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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BIBLIOTECA - TEATROS
Memórias do Teatro de Santos (05)


Clique na imagem para voltar ao índice da obraComo em muitas outras cidades brasileiras, a memória do teatro santista raramente é registrada de modo ordenado que permita acompanhar sua história e evolução, bem como avaliar a importância dos artistas no contexto nacional, rememorando as grandes atuações, as principais montagens etc.

Uma tentativa neste sentido foi feita na década de 1990 pela crítica teatral santista Carmelinda Guimarães, que compilou depoimentos escritos e orais, documentos e outros registros, nas Memórias do Teatro de Santos - livro publicado pela Prefeitura de Santos em 1996, com produção de Marcelo Di Renzo, capa de Mônica Mathias, foto digitalizada por Roberto Konda. A impressão foi da Prodesan Gráfica.

Esta primeira edição digital em Novo Milênio foi autorizada pela autora, Carmelinda Guimarães, em 6 de janeiro de 2011. O exemplar aqui utilizado foi cedido pelo ator santista Osvaldo de Araujo:

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Memórias do Teatro de Santos

Carmelinda Guimarães

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Em 1933 éramos atrizes

"Numa peça que fiz, tinha um beijo muito respeitoso. No dia do espetáculo eu deixava. Nos ensaios,não. Quando fui para a rádio eu já disse logo: Papel romântico vocês não me dêem que eu não gosto. Gostava de papel dramático, comédia, mas nada de amor".

C.: Você era a atriz principal?

R.: Era.

C.: Quantos anos você tinha?

R.: Em 33, eu comecei com 15 anos.

C.: Seu namorado chegou a ver você no palco da Humanitária?

R.: Acho que não. Eu nunca falei para ele. Eu ainda trabalhava lá, mas como ele só ia me ver aos sábados e domingos, dia de semana eu ensaiava todo dia. E o dia em que tinha festa, eu dizia que não podia falar com ele. Aí eu ia para a festa e ele ficava de lado.

C.: Saía o nome no jornal?

R.: Não que eu me lembre. Se saía, ele não lia.

C.: Ele chegou a saber que você foi atriz?

R.: Depois de casada, sim. Ele não falou nada.

C.: Você tem grandes recordações dessa época?

R.: Tenho. Pena que esqueci o nome das peças todas.

C.: Algumas... A Morgadinha, De Tal Flor, Cala a Boca Etelvina.

R.: João Corta Mar, que passou diversas vezes, porque pediam muito.

C.: A Virgínia Martins Gonçalves fez Cala a Boca Etelvina... a Dercy Gonçalves também fez essa peça. Tinha alguma coisa a ver com o filme?

R.: Não, nós éramos do romance mesmo. Era uma adaptação assim...

C.: Havia muito palavrão. Vocês também falavam?

R.: Não, nem pensar: Deus me livre, credo! A Pilar trabalhava, mas ela era muito feinha, só fazia aqueles papéis meio... Sempre com a mãe do lado.

C.: A recordação que ficou é boa?

R.: Sim, os diretores gostavam muito de nós, porque enchíamos a casa.

C.: Você tinha muita segurança de enfrentar um público?

R.: Tinha. Naquele tempo sim. Hoje eu sou mais nervosa. Era natural para mim. No rádio eu era conhecida pela voz e eles escolhiam pela interpretação. Eles logo gostaram. Eu tinha segurança do que fazia.

C.: E nunca ficou em você uma pontinha de pena de não ter seguido o teatro?

R.: Por um tempo ficou. Pensei, mas que vida mais insípida, podia ter levado uma outra e por causa de ter medo de falar... Podia ser que meu pai até deixasse. Naquele tempo, artista não era tão considerado como hoje.

C.: Como era a repercussão, a aceitação dos colegas de escola, dos vizinhos?

R.: Eles gostavam. E eles sabiam que era uma coisa de muito respeito, admiravam a gente ter aquele trabalho. Aos 15 anos já era costureira. Largava da agulha para ir ensaiar. Precisava força de vontade. E a gente fazia aquilo com uma satisfação única. Sabia que não ia ganhar nada com aquilo, mas...

C.: Você costurava o seu figurino para o teatro?

R.: Eu costurava tudo, fazia minha roupa sempre bonita para agradar. Depois tinha o baile.

C.: Agora você já é viúva... mas continua sendo uma atriz, porque uma atriz é para sempre.

R.: Já estou viúva há muitos anos e tenho dois filhos nenhum seguiu a carreira artística.

C.: Você contava que tinha feito teatro?

R.: Contei para minha neta que tinha ido à Rádio Atlântica e ela se admirou. Foi uma pena não ter continuado e que meu marido não gostasse. Era tudo muito bonito, muito bom. Eu gostei. Depois, não sei porque aquela sociedade acabou.

C.: Aonde vocês representavam?

R.: Nós representávamos à Rua Santos Dumont, onde era a Sociedade. Tinha um salão e um palco grande.

C.: Era da Humanitária?

R.: Era Humanitária 1 de Janeiro, não era essa da Praça José Bonifácio.

C.: Terezinha Tadeu: a senhora conseguiu passar esse amor pelo teatro a alguém da família?

R.: Minhas netas tomaram parte em peças do Colégio do Carmo. Mas acho o teatro de hoje uma bobagem, sem sentido. Esse teatro moderno eu não vou. As  peças não têm história. Gosto é daqueles filmes antigos em preto e branco, que passam à tarde na TV.

C.: Que conselho daria aos jovens que fazem teatro hoje?

R.: Ah, eu não sei. Acho que se fosse convidada a fazer uma peça e fosse uma bobagem dessas, não aceitaria. Eu não tomaria parte. O teatro deve ser uma coisa onde a pessoa possa exprimir essas emoções. Agora no teatro de hoje, uma hora parecem loucos, outra hora meio abobados... Para quê isso? Acho que não precisa esforço nenhum para fazer uma coisa dessa. Naquele tempo tinha que chorar 'mesmo' no palco, rir com vontade.

C.: O  diretor falava em algum método de teatro?

R.: Não falavam. Os diretores do 1 de Janeiro nem se metiam. Eles deixavam tudo a nosso cargo, com a maior boa vontade, pois no fim tudo saía bem. Eles confiavam muito na gente.

Depoimento das atrizes Dolores Martins Branco e Virgínia Martins Gonçalves.

O Grupo Os Independentes, numa reunião de dois elencos. Jacinto Antunes (do elenco de A Demissão, de revólver ameaçando Madame Popova), Cida Celestino (do elenco de O Rústico). Aparecem na foto: Maria de Lourdes Melillo, Evêncio da Quinta (ao centro, olhando para a esquerda da foto), Walter Sperandeo, Wilson Geraldo (da peça A Demissão), Jansen Cavalcanti e Silvio Ropa (O Rústico)

Foto publicada com o texto