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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA
Rosinha Mastrangelo

Patrona da cadeira número 36 da Academia Feminina de Ciências, Letras e Artes de Santos (AFCLAS), Rosinha Mastrangelo teve este resumo biográfico incluído em sua página no site daquela academia: "Rosinha di Nájoli Mastrangelo, mulher emotiva e apaixonada, nasceu a 3 de maio de 1911. Admirada e, sobretudo, respeitada como artista e cidadã santista, foi eleita patrona da cadeira nº 36, a AFCLAS. Escritora, jornalista, poetisa, e radialista, teve longa carreira artística. Iniciou seu trabalho como jornalista, em 1932, sendo uma das primeiras mulheres a trabalhar no jornal O Estado de São Paulo. Cronista de Carnaval, escreveu, durante alguns anos sob o pseudônimo de Pierrot Azul. Mulher de hábitos simples e personalidade marcante, dedicou parte de sua vida à filantropia e à radiodifusão, na qual se iniciou em 1939, na Rádio Clube de Santos. Escritora especializada em rádio-novelas, arrebatou seus ouvintes durante 40 anos. Seus programas Teatro de Atenas e Romance para Você ficaram em evidência durante 11 anos, na Rádio Atlântica de Santos. Suas poesias foram publicadas em dois livros: Poemas para seus olhos e Sentimental. Em Momento de Meditação e Fatos sem Fotos presenteou o público com suas crônicas. Em 1950 realizou o 1º festival do Teatro Amador de Santos. Rosinha Mastrangelo faleceu na madrugada do dia 17 de setembro de 1986."

Um resumo biográfico foi publicado no terceiro volume da obra conjunta História de Santos/Poliantéia Santista, de Francisco Martins dos Santos/Fernando Martins Lichti (Santos, 1996), sendo notável a discrepância na data de nascimento da escritora:

SÍNTESE ANTOLÓGICA DOS POETAS DE SANTOS
Rosinha Mastrângelo

Rosinha Mastrângelo, nascida em Santos a 2 de maio de 1913. Filha de Pedro Mastrângelo e de Dª. Marianna di Napoli Mastrângelo. Jornalista, radialista, cronista, poetisa e novelista.

Bibliografia: "Pequenos poemas para os seus olhos" (1937); "Sentimental" (crônicas). Escreveu diversas novelas e deixou várias publicações esparsas.

Aspiração

Nessa estrada que um dia foi florida
e onde subsiste hoje somente a mágoa,
nasceu-me um dia uma emoção sentida
que me deixou os olhos rasos d'água.

Aos poucos, em minh'alma dolorida,
essa angústia surgiu cinzenta e vaga
e hoje, pairando qual nuvem pressaga,
há um silêncio de dor na minha vida.

Fitando a triste escuridão de agora,
min'alma lembra ainda do passado
e sonha com uma nova primavera!

Eu sei que é tudo em vão... Ah! mas quem dera,
a este meu coração amargurado,
hoje florir como floriu outrora!

 

Rosinha Mastrangelo, em 1957, tinha programas na Rádio Cacique de Santos

Imagem: anúncio publicado no jornal santista A Tribuna, em 16 de junho de 1957, página 17

Em 12 de janeiro de 1934, o antigo jornal santista Gazeta Popular publicou, na página 38 (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda), este conto de Rosinha Mastrangelo (ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução parcial da matéria original

Sonho de moça

Conto de Rosinha Mastrangelo

...Sonho azul de um cérebro romântico de moça...

Um nome de apenas duas sílabas: Nini. Muito bonita, muito morena, dona de uns expressivos olhos castanhos, andar lento, movimentos indecisos...

Um outro nome de unicamente uma sílaba: Cid. Alto, magro, também moreno, gestos precipitantes, olhos negros e traiçoeiros...

Dois nomes que um dia se cruzaram na caminhada áspera da vida. Nini e Cid. E dizem que se quiseram muito. Afirmam mesmo que foi um romance que teve de tudo: amor, arrufos indispensáveis, ausências forçadas, tudo...

Durou quanto tempo?

Não o posso precisar com exatidão. Teve, quando muito, a duração de um sonho... que nem outra coisa é o amor, senão um lindo sonho em que a gente dorme embalada por cantigas ternas, mas do qual desperta com os olhos molhados de saudade...

Tudo cansa e é tão certo esse ditado popular! Cid cansou. Bem mais depressa do que devia. E, impetuoso, não sabia fingir o seu desagrado, o seu tédio, a sua ânsia de liberdade...

Nini percebeu. Alma boa e carinhosa, tudo fez para reter junto de si o prince charmant do seu ideal.

Redobrou carícias. Fez-se faceira. De tudo seria capaz para recuperar o afeto volúvel que tanto fizera vibrar o seu coração amoroso. Era Cid o seu primeiro amor...

E um dia ele não voltou...

Em vão (é quase sempre em vão que se espera pela felicidade!), Nini Esperou. Na aproximação da hora em que Cid costumava vir, ela enfeitava os lábios com um sorriso enganador. O sorriso da esperança...

O que é a esperança?

Digam-no aqueles que se sentem sós. Aqueles que envelheceram sem encontrar nunca a migalha de glória que esperaram da vida. Digam-no todos os que sentem no peito o vácuo da desilusão. E que esperaram e nunca tiveram para a sua esperança o consolo da realização...

Nini esperou muito. Desbotou nos seus lábios a flor do sorriso. Seu coração encheu-se de amargura. Despertou do torpor que a invadira, com um grande cansaço, mas também com uma infinita indiferença...

Hoje, a capa protetora do esquecimento veio cobrir o passado de Nini. Voltou a animar o seu rosto moreno uma expressão de tranqüilidade. Só os seus olhos acastanhados guardam sem esconder uma tristeza indefinida...

Quando o destino por maldade faz com que se encontrem - Nini e Cid - ninguém consegue adivinhar que houve amor entre os dois...

A realidade das coisas fez de Nini uma criatura experiente. Para tudo que a cerca ela tem um gesto de visível indiferença...

Sonho de moça! Sonho que se desfaz como uma bolha de sabão...