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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SEU BAIRRO/mapa
Vila São Jorge se orgulha do 1º engenho (3)

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Publicado em 5/8/1982 no jornal A Tribuna de Santos

 Leda Mondin (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)


A Vila São Jorge tem quatro mil moradores e sua população dobrará
com a entrega do Conjunto Residencial dos Estivadores, prevista para novembro

População em dobro para enfrentar os problemas

A população da Vila São Jorge deverá praticamente dobrar até o final do ano, passando dos quatro mil atuais para mais de sete mil. Não se trata de milagre, não, apenas da entrega do Conjunto Residencial Parque do Engenho, ou Conjunto Residencial dos Estivadores, como é popularmente conhecido.

Os 21 blocos de prédios, com três andares cada, compreendem uma área construída de 30 mil metros quadrados e perfazem 984 apartamentos. Calculando-se uma média de três pessoas por apartamento, chega-se a quase três mil novos moradores para o bairro.

Tomara que esse pessoal não depare com ruas em péssimo estado de conservação como atualmente. Mas as perspectivas não são nada boas, porque a Vila São Jorge tem que implorar para conseguir um caminhão de aterro da Prefeitura. Isso sem contar que as enchentes põem muita gente a correr de casa.

Segundo explicou o presidente da sociedade de melhoramentos, Secundino Duarte Peres, o bairro está dividido em duas áreas: a 1, que vai da Avenida Nossa Senhora de Fátima até o Canal de São Jorge; e a 2, que compreende o trecho entre o canal e as encostas do morro.

A 2 é a mais problemática, pois se trata de uma área de marinha onde 99 por cento dos moradores não têm escritura definitiva. Pagam imposto territorial e predial, mas não estão com a situação regularizada perante o Serviço de Patrimônio da União. Uns pagam laudêmio, outros não, e cada caso precisa ser analisado individualmente.

Como se não bastasse, nenhuma das ruas da área 2 é asfaltada e a lama não seca, nem passados vários dias da chuva, tal a situação precária. Entra semana e sai semana, e os moradores de vias como Fritz Gut, José Monteiro, Maurício Moura e José Domingues Martins amassam barro e enfrentam poças de água quase intransponíveis. Se a chuva perdura por período mais longo, não há carro que consiga transitar por qualquer delas.

A Avenida Eleanor Roosevelt merece uma citação à parte. Além de permanecer intransitável em determinados trechos a maior parte do tempo, é cortada pelo Canal de São Jorge, que está muito assoreado e transborda a cada chuva mais forte. E as enchentes não acontecem só nessa avenida ou na área 2: muitas famílias da Eduardo Alves e da Gastão Bousquet já tiveram que sair às pressas de casa, carregando consigo colchões, aparelhos elétricos e o que desse.

Áreas de lazer não há e três das cinco praças não passam de um grande matagal ou monte de lama. Apenas duas são urbanizadas, sendo que uma fica em plena Avenida Nossa Senhora de Fátima e não tem os equipamentos que se espera encontrar em uma praça. A outra abriga a EEPSG Neves Prado Monteiro. Em outras palavras, se dissermos que a Vila São Jorge não possui praças, dá na mesma.

O asilo e as velhinhas que são uns encantos

Dona Rosa tem 106 anos de idade
Dona Ana tem nada menos que 106. E dona Idalina não fica muito atrás, porque já completou 103. Elas são as mais idosas do Lar Evangélico de Amparo à Velhice, um asilo que fica na Rua Fritz Gut, 490, e abriga 71 velhinhas. Entre elas, ninguém menos que Rosa Marquez, que viveu com Martins Fontes, o grande poeta e médico santista, por 24 anos.

O Lar Evangélico existe desde 1940 e há cinco anos funciona no atual endereço, num amplo prédio com capacidade para 150 internos. Só que a presidenta, Hercília Coelho da Conceição, não pode preencher todas as vagas por enquanto: além da construção não estar terminada, faltam 70 colchões para a ala masculina. A compra deles na certa afetará o minguado orçamento, porque a despesa com manutenção atinge quase Cr$ 1 milhão e meio mensais, e todos podem imaginar o que significa levantar essa quantia a cada mês.

Mas as dificuldades para equilibrar receita e despesa não comprometem o atendimento, e nem diminui o carinho dispensado às internas. A gente percebe claramente isso quando acompanha o trabalho de Loide Santana, que está na entidade há 23 anos, anda para cima e para baixo o dia inteiro e não se importa de acordar no meio da noite para acudir alguém. Acompanha o médico nas visitas às velhinhas diariamente e sabe o que cada uma precisa e quer.

E ela enche o rosto de alegria quando fala sobre as duas velhinhas de mais de 100 anos de idade. Dona Ana, a de 106 anos, passa a maior parte do tempo deitada, mas consegue andar com a ajuda de alguém. Mora no Lar Evangélico há 37 anos, ainda conversa e só não recorda de coisas do passado. Ou melhor, tem algo que ela lembra muito bem: calça comprida é traje para homem. Ela não se conforma de ver mulheres usando esse tipo de roupa e vai logo dizendo: "Parece home parece home". Faz questão de olhar bem o rosto para ver se é mulher mesmo.

Dona Idalina passou 23 dos seus 103 anos no Lar. Gosta de receber atenção e passa o tempo segurando algum embrulho na mão, como se fosse uma boneca. Não há quem não se encante com o jeito dela.

Disposição, aos 103 anos de idade

Entre as histórias que se ouve das velhinhas, as melhores ficam por conta de Rosa Marquez, que é capaz de passar horas falando sobre Martins Fontes. Ela só tem elogios para aquele que considera, acima de tudo, um homem íntegro e bom. Segundo diz, era tão bondoso que se visse uma lavadeira carregando uma trouxa de roupa descia do carro e mandava o motorista levá-la em casa (isso quando dirigia o Centro de Saúde e tinha direito a automóvel e motorista). Visitava pacientes nos lugares mais longínquos e não podia sair com dinheiro de casa porque na esquina não tinha mais um tostão. Por tudo isso, era muito querido dos pobres.

Honesto, educado, trabalhador, respeitador, são outros adjetivos que dona Rosa cita em meio à conversa e que evidenciam o respeito e a admiração que conserva até hoje, passados 45 anos de sua morte.

Diz que foram muito felizes, se entendiam muito bem e nunca tiveram atritos. Nunca saiu de casa zangado e ela sempre o acompanhava até o portão. Até hoje dona Rosa não se conforma como um homem sadio morreu tão de repente: "Ele ficou doente na segunda-feira, na quarta-feira foi seu aniversário (54 anos) e na sexta, 25 de junho (1937) faleceu, vítima de uma infecção.

Muita gente procura conhecer Rosa Marquez, mas ela acha que tudo não passa de simples curiosidade. Deixa transparecer que seria mais importante conhecer e divulgar a obra de Martins Fontes, enquanto autor de sonetos muito elogiados como Minha Mãe, Como é Bom ser Bom e Luar, na Ilha das Palmas.

Veja as partes [1], [2] e [4] desta matéria
Veja Bairros/Vila São Jorge

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