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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - VISITANTES
Reis da Bélgica, em 1920 (B)

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Logo após a Primeira Guerra Mundial, os reis da Bélgica estiveram em visita ao Brasil, e Santos foi incluída no passeio real, como registrou então o jornal santista A Tribuna, que na edição de 13 de outubro de 1920, uma quarta-feira, prosseguia no relato, na primeira página (ortografia atualizada nesta transcrição):

 


Imagem: reprodução da primeira página do jornal santista A Tribuna, em 13/10/1920

SS.MM. OS REIS DA BÉLGICA

Santos, no meio de indescritível alegria, recebeu ontem a honrosa visita dos soberanos belgas

O almoço no Parque Balneário - Visita aos armazéns da Comp. Docas e belgas - O trajeto pelas ruas da cidade - O embarque na gare da São Paulo Railway

 

A chegada a S. Paulo - O embarque para o Rio - Outras notas

 

Não cabe, nos estreitos limites de umas linhas de noticiário, nem na fria palidez de uns períodos, a descrição do que foi, ontem, a grandiosa e imponente recepção dos reis belgas nesta cidade.

 

O entusiasmo do povo não conheceu barreiras nem se preocupou com as exigências protocolares.

 

Desde cedo, os bondes, os automóveis, numa pressa movimentada, carreavam para os pontos extremos da cidade bairros inteiros de população, já num remir de ânsia, já num curioso acelerado de expectativa.

 

A recepção feita ontem aos heróicos soberanos dos belgas ultrapassou, em entusiasmo e sinceridade, a qualquer outra que se tenha feito em Santos.

 

É o que, no coração de cada habitante desta cidade, desde o mais humilde ao de mais alta representação social, palpitava, de há muito, um radicado amor por esses simpáticos e singelos soberanos, que, mais do que quaisquer outros soberanos do mundo, souberam impor-se, com a serenidade do seu heroísmo e a grandeza da sua abnegação, à estima e ao respeito dos povos civilizados.

 

É que esses monarcas, na singeleza das suas ações, no desprendimento dos seus gestos, realizam, para o espírito popular, a encarnação suprema dos reis lendários, quase que santidades, sagrados por Deus para governar os homens, mas não no reinado efêmero que se restringe à linha ponteada das fronteiras, e sim no reinado eterno que se profunda nos corações, deitando raízes para todo o sempre.

 

Rápida foi a visita. Poucas horas, apenas. Tão somente um ligeiro atravessar de ruas rumorejantes, praças repletas, uma enfiada longa de carruagens - e por toda a parte, por todo o canto, delírios da multidão, palmas e aplausos.

 

Todo esse burburinho, esse agitar de vida intensa, essa marulhante aglomeração - há de ter gravado no espírito de ss. mm. uma impressão grata, por certo, de Santos e da larga extensão do nosso entreposto comercial.

 

Não foi possível aos reais visitantes, na pressa da sua visita, conhecer melhor a nossa cidade, mas o que é inegável é que jamais a honra desta rápida estadia será esquecida por nenhum santista, que a recordará sempre com carinho do mais fundo d'alma.

 

Sincero no seu vibrante entusiasmo, o povo de Santos saberá guardar a lembrança da visita de ontem como uma homenagem ao seu progresso e ao seu amor pela civilização, e, mais que tudo, como um reconhecimento à dedicação com que sempre acompanhou, em todos os transes, os destinos da Heróica Bélgica.

 

A partida da comitiva real - A partida deu-se às 9,30 horas, do Palacete Carvalho, onde estão hospedados os soberanos belgas, em vários automóveis oficiais.

 

No primeiro auto tomaram lugares s. m. a rainha Elisabeth, a consulesa da Bélgica em São Paulo e o sr. dr. Wolf; no segundo, vinham s. m. o rei Alberto, dr. Washington Luís, presidente do Estado, e s. a. r. o príncipe Leopoldo. Ao terceiro auto viajavam a condessa Caraman Chimay, dama de honor de s. m. a rainha; coronel Tilkens, ajudante de campo do rei, e capitão Herculano de Carvalho, ajudante de ordens do sr. presidente do Estado; o quarto automóvel era ocupado pelo professor Salorea, conde Plee e barão de Osofinée.

 

Nos demais automóveis viajavam o conde D'Oultremont, major Dujardin, professor dr. Adolph Lutz, Charles Le Viannois, cônsul geral da Bélgica em S. Paulo; comandante Ghilhem, tenente Krasignol, dr. Robert Schneidauer, ministro da Bélgica; tenente-coronel Eduardo Lejeune, oficial às ordens de s. m. o rei; capitão Azarias de Góes Vasconcellos, comandante Nóbrega Moreira, dr. Sá Pinto, representantes da imprensa paulistana e jornalistas belgas que acompanham ss. mm.

 

Assim disposto o séqüito, os itinerantes tomaram o Caminho do Mar, apreciando os belos trechos da estrada construída sob a direção do dr. Rudge Ramos.

 

Em vários trechos da estrada uma espessa neblina anuviava a paisagem; entretanto, os régios excursionistas admiraram a natureza verdejante e fértil, principalmente na descida da serra, cujo panorama que descortinaram lhes causou excelente impressão.

 

A viagem decorreu sem o menor incidente e foi feita em condições magníficas, pois a leve garoa que caiu em toda a extensão umedeceu o solo, não havendo levantamento de poeira no curso dos autos.

 

A chegada - A recepção fora da cidade - O entusiasmo popular - O amanhecer,  em Santos, prometia mau tempo. Céu fechado, nuvens pesadas e plúmbeas passando lentas, numa promessa próxima de chuva, pressagiava a recepção tolhida do primordial elemento popular que é o que, por assim dizer, emoldura e dá maior realce às manifestações oficiais, rígidas e frias por sua própria natureza.

 

Mesmo assim, com essa incerteza de tempo, os bondes trafegavam ajoujados de povo, os automóveis corriam céleres, levando gente ao seu destino, e as ruas assumiam, assim, um ar de festa, embandeiravam-se as frontarias, e de todas as janelas se debruçavam cabeças femininas curiosas, como belos buquês que se oferecessem.

 

No centro, as ruas principais regurgitavam de povo e nos passeios era já difícil o trânsito.

 

Quando se anunciou a chegada dos soberanos belgas, um frêmito de entusiasmo correu rápido por toda a parte, num indescritível movimento de curiosidade e anseio.

 

E foi assim, por entre alas compactas de multidão que se premiam de encontro aos carros, que o préstito real desfilou sob um reboar de palmas, sob uma chuva colorida de flores atiradas às braçadas.

 

Cerca das 11 horas, o sr. prefeito municipal recebia comunicação telefônica do Cubatão de que a comitiva real passava por aquele bairro.

 

Imediatamente o governador da cidade, que se achava no Paço Municipal, seguiu em automóvel para a entrada da cidade, em companhia do sr. dr. B. de Moura Ribeiro, S. Azevedo Júnior, presidente da Associação Comercial; comendador João Manoel Alfaya Rodrigues, vice-presidente da Câmara; Alfredo Freire e dr. José de Souza Dantas, 1º e 2º secretários.

 

Logo depois chegavam ao mesmo local o sr. Júlio Doneux, vice-cônsul da Bélgica nesta cidade, e sua exma. esposa.

 

Daí a momentos, os automóveis conduzindo ss. mm. pararam, sendo então feitas as apresentações das autoridades pelo sr. dr. Washington Luiz.

 

Trocados os cumprimentos, o sr. presidente da Câmara ofereceu, então, a sua majestade a rainha, uma riquíssima palma, adornada com fitas de cores nacionais e belgas; o sr. prefeito municipal ofertou à condessa Caraman um rico buquê, e o sr. dr. Souza Dantas também, à consulesa a Bélgica, outro buquê, com fitas daquelas cores.

 

A seguir, a comitiva real prosseguiu, recebendo, ao passar na praça do Saboó, as continências de um piquete de cavalaria, postado em linha, sob o comando do 2º tenente Salvador Pires.

 

O cortejo até o Parque Balneário Hotel - O cortejo obedeceu ao seguinte itinerário:

 

Rua S. Leopoldo, Travessa Comendador João Cardoso, ruas Marquês do Herval, S. Bento, Santo Antonio, 15 de Novembro, Praça Barão do Rio Branco, Praça da República, volta pela mesma praça até a Rua Senador Feijó, Rua Rangel Pestana, Avenida Ana Costa, Parque Balneário Hotel.

 

Na Rua Santo Antonio a aglomeração popular era de tal forma enorme, que a passagem dos veículos não foi feita com facilidade. Se bem que desde a entrada de ss. mm. na cidade grande massa popular se estendia ao longo das ruas, aquele ponto apresentava maior número de pessoas e a maioria era constituída de finos elementos da nossa elite.

 

Na calçada da Bolsa Oficial de Café achava-se postada a esplêndida banda de música da Sociedade Colonial Portuguesa, que, gentilmente, aderiu à recepção.

 

À passagem dos soberanos belgas por ali, reboou frenética salva de palmas, ao mesmo tempo que a banda executava os hinos Nacional e Belga.

 

A Rua 15 de Novembro estava, também, repleta de povo, que aplaudia os soberanos belgas, atirando-lhes centenas de flores despetaladas, cuja manifestação de júbilo do povo santista era agradecida pelos reis com um simpático sorriso.

 

Além da Praça Barão do Rio Branco, achava-se a luzida companhia do Tiro 11, formada em linha.

 

Antes de cruzar o Tiro, este apresentou armas, executando a esplêndida banda a marcha batida.

 

O povo, que se achava também aglomerado nessa praça, secundou com intensidade os aplausos, atirando sempre flores e finas folhagens.

 

Daí seguiu o séqüito pela Rua Senador Feijó, e ao chegar à Avenida Ana Costa, defronte à Praça Belmiro Ribeiro, a afinada banda da Sociedade União Portuguesa, também gentilmente cedida, executou os hinos Nacional e Belga.

 

A Avenida Ana Costa, apesar da chuva que ameaçava cair, estava animada, vendo-se em vários pontos distintas famílias que aplaudiam os soberanos à sua passagem.

 

A chegada ao Parque Balneário - Era extraordinária a concorrência nesse aprazível ponto da nossa cidade.

 

Grande massa popular comprimia-se na avenida, a qual era contida por um cordão de soldados. À entrada dos automóveis reais, o garboso Tiro Naval, ao som da marcha batida, e sob o comando do 1º tenente da Armada, Arthur Durão, apresentou armas a ss. mm., que passaram entre essa companhia e a Escola de Comércio José Bonifácio, sob o comando do sargento instrutor Waldemar Rocha.

 

Graciosas senhoritas do escol santense formavam alas, cobrindo o automóvel, em que viajava a rainha, de inúmeras pétalas. Defronte à entrada principal do salão nobre do hotel achava-se a banda de música do Corpo Municipal de Bombeiros.

 

Ss. mm. e comitiva saltaram dos respectivos automóveis ao som da Brabançonne, cantada pelos alunos da Escola de Comércio José Bonifácio, em número de 200. Todos os alunos com o uniforme da escola e bandeiras brasileiras, paulistas e belgas, atiravam ao mesmo tempo flores em profusão.

 

A menor das alunas, Glorinha Dias, da seção Jardim da Infância, ofertou, em nome da Escola de Comércio, um belo ramalhete de flores naturais a s. m. a rainha, que, agradecendo, beijou a linda criança.

 

Os soberanos belgas subiram a escadaria, sob uma delirante ovação da enorme e fina assistência que, compacta, se comprimia no terraço do hotel, não se cansando de vivar com frenesi os augustos soberanos, visivelmente comovidos ante aquela espontânea manifestação do povo de Santos.

 

Introduzidos num apartamento especialmente reservado para um ligeiro toalete, o povo esperava, ansioso, a saída de ss.mm., e continuava vivando incessantemente os régios visitantes.

 

Após, no salão dos fundos do hotel, estando os soberanos belgas ladeados pelos srs. drs. Washington Luís e Moura Ribeiro, foram feitas as apresentações das principais autoridades municipais a ss. mm.

 

Depois do que, no salão principal, teve lugar...

 

O almoço - Pouco antes das 13 horas ss. mm. davam entrada no salão de banquetes, que se achava ornamentado com muito gosto artístico.

 

Ao redor, uma cercadura verdejante dava volta ao salão, deixando entrada nos cantos e servindo de contraste ao garrido de cores do centro, onde se via uma grande estrela torneando um tufo de verdura. A estrela encerrava, de um lado, as cores constitucionais da nossa bandeira e, do outro, as cores belgas. Ao centro, um repuxo.

 

A colocação de mesas obedeceu ao seguinte critério: ao fundo, de frente para todo o salão, a mesa principal. Ladeavam-na, da esquerda e da direita, duas outras, que ram seguidas das demais. Todas elas estavam lindamente ornamentadas de flores naturais, com lindos ramalhetes vistosos ao centro, tendo a rodeá-las grossos liames entrelaçados.

 

À mesa principal tomaram assento ss. mm., o rei e a rainha, dando a direita ao sr. Washington Luís, presidente do Estado; condessa Caraman Chimay, e dr. Moura Ribeiro, presidente da Câmara Municipal, e a esquerda ao príncipe Leopoldo, consulesa da Bélgica em S. Paulo, Roberto Schneidauer, ministro belga no Brasil, e coronel Joaquim Montenegro, prefeito municipal.

 

Nas demais mesas ocuparam lugares os srs.:

 

Coronel Tilkens, ajudante de campo do rei; conde D'Oultremont, major Dujardin, professor dr. Adolpho Lutz, dr. Nolf, comandante Plee, professor Saloréa, Charles Le Vinnois, cônsul geral da Bélgica em S. Paulo; comandante Guillaume, tenente Krasignol, tenente-coronel Lejeune, comandante Nóbrega Moreira, dr. Sá Pinto, capitão Herculano de Carvalho, capitão Azarias Vasconcellos, A. S. Azevedo Júnior, deputado estadual; dr. F. Paula e Silva, juiz de direito da 1ª vara; dr. Mário Pires, juiz da vara criminal; dr. Ibrahim Nobre, delegado regional; Charles Murray, diretor da Associação Comercial; Wallace Simonsen, vice-presidente da Bolsa de Café, em exercício; deputado dr. Bias Bueno, procurador judicial da Municipalidade; dr. José de Souza Dantas, dr. Heitor de Moraes, coronel Azevedo Sodré, João Gonçalves Moreira, Benedicto Pinheiro, comendador Alfaya Rodrigues e Alfredo Freire, vereadores; capitão João Salermo, diretor da Secretaria da Câmara; Amando Stockler, diretor geral da Prefeitura; dr. Ulrico Mursa, engenheiro da Companhia Docas; Antoine Pieraerts, diretor dos Armazéns Belgas; capitão Pedroso de Oliveira, comandante do destacamento local; Júlio Doneux, vice-cônsul da Bélgica; P. Barida, vice-cônsul da França; d. Francisco José Castro, cônsul do Uruguai; conde Ottávio Glória, vice-cônsul da Noruega; Oscar Lundqvist, vice-cônsul da Suécia; Manuel Augusto Oliveira Alfaya, cônsul do Paraguai; tenente-coronel Pacheco de Assis, chefe da Comissão de Defesa do Porto de Santos; capitão-de-mar-e-guerra Wenceslau Caldas, capitão do porto; capitão-de-corveta Oscar de Assis Pacheco, comandante da Escola de Aprendizes Marinheiros; M. Nascimento Júnior, diretor d'A Tribuna; dr. Nilo Costa, diretor do Commercio de Santos; Eduardo Benjamim Veriot, pela Câmara Sindical dos Corretores de Fundos Públicos; dr. J. Carvalhal Filho, sub-procurador fiscal do Estado; Francisco Paíno, 1º oficial da presidência da Câmara; dr. Albertino Moreira, d'O Correio Paulistano; Armando Canoigia, pelo Jornal da Noite; e representantes da imprensa paulistana.

 

Foi servido o seguinte menu:

Barquettes a la Brabant

Robalo a la Brasiliènne

Mignonette de dinde Royale

Betillouys d'asperges Anversolac

Chatteaubriand a la Valois

Omelette di surprise

Fruits rafraichis

Durante o almoço, foi servido champanhe.

 

Uma orquestra executou o seguinte programa:

1 - Marcha - Liége

2 - Serenate - Nidor

3 - Symphonie - Guarany

4 - Fantasie - Manon de Massenet

5 - Intermezzo - Thais Meditation

6 - Valse - Dachesse du Bal Tabarin.

7 - A Defeza do Brasil

 

Animada palestra se estabeleceu entre os comensais, reinando o maior entusiasmo e alegria.

 

Ao dessert, o sr. coronel Joaquim Montenegro, prefeito municipal, proferiu a seguinte saudação:

 

"Majestades e Alteza:

 

"Não tenho palavras com que possa significar a alegria e o orgulho com que esta cidade recebe a visita de vossas majestades e alteza real, soberanos de um povo cuja história é um poema de heroísmo e nobreza, soberanos também dos corações que pulsam pelo ideal sublime da Liberdade!

 

"A cidade de Santos agradece a vossas majestades e alteza real a honrosa distinção que lhe conferistes, e, pela minha palavra, saúda, com comovido respeito e admiração, a Rainha excelsa, modelo de todas as virtudes, e o Rei-soldado do dever, personificação gloriosa da bravura e da honra!".

 

Ao terminar, s.s. foi vivamente aplaudido.

 

S. m. o rei Alberto levantou-se e agradeceu ao governador da cidade as palavras carinhosas que lhe dirigiu; disse receber a manifestação do povo e das autoridades de Santos com desvanecimento, e fez os melhores votos para que o progresso desta futurosa cidade mais se acentue para grandeza do Estado de S. Paulo.

 

Uma prolongada salva de palmas sufocou as últimas palavras do soberano belga.

 

O regresso do hotel do Parque - Terminado o almoço ss. mm. prepararam-se para sair, recebendo à sua passagem as mesmas eloqüentes manifestações de carinho.

 

Tomando lugar nos automóveis, a comitiva saiu pelo portão da Avenida Ana Costa, tendo o Tiro Naval e a companhia da Escola de Comércio prestado a ss. mm. as devidas continências.

 

Os régios hóspedes percorreram a nossa bela praia até o José Menino, ficando admirados pela sua natureza, não ocultando a excelente impressão que aquele logradouro causou em seu espírito.

 

Nas docas - Regressando, a comitiva tomou a Avenida Conselheiro Nébias, até a Rua do Rosário. Desta rua o cortejo subiu até o cais da Docas, dirigindo-se para o Frigorífico. Nessa ocasião, todas as máquinas e embarcações da Companhia apitaram incessantemente.

 

Em seguida, tendo à frente, em automóvel, o sr. dr. Ulrico Mursa, o séqüito penetrou no cais, nos Outeirinhos, e, pela parte interna, seguiu até à Guardamoria da Alfândega. Aí, ss. mm. contornaram o edifício da Alfândega, reentrando depois na faixa do cais, seguindo por ela até o Valongo.

 

Durante o extenso trajeto ss. mm. apreciaram o grande movimento do nosso porto, pela quantidade de navios de várias nacionalidades atracados e de materiais que se avolumam indefinidamente em toda a sua plenitude.

 

A impressão colhida foi ótima e os soberanos tiveram palavras elogiosas ao progresso e desenvolvimento do nosso porto.

 

Saindo pelo portão principal, os régios visitantes dirigiram-se aos...

 

Grandes Armazéns Belgas - ... à Rua 11 de Junho, passando pela Rua Santo Antonio, Largo do Rosário, Frei Gaspar e Amador Bueno.

 

Grande massa popular, que aguardava a chegada dos hóspedes, prorrompeu em uníssonas aclamações.

 

Ss. mm. foram recebidas à entrada do armazém pelo sr. Antolue Pieruertes, diretor; major Arthur Alves Firmino, e inúmeras senhoras e senhoritas, com uma prolongada salva de palmas.

 

No salão do pavimento térreo achavam-se os retratos de ss. mm. cobertos de flores. Aí o sr. Pieruertes proferiu o seguinte discurso:

 

"Sire:

 

"Línsigne honneur de recevoir ce jour Votre Magesté nous est une nouvelle preuve de l'intense intêret que'Elle prend au développement des entreprises belges au Brésil.

 

"Qu'il me soit permis, Sire, de retracer en quelques mots l'existence de notre Cie. au Brésil.

 

"La Cie. des Mag. G'eux e Entr. Libres d'Anvers appartenant au groupe des Banques d'Anvers, Italo-Belge, Lloyd Royal Belge, Produce Warrants et autres, possesseur de vastes entrepots, a Anvers, avait de par son organisation des affinités pour le commerce des cafés lui faisant souhaiter son établissement dans les pays d'origine. Au moment ou la Belgique lui envahie, elle avait en dépot 300.000 sacs de café de l'Etat de S. Paulo.

 

"En Juin 1914, la Cie. signa un contrat avec l'Etat de Minas pour l'exploitation á Rio sous son contrôle et avec la grantie d'intérets de magasins publics.

 

"En 1917, la Cie. fut chargie á Rio par le gouv. de S. Paulo de classifier, recevoir et enmagasiner les cafés de la 2ª valorisation que cet État acheta á Rio en combinaisson avec l'Etat de Minas Geraes.

 

"A cette même époque, notre Cie. fut chargée par le Gouvt. François tant á Rio qui'á Santos de la reception, acconditionnement et embarquement des produits achetés par sa mission militaire.

 

"Notre établissement á Santos date de 1917 oú il a pris dés le premier pour une importance capitale.

 

"Nos quatre dipots ont une capacité d'enmagasinage de 400.000 sacs de café. Nos machines de milange préparent fournellement sacs pour l'exportation. Nos machines de nettoyage et assortiment peuvent travailler.

 

"Pendant l'exercice qui vient de finir nous reçumes en dipôt et aux fins de machination 950.000 sacs de café. En immenbles, machines et capital de roulement notre matrice a transféré 1.500 contos au Brésil.

 

"Et maintenant que la Belgique se reteve que son industrie reprend et cherche ses débouchés nous nons tournous vers la mere patrie, nous faisons connaitre notre existence certains que l'industriel belge trouvera en nous un intermediaire sur pour l'aider á gagner les marchés brésiliens par des consignations prudentes et logiquement reparties.

 

"Le titre d'Armazens belgas loin de nous servir d'une réclame, facile nous est un stimulant pour perséverer dans la voie que nous nons sommes tracér. Nous voulons que ce nom de Belgas que Vous Sire par votre héroique exemple que Madame la Reine par son angélique douceur que nos soldats de Liége á Yprés avez sanctifié, nous voulons que ce nom nous protége et nous guide dans le chemin du devoir et de l'honneur.

 

"Votre visite de ce jour nous récompense largement de l'efort fait et nous stimulera pour l'avenir.

 

"Recevez, Sire, au nom de la Cie., au nom de tous nos auxiliaires, au nom de nos cliens et amis ici réunis, l'expression de notre gratitude et emportez la pensée en Belgique qu'ici nos coeurs vous aiment et vous admirent".

 

O soberano belga, em ligeiras palavras, agradeceu as lisonjeiras palavras do diretor dos armazéns belgas, sendo bastante ovacionado ao terminar.

 

A seguir, a distinta comissão de senhoritas da nossa elite, que se achava presente, e a das respeitáveis senhoras santistas, promoveram a sua majestade, a rainha Elisabeth, uma tocante manifestação.

 

A graciosa senhorita Carminha Novaes, gentilíssima filha da exma. viúva Pinto Novaes, entregou à excelsa rainha um belíssimo estojo, dentro do qual se achava um artístico mimo, com um cartão contendo expressiva dedicatória.

 

Esse presente consiste numa turmalina em bruto, rodeada de mármore preto, a qual assenta sobre um pedestal da mesma pedra, finamente trabalhado. A doadora dessa jóia foi a distinta senhorita Julinha Aguiar.

 

Precedendo a entrega do mimo, a senhorita Carminha Novaes proferiu a seguinte saudação:

 

"Souveraine:

 

"En recevant l'inoubliable honneur de votre visite, que nous désirions de tout notre coeur, nous sommes hereuses de voir enfin parminous la plus sympathique des reines et le plus héroique des rois.

 

"Enfin nous pouvons vous saluer, comme nous le faisons, glorieuse compagne de l'homme presque surnaturel qui sui mettre son dévoir et son courage au dessus des formidables dangers qui menaçaient le monde.

 

"Vous avez, été certes, grande Reine, le courage de son courage, dans un moment historique singulier, oú la faiblesse et la peur de fléchir guéttaient même les ames, les mieux nées et les coeurs vailants et nobles. En vous associant sans tréve ni relache, á son oeuvre grandieuse, devant les soldats de votre patrie indomptable, dans les hôpitaux, dans les créches, partout ou il tallait un peu de douceur aux soufrances et un peu de baume moral aux pires douleurs, vous vous étés imposée á l'ádmiration de l'univers et, gardez-le bien dans votre fidéle mémoire, grande Reine, à notre infinie tendresse.

 

"Magesté. Nous saluons en vous et en vore époux magnanime toute la gloire et toute l'epopée de la Belgique éternelle!

 

"Les dames de Santos ont l'honneur de vous offrir ces fleurs et ce modeste souvenir".

 

Uma salva de palmas reboou.

 

S. m. a rainha, abrindo o estojo, exclamou com satisfação, agradecendo à gentil ofertante:

 

"C'est trés jolie, Merci beaucup."

 

Cercados pelo elevado numero de senhoras e senhoritas, os soberanos fizeram uma breve visita à seção de rebeneficiamento e reensacagem do café, recebendo ótima impressão.

 

Entre a aglomeração achava-se uma filhinha do sr. José Ribeiro Machado, fiel dos Armazéns. Ao passar por essa criança, a rainha Elisabeth, com bondade e ternura, fitou-a, dando-lhe um beijo.

 

Os soberanos estiveram, depois, no pavimento superior, onde receberam outras manifestações de veneração.

 

À saída, o povo movia-se com dificuldade, deslocando-se após a passagem do último veículo, quando o primeiro se achava já na Rua Santo Antonio.

 


Imagem: reprodução parcial da primeira página do jornal santista A Tribuna de 13/10/1920

 

Na gare da Inglesa - É indescritível o extraordinário movimento que se notava na Praça Monte Alegre e na gare. Esta apresentava um aspecto festivo pela ornamentação feita. Muitas bandeiras dos países aliados e festões enroscavam-se pelos postes.

 

O garboso Tiro n. 11 achava-se formado em linha sob o toldo da Inglesa, prestando à passagem de ss. mm. as devidas continências. Antes, em frente à Rua Santo Antonio, um piquete de cavalaria prestou também as mesmas continências. Os soberanos e comitiva penetraram na gare sob ruidosas palmas da avultada assistência, que vivava incessantemente ss. mm.

 

A banda do Corpo de Bombeiros, postada na plataforma, executou La Brabançonne e o Hino Nacional.

 

Súbito, a sineta soou anunciando a partida do comboio especial que era formado por cinco luxuosos e confortáveis vagões construídos pela S. P. R.

 

O povo, então, procurou aproximar-se do trem, aumentando cada vez mais o entusiasmo.

 

Ss. mm. e comitiva despediram-se das nossas autoridades, agradecendo ao mesmo tempo a brilhante e estupenda recepção que a cidade de Santos lhes preparou.

 

A partida do comboio - Às 16,10 horas a locomotiva silvou e o trem movimentou-se vagarosamente, sob uma fragorosa manifestação popular, que atingiu o auge do delírio.

 

E assim terminou a visita dos reis belgas a Santos, a qual veio assinalar um faustoso acontecimento, que ficará imperecivelmente registrado nos anais de sua vida.

 

Outras notas

 

Homenagem da Associação Feminina Santista à rainha - A Associação Feminina Santista, representada pelas exmas. sras. Robertina Cochrane Simonsen e Elisa Sodré de Affonseca, respectivamente presidente e vice-presidente, e pelas senhoritas Maria Thereza Castilho, Stella Campello, Beatriz Gomes e Leonor Rabello, alunas do Liceu Feminino, ofereceu a s. m. a rainha, por ocasião de sua partida, na gare, um belíssimo buquê de cravos.

 

A sta. Maria Castilho, ao oferecer esse buquê a s. m., disse as seguintes palavras:

 

"A votre magesté, la grande reine Elisabeth de Belgique, embleme de toutes les virtus femenines, a Associação Feminina Santista temvigne sa grande admiration pour son abnégation, son devouemente aux pauvres et aux blessés et sa belle et admirable vie de souveraine et mére de famille".

 

A rainha agradeceu comovida e deu a sua mão a beijar à gentil senhorita Castilho.

 

A visita ao Paço Municipal - Os soberanos belgas deixaram de visitar o Paço Municipal pelo fato de não terem visitado as Municipalidades do Rio, de Belo Horizonte e de S. Paulo, em cujas capitais estiveram.

 

Entretanto, se ss. mm. resolvessem o contrário, o governo do Município estaria em condições de receber a visita dos régios hóspedes, pela completa transformação interna por que passou ultimamente o seu edifício, aliás, indispensável e de absoluta necessidade, apresentando outro aspecto que não tinha.

 

Sobre a decoração das principais salas demos, há dias, notícia completa.

 

O fornecimento de mobiliário, tapeçaria, passadeiras e oleados, bem como o respectivo serviço, foi feito pela acreditada Casa Refinetti, desta praça, com muita proficiência e gosto.

 

A ornamentação do Parque - A esplêndida ornamentação do Parque Balneário Hotel foi feita pela conhecida Flora Santista, que mais uma vez demonstrou o seu gosto artístico em trabalhos da sua especialidade.

 

A primeira comissão de senhoritas - A primeira comissão de distintas senhoritas, organizada para a recepção dos soberanos belgas, desempenhou-se a contento da sua idéia.

 

Assim é que, à passagem do préstito real pela Rua S. Leopoldo, as senhoritas lançaram sobre a carruagem de ss. mm. inúmeras e finas flores despetaladas, cujo gesto foi recebido com especial agrado pelos visitantes.

 

A gentil senhorita Cypriano Lodeiro, que esteve à frente da Comissão, entregou a s. m., a rainha, um riquíssimo buquê de raras flores naturais, ao que a excelsa rainha agradeceu.

 

A atitude dessa comissão e da que se organizou posteriormente vêm refletir de modo eloqüente as gloriosas tradições de hospitalidade da terra santista.

 

Os tiros Naval e 11 - Causou a mais excelente impressão no espírito público a formatura realizada por estas duas disciplinadas e garbosas corporações, em homenagem aos soberanos belgas.

 

Ambas evoluíram com precisão, demonstrando a eficiência no preparo militar e a perfeita técnica de que dispõem, para maior orgulho dos santistas.

 

As bandas de música das sociedades Colonial e União Portuguesa - Também estas excelentes bandas de música, prestando o seu concurso na recepção, aumentaram ainda mais a simpatia que a nossa população lhes devotava, pelo realce que deram ao grande acontecimento de ontem.

 

Simpático gesto do sr. Leon Israel - O sr. cap. Achilles Israel, sócio de importante firma Leon Israel, Ltd., teve a gentileza de pôr à disposição do sr. governador da cidade um elegante coupé da marca "Cols", para o serviço dos reis belgas.

 

A firma Leon Israel Ltd. é a única representante, nesta cidade e em S. Paulo, dessa afamada marca de automóveis, de que pode dar uma bela idéia o lindo e sólido coupé de que se serviram ss. mm. na sua estada em nossa cidade.

 

A vitrine d'A Iluminadora - Os nossos augustos hóspedes, ao passarem ontem pela Rua Frei Gaspar, defronte à vitrine da casa A Iluminadora, voltaram a sua atenção para a bela alegoria, onde, num artístico conjunto, se vêem os retratos de ss. mm. sobre o fundo da nossa bandeira e do pavilhão belga.

 

Ali estão expostos, também, alguns troféus de guerra, conquistados pelos valorosos soldados da grande "Entente", durante a luta.

 

Essa exposição permanecerá por mais alguns dias, a fim de que todos a possam admirar.

 

- Finalmente, para encerrar esta notícia, cumpre relevar que não obstante o grande entusiasmo popular em satisfazer a sua curiosidade de ver os reis dos belgas e de ser incontido na sua estrondosa manifestação, tudo correu na mais perfeita ordem, não se registrando o menor incidente que viesse empanar o brilho da recepção.

 

A chegada de ss. mm. a São Paulo - O jantar dos soberanos - Após a chegada de Santos, ss. mm. se recolheram ligeiramente aos seus aposentos, descendo, entretanto, pouco depois.

 

Às 20 horas, os soberanos belgas, com sua comitiva e convidados, sentavam-se à mesa para jantar.

 

Ss. mm. conversavam alegremente, denotando excelente bom humor. Durante os momentos em que estiveram à mesa, manteve-se animada conversa, tendo manifestado os reais hóspedes, às pessoas presentes, a magnífica impressão que levavam de S. Paulo, mostrando-se extremamente sensibilizados pelas manifestações que pouco antes receberam do povo santista.

 

S. m. o rei conversou longamente com o dr. Antonio Prado, mostrando-se interessado pelas relações mantidas pelo seu augusto tio, o rei Leopoldo II, com os antigos titulares brasileiros. Teve ocasião de referir-se ao príncipe Chimay, ascendente da condessa Caraman Chimay, dama de honor da rainha Elisabeth e que, como alto dignitário do reino, havia transmitido ao dr. Antonio Prado a condecoração com que o distinguira há tempos o rei Leopoldo II.

 

S. m. indagou do conselheiro Antonio Prado as últimas notícias sobre a Bélgica, pois o conselheiro chegou hoje daquele país.

 

A rainha e a condessa Caraman Chimay conversaram alegremente com os outros convidados, falando com emoção e ternura das lindas manifestações recebidas em Santos, no Rio e em todo o Estado de São Paulo.

 

No cardápio que foi servido constou um prato nacional: lombinho branco à mineira.

 

Durante o jantar, a orquestra Tziganos, que tem tocado na Chácara Carvalho, sob a direção do maestro brasileiro Leal, executou lindo programa.

 

Terminado o jantar, o conselheiro Antonio Prado e demais convidados despediram-se de ss. mm., deixando a Chácara Carvalho.

 

Pouco depois chegavam os drs. Washington Luís e Firmiano Pinto e sras., além de outras altas autoridades, a fim de acompanhar ss. mm. à estação.

 

Ss. mm. deixaram a Chácara Carvalho às 21,20 horas, saindo de automóvel, assim como os outros convidados.

 

À saída da Chácara, a multidão que se postara nas imediações aclamou o rei e a rainha, aclamações essas a que o rei respondia com leves inclinações de cabeça, a rainha com sorrisos e o príncipe com continências.

 

A partida de ss. mm. para o Rio - No comboio real da Central, que saiu da estação da Luz às 21,45 horas, seguiram para o Rio, de onde embarcarão para a Bélgica, ss. mm. os soberanos belgas, o príncipe Leopoldo e comitiva.

 

Apesar da chuva que caía àquela hora, enorme multidão se acotovelava na Rua José Paulino, sendo, a custo, mantida pela polícia.

 

Se um belo espetáculo apresentava a Rua José Paulino, onde, além da multidão, se achavam formados o 4º batalhão de caçadores, sob o comando do coronel Martim Cruz, e a terceira bateria do 4º regimento de artilharia montada, não menos encantador era o aspecto do hall da estação da Luz, onde se achavam reunidas distintas famílias da nossa melhor sociedade, formando compacta massa atrás dos soldados encarregados do policiamento dos festejos.

 

Emprestando ainda maior brilho à despedida de ss. mm., muitas senhoritas, que tomavam parte em uma quermesse que se realizava no Jardim da Luz, compareceram garridamente vestidas com cores das bandeiras de diversos países, notadamente do Brasil e da Bélgica.

 

Pouco depois das 21,30 horas, o cortejo real chegou em frente à estação, sendo recebido sob vivas e aclamações da multidão e ao som de hinos, executados pela banda do 4º batalhão de caçadores.

 

Vinham nos dois primeiros automóveis, que eram escoltados por um piquete de cavalaria, s. m. o rei Alberto, dr. Washington Luís, presidente do Estado; príncipe Leopoldo, s. m. a rainha Elisabeth, madame Washington Luís e a condessa Caraman Chimay, dama de honor da rainha.

 

Ao penetrarem os régios hóspedes na estação da Luz, uma entusiástica salva de palmas e vivas acolheu ss. mm., enquanto uma chuva de flores caía sobre os régios e queridos visitantes.

 

Nesse momento, o hall da estação da Luz apresentava um lindíssimo aspecto, realçado pelo extraordinário entusiasmo entre os presentes, que aplaudiam e aclamavam os augustos hóspedes.

 

No meio de vibrantes vivas, as jovens Catominha Rangel, Noemia e Olga Amaral Barreto, Eunice Ferreira, Odilia, Elvira e Rosa Adda, Olga, Annita e Clara Peragallo, Antonieta e Elvira Ambrosio e outras gentis senhoritas, trajando elegantes vestidos com as cores da bandeira belga, ofereciam à rainha Elisabeth lindos buquês de flores que ss. agradecia, apertando a mão das ofertantes.

 

A senhorita Stella Gracioso ofereceu ao rei Alberto um belo ramalhete de flores, tendo s. m. cumprimentado aquela jovem.

 

No momento da partida, após receberem ss. mm. os votos de boa viagem do sr. presidente do Estado, que falou, em nome do Estado de São Paulo, a Banda da Força Pública executou hinos.

 

Compareceram ao embarque dos augustos soberanos, príncipe Leopoldo e comitiva, além dos drs. Washington Luís, senhora e filha, representantes da casa militar da presidência, drs. Alarico Silveira, Cardoso Ribeiro, seu ajudante de ordens; dr. secretário da Fazenda, representante do dr. secretário da Agricultura; dr. Firmiano Pinto, prefeito municipal, e exma. esposa; dr. Jorge Tibiriçá, dr. Antonio Lobo, da Câmara dos Deputados; barão Raymundo Duprat, deputado Arthur Witacker, coronel Soares Neiva, comandante da Força Pública; dr. delegado geral, sr. cônsul da Bélgica e exma. esposa, e muitas outras pessoas gradas.

 

Acompanharam os soberanos belgas até a passagem das fronteiras do Estado, o sr. Alarico Silveira, secretário do Interior, representando o governo do Estado; coronel Eduardo Lejeune, oficial às ordens do rei Alberto; e coronel Azarias Silva, oficial às ordens do príncipe Leopoldo.

 

Até Pinheiros, acompanharam ss. mm. os srs. drs. Assis Ribeiro, diretor da Central do Brasil; e dr. Ismael Pinheiro, chefe da locomoção da mesma estrada.

 

Os carros reais iam carregados de flores oferecidas a s. m. a rainha Elisabeth pelas senhoras e pelo governo paulistas.

 

Ao despedir-se do sr. Antonio Lobo, presidente da Câmara dos Deputados, s. m. o rei Alberto pediu a s. exa. que agradecesse mais uma vez, em seu nome, ao povo de Campinas, a grandiosa manifestação que lhe foi feita por ocasião de sua passagem por aquela cidade.

 

S. m. acrescentou que, aproveitando a oportunidade que se lhe oferecia, agradecia mais uma vez os votos de saudações que lhe dirigira a Câmara dos Deputados, de que o dr. Antonio Lobo é digno presidente.

 

S. PAULO, 12 - S. m. o rei Alberto, referindo-se ao adestramento dos soldados da nossa Força Pública, classificou-os como os melhores que tem conhecido.

 

À espera dos soberanos no Rio - RIO, 12 - O capitão Prudêncio Lima ofereceu o seu cavalo Rio Negro, para a rainha Elisabeth montar amanhã, por ocasião da visita dos reis da Bélgica ao Posto Zootécnico de Pinheiros. Esse animal foi embarcado esta manhã para Pinheiros.

 

- Um comitê de senhoras da alta sociedade está organizando um concerto que se realizará sexta-feira, no Teatro Municipal, à tarde, em benefício das obras de caridade patrocinadas na Bélgica pela rainha Elisabeth. O concerto, que terá o concurso da pianista paulista Guiomar Novaes, será dirigido pelo maestro Francisco Braga, que regerá, também, uma grande orquestra.

 

- Está marcada para sexta-feira a grande festa veneziana, na baía de Botafogo, em homenagem aos soberanos belgas.

 

- O dr. Epitácio Pessoa embarcará hoje, à noite, para a estação de Pinheiros, em trem especial, pernoitando em Barra do Piraí, onde aguardará a chegada dos soberanos belgas para acompanhá-los na visita ao Posto Zootécnico.

 

- O ministro da Agricultura oferecerá um churrasco à gaúcha aos soberanos.

 

RIO, 12 - S. m. o rei Alberto, regressando de S. Paulo, receberá os membros da Liga Brasileira pelos Aliados, que foram condecorados pela Bélgica, ainda durante a guerra.

 

Esse grêmio, que foi fundado em 1916, tendo como presidente de honra o conselheiro Rui Barbosa, foi um defensor extremado da causa aliada.

 

- Amanhã, na sede do Centro Acadêmico Nacionalista, realiza-se uma conferência entre o presidente desse Centro e os diretores de várias associações acadêmicas e alunos das Escolas Superiores, que desejarem tomar parte na recepção que será solicitada a s. m. o rei da Bélgica.

 

- Estiveram à tarde, no Palácio do Catete, os representantes de várias Associações Operárias que foram assentar medidas para a realização de uma manifestação aos soberanos belgas, a qual se realizará a 15 do corrente, às 18 horas, no palácio Guanabara.

 


Anúncio do carro oferecido para uso pelos reis da Bélgica

Publicado no jornal santista A Tribuna em 12 de outubro de 1920 - última página

"Dias após, por intermédio do sr. Júlio Doneux, cônsul da Bélgica, receberam insígnias da Bélgica os srs. coronel Joaquim Montenegro, B.Moura Ribeiro, Alberto Veiga e M. Nascimento Júnior." - registro no Almanaque de Santos-1971, de Olao Rodrigues, Santos/SP, pág. 21.