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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Iluminação - BIBLIOTECA NM
Planos para a iluminação santista (5)

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O livrete Illuminação - Estudo para a Municipalidade, escrito por Gonzaga de Campos, com 96 páginas e sem ilustrações, foi impresso no ano de 1899 pela Tipografia da Cidade de Santos (situada no número 35 da Praça Mauá e pertencente ao antigo jornal Cidade de Santos, que circulou na cidade desde 1888 até o início do século XX).

O exemplar foi cedido a Novo Milênio para digitalização, pela Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, em maio de 2010. A ortografia foi atualizada nesta transcrição - páginas 94 a 96:

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Iluminação - estudo para a municipalidade

por Gonzaga de Campos

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Imagem: reprodução parcial da página 94

 

Conclusão

Na primeira parte destas notas procuramos comparar os dois grandes produtores de iluminação: o gás e a eletricidade. Deixamos inteiramente de parte o moderno agente, ora lançado no mesmo campo em que se debatem aqueles dois esforçados lutadores.

O acetileno fornece incontestavelmente uma luz poderosa e soberba pelo brilho.

Tem sobre o gás um certo número de vantagens. Produz 16 vezes mais luz sob o mesmo volume. Aquece o ambiente 7 vezes menos, e gera 5 vezes menos ácido carbônico, para a mesma quantidade de luz.

A matéria-prima é o carbureto de cálcio que, ao princípio muito caro, baixa todos os dias de preço, a ponto de que o gás acetileno pode hoje competir com o gás comum e até com a luz elétrica. Em combustores ao ar livre, pode ser de 2 a 3 vezes mais barato do que o gás.

Rivaliza com as lâmpadas elétricas de incandescência; porém, é ainda hoje mais caro do que o gás em bicos Auer.

Tem a vantagem de se adaptar a lâmpadas portáteis e a pequenas instalações domiciliares bastante econômicas.

É menos tóxico do que o gás comum.

Com a mesma canalização do gás existente seria possível produzir de 15 a 20 vezes mais luz, com o acetileno.

Outras razões, porém, levaram-nos a desprezá-lo.

Explosividade - Um volume de ar misturado com 3 até 20 volumes de acetileno, faz explosão inflamando-se. O perigo é máximo quando a relação é de 1 para 7. É verdade que o gás comum também é explosivo pela mistura; mas a sua ação é menos intensa e os limites do perigo mais restritos.

As fugas do acetileno em espaços limitados são muito mais para temer. É bem possível que todos esses inconvenientes venham a desaparecer. Infelizmente, na atualidade, uma série de desastres tem servido de entrave às tentativas de iluminação em maior escala.

Assim, no livro mais completo que conhecemos sobre o assunto, diz Georges Pelissier: "É pouco provável que o acetileno chegue algum dia a ser canalizado em grande".

Outra razão é o suprimento da matéria-prima.

Para poder contar com o carbureto de cálcio a preço baixo, seria necessário fabricá-lo entre nós. E aqui parece-nos que os dados experimentais contra-indicam a solução, para o caso.

Até hoje, o meio de produção é a eletricidade; e nas maiores fábricas cada quilo de carbureto produzido exige o gasto de quase 5 cavalos elétricos-hora.

Um quilo de carbureto atuando sobre a água produz 300 litros de acetileno; ou cerca de 500 velas-hora.

Cada cavalo-elétrico gera em lâmpadas incandescentes cerca de 200 velas, e em lâmpadas de arco 700. Logo, aproveitando diretamente a corrente elétrica, pode-se obter 2 ou 4 vezes mais efeito do que com o acetileno.

Eis-nos, portanto, limitados ao gás e à eletricidade.

As observações que fizemos resumem-se, em essência, nas seguintes:

1ª - O gás de carvão mineral queimando ao ar livre não produz bom rendimento em luz.

2ª - Nos bicos recuperadores, e principalmente nos de incandescência, aproveita-se o poder calorífico do gás para produção de luz, com grande economia.

3ª - O carvão de pedra em motores de vapor e máquinas eletrogênias dá melhor rendimento em luz do que quando produz gás para iluminação.

4ª - O gás de iluminação em motores de explosão e compressão gera corrente elétrica mais economicamente do que o carvão nas máquinas de vapor.

5ª - O gás d'água e o gás pobre, em motores, geram corrente elétrica ainda mais economicamente do que o carvão ou o gás de iluminação.

6ª - Tanto para o gás como para a luz elétrica, o parcelamento do poder iluminante obriga sempre a maiores dispêndios.

7ª - A concentração de grande força luminosa em um foco poderoso produz sempre considerável economia.

8ª - A maior arma que encontram as companhias de gás contra a luz elétrica são os combustores de incandescência.

Nos combustores modernos de gás comprimido (Bandsept, Denayrouse, Saint-Paul etc.), consegue-se o consumo de 1,5 até 1 litro por vela-hora.

Mas o bico até hoje mais em voga é o Auer, que pode consumir 3 até 1,5 litros por vela-hora. A única condição indispensável é de manter a pressão constante. Para isso devem ser empregados, além dos grandes reguladores na rede de distribuição, pequenos reguladores ou reômetros em cada bico. A pressão deve ser conservada fixa, de 40 a 45 milímetros.

Admitidos os nossos cálculos, um bico Auer de 32 velas (tipo BB) custaria por hora:

Juro e amortização da instalação .............................   1,500 réis

Manguito, substituição e tratamento ........................   3,744 réis

64 litros de gás .................................................... 11,232 réis

                                                    Soma ............. 16,476 réis

A câmbio de 8, custaria a lâmpada-hora 55,60 réis.

Os 200 focos nas avenidas custariam por ano

200 l. x 4.015 h x 55,6 rs. = 44:646$800.

Com o bico Auer n. 3, obter-se-ia 4 vezes mais luz, com despesa inferior a 110:000$000.

Fica, pois, incontestavelmente verificado que é a companhia do gás, já efetivamente aparelhada, quem pode desenvolver e melhorar a iluminação de Santos mais economicamente.

Só resta, pois, que aquela empresa entre em acordo com a Câmara para o referido fim.

Se, porém, não se der o fato, deve a municipalidade abrir concorrência para a iluminação elétrica das avenidas.

Para poder conseguir essa iluminação a preço cômodo, convém dar a quem contratar o fornecimento de luz, concessão para utilizar-se das estradas e ruas para a colocação dos condutores de transporte e distribuição de correntes elétricas para todas as suas aplicações industriais.

O prazo de concessão não deverá exceder de 18 anos. No contrato estabelecer-se-ão tarifas máximas para os particulares e a porcentagem do abatimento para a luz pública. Essas tarifas poderão ser revistas de 5 em 5 anos.

Servirão de base para a escolha das propostas o preço da luz, o abatimento para a luz pública, as condições da concessão e a idoneidade.

Imagem: reprodução parcial da página 96