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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - ESTRADAS
O maior engavetamento na Via Anchieta (6)

Foram 15 mortos, 300 feridos e 140 veículos destruídos, em junho de 1977
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Um denso nevoeiro, numa época em que era pouca a sinalização e não tinham sido desenvolvidas iluminação e pintura específicas para reduzir os efeitos da neblina, foi o principal motivo para uma seqüência de 3 km de acidentes na Via Anchieta, em 28 de junho de 1977, caracterizando um dos maiores acidentes automobilísticos da história mundial. A cobertura jornalística desse fato continuou no dia 30/6/1977, assim registrada pelo antigo jornal santista Cidade de Santos:
 
Vítimas da tragédia sepultadas

Gritos de desespero, desmaios e crises nervosas marcaram os enterros das vítimas da tragédia da Via Anchieta, ontem. A ambulância do PS da Santa Casa foi insuficiente para prestar socorro ás famílias enlutadas, principalmente dos três irmãos mortos, sepultados no Cemitério da Areia Branca.

Foto publicada com a matéria

DERSA não possui meios para prevenir acidentes

A DERSA - Desenvolvimento Rodoviário S.A. - não dispõe de outro esquema de prevenção de acidentes além da educação do usuário do complexo Anchieta-Imigrantes, segundo admitiu ontem o diretor presidente da empresa, engenheiro Luís Roberto Marri do Amaral. O único meio de impedir novas catástrofes como a de terça-feira, em que 15 pessoas morreram e 285 ficaram feridas, seria o fechamento parcial e temporário das pistas sempre que ocorrerem nevoeiros com visibilidade zero.

Tal medida nunca foi cogitada pela empresa, e embora seja vista pelo engenheiro Amaral como uma solução possível, "ela dependerá do consentimento das indústrias da Baixada Santista, que sofrerão prejuízos financeiros sempre que seus empregados forem impedidos de chegar ao trabalho em tempo hábil", declarou Amaral. Neste sentido, serão estabelecidos contatos entre as empresas e a área governamental, mas Luís Roberto Amaral alerta para a demora até que tais gestões cheguem a um resultado. "Até lá, teremos que contar com o esclarecimento do usuário, para evitar acidentes", diz o presidente da DERSA.

Nada a fazer - Outras medidas preventivas, como orientação para redução da velocidade durante o mês de julho, quando se esperam novas neblinas, aumento do policiamento, sinalização através de tochas ou mesmo iluminação de toda a pista foram, ontem, descartadas pela direção da DERSA. Segundo Luiz Roberto Amaral, é impossível colocar tochas nos 110 quilômetros da rodovia, como também é impossível estipular uma velocidade máxima para o trânsito sob neblina. A iluminação artificial, semelhante à existente na Imigrantes, em toda a extensão da Anchieta, também foi considerada imisivel (N.E.: SIC - impossível), além de ineficaz. Assim, a prevenção de acidentes depende basicamente do usuário, considerado por Amaral como "único culpado" pelo acidente de terça-feira. Além disso, ele garante que a DERSA, naquele dia, como faz normalmente sempre que há neblina - distribuíra folhetos avisando sobre as condições de tráfego e orientando o comportamento do usuário.

Fiscalização - Segundo Amaral, sob visibilidade zero os motoristas não deveriam trafegar. No entanto, admite que apenas a orientação neste sentido não dá resultado, pois a maioria dos 15 mil veículos que trafegam diariamente pela Anchieta-Imigrantes transportam trabalhadores das indústrias da Baixada.

Para evitar os rotineiros abusos, seria necessária uma fiscalização rigorosa, principalmente sobre os ônibus que transportam trabalhadores, mas a DERSA não tem poderes para isso. "Tal fiscalização é da alçada policial e do DER, encarregado da fiscalização da rodovia", declarou.

A possibilidade da empresa ser acionada pelos familiares das vítimas foi afastada pelo presidente da DERSA. "A empresa não cogita em pagar indenizações, e tem a seu favor argumentos técnicos e a culpabilidade dos motoristas pela ocorrência", disse Amaral.

Anchieta: empresário quer segurança

"A cerração da Via Anchieta matou e continuará matando se não forem tomadas medidas drásticas de segurança". O alerta foi dado, ontem, pelo diretor do Rápido Zeffir, Carlos Chiaroni, ao comentar as causas e conseqüências do gigantesco acidente ocorrido anteontem naquela via.

Para Carlos Chiaroni, "o que mais preocupa é o desaparecimento de vidas preciosas por negligência das autoridades", mas também chama atenção para "a elevada soma de prejuízos materiais, quase que irreparável". O diretor do Rápido Zefir também apontou algumas sugestões para aumentar a segurança nos trechos em que a neblina é maior.

"Existem alguns trechos da via Anchieta que são fatídicos, como o que vai do pedágio ao alto da Serra e aquele próximo a Cubatão, onde ocorrem engavetamentos violentos. Nesses trechos não há nenhuma sinalização que alerte os motoristas para os perigos da cerração. Aí deveriam ser colocadas placas de duzentos em duzentos metros avisando os motoristas para diminuírem a velocidade, manter distância do veículo da frente, não parar na pista etc."

Carlos Chiaroni lembra uma entrevista ouvida por ele ontem, no rádio, em que um diretor da Dersa dizia que a empresa mantinha um sistema dos mais perfeitos existentes no mundo. Carlos Chiaroni comenta que "o diretor da Dersa vem dizer isso depois do acidente, o que não é verdade, pois os fatos estão aí para provar".

Outra sugestão apontada por Carlos Chiaroni, que há 34 anos opera com empresas de ônibus na via Anchieta, é a de que, nos dias de neblina mais intensa, o tráfego seja contido.

O diretor da Dersa disse na entrevista que a empresa contava com um aparelho que detecta a existência e o volume de neblina. Esse aparelho, então, permite que a Polícia Rodoviária saiba o momento em que o problema da cerração se agrava. Nessas horas, eles poderiam fechar a estrada e soltar o tráfego aos poucos, aconselhando, antes os motoristas".

"Risco para as empresas" - O diretor do Rápido Zeffir lembra que enquanto não forem adotadas as medidas de segurança necessárias, "as empresas estão em permanente risco". Além dos danos materiais diretamente causados pelo acidente (a Zeffir teve dois de seus ônibus avariados), as empresas estão sujeitas ainda a outros prejuízos financeiros.

"Nós não dispomos do mesmo direito - diz Carlos Chiaroni - que dispõem as empresas de transportes aéreo e ferroviário, que é o limite para indenizações. O que o juiz decidir nós temos que pagar e na hora de julgar ele não vai considerar se houve uma catástrofe ou se o acidente foi provocado pela neblina ou falta de segurança da estrada".

Fechamento: nada definido

Embora a Dersa - Desenvolvimento Rodoviário S.A. - já tenha afirmado que fechará a Anchieta em dias de denso nevoeiro, para evitar a repetição de acidentes como o de anteontem pela manhã, o secretário dos Transportes, Thomás Magalhães, afirmou que ainda não há nada definido neste sentido. "Trata-se apenas de uma possibilidade que tem de ser estudada com muito cuidado, pois fechar a Anchieta é uma medida de bastante responsabilidade".

Thomás Magalhães disse que "nevoeiro é problema no mundo inteiro e que ainda não há solução técnica aceitável", acrescentando que "a única coisa que poderá evitar acidentes nessas condições é a prudência dos motoristas, e isso não ocorreu por ocasião do último engarrafamento".

"A única coisa que se pode fazer atualmente, por ocasião dos densos nevoeiros, é informar aos motoristas as condições climáticas da estrada, e isso se fez na segunda à noite e terça-feira pela manhã". Apesar disso, ele afirmou que a Dersa já está estudando a possibilidade de instalação de uma faixa de rádio, no iníco e no final da serra, que através de vários mostradores "fará advertências aos motoristas sobre as reais condições da Anchieta".

Com relação à medida do governo estadual de pagar os enterros dos 15 mortos e dar assistência aos demais feridos do acidente de terça-feira, o secretário dos Transportes disse que "isso não quer dizer que o governo tenha assumido a responsabilidade pelo acidente. Este seu gesto - ressaltou - foi apenas de grande sentido humanitário e não de responsabilidade, pois a Anchieta-Imigrantes é o melhor sistema rodoviário de todo o País".


Providências depois do desastre

Ainda sob o impacto do violento acidente da via Anchieta, que enlutou dezenas de lares, começam as análises sobre as causas e em busca de medidas que evitem casos futuros. A Desenvolvimento Rodoviário S/A - Dersa transferiu para a Baixada o radar que estava no Planalto, visando controlar a velocidade dos veículos. por sua parte, o prefeito de Cubatão, Carlos Frederico Soares Campos, é de opinião que, mesmo com o prejuízo do Parque Industrial de Cubatão, a via Anchieta seja interditada ao tráfego quando não houver visibilidade satisfatória.

Nos hospitais, ainda existem vários feridos internados, quatro deles em estado grave. Mais uma vez, o desencontro de informações - debitado ao elevado número de vítimas - deixa uma dúvida: na relação afixada no saguão do PS Central da Santa Casa consta que Onório Santos Neto teria falecido, mas nem mesmo o próprio serviço de informações do hospital teve meios para confirmar o óbito.

Na parte policial, o inquérito que vai apurar as causas do acidente está em andamento e promete ser o mais volumoso já instaurado na Baixada, em virtude do elevado número de veículos e pessoas envolvidos. Para os peritos, muitos motoristas não falaram a verdade quando afirmaram, no local do acidente, que os veículos desenvolviam velocidade inferior a 20 quilômetros horários. Pelo estado de alguns veículos, a velocidade, segundo os policiais, era superior a 60 quilômetros horários.

Nem mesmo nos dias de Finados, o cemitério da Areia Branca, na Zona Noroeste, recebeu tanta gente. As lágrimas incontroláveis, misturadas a gritos de desespero e inconformismo, comoveram até mesmo os funcionários do cemitério, acostumados, por força de suas profissões, a cenas de tristeza. Assim foi o enterro dos três irmãos - Wanderlei, Wilson e Walter de Oliveira - mortos tragicamente no desastre ocorrido anteontem, pela manhã, na via Anchieta.

Repetindo várias vezes as mesmas palavras, como se quisesse se convencer e se conformar com a desgraça, dona Zaida, mãe dos três irmãos, acompanhou, em visível estado de descontrole nervoso, o sepultamento dos filhos.

Walter era pai de uma garotinha, Rosângela. Os outros dois irmãos, também mecânicos, como Walter, eram casados, mas sem filhos. As três viúvas, amparadas por amigas e parente, também acompanharam o féretro, juntamente com Walquíria e Wânia, irmãs das três vítimas do trágico acidente.

Ambulância para desmaios - O Pronto Socorro da Santa Casa forneceu uma ambulância, com médicos e enfermeiros, para acompanhar o cortejo e assistir àqueles que, comovidos, eram tomados por crises nervosas ou desmaios. Mas a ambulância foi insuficiente, tal o número de incidentes, vendo-se obrigada a recorrer a veículos particulares. Havia sido escalada outra ambulância para acompanhar os enterros, mas esta não apareceu por estar atendendo chamados de emergência em diferentes pontos da Zona Noroeste. Os bancos do cemitério da Areia Branca serviram de camas improvisadas, para o atendimento de alguns casos menos graves.

Às 10h40, os três carros funerários, transportando os ataúdes dos irmãos Oliveira, chegaram ao cemitério da Areia Branca. Cercados por amigos e parentes, uma multidão quis compartilhar do seu encaminhamento até às campas. Havia, em todo o cemitério, um clima de forte tensão e algumas coroas de flores foram levadas às campas. Flores da firma empreiteira de obras Imel, onde Walter e Wanderlei trabalhavam, e outras de amigos e entidades enfeitavam os caixões, que não chegaram a ser abertos, porque os três foram carbonizados de forma horrível dentro de uma perua Kombi, que os conduzia ao trabalho na Cosipa, onde executavam serviços.

A diretoria do Grêmio Recreativo Escola de Samba União Imperial decretou, a partir de anteontem, luto oficial de três dias em homenagem aos irmãos mortos, que integravam seu corpo associativo, e lançou um manifesto de agradecimento às autoridades civis, militares e eclesiásticas, aos enfermeiros e médicos da Santa Casa e à Escola de Samba da Ponte Vermelha, pela contribuição e pelo sentido humano que os moveu, auxiliando as vítimas e confortando as famílias daqueles que morreram.

Multidão - Foi preciso alguma intervenção contra a massa de pessoas que se colocava à porta e nas imediações do cemitério à hora da chegada dos corpos dos irmãos Oliveira. Eles foram encaminhados, em meio à massa humana, para o jazigo 19: Wilson foi depositado na carneira 153; Walter, na 155 e Wanderlei, na 157. O padre Paulo Horneaux de Moura encomendou os corpos, acompanhado, em seguida, do toque de silêncio, executado pela Banda da Associação dos Funcionários da Companhia Siderúrgica Paulista - Cosipa, da qual Wilson fazia parte.

A presença da banda também foi motivo para grande comoção à dona Zaida, que disse, inconformada: "Meu filho ficava tão bonito com este uniforme. Ele nunca mais vai usá-lo". As irmãs, uma tia e a avó dos três desmaiaram neste instante da solenidade de sepultamento.

Nas igrejas - O bispo diocesano, dom David Picão, baixou determinação, que vigorou desde ontem, para que todas as igrejas celebrem missas por intenção das almas das vítimas do engavetamento ocorrido na via Anchieta. A mesma recomendação é no sentido de que sejam realizadas orações dos fiéis pelos feridos e seus familiares.

Esta é a íntegra da nota oficial divulgada pelo Bispado a todos os sacerdotes da Diocese de Santos: "Solidarizando-nos com as famílias enlutadas vitimadas no desastre de ontem (anteontem) na via Anchieta, recomendamos a todos os párocos, vigários e capelães que promovam, nestes dias, sufrágios pelos falecidos e orações pelos feridos e seus familiares".

Outros sepultamentos - Ainda ontem cedo, também no cemitério da Areia Branca, foram sepultadas outras vítimas do monstruoso engavetamento da via Anchieta. A partir das 8 horas, foi sepultado Almerindo Teodoro; às 9 horas, Aristides dos Santos Toledo; às 10 horas, Joel Fragoa Machado, a professora Araci Pereira Bastos e Francisco Chagas.

No cemitério da Filosofia, no bairro do Saboó, às 9 horas, foi enterrado o menor Paulo Eduardo Maneira da Silva (17 anos), depois Alberto Ramos e Duílio David. No cemitério de São Vicente, foi sepultado Manoel Cardoso, enquanto dois o foram no cemitério de Cubatão: Carlos José Luís Martins Vasques e Daniel Almeida Martins. Apenas Mironildes da Silva Santos aguarda sepultamento.

O governo vai pagar. Quando? - Até ontem, no fim da tarde, nenhuma das famílias das vítimas havia recebido, em caráter oficial, detalhes do pagamento dos funerais, como foi anunciado anteontem à noite pelo coronel Moacir Teixeira da Silva Braga, chefe da Casa Militar do governador Paulo Egydio Martins. As sepulturas na Areia Branca custam Cr$ 41,00, mas esta cobrança nada tem com o transporte, velório e urna, cuja despesa é feita junto à empresa funerária, a qual seria paga pelo governo. O administrador do Areia Branca, José dos Santos, ontem também afirmou que não havia recebido qualquer comunicado sobre a cobrança ou não das sepulturas.

À saída dos enterros uma multidão quis carregar os caixões
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Muitas vítimas ainda correm perigo

Cerca de 40 horas após o trágico acidente da via Anchieta, no qual várias pessoas morreram, centenas ficaram feridas e quase 200 veículos foram avariados, ainda há total desencontro nas informações de hospitais da cidade. Numa lista afixada no saguão do Pronto Socorro Central, consta que Onório Santos Neto faleceu; no entanto, o próprio serviço de informações do hospital não soube confirmar sobre o fato. Nos necrotérios da Areia Branca e da Santa Casa não consta nos registros a passagem deste corpo.

Por outro lado, apesar dos esforços das equipes médicas, mobilizadas desde a hora do acidente, várias vítimas continuam internadas em estado grave, entre elas o engenheiro Wlademir Agnello Anato Costa, Antônio Carlos de Oliveira e Waldemir Vitorino (na Santa Casa) e José Martins e Elton de Araújo Lima (na Beneficência Portuguesa). Ainda é elevado o número de feridos internados nas Santas Casas de Santos e de Cubatão, e no Hospital Ana Costa das duas cidades, mas todos fora de perigo.

Wladimir está internado na Sala Torres Homem, com fratura de crânio, e Waldemir e Antônio, na UTI - Unidade de Tratamento Intensivo. As visitas estão regulamentadas dentro das normas dos hospitais e de acordo com o estado dos pacientes. Ontem, era grande o número de familiares que procuraram a Santa Casa em busca de informações de pessoas ali internadas, havendo inclusive um momento em que o hospital esteve ameaçado de invasão, o que levou a direção a solicitar a presença de viaturas do Tático Móvel. Porém, a situação foi logo solucionada, tornando-se desnecessária a presença dos policiais.

Vivo e feliz - Juvenil Felipe da Silva, 20 anos, tem fratura no nariz e algumas escoriações. Mas, mesmo assim, está feliz: "Não sei como tudo aconteceu. Estava dormindo no ônibus que me levaria à Cosipa, onde trabalho como operador. De repente, houve o baque e os bancos saíram do lugar. Segundo fiquei sabendo, apenas dois colegas que estavam no mesmo ônibus saíram ilesos. Estou feliz, apesar de ferido, pois continuo vivo".

Já Francisco da Silva Santos, 23 anos, técnico em eletrônica na Cosipa, viajava num Chevette na hora do acidente. Ele não pode falar, mas sua irmã, que permanece a seu lado no hospital, disse estar muito feliz porque não aconteceu nada de muito grave com ele. Ao todo, 315 pessoas doaram sangue na Santa Casa, reforçando assim o estoque do Banco de Sangue. O médico Vicente Prata, assistente administrativo, confirmou que foram arrecadados 183 litros de sangue.

6 mortes na Kombi - Nas investigações, até agora, da Polícia de Cubatão, já está esclarecido que os irmãos Walter, Wilson e Wanderlei de Oliveira (que residiam na rua Alfredo Albertini, 204, Marapé), mais os companheiros Mironildes da Silva Santos, Aristides Santos Toledo e Daniel de Almeida Martins, viajavam todos na Kombi placas WP-6361, que bateu na traseira do ônibus chapa NX-9231. Almerindo Teodoro Daise estava numa veraneio, havendo dúvidas quanto aos veículos em que estavam outras vítimas.

Também ainda não há definição oficial quanto ao número real de vítimas nos hospitais e de mortos. Em virtude do elevado número de vítimas, as informações ainda são desencontradas e, até ontem à tarde, a documentação dos mortos não havia chegado à Delegacia de Cubatão. Uma testemunha ouvida em Cubatão disse que o ônibus placas WX-6813, da Viação São Bento, que colidiu com a traseira da carreta WT-4705, conduzida por Ademar Joaquim Martins (rua 13 de Março, 75, Cubatão), bateu sem que seu motorista o freasse.

O delegado Angelo Mário Faustino, titular de Cubatão, oficiou ao Instituto de Perícias Médico-Legais, pedindo urgência nos exames necroscópicos. Dos corpos que estavam no cemitério da Areia Branca, apenas o de Mironildes da Silva Santos continua insepulto, à espera de seus familiares, que deverão chegar hoje ou amanhã, procedentes de outro Estado.

Prefeito de Cubatão - Apesar dos prejuízos que possa causar às indústrias, o prefeito de Cubatão, Carlos Frederico Soares Campos, manifestou-se favorável à idéia de interdição da via Anchieta quando não houver visibilidade em decorrência de nevoeiro. Concluiu o prefeito dizendo que ontem mesmo havia enviado um ofício ao presidente da Desenvolvimento Rodoviário S/A - Dersa, Roberto Marri do Amaral, solicitando a colocação de telas mais resistentes que obriguem os pedestres que pretendam atravessar a via Anchieta ao uso de passarelas.

Comissão Especial de Vereadores, a pedido do vereador Roberto Ferreira (Arena), para acompanhar os trabalhos que apuram as causas do acidente.

Para o prefeito Frederico Campos, "ninguém tem culpa no acidente: foi uma fatalidade", mas de qualquer forma, completou o chefe do Executivo, o fato serviu de alerta para a Dersa, responsável pela estrada, juntamente com a Polícia Rodoviária. Ponderou ainda que pela pouca freqüência com que ocorre nevoeiro no trecho da Baixada, não convém um gasto muito grande com obras. Disse que pelo custo não compensa.

Para o prefeito de Cubatão, não tem fundamento a versão de que um veículo oficial daquela Prefeitura teria sido o causador do acidente. "Logo que ouvimos os comentários, mandamos verificar na garagem e fomos informados de que não havia nenhum carro batido. Além disso, o primeiro carro saiu da garagem às 7h30 e também não tenho carro equipado com rádio-transmissor".

DER sem verba - O prefeito Frederico Campos admitiu que a duplicação da ex-Bandeirantes não será realizada nem a curto nem a longo prazo - porque o Departamento de Estrada de Rodagem não tem verba. O prefeito reconhece que a pista marginal da Via Anchieta é uma opção - a única, por sinal - em casos de congestionamentos, mas entende ser sua duplicação uma obra muito cara, além de mencionar os "conflitos" com ela envolvendo o mangue, a adutora da Sabesp, adutora do oleoduto da Petrobrás e favelas da Vila Socó. Frederico Campos conclui dizendo que acha que outra marginal para a Via Anchieta custaria muito menos.

Causas para a tragédia da Anchieta

A proporção que assumiu a tragédia de anteontem na via Anchieta não permitirá, segundo revelações oficiais, fixar com precisão a responsabilidade dos motoristas que nela se envolveram e, mesmo assim, há uma corrente de juristas que defende a tese de que a Desenvolvimento Rodoviário Sociedade Anônima - Dersa é passível de ação, principalmente porque, sem fornecer outra opção, cobra pedágio na rodovia, sabia que a visibilidade no dia do acidente era zero e não cuidou de sinalizar o trecho ou nele manter esquema especial de segurança.

Na delegacia de Polícia de Cubatão, onde foi instaurado inquérito, as informações sobre o andamento da providência legal ainda são um tanto confusas em razão do excessivo número de carros envolvidos e do elevado número de vítimas.

No entanto, na tarde de ontem, divulgou-se nota de caráter oficial dando conta da transferência do radar controlador de velocidade do Planalto Paulista, onde está instalado, para a Baixada Santista. Ele será instalado, segundo a nota, nas imediações do quilômetro 57 da Anchieta, tendo em vista as inúmeras informações sobre excessos de velocidade de caminhões e, principalmente, dos ônibus que conduzem trabalhadores para o Parque Industrial de Cubatão.

Esta medida, apesar de não ter sido ainda firmada pela Polícia Rodoviária, já causa críticas, uma vez que o local onde está instalado atualmente o radar é também um trecho da rodovia em que o volume de veículos coletivos transportando trabalhadores é grande.

Sinalizada - A sinalização da Anchieta, no trecho em que ocorreu o acidente - 3 quilômetros de pista - está em perfeitas condições. No entanto, argumenta-se que com a indicação meteorológica de visibilidade zero, como anunciou um dia antes a Dersa, através de seu serviço especializado, faltou o cuidado dos administradores da estrada em formarem os chamados comboios. Estes comboios são liderados por veículos especiais, muito iluminados com lâmpadas contra a cerração ou neblina e já foram usados em outras ocasiões semelhantes. Eles teriam que ser acionados na manhã de anteontem, o que não foi feito.

O excesso de velocidade, apontado também como o fator mais relevante para o agravamento da seqüência de acidentes de um lado da estrada, é reconhecido até mesmo por funcionários que viajam nos ônibus de turno de trabalho, mas contestado por motoristas que, logo após o acidente, declararam que não trafegavam a mais de 30 quilômetros horários e se viram envolvidos no monstruoso engavetamento.

A iluminação do trecho da Baixada Santista, entre os municípios de Santos e Cubatão, poderá ser, conforme notícia de caráter oficial, reivindicada por políticos santistas, traumatizados com o ocorrido anteontem. Uma das justificativas que tende a garantir a medida é a de que a cobrança de pedágio deve ser - o que estaria ocorrendo - investida inteiramente em melhorias nas condições de segurança da estrada, em especial nos trechos considerados básicos para o desenvolvimento de núcleos industriais.

Uma oportunidade - O vereador Moacir de Oliveira (MDB) disse ontem que começou a colher dados junto a órgãos oficiais para elaborar um amplo trabalho, o qual pretende apresentar na Câmara santista, responsabilizando a Dersa e a Secretaria dos Transportes do Estado pelo acidente. Ontem, Moacir afirmou que se recorda ainda da declaração do secretário Thomaz Pompeu Magalhães, dos Transportes, que, para justificar o reajuste do pedágio no complexo Anchieta-Imigrantes, prometeu à Baixada Santista - quando esta, através de uma comissão, foi reivindicar moderação nas cobranças - que haveria de investir milhões de cruzeiros na Baixada.

O oposicionista deixou claro que caberia também ao prefeito Antônio Manoel de Carvalho e a outras forças vivas da cidade uma manifestação conjunta visando conseguir para o trecho entre Santos e Cubatão uma iluminação semelhante à existente no ABC, aliás, obra, como ficou ressaltado, do ex-secretário Paulo Salim Maluf.

Ao final da tarde, ontem, Del Bosco Amaral (MDB), da Assembléia do Estado, encaminhou ao governador telegrama solicitando mais policiamento para a área onde ocorreu o acidente e também breves estudos para a sua iluminação. Del Bosco disse no telegrama ao sr. Paulo Egydio Martins que no dia seguinte ao acidente (ontem) não encontrou em toda a Baixada um único policial rodoviário.

Trabalharam nesta cobertura: Abssair Rocha, Vera Lúcia Correa, Francisco Aloise, Jorge Reed, Ercília Pouças Feitosa, Nivair Neves, Itamar Miranda, Mário Tadei e Flávio Roberto Alves