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Edição 118 - MAR/2003 

Memória 

Guerra no Iraque ameaça patrimônio mundial

(1)

Um míssil Patriot pode acabar de vez com o Paraíso Terreal

Carlos Pimentel Mendes (*)

Encontre um mapa da região do mundo situada entre os rios Tigre e Eufrates. Serve um que mostre a localização do famoso Paraíso Terreal, onde Adão e Eva morderam a maçã. Agora, imagine um míssil Patriot sendo disparado em direção ao centro dessa região. Ou busque um exemplar das Mil-e-Uma-Noites. Imagine Sheerazade com máscara anti-gás, tentando contar uma de suas fabulosas histórias para um sultão enfiado num túnel anti-bombardeio no centro de Bagdad - cidade planejada que o califa Al-Mansur fundou em 762 d.C., apenas 12 séculos atrás (e que, 50 anos depois, já tinha meio milhão de habitantes, mais que a Santos atual administrada pelo prefeito Beto Mansur).


Primeiro homem de Neandertal, de 48 mil anos atrás, encontrado em 27/4/1957 na gruta de Shanidar, no Iraque, daí ser conhecido como Shanidar I
Imagem: História da Terra, 1986, ed. Selecções do Readers Digest, Lisboa, Portugal

Pois é: outra vez, a região considerada berço da Humanidade e mãe da Civilização corre grande risco. Mesmo que os mísseis estadunidenses melhorem de pontaria, centenas de sítios arqueológicos de importância inestimável podem desaparecer a um toque de botão (de nenhuma forma devem ser olvidadas as vidas humanas perdidas e todo o sofrimento causado pelo conflito. Apenas se lembra aqui alguns dos aspectos menos citados da destruição bélica).

Perto dali, em 642 d.C., um oficial, penalizado com a perspectiva de queimar a Biblioteca de Alexandria, ainda tentou argumentar com o general árabe Amr Ibn-al-As. Resposta do "filho de As": se os papiros ali existentes fossem contra o Deus dos conquistadores, deveriam ser queimados por heresia; se fossem a favor, deveriam ser queimados por serem dispensáveis. Assim, o mundo perdeu para sempre um de seus maiores tesouros do Saber. 


A enigmática beleza do rosto de uma jovem foi capturada nesta máscara de mármore branco, feita na Mesopotâmia há 5 mil anos por um artista de Uruc. A habilidosa e sensível modelagem da boca, queixo e face, que expressa o interesse pela fisionomia e pelo caráter humano, permaneceu insuperada por muitos séculos na Mesopotâmia. 
Imagem: História em Revista - A Aurora da Humanidade, 1993, 
Time-Life/Abril Livros Ltda., Rio de Janeiro/RJ

Recentemente, no Afeganistão, também perto dali, a milícia Taliban destruiu monumentos milenares por não concordar que estátuas tivessem rostos. Também perto do Iraque, o mundo vê, pela televisão, palestinos e israelenses se enfrentando em meio aos tesouros arquitetônicos e artísticos de Jerusalém e Belém. Agora, é na famosa Mesopotâmia ("terra entre rios") - ocupada (pelo menos até agora) pelo Iraque - onde o patrimônio arqueológico mundial corre os maiores riscos.Leva para a próxima página

(*) Carlos Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico Novo Milênio.


Escavação em 27/4/1957 na gruta de Shanidar, no Iraque, 
encontra o primeiro homem de Neandertal, de 48 mil anos atrás
Imagem: História da Terra, 1986, ed. Selecções do Readers Digest, Lisboa, Portugal

Veja as partes [2], [3] e [4] desta matéria e também:
A guerra visível e a guerra secreta