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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - CUBATÃO EM... - 1839 - BIBLIOTECA NM
1839-1855 - por Kidder e Fletcher

Clique na imagem para ir ao índice do livroEm meados do século XIX, os missionários metodistas estadunidenses Daniel Parrish Kidder (1815-1892) e James Cooley Fletcher (1823-1901) percorreram extensamente o território brasileiro - passando inclusive por Santos e por Cubatão em 1839 (Kidder) e 1855 (Fletcher) -, fazendo anotações de viagem para o livro O Brasil e os Brasileiros, que teve sua primeira edição em 1857, no estado de Filadélfia/EUA.

Kidder fez suas explorações em duas viagens (de 1836 a 1842), e em 1845 publicou sua obra Reminiscências de Viagens e Permanência no Brasil (leia), sendo seguido por Fletcher (a partir de 1851), que complementou suas anotações, resultando na obra O Brasil e os Brasileiros, com primeira edição inglesa em 1857 e sucessivamente reeditada.

Esta transcrição integral é baseada na primeira edição brasileira (1941, Coleção "Brasiliana", série 5ª, vol. 205), com tradução de Elias Dolianiti, revisão e notas de Edgard Süssekind de Mendonça, publicada pela Companhia Editora Nacional (de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre), publicada em forma digital (volume 1 e volume 2) no site Brasiliana, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ - acesso em 30/1/2013 - ortografia atualizada - páginas IX a XXV do volume 1):

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O Brasil e os Brasileiros

Daniel Parrish Kidder/James Cooley Fletcher

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Imagem: reprodução da página XI do 1º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

Dados biobibliográficos

DANIEL PARRISH KIDDER — Missionário metodista. Considerado um dos pioneiros do Protestantismo no Brasil. A sua missão foi preparada pelo rev. F. E. Pitts que, na sua volta aos Estados Unidos, recomendou o Rio e Buenos Aires para sedes de missões.

O rev. Kidder, em companhia do seu colega o rev. R. J. Spaulding, chegou ao Rio em 1836; demorou-se no Brasil alguns anos, tendo percorrido o Norte do país em 1837-38. Em 1842, por falecimento de sua esposa no Rio de Janeiro, regressou aos Estados Unidos onde, três anos depois, publicou a sua obra: Sketches of Residence and Travels in Brazil (ed. Sorin & Ball, Filadélfia, 1845), em 2 volumes, obra essa que, com seu assentimento, foi ampliada, refundida e atualizada pelo seu colega o rev. James Cooley Fletcher e constitui a presente publicação.

A primitiva obra de Kidder acaba de ser traduzida por Moacir N. Vasconcelos e editada na Biblioteca Histórica Brasileira, Livraria Martins, São Paulo, com o título de Reminiscências de viagens e permanência no Brasil.

JAMES COOLEY FLETCHER — Missionário metodista norte-americano. Nasceu em Indianápolis no ano de 1823. A sua missão evangélica no Brasil foi realizada entre os anos de 1851 e 1865, com interrupção entre 1854 e 55, em que esteve nos Estados Unidos. Fletcher dedicou-se também ao estudo de ciências naturais, tendo, na sua viagem pelo Amazonas, colhido material que enviou ao prof. Agassiz e de que este se serviu para seus estudos ictiológicos e posteriores observações na mesma região.

Durante a sua estada entre nós, em companhia de sua esposa, conquistou influente círculo de relações, não só no seio da colônia inglesa e norte-americana (foi, por várias vezes, Secretário interino da legação dos Estados Unidos), como entre brasileiros de renome, a começar pelo próprio imperador. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Posteriormente serviu como cônsul de seu país na cidade do Porto, de 1869 a 1873, indo depois, como missionário, para Nápoles. Sabe-se (segundo a publicação biográfica norte-americana Who who, 1890) que em 1877 ainda residia na sua cidade natal, Indianápolis.

Por tal forma se irmanaram os coautores da presente obra, nos propósitos comuns que animaram a alta missão religiosa e social que ambos empreenderam, que uma voz autorizada dentre os dignos continuadores de sua obra no Brasil proclama-os, a Kidder e Fletcher, como devendo "figurar sempre como pioneiros do Protestantismo no Brasil no século XIX".

O BRASIL E OS BRASILEIROS — Segundo Alfredo de Carvalho (em sua obra Escritores Exóticos no Brasil), Brazil and the Brazilians é, "ainda hoje, nos Estados Unidos, senão o livro clássico, o mais vulgarizado sobre o nosso país". Também Alexander Marchant (em Handbook of Latin American Studies, 1938) escreve que a obra de Kidder e Fletcher "é, em sua época, certamente, a mais importante obra americana sobre o Brasil".

Edições: — 1ª, 1857, Childs & Peterson, Filadélfia.

2ª, 3ª, 4ª e 5ª — 1858 a 1866, Childs & Peterson, Filadélfia, e Little, Brown, Boston, acresc. de um mapa do Brasil e outro da Baía do Rio de Janeiro por C. B. Colton.

6ª — 1866 — Childs & Peterson, Filadélfia.

7ª — 1867 — Childs & Peterson, Filadélfia.

8ª — 1868 — Childs & Peterson, Filadélfia.

(José Carlos Rodrigues, em Religiões Acatólicas no Brasil, refere-se a nove edições, e Alfredo de Carvalho, em Escritores Exóticos no Brasil, fala de 12 edições, não especificando datas).

E. S. M.

De Daniel P. Kidder, possui o Rev. H. C. Tucker um exemplar da obra.

De James C. Fletcher, cita Alfredo de Carvalho: International relations with Brazil (Proceedings on the reception of H. E. Senhor d'Azambuja, Envoy Extraordinary and Minister Plenipotenciary from Brazil), New York, John Ammermann; 1865.

Em Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano, nºs. 75 e 89 Alfredo de Carvalho publicou uma tradução dos Sketches de Kidder sob o título Impressões do um Missionário Metodista em Pernambuco.

As notas do tradutor vão no final de cada capítulo.

Prefácio

A ideia que vulgarmente se faz do Brasil é, de certo modo, a que vem indicada na ilustração ao lado. Rios caudalosos e florestas virgens, palmeiras e jaguares, cobras gigantescas e crocodilos, macacos roncando e papagaios gritando, minas de diamante, revoluções e terremotos, são as partes componentes do quadro que nos pinta a imaginação. Não seria exagerado dizer que a grande maioria dos leitores está mais inteirada sobre a China e a Índia do que sobre o Brasil. Quão poucos sabem que existe, no distante hemisfério meridional, uma estável monarquia constitucional, uma florescente nação, que ocupa um território de área maior que a dos Estados Unidos, e que os descendentes dos portugueses ocupam na América do Sul a mesma posição relativa que os descendentes dos ingleses na América do Norte. Quão poucos os protestantes que conhecem o fato de que, no território do Brasil, foi a religião protestante pela primeira vez proclamada no Continente Ocidental!

A presente obra
[*] escrita por duas pessoas que têm vinte anos de experiência no Império do Brasil, pretende traçar um retrato fiel da história do país e, pela narrativa dos incidentes relacionados com as viagens empreendidas e durante a residência dos autores na Terra de Santa Cruz, tornar conhecidos os costumes, os hábitos e o adiantamento do povo mais progressivo que vive ao sul do Equador.

Se bem que ultimamente hajam sido publicados alguns "Itinerários" relatando viagens que duraram poucos meses em várias regiões do Império, nenhuma obra de caráter geral sobre o Brasil foi dada à luz da publicidade, na Europa ou América, após a publicação do "Esboço" do primeiro dos autores da presente obra D. P. Kidder, que foi muito favoravelmente recebido na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas que está há muito tempo fora do mercado.

Embora o presente volume seja o resultado de um trabalho comum, o desejo de maior uniformidade fez com que o primeiro dos autores entregasse ao segundo J. C. Fletcher a sua contribuição, permitindo que este usasse o seu nome na terceira pessoa do singular. A soma de trabalho devida a cada uma das duas penas é mais igual do que à primeira vista pode parecer.

Os autores consultaram todas as obras importantes em francês, alemão, inglês e português, que lhes pudesse trazer esclarecimentos sobre a história do Brasil, assim como várias memórias publicadas e discursos lidos perante a florescente "Sociedade Geográfica e Histórica" do Rio de Janeiro. Para os dados estatísticos, examinaram pessoalmente os arquivos do Império e das províncias, ou fizeram citações diretas de publicações oficiais.

Os autores têm a satisfação de declarar a sua dívida, em importantes contribuições, ao Conselheiro J. F. Cavalcanti de Albuquerque, Ministro Plenipotenciário de Sua Majestade o Imperador do Brasil em Washington; ao Cavalheiro d'Aguiar, Cônsul-Geral do Brasil em Nova York; a S. Exc. o ex-Governador Kent, do Maine, e Fernando Coxe, Esq. de Filadélfia, estes dois últimos ocupando alta posição diplomática no Rio de Janeiro; ao Sr. J. U. Petit, magistrado, que foi cônsul numa das mais importantes províncias no Norte do Brasil; aos Srs. L. A. Cuddehy, (falecido) do Rio de Janeiro e ao Rev. H. A. Boardman, D. D., de Filadélfia. Também expressam a sua gratidão ao Sr. H. Bates, Dr. Thos. Rainey e a A. R. Egbert, M. D., pelas valiosas contribuições que vão no Apêndice.

* * *

As numerosas ilustrações, com poucas exceções, são ou desenhos ou vistas daguerreotípicas do natural. Foram fiel e cuidadosamente executadas pelos Srs. Van Ingen & Snyder, de Filadélfia. O mapa, que acompanha esta obra, elaborado pelos Srs. J. H. Colton & Cia., é um dos mais perfeitos até agora publicados sobre um Império de que nunca foi feito um levantamento geográfico. Em 1855, o segundo autor deste livro percorreu mais de três mil milhas do território brasileiro, fazendo correções naquele mapa durante o percurso; apresenta aqui seus sinceros agradecimentos ao Sr. João Lisboa, da Bahia, que se devotou inteiramente à geografia de sua terra natal.

Em 1866, J. H. Colton & Cia. publicaram um gigantesco mapa do Brasil, obra de vários anos devida ao Sr. Rensberg, um dos principais litógrafos do Rio de Janeiro. Os Srs. Fleiuss, Irmãos, editores da Semana Ilustrada, têm publicado vários mapas importantes no seu estabelecimento, o "Instituto Artístico Imperial" do Rio de Janeiro.

NOTA:

[*] Sobre a presente obra, pudemos colher as seguintes referências, que contêm também alusões à estada de seus autores no Brasil e fatos antecedentes:

"
O primeiro missionado que veio ao Rio (da parte dos Metodistas) foi o Rev. F. E. Pitts, que também visitou Buenos Aires. De volta recomendou ambas as cidades para sede de missões. A Igreja Metodista fez, assim, a primeira tentativa no Rio em 1836, quando nos enviou dois de seus missionados, os Revs. R. J. Spaulding e D. P. Kidder, que aqui estiveram alguns anos, desenvolvendo grande atividade. O segundo desses ministros, de volta aos Estados Unidos, publicou uma obra interessante sobre o nosso país, de que depois, aumentada pelo seu colega o Rev. James C. Fletcher, se tiraram nove edições.

"Aproveitaram-se da liberdade relativa de cultos em nosso país, garantida por D. João VI pelo Tratado de Comércio com a Inglaterra, em 1810... da parte desta não houve muito escrúpulo em rebater essa propaganda, armando os preconceitos populares contra ela
".

JOSÉ CARLOS RODRIGUES - Religiões Acatólicas no Brasil (Memória do Livro do Centenário de 1900).

"Kidder e Fletcher hão de figurar sempre como pioneiros do Protestantismo entre nós no século passado".

VICENTE THEMUDO - Anais da Imprensa Evangélica Brasileira.

"Pouco depois de ter estado em Pernambuco o botânico George Gardner (outubro de 1837), desembarcou no Recife o missionado norte-americano Daniel P. Kidder, em viagem de propaganda evangélica, cujos resultados, de mistura com abundantes notícias históricas e geográficas, informações sobre o estado da religião e da moral e pitorescos quadros de costumes, publicou, em 1845, em Filadélfia, sob o título de Sketches of Residence and Travels in Brazil".

ALFREDO DE CARVALHO - Viajantes Ingleses em Pernambuco.

"Fountain Elliot Pitts foi comissionado pela Junta de Missões a fazer uma viagem de investigação das condições religiosas na América do Sul e da conveniência de se estabelecer trabalho missionário nestes países. Partiu dos Estados Unidos nos meados do ano de 1835, na idade de 27 anos; celebrou cultos com pregações do Evangelho no idioma inglês no Rio de Janeiro e Buenos Aires... Em artigos publicados no "Expositor Christão" nº. 10, 11, 12 e 13 do ano de 1936, foram noticiados mais detalhadamente a vinda ao Brasil e à Argentina e os trabalhos dos Revs. Justin Spaulding, Daniel P. Kidder, John Dempster, J. F. Thompson e outros pioneiros que de 1836 em diante levaram avante a obra iniciada por Pitts".

Celebração de quatro aniversários da Igreja Metodista em "Expositor Christão", n° 29 de 1936, artigo editorial escrito pelo REV. H. C. THUCKER.

"... de 1835 a 1842, foi iniciado no Rio um trabalho metodista com a visita do Rev. F. E. Pitts e a estada dos Revs. Spaulding e Kidder, missionários metodistas, o último dos quais fez viagens de propaganda de norte a sul, escrevendo um livro que alcançou muitas edições e larga circulação. Dez anos depois, fixou-se no Rio o Rev. James C. Fletcher, que era presbiteriano, mas empenhou-se na obra evangélica na antiga Corte, sob os auspícios da União Christã Americana e Estrangeira e da Sociedade dos Amigos para os Marinheiros. Viveu no Rio de 1851 a 1854. Como o seu colega Kidder, era homem de elevada cultura e teve ingresso nas altas rodas sociais. Por algum tempo foi secretário da legação americana. Frequentava o paço imperial e foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Voltou ao Brasil em 1855 e fez diversas viagens de evangelização pelo interior e pelo litoral. Associou-se a Kidder nas novas edições da obra citada, que foi refundida, tornando-se Fletcher o principal narrador. As viagens de Kidder e Fletcher e sua convivência com personagens da alta roda social serviram até certo ponto para desbravar o terreno, ocupando eles o papel de precursores para surtos mais vigorosos, que iam ser produzidos no terreno da propaganda religiosa, por missionários congregacionalistas, presbiterianos, metodistas, batistas e episcopais. Quando a missão de Fletcher se aproximava do seu termo, desembarcou no Rio de Janeiro, em 1855, o abnegado médico e missionário escocês, dr. Roberto Kalley... Coube ao dr. Kalley que, por um tempo, residiu em Petrópolis, a missão de estabelecer o primeiro serviço sistemático de evangelização no país".

VICENTE THEMUDO - Anais da Imprensa Evangélica Brasileira, em "Revista de Cultura Religiosa", março e abril de 1925.

Prefácio da 6ª edição

A favorável acolhida que tiveram as cinco edições anteriores da presente obra nos Estados Unidos, na Inglaterra e no Brasil, demonstra um interesse crescente pela maior e mais estável das nações sul-americanas. Talvez que a ilustração que acompanha o Prefácio da Primeira Edição não tenha mais hoje a sua razão de ser como há dez anos passados, mas a verdade é que ainda impera a maior ignorância a respeito do Brasil na Europa e na América do Norte. A presente edição dará uma boa ideia sobre o progresso moral e material do Brasil no decorrer dos últimos dez anos.

Se bem que várias obras recentemente publicadas a partir de 1857 tratem em particular de certas regiões do país, nenhuma outra em língua inglesa dá, como esta, uma visita geral do Brasil e dos brasileiros. No que concerne à vida política e social do Império, na medida em que ela se acha centralizada no Rio de Janeiro, a história e a descrição dos acontecimentos e dos negócios na capital exprimem, em grande parte, o que se passa em todo o país. Em vista disso, o leitor é chamado a deter-se mais demoradamente na cidade em que reside o Imperador e o Parlamento realiza as suas sessões.

A partir de 1857, um dos autores da presente obra (J. C. F.) visitou o Brasil quatro vezes em anos diferentes, morando longo tempo no Rio de Janeiro, passando alguns dias em plantações e observando os sucessivos aspectos da escravidão no Brasil; realizando extensas viagens ao longo do litoral, e penetrando no interior. Em 1862, subiu o rio Amazonas até às fronteiras do Peru — mais de duas mil milhas de percurso ao longo do rio mais maravilhoso do mundo.

Era intenção dos autores publicar uma nova edição em 1864, porém compromissos inesperados, neste e no ano seguinte chamaram o segundo dos autores ao Brasil e impediram a realização desse propósito, sendo, porém, de esperar que as vantagens de informes mais recentes hajam compensado, com vantagens, a demora involuntária.

A experiência dos autores sobre as coisas do Brasil se estende por um longo período de tempo, e foi com toda a consciência e imparcialidade que se esforçaram em manifestar o seu modo de julgar o país e os seus habitantes. Não tinham motivos para proceder de outra forma. Se é verdade que não pouparam o que lhes pareceu errado, quer em assuntos de religião quer em assuntos de escravidão etc., também não regatearam louvores, quando devidos, e não foi intencionalmente que deixaram de enaltecer algum aspecto bom dos brasileiros.

Para homens de negócio estrangeiros, mal sucedidos em suas empresas, ou para viajantes apressados que percorrem o país ignorando as línguas portuguesa e francesa, sem nunca se associarem à vida dos habitantes, as descrições feitas por quem residiu longos anos no Império, ou percorreu-o demoradamente, poderão parecer exageradas. Deve-se ter sempre em mente a origem dos brasileiros, que o Brasil é um país novo entre os demais países do mundo, e que a única forma verdadeira de comparar o Brasil não é medir o seu progresso pelo dos Estados Unidos, Inglaterra ou França, mas sim pelo das demais nações de raça latina da América.

Para tratar pormenorizadamente das transformações e progressos que o Brasil realizou nos últimos dez anos, seria necessário o espaço de um volume. Assim, foram acrescentadas, em emendas e aditamentos, em notas e apêndices, cerca de cem páginas de matéria nova à presente edição, tendo-se também, em muitos casos, alterado e acrescido o texto.

Tanto quanto possível, foi toda a matéria posta em dia (1866), por meio de notas colocadas no final dos capítulos. Em alguns casos, cartas e descrições de viagens foram conservadas, sem mencionar datas, pelo fato de se referirem a hábitos e costumes que não sofreram alteração. Quando o assunto exigia maior espaço, preferiu-se tratá-lo em Apêndice. Dessa forma, a recente guerra contra o Paraguai (acerca da qual se tem manifestado, não só nos Estados Unidos como na Inglaterra, tanta ignorância como a da Europa em relação à última Rebelião nos Estados Unidos), encontrará o leitor um resumo de suas origens e acontecimentos no capítulo XVIII.

A escravidão no Brasil vem tratada no capítulo VIII.

A emigração para o Brasil tem ultimamente atraído grande atenção, principalmente no Sul dos Estados Unidos, depois de 1865. Sobre esse tema, encontrar-se-ão informações no capítulo XIII, bem como no discurso do Sr. Paula Souza, no último capítulo.

Intimamente relacionado com esse tema, segue-se o das atividades dos protestantes que, no ponto de vista do progresso moral, vem, melhor do que em qualquer outra parte da presente obra, no discurso do Sr. Furquim de Almeida e no artigo do Apêndice I.

Os recursos minerais do Brasil são reconhecidamente valiosos. As fontes principais são as minas de ouro e diamantes, porém até agora se tem notado certa deficiência de minerais úteis. Essa necessidade, entretanto, foi afinal suprida. Foi descoberto carvão em várias das províncias costeiras, sendo que a mais importante dessas descobertas foi realizada pelo Sr. Nathaniel Plant
[01] (do Museu Britânico) no Rio Grande do Sul.

Para uma notícia minuciosa dessas ricas minas de carvão, veja-se o Apêndice D. Nesse mesmo Apêndice, ver-se-á que as novas minas de ouro do Sr. Tasso [02], no Nordeste brasileiro, demonstram que o precioso metal não se confina em absoluto à região de São João del Rei.

Os principais jornais brasileiros da capital vêm referidos no capítulo XIV, assim como a literatura brasileira e alguns de seus principais representantes, assunto esse que deve interessar a muitos leitores anglo-saxões.

Além das frequentes menções que vêm feitas na presente obra aos méritos e capacidades do Imperador Dom Pedro II, dedicou-se um capítulo, o capítulo XIII, especialmente à sua personalidade.

No capítulo X, encontrar-se-ão referências a estadistas e partidos políticos.

Em 1865, o conhecido sábio Professor Agassiz, acompanhado por uma comissão científica norte-americana, visitou o Brasil a convite do Imperador. O Professor Agassiz realizou extensas e interessantíssimas explorações, cujo relato em breve será dado a público
[03]. Suas investigações sobre a região amazônica despertaram grande interesse entre os homens da ciência.

O Major Coutinho [04] oficial de engenheiros do Exército brasileiro, por ordem do Imperador, acompanhou o Professor Agassiz nas suas explorações no Amazonas, tendo posteriormente publicado no Rio de Janeiro, em português e inglês, uma descrição parcial da maravilhosa fauna descoberta pelo Professor Agassiz no Norte do Brasil. Damos em Apêndice uma tradução de trechos dessa descrição.

De alguns anos a esta data, têm aparecido várias obras sobre o Império do Brasil, na Inglaterra, França Alemanha e Brasil. Entre elas, merecem menção a de Bates Naturalist on the Amazons, livro encantador e o melhor até hoje publicado sobre essas maravilhosas paragens
[05]. A obra Deux Années au Brésil de Biard é, afora as suas belas ilustrações, o mais infiel livro jamais publicado sobre um país.

O autor parece não ter refletido seriamente sobre o seu assunto. Survey of the River San Francisco, por Halfeld [06], é um magnífico e volumoso in-folio, publicado no Rio de Janeiro, a respeito do qual referiu-se Sir Roderick Murchison, perante a "Royal Geographical Society", da seguinte forma: "Qualquer país se poderia orgulhar de semelhante obra". Não pode ser adquirido, porém alguns exemplares do mesmo foram enviados pelo Governo do Brasil às bibliotecas norte-americanas e europeias.

Os artigos de Elisée Reclus, publicados na "Revue des Deux Mondes", em 1862, deixam ver que o autor é um ardoroso amigo da liberdade, mas que foram escritos após uma visita muito rápida ao Brasil, pois as suas conclusões são algum tanto apressadas, mormente quando se baseiam no livro de Biard e na obra, interessante porém parcial, do Dr. Avé Lallemant Reise durch sud Brasilien, Leipsig, 859. Grande número de publicações alemãs têm surgido relativas à "colonização" dos alemães no Brasil (a qual, em muitos casos, foi uma vergonhosa mistificação), mostrando-se os autores dessas publicações dispostos a não considerar com a mínima vontade todas as coisas do Brasil. Thomas Woodbine Hinchliff escreveu, sob o título South American Sketches (Longmans, Londres, 1863), um trabalho muito bem cuidado e de agradável leitura [07].

O Sr. Pereira da Silva está atualmente escrevendo uma história completa do Brasil em língua portuguesa. O Sr. Aguiar (de São Paulo) [08], num folheto intitulado "O Brasil e os Brasileiros", dá-nos algumas apreciações muito cáusticas sobre os seus concidadãos.

O Sr. Soares, do Rio Grande do Sul, escreveu uma importante obra estatística sobre os recursos do Brasil. O Sr. M. M. Lisboa [09] iniciou, em seu trabalho Romances Históricos, um novo rumo literário que seria de desejar fosse explorado pelos escritores brasileiros.

O Sr. A. C. Tavares Bastos, em suas Cartas do Solitário [10], deu ao público brasileiro a mais valiosa das contribuições sobre as questões políticas, econômicas e morais que tão profundamente se relacionam com o bem-estar do Império.

Uma excelente obra sobre os recursos do Brasil foi publicada em 1863 pelo Barão de Penedo (Ministro do Brasil na Inglaterra) [11], por ocasião da representação do Brasil na Grande Exposição de Londres, em 1862.

Os autores agradecem, pelas correções e contribuições feitas na presente edição, aos Srs. Robert William Garrett, do Rio de Janeiro, Brambier, do Pará, Sua Exc. o Sr. d'Azambuja, Ministro brasileiro nos Estados Unidos, Cavaleiro d'Aguiar
[12], Cônsul-Geral do Brasil em Nova York, e aos Professores Gumere e Cope, de Haverford College, Filadélfia.

Outubro de 1866.

Nota do tradutor [*]: Muitas das referências bibliográficas aqui publicadas foram colhidas na excelente memória de Rodolfo Garcia sobre História das Investigações Científicas, que constitui o capítulo XXV do Dicionário Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil, publicado pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1922.

NOTAS DO TRADUTOR:

[01] Nathaniel Plant — The Brazilian Coal-fields, with a Description of the Plant — Remains by W. Carruthers, in "Geological Magazine", v. 6, nº 4, abril de 1869. Anteriormente já publicara: Report on the coal mines of River Jaguarão, in the Province of São Pedro do Rio Grande do Sul, 1867.

[02] Jaccomo Tasso, concessionário de minas em Piancó, Paraíba do Norte — ver Apêndice D.

[03] A journey in Brazil por Louis Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz, Edição brasileira publicada nesta Brasiliana nº 95, sob o título Viagem ao Brasil, tradução e notas de Edgar Sussekind de Mendonça.

[04] J. M. da Silva Coutinho, major de engenheiros do Exército Brasileiro, autor Relatório sobre a Exploração do Rio Madeira, 1862; Relatório sobre a Exploração do Rio Purus, 1862; acompanhou o Prof. Agassiz em sua Expedição ao Amazonas, tendo em colaboração com esse cientista, feito comunicações à Academia de Ciências de Paris.

[05] A journey in Brazil por Louis Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz, Edição brasileira publicada nesta Brasiliana nº 95, sob o título Viagem ao Brasil, tradução e notas de Edgar Sussekind de Mendonça.

[06] Henrique Guilherme Fernando Halfeld Relatório concernente à exploração do Rio de São Francisco, desde as cabeceiras de Pirapora até o Oceano Atlântico, levantado por ordem do governo de S. M. Dom Pedro II em 1852, 53 e 54, Rio de Janeiro, tip. de Georges Bertrand, 1858. Atlas, Litografia Imperial de Eduardo Rensburg, 1860.

[07] Thomas Woodbine Hinchlift South American Sketches, or a Visit to Rio de Janeiro, the Organ Mountains, La Plata and the Paraná, Londres, 1863.

[08] Antonio Augusto da Costa Aguiar O Brasil e os Brasileiros, Santos, 1862.

[09] Miguel Maria Lisboa Romances históricos por um brasileiro, Bruxelas, 1866.

[10] A. C. Tavares Bastos Cartas do Solitário, 3ª edição publicada nesta Brasiliana, nº 115.

[11] Barão de Penedo (Francisco Ignacio de Carvalho Moreira).

[12] Luiz Ferreira de Aguiar.


Informações para quem vai ao Brasil

A língua portuguesa é a falada em todo o Brasil. Não é um dialeto do espanhol, porém uma língua distinta: como disse Vieyra, é a filha mais velha do latim. O português e o francês são as línguas da Corte. Um sexto da população das cidades mais importantes fala francês. Os que conhecem as línguas francesa, italiana ou espanhola facilmente aprenderão o português. O inglês é falado em todas as escolas mais adiantadas, e é grato aos americanos saber que, na capital, e em outras cidades importantes, os Class Readers de George S. Hillard, Esq., (autor de Six Months in Italy), são adotados nas aulas.

Se bem que os Srs. Trübner & C., de Londres, e os Srs. Appleton, de Nova York, tenham publicado manuais para o aprendizado da língua portuguesa, parece-nos vantajoso dizer que, depois de um inglês ou um anglo-americano conseguir dar às vogais a pronúncia apropriada, do Continente, aprender as contrações, acentos, etc., e as particularidades de duas ou três consoantes, achará o português a mais fácil de todas as línguas estrangeiras.

A terminação ão deve ser pronunciada quase como oun da palavra inglesa noun. As palavras terminadas em ões são pronunciadas como se um n fosse intercalado entre o e e o s; assim, Camões, em inglês se lê Camoens. As terminações em e in são aproximadamente pronunciadas como eng e ing em inglês: p. ex., Jerusalém se pronuncia Jerusaleng. X tem o valor de sh; assim, um dos grandes afluentes do Amazonas, o Xingu, deve pronunciar-se: Shingú.

A palavra Dom (dominus), que sempre precede o nome do Imperador do Brasil, não e usada indiferentemente como o Don dos espanhóis, porém e um título empregado pelos portugueses e seus descendentes exclusivamente em relação aos monarcas, príncipes e bispos.

Um mil réis vale cerca de 56 centavos, ou dois shillings e seis pence em Inglaterra. As quantias em dinheiro no Brasil são representadas pelo sinal do dólar ($) depois da palavra mil: assim, 5$500 quer dizer cinco mil e quinhentos réis, cerca de três dólares. Um conto de reis corresponde a pouco mais de £ 112.

As vestimentas, como é natural, devem ser adaptadas ao clima; mas leve-se sempre alguma roupa de lã, pois no interior, e ao sul da Bahia, o termômetro marca frequentemente 60° Fahrenheit [15,5ºC]. Quase desnecessário será dizer que uma casaca é indispensável para os que vão a palácio. Todos os objetos de uso pessoal, como roupa usada, por exemplo, são livres de imposto; mas os viajantes deverão lembrar-se de que não devem vir providos de charutos. Há muitos reembolsos de fretes pagos na Alfândega por objetos pertencentes a emigrantes, material agrícola, maquinismos etc.

Quanto às leis de patentes, modos de obter privilégios de invenções, etc., o Sr. William V. Lidgerwood, Esq., (encarregado de negócios dos Estados Unidos em 1865-66) pode dar melhores informações do que ninguém sobre o Brasil. Reside no Rio de Janeiro.

Os Srs. Trübner & Cia. (60, Poternoster Row, Londres) estão em condições de fornecer livros brasileiros e portugueses a qualquer país da Europa e da América. Tivemos satisfação de saber que essa casa editora vai publicar um novo e completo Dicionario Inglês-Português — ideia de grande alcance, pois todos os léxicos existentes são muitíssimo antiquados.

Publicações inglesas e americanas de obras notáveis e literatura ligeira podem ser obtidas em H. M. Lane & Cia., à rua Direita 15, Rio de Janeiro; e em Guelph de Lailhacar & Cia., Rua do Crespo, Pernambuco, e na cidade de São Paulo.

Carrington & Cia., "Expresso Norte-Americano e Brasileiro", apresenta grandes vantagens por ter acompanhado o desenvolvimento das Companhias de Navegação dos Estados Unidos e do Brasil. Os Srs. Carrington & Cia., (30 Broadway, Nova York), encarregam-se de entregar encomendas postais e dinheiro, ou executar ordens no Pará, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, e vice-versa. George N. Davis, Esq., Comissário de Mercadorias, Rua Direita, 92, é o seu agente no Rio de Janeiro.

Os hotéis no Brasil não se comparam com os da Europa e Estados Unidos. No Rio todos são caros, variando o preço, conforme o quarto, de 10 shillings a 1 £. O Hotel do Comércio e o Hotel dos Estrangeiros são os melhores hotéis ingleses da capital. O Hotel da Europa é o melhor dos hotéis franceses. O estabelecimento de Bennett, a uma hora do Rio, é o ponto mais agradável do Brasil. Na Bahia, o Hotel Furtin é um bom restaurante, que convém muito aos que chegam por mar. Em Pernambuco, o Hotel Universal oferece as mesmas vantagens. Os hotéis de Bahia e Pernambuco são pequenos, comparados aos do Rio. Os preços de 1855 aumentaram em 1866 de um terço até metade — exceto em Petrópolis, onde há vários bons hotéis.