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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - CUBATÃO EM... - 1839 - BIBLIOTECA NM
1839-1855 - por Kidder e Fletcher - 13

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Em meados do século XIX, os missionários metodistas estadunidenses Daniel Parrish Kidder (1815-1892) e James Cooley Fletcher (1823-1901) percorreram extensamente o território brasileiro - passando inclusive por Santos e por Cubatão em 1839 (Kidder) e 1855 (Fletcher) -, fazendo anotações de viagem para o livro O Brasil e os Brasileiros, que teve sua primeira edição em 1857, no estado de Filadélfia/EUA.

Kidder fez suas explorações em duas viagens (de 1836 a 1842), e em 1845 publicou sua obra Reminiscências de Viagens e Permanência no Brasil (leia), sendo seguido por Fletcher (a partir de 1851), que complementou suas anotações, resultando na obra O Brasil e os Brasileiros, com primeira edição inglesa em 1857 e sucessivamente reeditada.

Esta transcrição integral é baseada na primeira edição brasileira (1941, Coleção "Brasiliana", série 5ª, vol. 205), com tradução de Elias Dolianiti, revisão e notas de Edgard Süssekind de Mendonça, publicada pela Companhia Editora Nacional (de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre), publicada em forma digital (volume 1 e volume 2) no site Brasiliana, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ - acesso em 30/1/2013 - ortografia atualizada - páginas 268 a 288 do volume 1):

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O Brasil e os Brasileiros

Daniel Parrish Kidder/James Cooley Fletcher

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Palácio Imperial da Boa Vista, em São Cristóvão

Imagem: reprodução da página 269 do 1º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

Capítulo XIII

O Imperador do Brasil.

Deve naturalmente haver interesse e louvável curiosidade em conhecer o caráter e as habilitações do monarca, que foi chamado pela Providência para dirigir uma florescente nação. O imperador do Brasil, em virtude das limitações da Constituição, não tem o propósito do domínio que é a herança de Alexandre II, ou o ideal de Napoleão III.

A vida de algumas cabeças coroadas limita-se ao seu aspecto oficial; muito poucos dos governantes Dei gratia possui méritos intrínsecos; são educados, requintados e podem ou não ser afáveis. Aos olhos do legitimista, a sua principal distinção é o sangue, que lhe corre nas veias, em gerações passadas de reis.

Aquele, porém, que se coloca a meio do caminho entre o legitimista e o republicano rubro, considera com maior ou menor grau de veneração os representantes do poder executivo que vê no governo, e possivelmente é levado a ter certa admiração pelo caráter amável e benevolente que pode possuir quem se assenta sobre um trono.

Porem é muito raro, na história das nações, encontrar um monarca que combine tudo o que poderia exigir o mais escrupuloso legitimista, e que seja limitado por todas as restrições que um constitucionalista possa almejar, e ainda possua os maiores dotes para o respeito de seus súditos e admiração do mundo, pelo seu talento congênito e suas aquisições em matéria de ciências e literatura.

Essa rara combinação se encontra em d. Pedro II. Em suas veias corre o sangue unido dos Braganças, Bourbons e Habsburgos. Pelo casamento, acha-se ligado às famílias reais e imperiais da Inglaterra, França, Rússia, Espanha e Nápoles. Seu pai, d. Pedro II, era um enérgico Bragança, e sua mãe d. Leopoldina, uma Habsburgo, cunhada de Napoleão I.

Seus parentes, como já se disse, são de todos os graus, desde o monarca constitucional ao mais absoluto ditador. Seus poderes, modificados pela Constituição Brasileira, já foram considerados. Faltam-nos descrever como chefe, e os títulos principais que o recomendam aos olhos da sua nação e do mundo. É desde muito um devotado à ciência da química e, o seu laboratório em São Cristóvão assiste sempre a novas experiências.

O comandante Strain, o nobre herói da expedição Darien, cuja ciência é tão conhecida como sua bondade e bravura, informou-me que, visitando o Rio de Janeiro havia mais de dez anos, encontrara o imperador inteiramente dedicando-se aos estudos dos fenômenos naturais.

O dr. Reinhardt [T50], — que passou muitos anos no Brasil como naturalista, visitou a capital do Império, quando d. Pedro II ainda não completara 19 anos. Este ouvira dizer que o sábio americano ia empreender uma exploração científica do Império, e mandou chamá-lo para ajudar-lhe a executar algumas novas experiências químicas, cuja descrição ele tinha estudado atentamente nas revistas científicas europeias. O dr. Reinhardt acrescentou, depois, que o jovem monarca, no seu entusiasmo, não dava atenção ao tempo que passava, quando eles, num clima tropical e numa sala fechada, encerravam-se durante horas, para realizar fumegantes reações químicas.

Sabe-se bem no Rio de Janeiro que o imperador é um bom engenheiro topógrafo, seus conhecimentos teóricos em perspectiva são às vezes postos em prática: — o príncipe alemão Adalbert, no relato que publicou de sua visita ao Brasil, conta-nos que o imperador presenteou-o com uma pintura muito correta devida à imperial palheta.

Mostra grande inclinação para o estudo filológico; ouviu-o falar três diferentes línguas; sei, por ouvir dizer, que conversa em mais três; e que traduz também todas as principais línguas europeias. A sua biblioteca é rica das melhores histórias, biografias e enciclopédias. Houve quem notasse que dificilmente o estrangeiro pode iniciar uma palestra sobre assunto do seu próprio país que seja estranho a d. Pedro II.

Não há sessão do Instituto Histórico Brasileiro a que não compareça; está familiarizado com a literatura moderna da Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos num grau de minúcia absolutamente surpreendente. Quando o apelo de Lamartine por auxílio foi transmitido sobre as ondas, foi o imperador do Brasil que lhe prestou o maior auxílio material, subscrevendo cinco mil exemplares da sua obra, pela qual remeteu ao delicado poeta cem mil francos. O seu poeta favorito é atualmente, entre os vivos, o sr. Longfellow, por quem tem ilimitada admiração.

Na literatura e na ciência, não se limita aos livros, mas uma parte de suas manhãs é dedicada à leitura das revistas estrangeiras e jornais, bem como às publicações do Brasil. O que porém, sai da sua própria pena é raramente visto; tenho porém, diante dos olhos, algumas linhas originais da mão do imperador, que um membro do corpo diplomático do Rio copiou do álbum de alguém, pertencente à Casa Imperial. Sem dúvida não pretendiam vir a público, porém a justeza de seus sentimentos, mesmo que em inglês não traduza toda a leveza do português, pode ser apreciada pelos leitores desta obra: — (Ver apêndice).

Em 1856, o excelentíssimo sr. Luther Bradish, digno presidente da New York Historical Society, na reunião de julho dessa associação, propôs d. Pedro II, para membro honorário dessa culta corporação. A proposta foi secundada pelo marechal S. Bidwell, Esq., e não preciso dizer que a votação se deu por aclamação.

A mesma sociedade, numa reunião seguinte, ouviu do reverendo dr. Osgood, a seguinte observação a respeito do imperador do Brasil: "D. Pedro II, pelo seu caráter, seus gostos, aplicação, e conhecimentos em literatura e ciência, eleva-se acima da sua mera posição fortuita de imperador e assume um lugar no mundo como um homem".

O monarca brasileiro herdou o seu talento em linha reta. D. Pedro I era um homem de grande energia e capacidade, e d. Leopoldina não deixara de herdar aquela energia que caracterizava sua mãe Maria Tereza. Os primeiros estudos de Pedro II foram dirigidos pelo Franklin do Brasil — José Bonifácio de Andrada; e não sei se o seu gosto pela ciência foi influenciado por esse admirador talentoso dos estudos naturais. Sua mente, desde cedo, ficou imbuída de seus problemas e, quando chegou a maturidade, como já vimos, não perdeu oportunidade para fazer acréscimos às suas reservas de conhecimentos.

A primeira vez que vi o imperador, estava vestido em trajes civis, acompanhado pela imperatriz. Vinham numa carruagem puxada por seis cavalos precedidos e acompanhados pela guarda montada. Gosta de andar depressa, e quer a cavalo, quer em carruagens, os seus camareiros e guardas tem que conservar o passo destoando das manifestações comuns de atividade entre os brasileiros.

Dois dragões precedem a todo galope a carruagem e, ao som de seus chicotes, as ruas ficam livres de todos os obstáculos, transeuntes e veículos. Aconteceu, porém, em relação a mim, que os músculos do pescoço de Suas Majestades deviam estar excessivamente fatigados pelos seus frequentes passeios na cidade e nos subúrbios, para que o mais humilde de seus súditos, ao saudá-las, não fosse retribuído. O seu passeio usual às tardes é pelo Catete e Botafogo, até o Jardim Botânico.

Visita a um navio mercante norte-americano.

Um conjunto de circunstâncias levou-me depois a ter mais estreitas relações com S. Majestade do que as de um mero observador de sua bela figura, passando rapidamente diante de mim. Em 1852, durante a ausência temporária do sr. Fernand Coxe, secretário da legação dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, fui escolhido para ocupar o seu lugar. E, finalmente, depois da sua resignação, fui nomeado secretário efetivo.

Em setembro de 1852, tocou-me o dever de ir ao Palácio de São Cristóvão em companhia do governador Kent, o qual, na ausência do ministro plenipotenciário, assumiu o posto de encarregado de negócios, somado ao de cônsul americano. A ocasião exigia essa visita oficial do governador Kent que, de acordo com a etiqueta da Corte, ia agradecer à Sua Majestade ter aceitado o convite do comandante Foster, para visitar o navio City of Pittsburg.

Esse grande navio mercante estava em viagem para a Califórnia, via Estreito de Magalhães e, fazendo estação no porto do Rio de Janeiro para tomar carvão, o capitão convidou o imperador e sua Corte, para uma excursão a bordo desse esplêndido exemplar da arquitetura naval norte-americana.

O imperador, tendo manifestado sua aceitação, todos os preparativos foram feitos e, às 11 horas da manhã, os canhões dos fortes dos navios de guerra anunciavam que a comitiva imperial havia embarcado para o vapor. O dia não podia ser mais belo. O capitão Foster não poupava esforços para a ornamentação de seu belo paquete, de maneira digna de seus hóspedes. Flâmulas e bandeirolas foram suspensas no mastro principal. As bandeiras da república norte-americana e do império sul-americano flutuavam unidas, enquanto que uma orquestra, no passadiço de bordo, irrompia os hinos nacionais do Brasil e da União Norte-Americana.

Quando as embarcações chegaram ao City of Pittsburg o capitão Foster, tendo ao lado o encarregado de negócios americano, recebeu o imperador e, dando-lhe as boas vindas, pôs o vapor às ordens de Sua Majestade.

D. Pedro II estava acompanhado pela Imperatriz, bem assim como pelos ministros, a Casa Imperial e os oficiais superiores do Exército e da Marinha. Todos estavam em grande uniforme, com exceção de S. Majestades.

A excursão foi de extraordinário interesse, o belo paquete de duas mil e duzentas toneladas mergulhava a sua quilha através dos vários ancoradouros, até se aproximar dos navios de guerra; os canhões dos fortes saudaram-no à sua passagem, e os navios de guerra não só soltaram suas barulhentas salvas, como manejaram o seu velame, tendo os marinheiros soltado altos vivas a d. Pedro II. Enquanto isto, o imperador examinava o City of Pittsburg, das carvoeiras até às máquinas e, como eu me senti no dever de dar-lhes todas as explicações, tive oportunidade para observar o homem, esquecendo os aspectos formais do imperador.

D. Pedro não se contentava em ver apenas o exterior das máquinas, mas descia até os compartimentos aquecidos e cheios de óleo da parte inferior do navio, onde estavam alojadas as mais complicadas peças das máquinas, meia hora foi depois empregada em estudar os desenhos da parte mecânica do navio, que foram explicados minuciosamente pelo engenheiro chefe do navio, e pelo sr. Grandy, engenheiro inglês há muito tempo adido à Marinha Brasileira.

Quando terminou o exame das máquinas, o imperador desejou visitar o tombadilho da terceira classe. Ora, os americanos são o mais vaidoso povo do mundo, e temiam que, nessa parte do navio d. Pedro não só se chocasse com a aparência de alguns espécimes muito grosseiros da humanidade, em sua viagem para as regiões do ouro, no litoral do Pacífico, como também que os ditos espécimes não dessem a S. Majestade a recepção devida à sua posição, como chefe executivo da mais poderosa nação sul-americana.

Mas a atenção do imperador não pôde ser desviada para outro ponto, e o comandante, temeroso e trêmulo, levou-o para o passadiço da proa. Aí, deitados em sacos de aniagem, viam-se os representantes da Mose de New York, da Killer de Filadélfia, de Plug-Ugly de Baltimore.

O coração do capitão confrangeu-se de aflição: tinha orgulho de seu navio e de seus ilustres hóspedes, mas muito pouco de alguns de seus passageiros, especialmente aqueles terríveis e indomáveis indivíduos, que, ainda, por cima, eram mais grotescos depois duma viagem do que num dia de eleição. O imperador aproximou-se então daqueles sovereigns — aí de nós, bastante perto para poder sentir o ar de sua nobreza — então ocorreu uma cena, dificilmente descrita por palavras, que nunca se daria com outros autores que não fossem norte-americanos.

Um dos estivadores, em que o fumo já de há muito ocupara a maior parte da boca e dos pensamentos, bruscamente levantou-se do saco de aniagem, descarregou a sua saliva no mar e, de chapéu na mão, exclamou numa voz muito nítida e terrível, - "Camaradas, três vivas pelo Imperador do Brasil!" Num abrir e fechar de olhos, todos os californianos estavam de pé e nunca, nas suas fogosas batalhas pela gloriosa "Democracia", soltaram mais fortes e cordiais hurrahs, como nesse dia para d. Pedro II. A surpresa, o inesperado, as boas intenções e o entusiasmo de tudo isso, foram dos mais imprevistos. Os temores do comandante, porém, desapareceram, tinha atravessado a sua pons asinorum, e podia agora respirar e rir francamente. O imperador retribuiu a saudação improvisada com grande respeito e, com gravidade que condizia com aquela solene ocasião.

A imperatriz e seu séquito não fiaram menos satisfeitos com a comodidade dos salões e a rica decoração dos camarotes, do que o seu imperial esposo com todos os equipamentos mecânicos de bordo.

O City of Pittsburg ficou sob o comando do imperador e, assim, viajamos algum tempo, embora o mal do mar tenha atacado fortemente uma boa parte da Corte. S. Majestade mostrava-se tão satisfeito, com o seu novo domínio flutuante, que não se resignou em perdê-lo tão cedo; por isso, passamos dez milhas além do Pão de Açúcar, antes que fosse dada a ordem de regresso. O panorama do litoral montanhoso nunca me pareceu mais magnífico do que nesse brilhante dia de setembro.

O capitão preparara uma suntuosa mesa de doces, mas surgiu um obstáculo que parecia mais difícil de vencer do que o tombadilho da proa. O par imperial não estava nem mesmo habituado a jantar com seu séquito, e até nas ocasiões mais solenes eminentes ministros plenipotenciários nunca foram convidados a tomar parte na refeição, no mesmo salão de S. Majestade. Não havia precedente de uma merenda feita em um tombadilho de um navio americano e sobretudo a bordo de um simples navio mercante.

Ninguém tinha então a ideia de consultar o imperador, acerca de um assunto aparentemente tão insignificante, como o modo por que desejaria comer e, portanto, o capitão Foster, que é tão simples quanto hospitaleiro, tomou toda a responsabilidade em suas mãos, e abriu um precedente.

O City of Pittsburg fazia parte integrante dos Estados Unidos, e o seu comandante estava decidido a fazer as honras do seu país, como se estivesse nas margens do rio Hudson. Suas Majestades foram colocados em uma mesa separada que, como seis outras no navio, ficou distante das outras, um intervalo de dois pés. A oficialidade norte-americana ocupou a mesa junto; os ministros e nobres sentaram-se em outra, enquanto que os camareiros ficaram próximos do imperador.

Talvez d. Pedro não tivesse feito qualquer objeção à vizinhança dos americanos, considerando que todos eram sovereigns. O capitão Foster, que fala bem o francês, propôs, com dignidade apropriada ao momento, a saúde de SS. Majestades; e tudo se passou, tão fácil e felizmente, como se mil e uma cerimônias e precedentes tivessem sido respeitados e seguidos.

Entramos na baía, entre as salvas dos canhões e, ao por do sol a comitiva imperial embarcou de volta nas lanchas oficiais, tendo passado um dia que, mais tarde, ele declarara ter sido um dos dias mais agradáveis de sua vida. Repetidamente depois, tive ocasião de ouvir SS. Majestades exprimirem suas recordações dessa excursão; estou certo de que nenhum dos amigos pessoais do capitão Foster sentiu mais profunda simpatia por ele do que d. Pedro II e d. Tereza, ao saberem, pelos jornais, o triste destino do "City of Pittsburg", no porto de Valparaíso
[T51].

Exposição de produtos norte-americanos.

Em 1854, regressei por alguns meses aos Estados Unidos. Tendo tido várias vezes ocasião de observar, na minha estada no Brasil, a ignorância aí dominante em relação aos Estados Unidos, e a recíproca ignorância do povo norte-americano em relação ao Brasil, desejei tudo fazer que estivesse ao alcance de uma simples pessoa, para remover a impressão errônea, e conseguir um melhor entendimento entre os dois países.

Havia nisso mais altos objetivos em vista do que uma mera difusão de conhecimentos, e uma intensificação de comércio. E agora, que dois anos se passaram desde a consecução dos meus propósitos, tive a satisfação de saber que novos laços de reciprocidade tinham sido iniciados, que livros escolares haviam sido feitos para o Brasil em estilo americano, e que milhares de dólares foram depois de 1865 empregados na compra dos artigos que expus.

Quero aqui intercalar, mesmo sujeitando-me a repetições, a maior parte de uma carta, dirigida ao New York Journal of Commerce e ao Filadelfia Ledger, que dá um resumo dos esforços a que acima me referi. Devo de minha parte explicar que muitas pessoas não entenderam totalmente o meu empreendimento e que, depois de ouvirem falar no seu sucesso, lastimaram não terem tido uma oportunidade de se fazerem representar na "Exposição" da capital do Brasil.

"
Rio de Janeiro, 23 de maio de 1855.

"Srs. Editores.

(Depois de algumas observações preliminares, escrevi o que se segue:)

"O motivo que me animou a empreender esse negócio foi simplesmente o bem dos Estados Unidos e do Brasil. Quando trabalhei durante vários anos, como missionário no Rio de Janeiro, verifiquei haver grande ignorância a respeito do nosso país, seu progresso, e seus recursos de produção. Também descobri uma recíproca ignorância dos Estados Unidos a respeito do Brasil.

Neste país, nós somos conhecidos como uma raça arrojada e resistente, que consome dois terços da produção brasileira de café; pela qual, em troca, nós exportamos trigo e alguns artigos de menor uso. Nos Estados Unidos, o Brasil é muitas vezes classificado entre os países espanhóis da América. Poucas pessoas sabem que a língua portuguesa é falada no Brasil, e que este país é a única monarquia na América e o único governo constitucional do continente ocidental que tem andado para frente, com tranquilidade e prosperidade material, além dos Estados Unidos.

Encontrei aqui artigos e publicações, inglesas, alemães e francesas, que estavam realmente de acordo com a moda, e isso se dava embora alguns artigos pudessem ser comprados mais baratos nos Estados Unidos; certifiquei-me, também de que os nossos navios voltam carregados de lastro, para buscar café, pagando para isto as mais exorbitantes taxas de câmbio, quando os navios europeus trazem cargas que lhe permitem, em pagamento, receber os principais produtos do Brasil.

No Brasil, encontrei grande falta de livros didáticos. No Chile, em Nova Granada, vi livros espanhóis, publicados por Appleton, e desejaria ver a mesma coisa feita para a juventude do Brasil, onde grande atenção está sendo despertada para os assuntos de educação. Observei, no país, algumas associações científicas que, em dignidade e dedicação às belas letras, podiam ombrear com a New York Historical Society e outras associações congêneres da nossa Pátria.

Era meu ardente desejo, primeiro — ver esses sete milhões de homens tolerantes possuindo uma profunda moralidade e uma verdadeira religião. Outro desejo meu seria ver homens de ciência estudiosos do Brasil ligados aos espíritos irmãos da nossa vigorosa terra; e contemplar bons compêndios nas mãos das crianças brasileiras, e ver as nossas fábricas, tendo mostruários neste país, seu tão grande consumidor.

Em 1854, em virtude de enfermidade em pessoa de minha família, fui obrigado a deixar subitamente o meu campo de atividade para ir aos Estados Unidos. Aí, passados alguns meses, compreendi que estava obrigado a abandonar a terra da minha adoção.

Foi para mim, entretanto, necessário voltar ao Brasil, a fim de ultimar os meus negócios. Foi então que, pelos jornais, ofereci meus serviços para levar para o Rio de Janeiro, livre de despesas para os doadores, todos os artigos que enviassem para o meu endereço. Esses objetos, solicitei-os para o imperador, para as associações científicas e literárias e para exposição pública.

Como sacerdote, sabia que ninguém me acusaria de especulação. Durante dois meses, mais ou menos, fiz despesas à minha custa, para solicitar, em pessoa, os donativos, tanto pela imprensa como por meio de cartas. Lastimo dizer que muitas pessoas, que deveriam estar interessadas nessa tentativa, não se dignaram responder às solicitações de um nome desconhecido, não ficando por isso a exposição tão rica como seria de desejar, em algumas seções, embora tenha eu o prazer de declarar que houve alguns homens influentes, que emprestaram a responsabilidade de seus nomes ao projeto.

Afinal, certo número de artistas, editores, comerciantes e fabricantes foram induzidos a enviar exemplares de livros, estampas, esculturas e objetos manufaturados, mas tudo isso foi pouco em comparação com a nossa contribuição para o próprio benefício futuro dos doadores.

Os srs. Comer & Sons, de Baltimore, generosamente puseram o seu navio à minha disposição, com passagem grátis. No mês de março, o belo navio Huntingdon deixou Baltimore levando a minha bagagem. Robert C. Wright, Esq, dessa cidade, e o seu principal funcionário sr. W. R. Jackson fizeram tudo ao seu alcance para facilitar a empresa, e a eles, mais do que a quaisquer outros, devo o sucesso obtido.

Em abril, chegamos ao Rio de Janeiro e, durante três semanas, passei por tais vexames e delongas, que quase desesperei dos resultados da minha empresa. Devido à gentileza do barão de Penedo, então ministro brasileiro em Washington, e a uma carta do exmo. sr. William Trousdale, ministro norte-americano, as minhas caixas e pacotes foram admitidos isentas de taxas.

Os regulamentos da Alfândega deste país são excessivamente rigorosos, e tive de fazer uma descrição de cada objeto que trazia, para fins estatísticos do Ministério das Finanças. Como não tinha lista dos artigos nem de seus respectivos valores, muitas das caixas contendo cem diferentes pacotes bem amarrados, entre os quais muitos objetos frágeis, em suma, tudo teve de ser aberto pelos funcionários, que não eram dos mais cuidadosos, fazendo-me sofrer física e mentalmente antes e depois dos exames. Não foi fácil conferir tantas parcelas, e tive de restaurar com dificuldade alguns belos objetos depois que mãos desastrosas de certos funcionários subalternos haviam atravessado com pregos esses objetos.

O inspetor chefe da Alfândega estava convencido, desde o dia da minha chegada até o dia do exame dos meus caixotes, que eu estava meditando algum plano contra as finanças do país; e abertamente falou a alguns negociantes que eu pretendia vender aqueles artigos. Essa cavalheiro mais tarde tornou-se meu afetuoso e atencioso amigo.

Foi quando eu assistia pacientemente à abertura de caixa por caixa, e chegamos a uma que continha as esplêndidas fotografias de Fredericks, & Gurney, que o fiscal-chefe chamou um outro e mandou chamar o vice-inspetor; este veio e, depois de expressar a sua admiração pela perfeição daquelas fotografias, mandou chamar o inspetor-chefe. Este cavalheiro deixou o seu estrado, que fica no grande vestíbulo da Alfândega, e encaminhou-se para os depósitos. A sua admiração não conheceu limites quando viu a fotografia em tamanho natural de Webster, o último retrato do grande estadista.

Daí data a cessação de suas suspeitas em relação aos meus projetos. Olhou com grande satisfação os belos mapas de Conon, deleitando-se no exame das admiráveis gravuras de notas bancárias, feitas por Dunforth & Wright, assim como as de Toppan & Carpenter, que contribuíram com algumas de suas mais belas amostras, em que se mistura o belo e o útil nas artes. O exame e o registro do conteúdo das minhas caixas, daí por diante, foram feitos com muita mais pressa em virtude da visita do inspetor-chefe.

Uma semana depois de me libertar da Alfândega, recebi uma ordem do ministro do Império cedendo-me um grande salão no Museu Nacional para nele realizar a exposição. No mesmo dia fui a Palácio, comunicar ao imperador que estava pronto para recebê-lo às 11 horas da manhã do dia seguinte (16 de maio) no Museu. S. Majestade recebeu-me e, segundo julguei então, com maior amabilidade do que seria de esperar de sua costumada atitude séria, e logo descobri, por uma observação que me fez, que era devedor à S. Exa. o sr. Carvalho Moreira, de uma completa explicação a Sua Majestade de meu projeto, que da minha parte, era mais filantrópico do que comercial.

Essa noite não consegui dormir, tão atarefado estive com o arranjo de todos os pormenores da exposição. No dia seguinte, cinco minutos antes das onze, (Sua Majestade é notável de pontualidade), ouvi os conhecidos toques de corneta da Guarda Imperial e, antes que os meus auxiliares tivessem tempo de atender, as carruagens conduzindo d. Pedro e seus camareiros pararam em frente do Museu.

Auxiliados por alguns bons amigos, eu havia disposto os seiscentos diferentes objetos de forma tal que a exposição não deixou de ter uma certa imponência. As bandeiras norte-americana e brasileira caíam em graciosas dobras sobre os retratos de Washington, do imperador e de seu pai. Os mapas de Coltton e de outros editores, as gravuras de Nova York, Filadelfia e Boston, cobriam as paredes. Livros e pequenos artigos manufaturados ocupavam as mesas; papéis de parede, belamente pintados e cadernos de amostras, de musselina de lã, viam-se suspensos, e grandes máquinas agrícolas foram arrumadas sobre estrados, adrede preparados.

S. Majestade começou a examinar com grande interesse todas as coisas, minuciosamente. Fez várias perguntas, manifestando o mais íntimo conhecimento do progresso do nosso país. Encheu-se de admiração pelos exemplares de livros, gravuras em aço, e cromolitografias de Filadélfia, bem como pelos maquinismos agrícolas. De vez em quando, ouvíamos chamar um dos nobres ou camareiros que o acompanhavam para admirar esse ou aquele objeto úteis ou artísticos expostos. Não era, porém, descuidoso em seu louvor, mas, pelo contrário, perfeitamente franco em suas críticas.

Sendo ele próprio um perfeito estudante em ciências físicas, e um bom engenheiro, examinou minuciosamente a esplêndida publicação do United States Coast Survey, da repartição da United States Coast Survey de Washington. Apreciou também no seu justo valor as várias obras científicas, que ocupavam uma vasta mesa.

Durante meia hora esteve debruçado sobre o Atlas de Química de Youman, louvando a sua excelência e simplicidade. Quando examinava um trabalho sobre fisiologia, ouvi-o observando a superioridade de um tratado de craneologia, de autoria do dr. Morgan; informou-me que possuía os escritos desse eminente estudioso do corpo humano. Era também muito lido nos imensos volumes do operoso, erudito e consciencioso Schoolcraft, cujos trabalhos sobre os aborígenes da América do Norte haviam sido mandados pelos chefes dos Serviços dos Negócios Indígenas de Washington.

S. Majestade mostrou-se profundamente interessado pelos vários mapas, geografias e compêndios, enviados por Coltton, Appletons, Woodford & Brace, T. Cowperthwait, e Barnes. As publicações belamente ilustradas de várias sociedades de beneficência de nossa terra foram oferecidas à família imperial e atraíram merecida atenção. O imperador muito satisfeito se mostrou com os exemplares de gravura em madeira, que foram executados pelo sr. Van Ingen, da firma Van Ingen & Snyder, que foram os hábeis ilustradores da presente obra.

O rápido exame que fez, dos maquinismos industriais e máquinas agrícolas, justificava a reputação que d. Pedro II goza a este respeito. Os papéis de parede Howell, feitos segundo os desenhos dos estudantes da Academia de Desenho de Filadélfia, e os belos tecidos de seda de Horstman, e de Evans, — que deviam ser classificados como verdadeiras obras de arte, mereceram grandes elogios.

Em seguida aproximou-se da mesa em que estavam os livros expostos por Appleton e Parry & Mc. Millan. Tomando nas mãos o Republican-Court ele disse — "Estou admirado de tanta perfeição em matéria de encadernação" respondi: "Pois nenhum desses volumes foi encadernado expressamente para ser visto por V. Majestade."

As encadernações dos livros de Appleton são soberbas. Ele abriu o livro Homes of the American Authors e surpreendeu-me com o conhecimento que tem da nossa literatura. Fez observações sobre Irving, Cooper e Prescott, mostrando íntima familiaridade com cada um deles. Seus olhos pousaram no nome de Longfellow, e perguntou-me com grande interesse: Avez-vous les poêmes de Mr. Longfellow? Era a primeira vez que ouvia d. Pedro II manifestar um entusiasmo que, em sua emoção e simplicidade, lembrava o ardor do infante quando deseja possuir um objeto há muito desejado.

Respondi: "Creio que não, Majestade." — "Oh! disse ele, sinto muito, pois tenho procurado em todas as livrarias do Rio de Janeiro, obras de Longfellow sem nunca as conseguir. Possuo muitas de suas belas poesias mas desejava possuir as suas obras completas; admiro-o imensamente." Essa tarde encontrei os livros enviados por Parry & Mc. Millan os Poetas e poesias da América — neste volume, há um esboço biográfico de Longfellow, assim como algumas poesias escolhidas de sua pena. Esse volume, juntamente com o New Pastoral de T.-Buchanan-Read, foram depois comentados e recebidos com o mais evidente prazer por S. Majestade.

Estava ausente do salão quando d. Pedro II observou as gravuras da American Bank Note Compank. Quando voltei, achei-o empenhado numa discussão com seu primeiro camareiro a respeito de John Quincy Adams — o camareiro (como aliás a maioria dos estrangeiros, mesmo os mais instruídos) supunha que John Quincy Adams fosse o mais velho dos Adams —. O imperador insistia em dizer que John Quincy Adams não era o antigo campeão da liberdade e o comrade, como ele o chamou, de Washington; — mas sim o filho de John Adams que, como este, fora presidente dos Estados Unidos.

Logo que fez um novo exame da Republican Court, e apontou para o camareiro a ilustre mãe de John Quincy Adams, mostrou-se muito desejoso de ver um retrato de Jeferson. Um dos seus ajudantes encontrou um retrato muito bem gravado, pelo buril de Toppan & Carpenter, do sábio varão de Monticello. Quando o recebeu nas mãos, ouvimo-lo dizer, sem pedantismo ou afetação, mas com grande minúcia e correção, o seu juízo sobre o caráter de Jeferson comparado com o de Washington.

Aproximando-se de algumas belas litografias, publicadas por Williams & Stephens, de Nova York, apresentei a S. Majestade o Young America, esse belo porém insubordinado rapaz, assim como ao Uncle Sa's Youngest Son, Citizen Know-Nothing. Pensei que havia encontrado um assunto sobre o qual S. Majestade realmente não soubesse nada. Mas verifiquei que me enganara, pois ele contou, a um dos seus camareiros, algumas das travessuras desse jovem, acrescentando que era um cidadão de algum poder de sabedoria a julgar pelas recentes eleições nos Estados Unidos (1865).

Assim passamos todo o dia, no exame e na explicação dos artigos norte-americanos.

Visita ao Imperador.

Poucos dias após o encerramento da Exposição, levei os muitos objetos destinados à família imperial ao grande palacete de Marquês de Abrantes, situado num dos mais belos recantos do Rio, na praia de Botafogo, que tanto lembrava o golfo napolitano. S. Majestade estava passando, aí, algumas semanas, para tomar banhos de mar.

Passei pela guarda do portão e, quando subi as escadas, fui visto pelo Imperador, que veio ao meu encontro, na porta de entrada, agradecendo-me cordialmente por tudo o que havia feito. Pedi-lhe que me concedesse alguns momentos até que chegassem os caixotes, pois tinha que lhe dar algumas explicações sobre a fechadura secreta dos excelentes baús, mandados para S. Majestade por Peddie & Morrison de Newark, N. J.

Com a sua permissão, penetrei nos belos jardins, onde havia as mais ricas e raras flores do país, em perpétua florescência. O ambiente estava verdadeiramente saturado de doces perfumes. Havia aí fontes e estátuas, muitos pássaros de brilhantes plumagens e, tudo na natureza e na arte, feito para alegrar os que vivem para o belo. Olhando para uma cena tão encantadora, tive um único desejo, de que esta terra, para quem tanto Deus fez no ponto de vista da natureza, pudesse possuir as vantagens mentais e morais que pertencem aos mais ríspidos povos do Norte, pela sua educação e religião.

Logo depois chegaram os pretos conduzindo as pesadas caixas, e um arado finamente trabalhado (presente de B. Myers de Newark, N. J.) tendo sido tudo por ordem do camareiro colocado numa antessala onde S. Majestade novamente os admirou e examinou.

A primeira coisa que me perguntou, foi por Mr. Longfellow (em Poets and Poetry of America). Em seguida, pelo Youman's Atlas of Chemistry; em seguida, me perguntou pelas belas amostras de cromolitografia (por Sinclair, and Duval de Filadélfia) e finalmente pela máquina a vapor que fizera a sua travessia de Cincinati a Boston na última primavera. Dei-lhe um plano dessa máquina, que me fora oferecido por um funcionário da Baltimore Sun Office. Ele imediatamente tomou-o em suas mãos e começou a explicar a maneira por que funcionava a um sábio francês que estava de visita ao palacete.

Durante uma hora, ficou ocupado em passar revista aos produtos do nosso país. Chamou a imperatriz, que também exprimiu o seu agradecimento da forma mais elevada, quando lhe mostrei os belos livros que haviam sido enviados para ela e as princesas. S. Majestade a imperatriz não ficou somente agradecida com os objetos, que despertaram os louvores de seu esposo imperial, como também, juntamente com as suas damas de honra, mostrou-se feminina na satisfação manifestada pelos sabonetes de luxo, e outros artigos de toucador, enviados por H. P. & W. C. Taylor de Filadélfia e Colgate & Co. de Nova York.

Muitos agradecimentos foram mandados dar àqueles que tinham tido a bondade de se lembrar da família imperial do Brasil. Deixei o palacete, convencido de que, no que dizia respeito ao chefe do governo brasileiro, eu obtivera o mais completo sucesso.

Com os súditos de S. Majestade, o empreendimento não foi menos feliz. Nos dias 17 e 18, o Museu foi visitado por alguns milhares de pessoas e os brasileiros não pouparam as demonstrações de admiração e surpresa.

Cada tarde eu passava totalmente ocupado em responder às muitas perguntas que me faziam de todos os lados. Não tenho a menor dúvida de que uma exposição completa das artes e manufaturas norte-americanas, organizada por homens de negócios e que tenham meios para levá-la adiante, redundará em aumentar mil vezes os lucros do comércio americano.

Quando eu passava entre as pessoas que estavam examinando os vários artigos, ouvi referências que me convenceram ser apenas necessário conhecer os produtos do nosso país para começar a importá-los em grande escala. Durante a realização da exposição depois do seu encerramento recebi muitos pedidos de livros, gravuras, papéis pintados e retratos de Muncester. Ainda esta manhã tive uma encomenda para uma máquina de espremer cana-de-açúcar, e uma grande prensa litográfica. As minhas respostas, em todos esses casos foram sempre: "não sou um comerciante, não estou aqui para este fim, não tenho interesses pecuniários de qualquer natureza no caso, mas as firmas têm seus correspondentes na América."

Na tarde de 16, a Sociedade Estatística do Brasil realizava uma reunião no mesmo salão em que se achavam expostos os produtos dos Estados Unidos. O visconde de Itaborai, que a presidia, convidou-me a fazer uma comunicação a essa sociedade. Senti-me muito feliz em ter oportunidade de explicar meus planos a essa reunião de cavalheiros, onde encontrei a maior simpatia; francamente exprimiram o seu desejo de verem os Estados Unidos e o Brasil mais estreitamente unidos, e suas opiniões foram publicadas pela imprensa, tornando mais conhecidos do público os motivos da minha tentativa.

As contribuições de Washington, do Bureau of the Court Survey, e do Pattent-Office, e a esplêndida publicação do North American Indians, a que Schoolcraft devotou a sua vida, foram considerados, pelas associações de estudos históricos, como grandes aquisições para as suas bibliotecas. Em relação a isso, não devo omitir a menção de algumas importantes obras de Medicina, enviadas por Lippincott, Grambo & C°. que foram oferecidas à Academia Imperial de Medicina. Dessa associação recebi carta de agradecimentos, que me mostrou que as contribuições de vários doadores haviam sido apreciadas na sua justa medida. O Instituto Histórico Geográfico do Brasil publicou, na imprensa diária, a lista das obras históricas e de outra natureza, bem como os catálogos da sua biblioteca, na parte que havia sido aumentada com as referidas aquisições.

Já ocupei espaço demasiado do vosso jornal, e peço apenas permissão para acrescentar algumas palavras. Não afirmo que a exposição tenha constituído uma coleção perfeita do que podem produzir os Estados Unidos. Muito longe disso; mas, pelo interesse que despertou numa cidade de 300 mil habitantes, pelos louvores espontâneos da imprensa diária, e pelos pedidos que me vieram de vários pontos da cidade, para que a exposição continue, tenho o direito de pensar que uma impressão favorável foi deixada, e acredito que desse pequeno negócio nós podemos concluir legitimamente que existem no Brasil os mais favoráveis mercados para as diferentes manufaturas do nosso país. Requer paciência e capital, e talvez algum risco no princípio, mas acredito que, no final, os empreendedores serão recompensados.

Um ou dois americanos, há poucos anos atrás, começaram a importar maquinismos agrícolas norte-americanos, e mantêm atualmente um comércio regular desses artigos. Se se puder estender a importação, e este povo compreender o que produzimos, o nosso comércio rapidamente crescerá. Não se precisam especuladores, porém homens de negócio, moralizados, sérios e compreendedores, que tudo farão para fornecer os melhores artigos, pelos mais baixos preços.

Em conclusão, sem desejar provocar expectativas que não serão realizadas, ou sem desejar sobre-estimar o que foi feito nessa exposição, posso apenas dizer que, embora deficiente, alcancei com meus esforços as minhas boas intenções de fazer o bem e, quando deixar o Brasil, para voltar à obra do meu Senhor, na minha pátria, terei ao menos o consolo de ter contribuído para tornar mais estreitas as relações entre a mais poderosa nação da América do Sul e a grande república do Norte.

Sou, ilmo. sr. respeitosamente,
às suas ordens,
J. C. FLETCHER.
"

Visita ao Palácio de São Cristóvão.

Um incidente divertido, ligado à exposição, se deu na minha última estada no Rio com os presentes destinados ao imperador. Depois da Exposição, tive que partir do Rio de Janeiro, e estive viajando em outras partes do Império. No mês de julho, voltei das províncias do Sul e verifiquei que os srs. Merian, de Springfield, Massachusets, haviam enviado uma soberba edição do dicionário completo de Webster. Eu também possuía alguns livros destinados à biblioteca pessoal do imperador. Um relato da apresentação destes volumes foi feito numa carta particular ao sr. J. P. Branchard de Boston, de onde extraiu os trechos seguintes:

"
Os donativos de srs. Merian chegaram durante a minha ausência nas províncias do Sul; mas, logo que voltei, procurei-os na Alfândega, e levei-as a palácio, imediatamente. Já era naturalmente muito tarde para figurarem na exposição do Museu Nacional; mas, como o estado de S. S. tinha sido pobremente representado em maio, tive o prazer de possuir essa amostra das edições de Massachusetts, esse monumento da paciência e do escrúpulo de operosidade de um homem que tanto fez para definir e classificar a língua inglesa.

Foi dois dias antes da minha partida para a Bahia e Pernambuco que pude reservar algumas horas para ir à Quinta Imperial da Boa Vista — o Palácio São Cristóvão. — É costume ir-se até aí numa carruagem puxada — no mínimo — por dois cavalos; mas, encontrando um tílburi novo e de boa aparência, com um cocheiro mulato muito vistoso, tomei esse veículo e com Webster Dictionary, o Mosses from an Old Manse (de Hawthorne) e o Hyperion (de Longfellow) pouco depois rodava pelas ruas ladeadas de jardins do Engenho Velho, até o palácio.

O palácio São Cristóvão está situado num dos mais pitorescos arrabaldes do Rio de Janeiro. Fica em grande relevo, destacando-se das altas montanhas verdes da Tijuca, e rodeado pelas mais belas árvores dos trópicos. Tudo nele contribui para torná-lo uma deliciosa residência. Quando rodava pela longa avenida de mangueiras, vi a carruagem de um dos Ministros bamboleando com os seus palafreneiros de libré; a minha instalação parecia muito medíocre em comparação com essa brilhante equipagem, mas senti que os três livros, que levava comigo, agradariam S. Majestade, muito mais do que todas as carruagens da corte.

Desci à porta do palácio depois que o ministro entrou, e fui conduzido até uma antessala pelo camareiro, a quem dei a conhecer o fim da minha visita e a natureza dos meus volumes. Não desejando confiar a minha preciosa carga a um subalterno, eu mesmo carreguei os três tomos comigo, o que aliás não era uma carga leve. Depois de atravessar muitos corredores, cheguei a uma galeria larga e ampla, que olhava para uma área, onde lindas fontes estavam jorrando e florescendo as mais escolhidas e cheirosas plantas.

Supusera que fosse um dia de audiência particular; porém a longa galeria estava cheia de cavalheiros em traje de cerimônia, — nobres juízes da Suprema Corte, ministros e encarregados de negócios, oficiais em grande uniforme, alguns dos quais cobertos de decorações. Soube então pelo sr. Leal, e pelo encarregado de negócios de Nápoles que a data de 13 de julho era aniversário da princesa imperial Leopoldina, e que esses cavalheiros tinham ido felicitar SS. Majestades por esse aniversário.

Escolhi meu lugar, no fundo da fileira dos que esperavam, pensando que não tinha escolhido bem o dia em que S. Majestade estivesse menos ocupado. Mas eis que aparece d. Pedro II, com a sua bela estatura máscula, dominando todos os outros. Estava vestido de preto e, com exceção de uma estrela que brilhava em sua lapela esquerda, a sua vestimenta era simples e seu bom gosto ainda se tornava mais visível em contraste com os brilhantes uniformes da corte.

Imaginei que S. Majestade recebesse primeiro as congratulações da vistosa multidão que estava entre ele e o pastor tão simplesmente vestido. Julgue o sr., então, da minha surpresa quando ele, simplesmente curvando-se, passou pelos muitos titulares e representantes das cortes estrangeiras, e dirigiu-se diretamente para o Webster, o Hawthorne e o Longfellow.

Com um agradável sorriso cumprimentou-me, e levou-me para uma arcada onde se viam flores e uma límpida fonte. Ali examinou os livros e fez os maiores elogios ao dicionário. Não só pelo belo estilo em que foi preparado pelos editores mas pelo caráter quase enciclopédico da obra. Falou de Hawthorne como de um autor de quem já ouvira falar, e mostrou-se muito satisfeito em possuir o Moses from an Old Manse. Chamei sua especial atenção para a Celestial Railroad, que motivara uma alusão do Banyans no seu guia para a cidade celestial. Desde o mês de maio que o imperador procurava todas as obras do sr. Longfellow. Mas não tinha acrescentado à sua biblioteca nenhuma produção em prosa desse autor. Considerou, portanto, Hyperion, uma interessantíssima aquisição.

S. Majestade conversou longamente sobre os objetivos que me trouxeram ao Brasil e exprimiu a sua gratidão pelas lembranças que tinha recebido dos cidadãos dos Estados Unidos. Afirmei-lhe que desejava visitar as províncias do Norte, e voltar em seguida para a minha terra natal. Ele exprimiu os habituais desejos de boa viagem, etc., mas, com grande ardor, disse-me, ao concluir; — "
Sr. Fletcher, quando o sr. voltar ao seu país, tenha a bondade de dizer ao sr. Longfellow quanto prazer me deu e, dizer-lhe também combien je l'estime, combien je l'aime!"

Assim terminou, pelo menos na parte que me competia, o empreendimento que eu iniciava
[A39].


Notas do Autor

[A39] Nota de 1866: — Por vários modos tenho sido informado dos bons resultados desses esforços realizados em 1855 no Rio de Janeiro. O segundo autor da presente obra visitou por quatro vezes o Brasil depois de 1855, e teve muitas ocasiões de manter íntima conversação com d. Pedro II, e pôde testemunhar o contínuo interesse do imperador por obras que tratem de assuntos morais, literários e artísticos.

Com Longfellow e o poeta quaker Whittier tem mantido relações mais íntimas, tornando-se familiarizado com as suas manifestações poéticas e, por mais de uma vez, traduzindo com felicidade os seus poemas, cujas cópias autografadas lhes envia.

Pelo seu profundo interesse pela ciência, pela sua correspondência com o prof. Agassiz, esse eminente sábio veio ao Brasil, achando-se atualmente empenhado em longas explorações dos ricos tesouros que contem a natureza do Brasil.

Que as mais satisfatórias relações, não só literárias como políticas, continuam a existir entre os Estados Unidos e o Brasil, torna-se evidente quando se leva em conta que o imperador tem como representantes seus nesse país cavalheiros tão insinuantes, como o barão de Penedo, o sr. M. Lisboa, falecido ministro brasileiro nos Estados Unidos, e o sr. Azambuja, atual representante de S. M. I. em Washington.

Notas do tradutor:

[T50] Johannes Theodor Reinhardt, botânico dinamarquês.

[T51] Foi largamente noticiada a visita do imperador d. Pedro II ao navio norte-americano City of Pittsburg; julgamos interessante acrescentar, ao relato feito por Fletcher na presente obra, os seguintes trechos extraídos do Jornal do Comércio de 11 de setembro de 1852: "O City of Pittsburg é dos maiores vapores que têm entrado neste porto... Terminado o minucioso exame (em que SS. MM. indagaram principalmente da maneira por que trabalhava a hélice), o vapor principiou a mover-se, e pouco depois, posto andasse só à meia força, marchava quase dez milhas (chegando até às alturas da Ilha Redonda. ...SS. MM. aceitaram um copo d'água que lhes ofereceu o capitão do vapor, e agradeceram com afabilidade às saúdes que se fizeram às suas augustas pessoas e à família imperial. A banda de música da fragata Constituição, que se achava a bordo do vapor, executou com bastante precisão diferentes peças. Às duas horas e um quarto da tarde, retiraram-se SS. MM., acompanhadas dos srs. ministro da Marinha, da Guerra e da Justiça, e pouco depois saía barra afora o vapor City of Pittsburg em viagem para a Califórnia".

Em artigo assinado por un officiel de l'Armée, e escrito com o propósito de evitar explorações políticas em torno da visita imperial no Jornal do Comércio de 17 de setembro de 1852, depois de noticiar com minúcia forma por que foi recebido o imperador do Brasil num navio mercante da República Norte-Americana, onde se leem referências à presença do então secretário interino de legação rev. Kidder e sua senhora, o artigo assim termina:
entre la galanterie de l'hommage républicain rendu á LL. MM.II., car c'est evidemment ce caractère que portait l'invitation du capitain américain, cette visite me parait empreinte de la plus large signification et de la plus haute portée, considerée comme une marque de déference et de grandé sympathie échangée entre la grande République et le grande Empire...