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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SEU BAIRRO/mapa
Monte Serrate, 
dos bondinhos e da padroeira (4)

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Publicado em 3/6/1982 no jornal A Tribuna de Santos

 Leda Mondin (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)


Subir e descer escadas faz parte da rotina desses moradores, 
que ao menos têm o privilégio de conviver com muito verde

Perigo ronda os moradores

O perigo mora no Monte Serrate. Os mais de 100 mil turistas que vão ao morro por ano e ficam maravilhados ao ver toda Santos lá do alto, nem imaginam a angústia que pessoas ali bem perto deles enfrentam no dia-a-dia. Muitas vidas correm risco naquelas encostas instáveis e perigosas. Quando chove, há choro e ranger de dentes nos cantos dos barracos.

Relatório apresentado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) no ano passado indicava a existência de 27 casas em situação de risco, nas proximidades do Caminho Monsenhor Moreira. A encosta acima desse grupo de moradias está em condições "especialmente desfavoráveis quanto à estabilidade", e o alerta dos técnicos é bastante claro: "Existe a possibilidade de ocorrência de escorregamentos de dimensões catastróficas, envolvendo grande volume de solo e rocha".

Eles assinalam ainda outras 11 casas, nas proximidades da Rua Tiro Naval, também em perigo, por estarem "a jusante de área de recorrência de escorregamentos". E isso não é tudo, pois a encosta voltada para a Avenida Waldemar Leão, bastante íngreme, se caracteriza por inúmeras cicatrizes de escorregamentos. Dez casas estão sujeitas a receber o impacto de material escorregado de montante.

O IPT vem alertando desde 1978, mas o que foi feito até agora? Nada, é a resposta mais adequada, pois as pequenas e esparsas iniciativas da Prefeitura estão muito distantes da solução das questões mais sérias.

Pior: o povo fica cada vez mais pobre e, para fugir aos aluguéis, escava áreas no morro e monta um barraco, do jeito que der. Foi isso que Jovelino Alves fez: quando os fiscais da Prefeitura deram conta, ele já estava instalado na casa, com mulher, seis filhos e três netos.

A Prefeitura se omite, não adota uma política criteriosa de ocupação dos morros e nem realiza as obras de contenção indicadas pelo IPT. Quando indagado a respeito, o prefeito Paulo Gomes Barbosa responde que o problema já existia antes de ele assumir o cargo. Quem está pendurado no morro, correndo risco de vida, já não agüenta esse tipo de discurso.

E sabem o que mais? A própria Prefeitura é a proprietária da maior parte das terras do Monte Serrate e aluga "lotes". Ou seja, cede áreas para ocupação, em regime de aluguel, e não tem pena de cobrar. Aumentou a taxa em 100% e isso gerou muita revolta. A Prefeitura nunca cumpre a promessa de lotear definitivamente a área e vender as terras para os ocupantes. Esses, já não agüentam pagar quantias exorbitantes, que chegam a Cr$ 24 mil mensais, por algo que nunca será efetivamente seu.

E há quem reclame de outro tipo de exploração: a família Vallejo cobra nada menos que Cr$ 2.500,00 para transportar um quilo de material do tipo pedra, cimento ou areia em um sistema de elevador que funciona junto aos bondinhos. Tem mais: além de cobrar caro, não mantém nenhum funcionário para ajudar a carregar e descarregar.


Subir e descer escadas faz parte da rotina desses moradores, 
que ao menos têm o privilégio de conviver com muito verde

No semafórico, ganha-se a vida vendo navios

Bem ali, do ponto mais alto de Santos, de onde se avistam os bairros, a entrada do porto e as praias, três rapazes se revezam para ganhar a vida vendo navios. Cláudio, Élcio e Edson trabalham no Posto Semafórico do Monte Serrate, que vem funcionando ininterruptamente desde 15 de outubro de 1921. O serviço de rotina do posto é a observação, em geral a olho nu: o sol queimou a lente da antiga luneta e o binóculo já está muito ruim.

O ambiente de trabalho se resume a uma pequena sala, uma mesa, cadeira e telefones que permitem o contato com a praticagem, na Ponta da Praia. Quando o navio se aproxima de Santos, os rapazes já sabem que é hora de avisar as agências de navegação, as oficinas e os fornecedores. Estes, mais tarde, na beira do cais, disputarão o direito de abastecer o navio e ganhar entre Cr$ 4 e 5 milhões.


Apesar de intimamente ligada à história de Santos, a fonte está suja e abandonada

Abandono, sujeira. É a fonte do Itororó

Tão desprezada, suja e sem nenhuma placa indicativa, pobre Fonte do Itororó. Nem parece que sua importância remonta ao tempo da sesmaria de Paschoal Fernandes e Domingos Pires, e que originou a única música do folclore brasileiro criada em Santos. Quem não conhece esses versos? "Fui a Itororó beber água e não achei/Achei bela morena que no Itororó deixei..."

Desde 1540 abastecia moradores, colonos e navios que aportavam na chamada Enguaguassu. Dali saía um riacho, primitivamente também chamado de Itororó e depois denominado Ribeirão do Carmo, que desaguava no Estuário, quase em frente à atual Rua Martim Afonso. Devido à fonte, até princípios do século costumava-se chamar de Itororó todo o espaço compreendido pelas ruas São Francisco, Amador Bueno, Rosário e General Câmara, entre as ruas Dom Pedro II e Senador Feijó.

Pois nem esse passado tão significativo leva a prefeitura a dar atenção à Fonte do Itororó. Está lá, cercada por montes de areia e pedras, muito lixo e paredes pichadas. Para piorar, junto a ela o prefeito Paulo Barbosa mandou construir um arco, em pedra, que só serviu para descaracterizar o lugar. É isso que fazem com o passado de Santos!


Rezar junto aos nichos, uma demonstração de fé

Veja as partes [1], [2] e [3] desta matéria
Veja Bairros/Monte Serrate

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