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Publicado em 12/7/1982 no jornal A Tribuna de Santos
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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS IMIGRANTES
A colônia italiana (3)

Beth Capelache de Carvalho (texto). Ademir Henrique e Arquivo de A Tribuna (fotos)

As tradições italianas

A presença italiana em Santos começa a ser notada pela grande quantidade de cantinas e restaurantes com nomes italianos. Entretanto, entrando nessas cantinas é bem possível encontrar donos portugueses ou espanhóis, e cozinheiros baianos, paulistas ou mesmo chineses. A típica comida italiana está praticamente descaracterizada, embora Santos tenha tido, no passado, ótimos restaurantes dirigidos por famílias de imigrantes.

A cultura e a língua italianas podem ser aprendidas na Associação Cultural Ítalo-Brasileira, e as festas nacionais da Itália são revividas pela colônia com as promoções da Societá Italiana. Junto ao vice-consulado da Itália funciona o Patronato Assistencial dos Imigrantes Italianos, que fornece assistência aos que chegam. Mas a imigração italiana acabou há pelo menos 20 anos, e só entre algumas famílias são guardadas as tradições trazidas da Itália.


No antigo Restaurante Roma, a tradicional cozinha italiana

Pizza e macarrone

A cozinha italiana tomou conta do Brasil. Em 1878, Ludovico dal Porto e Francesco Casino fundaram a primeira fábrica de massas alimentícias italianas, em São Paulo, e o macarrão e as pizzas passaram a fazer parte do cardápio normal dos brasileiros. Por todo o Estado espalharam-se as cantinas, onde o ambiente informal e amigo logo valeu enorme freguesia.

Nas antigas cantinas italianas era possível comer o bacalhau stoca-pisco (bacalhau seco), macarrão com queijos genuínos, como o pícolo, o romano, o pipelone, o codeguino, e também a famosa cebolina (lingüiça calabresa). Tudo isso ao som das cançonetas italianas que falavam sobre pescadores.

Infelizmente, isso pertence ao passado, pelo menos em Santos. Aqui, os restaurantes tipicamente italianos foram fechados ou vendidos, e as inúmeras cantinas e restaurantes com nome italiano são dirigidos por donos de outras nacionalidades. Mesmo assim, pode-se encontrar pizzas de toda a qualidade (e até a metro), massas e outros pratos em qualquer bom restaurante da Cidade.

É claro que não são receitas originais. A pizza, por exemplo, pouco se assemelha àquela que se come em Roma ou em Nápoles. A verdadeira pizza tem massa grossa, leva molho de tomates e mussarela, às vezes algumas anchovas. O camarão, as vieiras, o champignon são invenções brasileiras.

Em todo caso, os pratos de origem italiana estão de tal forma incorporados ao cardápio nacional, que já é possível encontrar produtos semi-prontos, empacotados, em qualquer supermercado. É o caso de todos os tipos de macarrão, das sopas prontas (minestroni) e dos molhos à bolonhesa e ao suco.

Massa para nhoque e para polenta também podem ser compradas semi-prontas, assim como o revestimento para os bifes à milanesa. Uma verdadeira revolução em matéria de comida italiana, e um engano imperdoável, na opinião dos que ainda insistem em preparar o macarrão em casa, deixando-o tão leve que é possível comer dois ou mais pratos.

O velho Roma - O Restaurante Roma, na Rua Frei Gaspar, foi um dos mais típicos de Santos, até ser vendido, em 1970. Agora, embora continue mantendo a tradição de qualidade, não pertence mais a donos italianos. Foi José Diorio, um napolitano, quem criou essa tradição do Roma, quando comprou a casa, em 1936. Ele e a mulher, Maria Felícia Diorio, ofereciam aos fregueses a genuína comida napolitana.

Comissários de café, gerente de bancos, oficiais e passageiros dos navios ancorados no porto, artistas, juízes e políticos eram freqüentadores assíduos do Restaurante Roma, há uns trinta anos atrás, como lembra Antônio Diório, filho de Jossé Diório. Eles almoçavam no Roma durante toda a semana, e aos domingos traziam a família.

Às sextas-feiras, o cardápio oferecia minestrone, bacalhau ao forno, arroz e sobremesa, além do cafezinho, por Cr$ 2,50. Para quem costumava comprar vales para o mês inteiro, a mesma refeição saía por apenas Cr$ 2,00.

O mais importante é que os queijos, os vinhos chianti, e até a massa de tomates utilizados nos molhos, eram importados da Itália, para não comprometer o gosto genuíno. Tornou-se famoso o raviolli com brajola (bife enrolado com legumes) servido pelo Roma.

Dom Fabrizio - Com o Dom Fabrizio - restaurante e hotel - também acabou uma parte da tradição culinária italiana em Santos. Com uma antiga fama de luxo e qualidade, era um dos restaurantes que incluía, em seu cardápio, uma série de pratos preparados na hora, ao lado do freguês. O Dom Fabrizio funcionou durante quase trinta anos em Santos, e acabou quando o prédio - Edifício Lutécia - foi demolido para a abertura da Rua Cláudio Doneux, continuação da Rua Azevedo Sodré.

No Dom Fabrizio vinham almoçar ou jantar quase todos os visitantes ilustres da Cidade, que assinavam um livro de honra, guardado pela família Tantini proprietária do restaurante, até o fechamento, em fins dos anos 70.

Agora, quem quiser provar a comida tipicamente italiana precisa ir a São Paulo, ou pelo menos, atravessar o canal e chegar a Guarujá, onde ainda podem ser encontrados dois ou três restaurantes, dirigidos por imigrantes, e fiéis à comida da Itália.

Anúncio publicado no jornal santista A Tribuna, em 1º de setembro de 1942

Casa Gabos - Uma das mais antigas casas de Santos, no ramo de ótica, é a Casa Gabos, fundada em 1922 por Sylvio Gabos, italiano de Castelmassa, que veio para o Brasil com 5 anos de idade. Além de prestar serviços normais durante os 60 anos de atividade, a Casa Gabos forneceu equipamento para o exército, durante a Segunda Guerra Mundial.

Eram lentes para os telêmetros (aparelhos próprios para medir a distância entre os equipamentos de artilharia e os alvos), colocados nos 10 fortes brasileiros durante a guerra. Os telêmetros, aliás, também eram fabricados pela família, que para isso montou D.F. Vasconcelos, com material importado dos Estados Unidos.

(N.E.: Na verdade, a fundação foi em 1921, precisamente no dia 26 de janeiro, a data do aniversário de Santos e também do filho do fundador, Ito Sylvio Gabos, segundo informaram em 6/2/2006 os representantes da firma, em contato com Novo Milênio. E foi a primeira ótica de Santos, chegando ao século XXI sob o comando da quinta geração da mesma família de ópticos).

Veja as partes [1] e [2] desta matéria