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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CARNAVAL
Tempo de Carnaval (10)

Dos bailes no Largo da Coroação aos patuscos da Dorotéia. E depois?...
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Em sua História do Carnaval Santista (edição do autor, junho de 1974, Santos/SP), conta o pesquisador Bandeira Júnior:
 


Na charge de Dudu Valladares, aspectos do carnaval santista em 1903
Imagem: revista Santos Illustrado, publicada em Santos em 2 de março de 1903 (Ano 1, nº 9)

Imprensa

O primeiro jornal de Santos foi a Revista Comercial, editado pelo médico hamburguês (naturalizado brasileiro) dr. Guilherme Delius; começou a circular em setembro de 1849. Essa folha tipográfica, essencialmente comercial, como se depreende do nome, mostrou-se sempre avessa às coisas de Momo; porém, como combatia, com veemência, os desmandos do entrudo, era natural que apoiasse a iniciativa da Sociedade Carnavalesca, que pugnava precisamente por um carnaval artístico, expurgado das imundícias entrudescas. Entretanto, a revista do dr. Delius nem sequer registrou a fundação da Santista...

Em oposição à apatia da Revista, o jornal dos irmãos Azevedo Marques - que, com o nome de O Comercial, principiou a ser publicado em 16 de agosto de 1857 - foi, durante toda a sua existência, infelizmente curta (parou em 1860), defensor exaltado da Sociedade Carnavalesca Santista. Suas páginas tinham sempre espaço e disposição para louvar e incentivar tudo que representasse progresso para Santos, incluindo o nascente carnaval, do qual se fez paladino.

Vejam este artigo, provavelmente de autoria do seu diretor, o intelectual Roberto Maria de Azevedo Marques, que, como o irmão João Mariano de Azevedo Marques, foi sempre entusiasta dos folguedos momísticos:

"Santistas! Acha-se batendo às vossas portas, acenando-vos com todas as suas loucuras, seu entusiasmo febricitante, seus bailes de máscaras, seus passeios pelas ruas, seus mil disfarces, aventuras, logros, emoções, risadas, o velho carnaval folgazão e patusco!

"Velho no nome, o carnaval é moderno e jovem no aspecto com que ora figura no número das festas tradicionais do povo. Remoçado, deixando as velhas armas - os limões-de-cheiro, as seringas e a feia alcunha de entrudo, com que o denominava outrora o vulgo, os seus trajes de hoje são os mais suntuosos, como os mais burlescos; as suas armas, flores e confeitos; a sua curta vida, toda de passeios pelas ruas e de danças nos teatros públicos, e sua cara, receosa de corar a tantas loucuras, coberta de uma máscara!

"O carnaval, tal qual o compreendemos e acabamos de descrever em duas palavras, é, meus amigos, um divertimento inocente, curioso, atrativo e até poético! Sim, poético, pois ao lado do índio bravio, na sua quase completa nudez, se apenas adornado de ligeiros enfeites das mais belas penas e munido dos inseparáveis arco e flechas, vedes o valente paladim da Idade Média vestido de ferro dos pés à cabeça e armado de ponto em branco; aqui, um personagem histórico no todo do seu porte e na perfeita verdade dos seus trajes; ali, um semideus da Fábula; acolá, finalmente, uma grotesca e ridícula caricatura de algum original conhecido ou simples fruto de uma fantasia feliz. É uma galeria variada e interessante, uma coleção de grupos os mais vistosos.

"Eia, pois, habitantes de Santos, e principalmente rapazes, mãos à obra! Concorrei pressurosos ao carnaval que se aproxima, mandai aprontar vossos costumes, contanto, porém, que todos sejam a caráter e representativos de figurinos de bom gosto; gastai do vosso dinheiro o que puderdes dispor; preparai-vos para fazer loucuras, mas loucuras lícitas e inofensivas, porquanto outra vez vos dizemos - o carnaval brada em altas vozes por vosso concurso, convida-vos para partilhardes as suas alegrias, acena-vos com as suas vestes de mil cores e suas gargalhadas sonoras!"

Essas candentes expressões tiveram o condão de contagiar a atmosfera local, onde já "reinava crescente entusiasmo, no espírito dos habitantes, cujo único assunto passou a ser o seu primeiro carnaval espirituoso e civilizado".

E prosseguia informando o semanário dos irmãos Azevedo Marques: "Nas lojas dos alfaiates e nas casas das costureiras preparavam-se ricas vestimentas; em todas as casas familiares fabricavam-se grinaldas, confeitos, limões-de-cera, porém cheios de flores. As carruagens eram submetidas a limpeza e pintura, os arreios sofriam esfregações nos seus metais. Os foliões que não possuíam montaria própria, alugavam-nas ao sr. João Mariano de Campos, dono da cocheira e estrebaria da Rua Áurea [(General Câmara)], nº 46, ao preço de 3$000 [três mil réis], por tarde de passeio. Uma loja da Rua Antonina (atual trecho da Rua 15 de Novembro, entre as ruas Frei Gaspar e do Comércio) fizera vir da Corte, que as importava de Paris, "lindas máscaras de arame, com molas, de massa, com barbas ou sem elas, e meias-máscaras (loup), de cetim de cores à veneziana, para vender mais baratas do que em qualquer outra parte".

O arrendatário do Teatro (que em novembro de 1859 tornar-se-ia seu proprietário), Domingos Martins de Souza, anunciava bailes mascarados domingo e terça-feira gorda para o público (o de segunda-feira era exclusivamente para os sócios da Carnavalesca), onde poderiam ser encontrados, para se alugar, trajes e máscaras.

Na edição do sábado gordo, O Comercial repetiu o programa oficial da Sociedade Carnavalesca Santista e rematou-o com estas trovas:

Avante! Avante, rapazes,
Não vos deixeis ficar mal;
Com pompa, rico cortejo,
Eis chegado o carnaval!

Veio, enfim, dessa Veneza
O velho entrudo abolir;
Veio, enfim, a vós, santistas,
Seus prazeres repartir!

Com fito de retornar
à nossa plaga aportou;
Ao velho entrudo venceu
E seu lábaro plantou!

E que prazer não se sente:
Em vez dessas laranjinhas
Receber lindos bouquets
De delicadas mãozinhas!

Belas máscaras alegóricas
Ostentam luxo e riqueza.
Aqui, vemos um conde
Da antiga corte francesa;

Acolá, vai a galope
Um cavaleiro romano;
Além, em atitude bélica,
Vê-se um gentil troiano!

Finalmente o Carnaval
Nos traz tudo à memória
Dos tempos do cavalheirismo,
De feitos, nobreza e glória!

E vós, ó belas santistas,
Da natureza os primores,
Ao povo carnavalesco,
Preparai coroas e flores.

Eia!... Avante, rapazes!
Não vos deixeis ficar mal,
Que às vossas portas já bate
O poético carnaval".

Numa época em que os trabalhadores, assalariados ou servis, desconheciam horários e eram obrigados a labutar de sol a sol, inclusive aos domingos e feriados, não é de estranhar que a diretoria da Sociedade Carnavalesca Santista fizesse pela imprensa este apelo:

"Para maior concorrência ao congresso carnavalesco e em honra aos festejos dos respectivos dias, roga-se aos senhores negociantes desta praça hajam de fechar, nas tardes de domingo e terça-feira da semana próxima, as suas casas de negócio, concedendo permissão a seus caixeiros de tomarem parte nos divertimentos... isto sendo um imenso favor que os senhores negociantes concedem aos seus caixeiros é ao mesmo tempo uma prova que dão ao congresso carnavalesco, de deferência que este lhes merece e do apreço que dão a seus folguedos. - O Diretório".

Vale citar, congresso carnavalesco é a forma como eram então chamados os desfiles de Carnaval...Leva para a página seguinte da série