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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS IMIGRANTES - 2012/13
Os imigrantes - 2013 [27 - Colombianos]

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Trinta anos depois da primeira série de matérias, o jornal A Tribuna iniciou em agosto de 2012 uma nova série Os Imigrantes, abordando em páginas semanais as principais colônias de migrantes estrangeiros estabelecidas em Santos. Esta matéria foi publicada no dia 18 de fevereiro de 2013, na página A-8:


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Duas nações unidas pelo café

Do país com os maiores cartéis de narcotráfico à terra das ações sociais, dos teleféricos públicos e do senhor Madruga

Ronaldo Abreu Vaio

Da Redação

A Fabián Andrés Montes Oliveros, um bom resumo de seu país está expresso no já bem manjado slogan turístico: Colômbia, o perigo é você querer ficar para sempre. Aos 24 anos, no Brasil desde dezembro de 2011 para estudar Letras, com especialidade em português, é bom que ele se cuide, pois o feitiço do marketing pode facilmente virar contra o feiticeiro.

Lá se vão os primeiros dias no País, o costume vai fincando raízes, uma certa cumplicidade com a nova pátria vai ocupando o espaço das dificuldades de adaptação, cada vez mais relegadas às páginas viradas no livro do tempo. E o tempo, diga-se, até pode se estender em um abismo de duas semanas, quando se enfrenta o desafio de cruzar meio continente de ônibus.

Pois foi isso mesmo o que Fabián fez: ele veio para São Paulo de Girardot, cidade com 90 mil habitantes, a 86 quilômetros de Bogotá, de ônibus. Rasgou asfalto em uma cruzada por Peru, Bolívia e Argentina. "A América Latina é muito grande, bonita", constatou, in loco.

Já em terras brasileiras, o primeiro sinal dessa grandeza – e diversidade, apesar das semelhanças – veio pela língua. Na rodoviária de São Paulo, um desvio semântico entre português e espanhol fez com que Fabián passasse uma grande e inocente vergonha. Mas não há o que fazer quando a palavra ônibus, na outra língua, é escrita e pronunciada como a gíria mais cabeluda para o órgão sexual feminino. "
Precisava vir para Santos, cheguei a um policial e perguntei onde poderia pegar uma b...". Felizmente, o homem da lei entendeu o atropelo linguístico, sorriu, ensinou como se deve falar e ainda indicou o caminho para pegar o ônibus.

Um país que deu adeus ao narcotráfico - Durante anos, a imagem da Colômbia esteve intimamente associada à da cocaína. O país era o maior produtor e exportador da droga no mundo.

Mas isso mudou. Medellín, a cidade que abrigou um dos dois grandes cartéis do tráfico, hoje está pacificada. O termo é familiar? Nem poderia ser diferente: Fabián vê um paralelo entre o que acontecia lá, há 20 anos, e a realidade dos morros cariocas, hoje. Quando se chegou no fundo do poço, e no ápice do crime, com usuais e sangrentas consequências advindas disso, é que se encarou o problema de frente. As autoridades chegaram à conclusão de que o crime é muito mais do que um assunto de polícia e investiram pesado em ações sociais.

Fabián conta que o governo articulou junto à iniciativa privada, ONGs e fundações, levar a ciência à proximidade das comunas (favelas). O resultado foi o Explora, um parque temático com 22 mil metros quadrados para crianças e adolescentes experimentarem, na prática, o que aprendem na escola. "
As mesmas pessoas que trabalhavam para o narcotráfico, hoje trabalham na manutenção desse parque", diz. Uma novidade de lá que chegou com pompa e circunstância ao Rio de Janeiro foi um sistema de teleféricos como transporte público, também instituído nos morros da cidade – onde, à semelhança do Rio, ficam as comunas.


Fabián e os artefatos da Terra de Colombo – o significado de Colômbia: a camisa do Milionários, seu time do coração (o futebol é uma paixão também por lá), o poncho ou ruana, com as cores da bandeira, e a mochila típica, que pode ter vários desenhos diferentes
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria

Brasileiro faz sentir-se bem-vindo - São Paulo parece Bogotá, só que maior. Fabián observa as pessoas no metrô: elas se assemelham a cardumes de peixes, nadando em sincronia para os mesmos vagões. Na tevê, o senhor Madruga daqui, do seriado de tevê Chaves, lá se chama Don Ramón.

A tevê é estranha no Brasil: o humor é picante e a forma como a mulher é apresentada na telinha é diferente. Nesse aspecto, a Colômbia é mais conservadora do que o Brasil. Pode ser uma consequência da grande religiosidade, esmagadoramente católica, do colombiano, cuja casa há de ter sempre a imagem de um Sagrado Coração de Jesus, segundo diz.

Também terá o artesanato de ônibus em miniatura, da região do Quindío. Os ônibus simbolizam o transporte dos trabalhadores das plantações de café. Aliás, a Colômbia é reconhecida por ter um dos melhores cafés do mundo. Mas que não é aproveitado pelos colombianos. Segundo Fabián, todo o café de qualidade é exportado.

O café nos une. Afora isso, a imagem do Brasil na Colômbia é a do "
país onde se fala português", da Amazônia, do Rio de Janeiro do Carnaval e da Bahia, do sincretismo e das danças engraçadas.

Fabián sente falta da bandeja paisa. Parecido com o virado à paulista, o prato é feito com feijão preto, arroz, ovo frito, abacate com sal, torresmo, chorizo e banana da terra frita. Também sente falta do lulo, uma fruta com a cara e o jeito do kiwi, só que maior e mais ácida – perfeita para sucos. Ao menos, nesse caso, conseguiu um substituto: apaixonou-se pelo suco de açaí. "
É o melhor que já bebi". Mas, caso volte para a sua terra após os quatro anos regulares de estudo, deve levar na bagagem uma saudade que ultrapassa o sabor do açaí. "A facilidade dos brasileiros em abraçar e fazer você se sentir bem-vindo".


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Os cartéis - Do narcotráfico, foram dois famosos: o de Medellín, que operou na cidade homônima, entre os anos 70 e 80. Estima-se que faturava US$ 60 milhões por mês e tivesse um total de US$ 28 bilhões. Seu último líder como entidade organizada foi Pablo Escobar. O segundo cartel, o de Cali – batizado também a partir do nome da cidade de atuação – fortaleceu-se a partir da dissolução do Cartel de Medellín e chegou a ser responsável por 80% das exportações de cocaína colombianas.


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Ilustre - Um dos mais ilustres colombianos é o escritor Gabriel García Márquez, ganhador do prêmio Nobel de 1982, considerado um dos mais importantes autores do século 20, por aprofundar o Realismo Mágico, vertente literária típica da América Latina.

Juán Valdez - É um personagem ficcional usado desde 1958 pela Federação Nacional dos Produtores de Café, em peças publicitárias, para alavancar o grão na Colômbia. A imagem de um homem com chapéu de caubói e bigode, sempre com sua mula Conchita a tiracolo, deu tão certo, que hoje o café colombiano já é associado a Juán Valdéz. É o equivalente à marca Café do Brasil.


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As rosas - A indústria da floricultura colombiana é a maior produtora mundial de rosas. Como se não bastasse, essas rosas têm dimensões gigantes – algumas, com 11 centímetros de diâmetro – e uma durabilidade de quase um mês. O segredo para tanta quantidade e qualidade está nas técnicas de cultivo. As rosas são plantadas em terrenos de altitude, com dois mil metros ou mais, a uma temperatura constante de 15 graus e recebendo a incidência dos raios solares de forma quase perfeitamente vertical, pela proximidade ao Equador.

Hoje em dia, o termo rosas colombianas não se restringe às vermelhas, mas se estende a plantas brancas (Avalanche) e alaranjadas (Wow).

Constitucional - A Colômbia tem uma longa história constitucionalista, com dois dos mais antigos partidos políticos das Américas, o Liberal, fundado em 1848, e o Conservador, de um ano depois.

Por outro lado, a polaridade chegou a tomar contornos extremos em várias épocas da História, como na Guerra dos Mil Dias, entre 1899 e 1902, ou o período conhecido por La Violencia, iniciado em 1948. Durante os anos 80, as tensões partidárias mais violentas foram fomentadas até pelo crime organizado, na figura do tráfico de drogas.

Homicídios - A Colômbia já teve a maior taxa de homicídios do mundo, nos anos
[19]80 – fruto da violência do narcotráfico.

Hoje, esse número caiu muito, embora o país ainda esteja em sétimo lugar no mundo, em relação a homicídios por 100 mil habitantes, conforme relatório do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Criminalidade (ENUDC).

Mas, para se ter uma ideia da queda, em 2000, eram 63 homicídios por 100 mil habitantes na Colômbia. Nove anos depois, em 2009, 35, o que representa uma queda superior a 50%.


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Megadiverso - A Colômbia é um dos 17 países na lista mundial dos megadiversos – o Brasil também está entre eles. Isso quer dizer, na prática, que são os países que abrigam a maioria das espécies de flora e fauna do planeta, segundo as Nações Unidas.

Os outros quinze países são: África do Sul, China, Austrália, Estados Unidos, Equador, Filipinas, Índia, Indonésia, Malásia, Madagascar, México, Papua-Nova Guiné, Peru, República Democrática do Congo e Venezuela.

República da Colômbia

(República de Colômbia)

 

Capital - Bogotá

População - 45.925.397
Língua oficial - espanhol
PIB - US$ 328,42 bilhões (2011, estimativa)
Renda per capita - US$ 7.131 (2011, estimativa)
IDH - 0,710 (2011, elevado)
Datas nacionais - 20 de julho (1810, Independência, da Espanha)
A colônia - A Tribuna entrou em contato por e-mail com o Consulado Geral da Colômbia em São Paulo, mas não obteve resposta

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