a sambar em solo santista. "Recuperar esta tradição é difícil, mas não impossível".

Memória

Embora seja conhecido como o País do Carnaval, não foi no Brasil que os festejos de Momo começaram. Há cerca de 10 mil anos, homens, mulheres e crianças se fantasiavam para comemorar boas colheitas. Festas parecidas também foram costumes de egípcios, hebreus e romanos. A tradição permaneceu e tornou-se popular na Idade Média, sendo introduzida no País pelos portugueses. Por volta de 1650, apareceram os primeiros entrudos, batalhas de rua entre os foliões, proibidos em 1853 em razão da violência.

Com a passagem destes festejos para os salões e teatros, surgiram os produtos típicos do Carnaval, como confetes, lança-perfume e outros. O corso, desfile de carros enfeitados pelas avenidas das cidades, passou a ser o destaque da festa no começo do século passado, quando também surgiram os cordões, blocos, choros e ranchos. Em 1940 despontaram as primeiras escolas de samba da Cidade e em 1954 foi realizado o primeiro concurso entre as escolas.