Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0406a.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/09/08 23:05:48
Clique na imagem para voltar à página principal

HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - IRMANDADE
Irmandade do Rosário: fim, após 356 anos-1

Bens, como a Igreja do Rosário, passaram para a Mitra Diocesana

Leva para a página anterior

Uma das mais antigas irmandades religiosas de Santos, iniciada em 1652, teve a sua extinção decidida em junho de 2008, em ato tão discreto que não foi percebido pela imprensa local, e seu valioso patrimônio - inclusive a Igreja de Nossa Senhora do Rosário (então completando 250 anos de existência) - transferido para a Mitra Diocesana.

Tal decisão não foi recebida pacificamente pelos irmãos do Rosário, inconformados com o desrespeito às tradições da irmandade, extinta sem que muitos deles fossem consultados e pudessem manifestar seu desejo de dar continuidade à sua administração.


Portas fechadas na Igreja do Rosário à irmandade que a criou
Foto cedida a Novo Milênio pelo professor e pesquisador Francisco Carballa

Mensagem enviada a Novo Milênio pelo professor e pesquisador Francisco Carballa, em 28 de junho de 2008:

A Deus tudo pertence, sendo que nada acontece sem sua autorização ou atenção, pois ele é aquele que não dorme e nele eu confio; é com muito pesar que eu, Francisco Vázquez Carballa, membro Nº 117, remido, da Irmandade de Nossa  Senhora do Rosário dos Pretos de Santos, relato sua extinção em junho de 2008.

Nossa Irmandade tão pia foi fundada em 1652, existiu por 356 anos, e erigiu com muito sacrifício dos irmãos sua sede própria - na atual Praça Rui Barbosa s/nº - em 1756; permaneceu ali por 252 anos, pela graça de Deus, tornando-se tradicional templo e abrigo para índios e negros e todas etnias santistas que o freqüentaram.

Ainda existem irmãos que não sabem que o seu fim foi decretado pelo último provedor, que não é da etnia negra ou indígena e - sendo assim, não entendeu o valor espiritual que representava avançar com essa instituição tão pia, preocupando-se apenas com o financeiro (manutenção do prédio da igreja). Muito menos se teve consideração pelos que se privaram de bens materiais necessários para si e suas casas, desviando o que podiam para erigir essa casa de Deus no seio de nossa cidade de Santos. Nossa imaginação nos leva a acreditar na possibilidade de haver negros da terra (índios), ou negros de África que abriram mão de comprar sua alforria para empregar o dinheiro na construção do templo; não temos nenhum relato, mas é verdade que muitos desejavam que ele fosse ereto para depois descansar em seu solo sagrado e assim se encontrar com o Pai no dia do Juízo Final.

Também não se considerou os negros ou índios evangelizados, libertos ou cativos, que buscaram e encontraram, na mãe de Jesus Cristo o Salvador, o consolo para os maus tratos e fadigas de trabalhos forçados, no silêncio de suas preces ouvidas por Deus, estando na mesma condição de cativos os negros de África, que seguindo o mesmo destino dos naturais dessas terras, a exemplo deles, acharam na Senhora do Rosário uma amiga e fiel ouvinte de seus lamentos, por perderem suas famílias, tradições, costumes, ilusões, sonhos e saudades das coisas mais simples de sua terra, desde o rugido de um leão, até a floração do sorgo e embundeiro ou flores naturais do solo africano.

E, marcando o fim premeditado da Irmandade, para por termo à instituição, foi anunciada em jornal uma reunião na igreja, justamente em um dia em que a maioria das pessoas trabalha, para ganhar seu tão difícil sustento, sem contar que muitos não lêem jornal, tanto por não poderem comprá-lo como por não terem esse costume. Igualmente, em um caso tão importante, não mandaram correspondência para os irmãos, seja por carta com um prazo considerável, relatando da gravidade, recorrendo inclusive ao uso de telegramas, pois a situação assim o exigia.

Mas o que os homens fazem - mesmo sem aprovação do dono da Igreja Nosso Senhor Jesus Cristo, que vive e reina pelos séculos sem fim - ainda surpreende. Há muitos que foram pegos de surpresa, pois quem dirigia a instituição se esqueceu de que ninguém nesse universo é insubstituível a não ser o Senhor Deus Criador. Foram os bens da Irmandade, desde seu prédio, alfaias, mobiliários, imagens, adornos, objetos litúrgicos e para-litúrgicos, além daqueles imóveis que pessoas doaram por testamentos - visando um dia, com sua venda, suprir necessidades dos irmãos futuros ou reformas urgentes -, doados para a Mitra Diocesana de Santos, que dentre todas as demais instituições é a que tem direito justo de os receber, na pessoa de seu bispo, o representante maior da igreja Católica aqui em Santos, o que deixa em paz muita gente que estaria preocupada com o destino dessas coisas. É mais correta a sua doação à Mitra do que aos aproveitadores de antiguidades, que irritavam os irmãos, atrás das coisas antigas, pois sabemos que esse patrimônio será protegido e usado devidamente, tanto no Museu de Arte Sacra de Santos (MASS) como no culto ao Senhor Deus...

Ainda lamento, como irmão, que a chance - de continuar dirigindo o destino da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos - não foi repassada para os membros jovens que a ela pertencem ou nela queriam ingressar, sendo vedado até o interesse de se retomar a missa compromissal, a festa da oraga, a reza do terço dentro do templo e demais atividades relacionadas ao nosso compromisso com a fé cristã. Assim, os responsáveis que decretaram o fim da I.N.S.R. dos Pretos de Santos, um dia, vão prestar contas diante do tribunal de Cristo (II Coríntios cap. 05 vers. 10), pois para o Senhor Deus tudo tem que ser 'CERTO E JUSTO'.


Último irmão trajando a opa da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
Foto cedida a Novo Milênio pelo professor e pesquisador Francisco Carballa


Comprovante de remissão social da Irmandade do Rosário
Foto cedida a Novo Milênio pelo professor e pesquisador Francisco Carballa


Exemplo de recibo anual da Irmandade  do Rosário
Foto cedida a Novo Milênio pelo professor e pesquisador Francisco Carballa


"O último a sair, apague a luz..."
Foto cedida a Novo Milênio pelo professor e pesquisador Francisco Carballa

Leva para a página seguinte da série