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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS DIRIGENTES
Paulo Gomes Barbosa (2)


Prefeito de 30/1/1980 a 31/8/1984
Presidente da Câmara Municipal de 1/1/2005 a 31/12/2006

Noticiando o falecimento do então ex-prefeito a edição impressa do jornal A Tribuna registrou, no domingo, 20 de março de 2011, nas páginas A-1, A-4 e A-5:

Governador Geraldo Alckmin, acompanhado pelo prefeito João Paulo Papa e demais autoridades,no velório de Paulo Gomes Barbosa, no Paço

Foto: Vanessa Rodrigues, publicada com a matéria, na página A-1

Paulo Barbosa morre mas deixa seu sonho

Ex-prefeito de Santos e vereador por três mandatos, Paulo Gomes Barbosa morreu ontem, aos 73 anos, na Capital. Ele se recuperava de uma cirurgia cardíaca na Beneficência Portuguesa paulistana. Seu maior sonho era que seu filho Paulo Alexandre se tornasse prefeito santista. O velório acontece no Salão Nobre da Prefeitura e o enterro será ao meio-dia, no Memorial Necrópole Ecumênica.

BEM-SUCEDIDO

"Minha mãe não acreditaria que aquele menino pobre, criado no Morro do Pacheco, chegaria a prefeito e presidente da Mesa Diretora da Câmara"

Paulo Gomes Barbosa

Vai embora o menino pobre que se tornou um vitorioso

Paulo Gomes Barbosa, ex-prefeito de Santos, morre de complicações pós-operatórias

Da Redação

Ex-prefeito de Santos e vereador por três mandatos, Paulo Gomes Barbosa morreu na tarde de ontem, aos 73 anos, na capital paulista. Ele se recuperava de uma cirurgia cardíaca na Beneficência Portuguesa de São Paulo, mas, devido a complicações, faleceu por volta das 14 horas.

O velório teve início às 20 horas de ontem no Salão Nobre da Prefeitura de Santos e foi marcado pela presença de diversos políticos da cena regional. O enterro será ao meio-dia de hoje, na Memorial Necrópole Ecumênica. O prefeito João Paulo Papa decretou luto oficial de três dias.

Barbosa realizava tratamento para o coração e a operação ocorreu no dia 10 de março. Ele permaneceu internado devido a complicações nos pulmões e nos rins, após o procedimento cirúrgico. O quadro clínico se agravou na sexta-feira e Barbosa não resistiu.

Em virtude do falecimento, o presidente da Câmara Municipal, Manoel Constantino (PMDB), suspendeu a sessão de amanhã e marcou uma sessão extraordinária para quarta-feira, às 16 horas.

Nascido na pequena cidade mineira de Jequitinhonha, em 5 de dezembro de 1937, Barbosa se tornou um ícone da política santista após passar pelo Executivo e pelo Legislativo municipais.

Veio para Santos ainda bebê (1 ano) com a família, que se transferiu em busca de uma vida melhor. Passou infância e adolescência no Morro do Pacheco e começou a trabalhar aos 8 anos como feirante, engraxate, lavador de carros e office-boy para complementar a renda de casa.

Barbosa despontou como corretor de café e foi o primeiro neste ofício a vender o produto para o Leste Europeu e União Soviética, na época da Guerra Fria. Casou-se em 19 de setembro de 1961 com Maria Ignez Pereira Barbosa, com quem teve cinco filhos: Rosane, Christine, Adriane, Paulo Eduardo e Paulo Alexandre, atualmente secretário estadual de Assistência e Desenvolvimento Social.

Trajetória política – Formado em Direito pela Faculdade de Direito de Bragança Paulista, chegou, aos 37 anos, à presidência da Bolsa Oficial do Café, dirigindo as atividades da casa entre 1974 e 1977.

Neste período, a Aliança Renovadora nacional (Arena), partido do governo militar, já se aproximava de Barbosa com o objetivo de prepará-lo para assumir um cargo político na Cidade. Mas somente em 29 de janeiro de 1980 é que foi nomeado prefeito de Santos pelo então governador paulista, Paulo Maluf, sucedendo Carlos Caldeira Filho.

Foi o último dos seis chefes do Executivo que assumiram o cargo mediante nomeação durante a ditadura militar, período em que a Cidade estava sob intervenção federal.

Barbosa comandou o Município justamente no fim do governo militar, época de maior pressão da oposição na Câmara, formada pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), pela retomada da autonomia política de Santos.

Mesmo assim, ele se manteve no cargo até 31 de agosto de 1984. Depois, ficou fora da política por mais de 12 anos, exercendo apenas seu ofício na corretagem de café, até ser eleito vereador em 1996 pelo então Partido Progressista Brasileiro (PPB, atualmente PP).

Reeleição – Barbosa foi reeleito em 2000 e em 200r, sendo neste último pleito pelo PSDB. No último mandato, foi o primeiro presidente da Câmara até então eleito por unanimidade do plenário, após longo período de rixas políticas entre situação e oposição nas eleições da Mesa Diretora. Ele presidiu a Casa entre 2005 e 2006.

Em junho de 2008, o ex-prefeito anunciou o fim de uma carreira política que marcou a história da Cidade e seu retorno ao trabalho na área de exportação cafeeira. Despediu-se oficialmente da vida pública em 16 de dezembro daquele ano, na última sessão ordinária da Casa.

"Minha mãe não acreditaria que aquele menino pobre, criado no Morro do Pacheco, chegaria a prefeito e presidente da Mesa Diretora da Câmara", afirmou, em discurso. "Saio com a certeza do dever cumprido".

Caixão com corpo de Paulo Gomes Barbosa é recebido na entrada da Cidade, de onde foi levado, em carro do bombeiro, até o Paço Municipal

Foto: Vanessa Rodrigues, publicada com a matéria, na página A-4

Para Papa, marca é a coragem

O prefeito João Paulo Papa (PMDB) definiu como marcas de Paulo Gomes Barbosa a obstinação e a coragem. Ele lembra que, quando apoiou o ex-vereador para a presidência da Câmara, em 2005, o então candidato a dirigir o Legislativo "colocou na cabeça que teria que ser eleito por todos os vereadores".

"Além de ser o primeiro a ser prefeito e presidente da Câmara na história da Cidade, ele também queria o voto de todos os seus pares. Achei difícil, mas ele conseguiu", lembrou Papa, que foi prestar as condolências à família no velório.

O prefeito tinha uma relação de mais de 30 anos com Barbosa. Seu avô, professor do Colégio José Bonifácio, o "adotou como filho" e, junto com outros docentes, pagou o curso universitário para o ex-prefeito.

"Ele estudava com bolsa de estudos e sua vontade de vencer, além de seus recursos limitados, fizeram esse grupo de professores bancar sua faculdade", comentou o prefeito.

"Era uma figura ímpar da vida santista, um homem simples, que teve de lutar muito para vencer na vida, vencer preconceitos. Teve, principalmente, coragem".

Solidariedade – Para o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que também esteve no velório, Barbosa foi um exemplo de alegria, entusiasmo e solidariedade e sua morte representa uma grande perda para a Cidade.

"Ele gostava muito de ajudar as pessoas justamente porque foi um menino pobre, de origem simples", afirmou o governador. "Há muitas pessoas que ele empregou, ajudou a encaminhar na vida. Além disso, tem uma história de serviços prestados a Santos. Ficam os bons exemplos para todos nós".

Barbosa conseguiu unanimidade na eleição da Mesa Diretora, em 1995

Foto: arquivo, 17/7/2005, publicada com a matéria, na página A-4

Pagoba, político autêntico e agregador

Amigos próximos e até mesmo os adversários políticos são unânimes em definir Paulo Barbosa como um homem conciliador

Fabiana Honorato

Da Redação

Peculiar, autêntico, trabalhador, arrojado, dinâmico, genuíno. Predicados não faltam para definir a figura ímpar do tucano Paulo Gomes Barbosa. Adversários políticos ou simpatizantes, todos reconhecem no ex-prefeito o mérito por ter conduzido a vida pública com lisura e honestidade.

A educação e a gentileza, especialmente para com as mulheres, eram traços marcantes. Segurar a porta, dar a passagem e se levantar da mesa faziam parte de seus ritos.

Na Câmara Municipal, onde legislou e presidiu a Mesa Diretora, destacava-se pela elegância e os lencinhos no bolso do paletó. Traje que, aliás, usava fizesse frio ou calor.

"Era simples e cativante. Tinha um jeito de moleque, como se ainda estivesse no Morro do Pacheco", lembra o jornalista Luiz Dias Guimarães, que foi assessor de imprensa de Barbosa, então prefeito nomeado de Santos, em 1980.

Atual presidente do Santos e Região Convention & Visitors Bureau, Guimarães o definiu como arrojado, atribuindo a ele os primeiros ensaios para a criação de uma ciclovia em Santos.

O ex-assessor recorda que era comum vê-lo sem dinheiro e sem cigarro, apesar do vício. "Não me lembro de tê-lo visto pegando a carteira no bolso. Ele também dizia que havia parado de fumar e não compraria mais cigarros. Mas pedia o dos outros. Essas peculiaridades o tornavam único".

A importância de Paulo Gomes Barbosa na política local foi ressaltada pelo cientista político e coordenador do Instituto de Pesquisas A Tribuna (IPAT), Alcindo Gonçalves. "Se preocupou, em parte significativa de sua vida, com a Cidade. Desde 1980 participava da vida política de Santos. Enquanto prefeito nomeado, conseguiu muito dinheiro para obras viárias".

Democrata – Para o ex-deputado federal Gastone Righi (PTB), cassado pela ditadura militar, Barbosa foi o prefeito nomeado mais democrata que ele conheceu. "Embora interventor, foi um dos grandes artífices e responsáveis pela autonomia política de Santos".

Sua administração, frisou Righi, foi marcada por ações singulares e importantes, como os chuveirinhos da praia, a iluminação da orla e o alargamento da entrada de Santos.

Segundo Righi, além da trajetória na vida pública e pessoal, o maior legado que Barbosa deixa a Santos é o filho Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), deputado estadual reeleito e atual secretário estadual de Assistência e Desenvolvimento Social.

O reconhecimento pela trajetória de Barbosa vem também de seus adversários políticos. Joaquim Carlos Del Bosco Amaral, que já foi vereador, deputado estadual e deputado federal em Santos, afirma que a divergência ficava no campo da ideologia partidária.

"Era meu adversário, mas como cidadão só posso lhe fazer elogios. Eu era do (partido) MDB, lutava pela redemocratização, e ele, do Arena, partido dos militares".

Pai do vereador Marcelo Del Bosco Amaral (PPS), Joaquim destacou o sucesso empresarial de Barbosa no ramo cafeeiro. Enalteceu, ainda, sua atuação assistencial, através da Fundação Pagoba, entidade sem fins lucrativos mantida na mesma casa onde morou, no Morro do Pacheco.

"Não se valeu da vida política pra fazer a sua vida. A família merece nosso carinho".

Amigo de Barbosa há 50 anos, o empresário cafeeiro Eduardo Hayden Carvalhaes viu o ex-prefeito crescer na mesma atividade.

Aos 85 anos, Carvalhaes recorda do arrojo empreendedor de Barbosa, que foi pessoalmente oferecer café no mercado europeu. "Era claro que ele sempre buscava crescer, trabalhando e aprendendo tudo sobre o café. Era um sujeito muito agradável".

Imagem histórica: prefeito recém-nomeado assumia no início de 1980

Foto: arquivo, 1980, publicada com a matéria, na página A-5

DEPOIMENTO

De Reynaldo Salgado, jornalista de A Tribuna

De engraxate a prefeito

Mineiro da pequena Jequitinhonha, Paulo Gomes Barbosa veio para Santos ainda bebê e enfrentou uma infância pobre no Morro do Pacheco. Quando criança, ganhava alguns trocados como engraxate. Foi nomeado prefeito de Santos no início dos anos 80, apadrinhado pelo então ministro Delfim Netto. E desde que assumiu, demonstrou desejo de entregar a Cidade para um prefeito eleito pelo seu povo, direito cassado pela ditadura. Conseguiu seu intento no dia 9 de julho de 1984, quando transmitiu o cargo para Oswaldo Justo, eleito no histórico pleito de 3 de junho daquele mesmo ano.

Barbosa logo rotulou sua administração de Governo Jovem, principalmente em função de alguns dos nomes escolhidos para sua equipe, entre eles Adilson Bulo (Finanças), Luiz Antonio Oliveira Ribeiro (Jurídico), José Pereira Sartori (Saúde) e Odair Gonzalez (Prodesan).

A experiência no comércio do café, como corretor, rendeu frutos para Santos. Depois de muita insistência junto ao Governo Federal, obteve vultosos recursos: primeiro para recuperar a então sucateada frota de trólebus e, depois, para as obras de reurbanização do Centro. Na época, os filhos de Barbosa ainda eram pequenos. Seu amor por eles extrapolava. Tanto que o gabinete do prefeito era decorado com fotos imensas de cinco crianças.

Durante seu governo, um fato no mínimo folclórico movimentou a política da Cidade. Foi descoberta uma fiação que saía da Sala Princesa Isabel e terminava num alto-falante dentro do gabinete de Barbosa. Dali ele acompanhava o desenrolar das sessões, que eram públicas. Mas ficou uma dúvida. Também havia sessões secretas e dizem que o sistema permanecia ligado para o prefeito ouvir tudo. Ele negou.

O acontecimento acabou sendo explorado pelos seus opositores no Legislativo, que logo deram o apelido de Mimigate. O presidente da Câmara era Washington Mimi di Giovanni, e tinha acabado de acontecer a queda do presidente norte-americano Richard Nixon, por conta do famoso caso Watergate (espionagem).

Antes de deixar a Prefeitura, Barbosa deu um verdadeiro presente para o funcionalismo: 100% de aumento salarial. Deixou seu sucessor revoltado, mas aumentou sua popularidade. Continuou nos meios políticos por mais duas décadas, até passar o bastão para seu filho Paulo Alexandre. 

VELÓRIO
O velório do corpo de Paulo Gomes Barbosa é realizado desde a noite de ontem no Salão Nobre do Paço Municipal, à Praça Mauá, s/nº, no Centro de Santos. O sepultamento está previsto para acontecer às 12 horas de hoje, na Memorial Necrópole Ecumênica, à Avenida Nilo Peçanha, nº 50, Marapé, também em Santos
MANIFESTAÇÕES
Desde a notícia do falecimento, a página de Paulo Alexandre Barbosa, filho do ex-prefeito, no Face book, reuniu mais de 100 mensagens de condolências
 
DEPOIMENTOS
"É com pesar que recebo a notícia do falecimento de Paulo Gomes Barbosa. Embora em trincheiras diferentes da política, sempre mantivemos uma relação cordial"

Telma de Souza (PT), deputada estadual, em nota de pesar

"Uma pessoa afeita ao diálogo, que cumpria com seus compromissos. Valorizou muito a vereança com seu jeito conciliador e a forma responsável com que lidava com a coisa pública. Um homem sincero, alegre, extrovertido, um grande amigo".

Antônio Carlos Banha Joaquim (PMDB), vereador e 1º secretário na gestão de Barbosa na presidência da Câmara

"Ele sempre foi um verdadeiro cavalheiro à moda antiga, muito atencioso, por mais ásperas que fossem as discussões políticas, ainda mais porque estávamos em campos ideológicos opostos. Era um homem leal, que sempre cumpriu sua palavra nos acordos políticos da Mesa Diretora. Respeitou as divergências".

Cassandra Maroni Nunes (PT), vereadora e vice-presidente da Câmara na gestão de Paulo Barbosa como presidente da Casa

"Era uma pessoa conciliadora, admirável e inteligente. Sabia fazer política. Além disso, formou uma família bonita e unida. Seu filho, agora (Paulo Alexandre), segue os passos do pai"

Marcos Clemente Santini, diretor-presidente de A Tribuna

"Tinha um senso de humor e um carisma que chamavam a atenção. E sua paixão por Santos e pelo Santos estava sempre presente. Foi um grande personagem da história desta cidade".

Roberto Clemente Santini, diretor-presidente da TV Tribuna

"Era uma figura amiga, alegre. Estava sempre bem informado e disposto a ajudar. Elegante, sempre demonstrou grande carinho pelo jornal"

Flávia Clemente Santini, diretora de Circulação de A Tribuna

"Depois que nosso pai morreu (Roberto Mário Santini, em 2008), ele ficou ainda mais próximo, era o nosso 'paizão'. Sua ligação com a família que formou era algo admirável"

Renata Santini Cypriano, diretora de Marketing de A Tribuna

"É com profundo pesar que recebo a notícia. Quero me solidarizar com a família, lembrando, no entanto, a figura querida e popular que foi e o papel de destaque que desempenhou no cenário político regional"

Marcia Rosa (PT), prefeita de Cubatão, em nota de pesar