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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SEU BAIRRO
Dramas do primeiro conjunto habitacional (3)

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Publicado em 8/7/1982 no jornal A Tribuna de Santos

 Leda Mondin (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)


Jogar bola no meio da rua, uma opção para essas crianças que não têm onde brincar

A luta por um centro comunitário
(ou: foi-se o tempo em que um fio de bigode valia mais do que o aval do Banco do Brasil)

Muita festa e foguetório. Isso vai acontecer no dia em que o pessoal do Castelo Branco finalmente conseguir inaugurar sua sede, num lugar onde a ameaça de despejo não tire o sono de ninguém.

Hoje o Centro Comunitário não passa de um barracão de madeira. Mas, apesar de tudo, diretores e voluntários conseguem fazer muita coisa, desde improvisar uma quermesse, montar bandinha infantil e promover cursos diversos, entre eles balé, violão e para formação de eletricista, este último co-patrocinado pela Secretaria do Trabalho.

Os diretores ficam só imaginando o que não fariam em uma sede ampla, com quadras de esportes, talvez um pequeno auditório e outros equipamentos que permitissem a diversificação de atividades. Isso tudo ajudaria a congregar novos sócios, pois apesar de lá morarem quase 17 mil pessoas, os associados não chegam a 800. "Se falta sede, falta tudo", protestam os diretores.

O presidente Reginaldo Agondi já perdeu a conta do número de ofícios que encaminhou à Prefeitura pedindo providências, sem resultado algum. Ele é um dos poucos da diretoria que assumiu a 1º de abril que permanece no cargo. A maioria acabou largando de mão, apesar de no começo haver um pacto e muita disposição para a luta.

Pior do que esse desestímulo geral aconteceu em 1977. Os diretores da época pediram que a Prefeitura demolisse a área de lazer porque os brinquedos, de cimento armado, estavam quebrados e ofereciam perigo.

Essa solicitação a Prefeitura atendeu e a controvérsia em torno do assunto continua até hoje: aquela área de lazer tinha saído do bolso dos moradores. O edital 143/76, do Diário Oficial de 20 de maio de 1976, está aí para provar: especifica que os moradores pagariam, por meio de "taxas de melhoramentos, recolhidas aos cofres da Prefeitura, os custos dos brinquedos". Muitos não se conformam, e alegam que o então prefeito, Antônio Manoel de Carvalho, não poderia ter consentido com a destruição do algo que não pertencia à Prefeitura.

Prefeitos prometem, mas as crianças não têm onde brincar até hoje - Apesar dos pesares e do falatório geral, no dia 11 de maio do ano seguinte o ex-prefeito Carvalho foi solenemente homenageado no Centro Comunitário. E, com lágrimas nos olhos, segundo relembra Reginaldo Agondi, prometeu que em 90 dias concretizaria a compra do terreno do INPS, onde se construiria uma sede digna para o Centro Comunitário, com ginásio de esportes e tudo o mais.

Mas se passaram 90, 180, 360 dias e muito mais. Ele acabou deixando o cargo e só na gestão do ex-prefeito Carlos Caldeira Filho a Câmara aprovaria a construção do ginásio de esportes e a destinação de 15 milhões para esse fim, conforme decreto 5.649/79, de 24 de outubro de 1979.

Houve até comemoração, mas os moradores mal sabiam o que os esperava. Caldeira também deixou o cargo, sem que tudo não passasse do decreto publicado no Diário Oficial.

Roupas estendidas junto às janelas, uma cena muito comum no Castelo Branco

Roupas estendidas junto às janelas, uma cena muito comum no Castelo BrancoO pessoal, acostumado com os reveses, voltou a se reanimar naquele 24 de fevereiro de 1980, quando o novo prefeito, Paulo Gomes Barbosa, visitou o Castelo Branco. Aliás, não só o prefeito mas praticamente todo o seu secretariado.

Nesse dia, os moradores tiveram certeza que a história sempre se repete. Desta vez, a personagem era outra, mas a promessa exatamente a mesma, de resolver os problemas de lazer do conjunto. Só que não fixou prazo de 90 dias: preferiu dizer que em três meses as praças de esporte estariam restauradas, as cabeceiras dos prédios calçadas e por aí afora. Quem estava lá não esquece: a cada reivindicação, Barbosa se voltava para o secretário da área competente e determinava a execução.

Tudo certo e definitivo naquele dia. Naquele dia, frise-se bem, porque tempos depois Barbosa passou a condicionar a realização de melhorias à cessão de uma área para a construção de uma creche. Aí o negócio complicou, porque além de muitos não concordarem logo de início, havia uma questão jurídica: os moradores não podiam ceder o que não lhes pertencia, ao mesmo tempo em que o BNH não poderia fazê-lo, já que aqueles se encontravam (e se encontram) na condição de promitentes compradores.

Polêmica em torno do assunto não faltou. E vejam a que ponto a Prefeitura chegou: os diretores do Centro Comunitário foram intimados a comparecer no Departamento Jurídico para explicar porquê negavam a doação da área. Mais: tiveram que assinar um documento se responsabilizando pelas respostas que deram, segundo afirmam o presidente Reginaldo Agondi e o vice Antônio Manoel do Nascimento.

Para resumir o caso, há 10 anos os moradores lutam pela sede do Centro Comunitário e já se passaram cinco anos daquela fatídica data em que as crianças perderam sua área de lazer. Além de os brinquedos não terem sido reconstruídos, as duas quadras de esportes que sobraram nem merecem esse nome. Sumiram as marcações do chão, as traves e outros equipamentos se estragaram e a malha de proteção de uma delas está enferrujada, com pontas perigosas apontando para todos os lados.

O conjunto não recebe quase nada, apesar de recolher um bom imposto -  "A Prefeitura só nos ajuda nas festas. Monta palanque e coisas do tipo. No mais, só recebemos o caminhão para recolhimento do lixo. As margaridas limpam apenas as ruas oficiais, as internas não", reclama Reginaldo Agondi.

Outro dia, cansado de pedir a desobstrução de galerias pluviais sem ser atendido, o Condomínio Bolívia decidiu pagar um particular para fazer o serviço. Formou-se um montão de sujeira no canto da rua. Reginaldo pediu à Prodesan que ao menos recolhesse os detritos. A Prodesan foi, só que cobrou Cr$ 1.400,00.

O Castelo Branco reivindica ainda posto médico, posto policial, lombada nas ruas internas e substituição de placas. Todos esperavam que, em se tratando de um ano eleitoral, algo mudasse. Principalmente porque os mutuários recolhem pelo menos Cr$ 21 milhões de impostos à Prefeitura.

Como nada muda, os moradores buscam outras saídas: três deles tentarão conquistar uma cadeira na Câmara em novembro. Com toda aquela gente que tem lá, se o pessoal quiser elege os três!

Veja as partes [1], [2] e [4] desta matéria
Veja Bairros/Conjunto Habitacional Castelo Branco/Aparecida

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