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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - GRUTAS
Grutas, cada vez mais escondidas

Locais estão desaparecendo da cidade...

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Mesmo com toda a religiosidade que marca de diversas formas a vida dos santistas, uma de suas manifestações mais singulares - as grutas devocionais, de origem natural ou especialmente construídas - estão desaparecendo de Santos. Vão sendo demolidas uma a uma, conforme diminuem os devotos do santo homenageado e aumentam as exigências de espaço para construção imobiliária ou expansão das atividades do estabelecimento que as abriga.

Assim, com a saída dos bombeiros de seu Castelinho, desapareceu a gruta de São Sebastião; com o fim da escola Independência, sumiu também a gruta devocional que ali existia. Outras correm também o risco de desaparecer em poucos anos mais, com as transformações rápidas por que passa a cidade. O relato foi feito especialmente para Novo Milênio, em 2008, pelo professor e pesquisador de História santista, Francisco Carballa:

Grutas devocionais da cidade de Santos

 

Francisco Carballa

Existe no imaginário popular um gosto por cavernas que são exploradas, e também, nas mais diversas culturas, pelas grutas com finalidades religiosas. Mas, nem todos os lugares dispõem de uma caverna ou gruta natural. Sendo assim, a inteligência humana criou as grutas artificiais. No nosso meio cristão, muitas estruturas dessas foram construídas para homenagear a mãe de Deus, quase sempre se tornam locais de oração coletiva e veneração popular, que - segundo alguns estudiosos - seria uma memória de tempos pré-históricos, quando o ser humano passou a usar as cavernas e grutas naturais como abrigo das intempéries e animais selvagens; por isso, o gosto por essas construções, e sua busca.

As grutas dedicadas à mãe de Deus, onde se venera Nossa Senhora sob o título de Lourdes, tiveram sua origem na França do século XIX, quando em 11 de fevereiro de 1858, uma camponesa, muito humilde e doente, habitante da região, durante uma coleta de lenha para os serviços domésticos e para se aquecer no frio dos Pirineus, passou a ter visões da mãe de Deus naquele local - que teria como muitas utilidades o despejo de lixo da povoação.

Ali, a Virgem Maria teria se identificado para a moça Bernadete (que recebeu o título de santa), como a Imaculada Conceição, que até então seriam dois títulos cristãos separados da mãe de Jesus. A princípio, a história começou a atrair populares, principalmente durante as 17 aparições, chegando então às camadas mais altas da sociedade francesa e suas autoridades. A igreja também não deu seu apoio por receio de represálias por parte da política anticlerical que existia, mas como o acontecimento ganhou uma proporção e divulgação muito grandes, foi obrigada a tomar parte, ao lado do povo que se dirigia em massa ao local.

Ainda ocorreria o milagre do surgimento de uma fonte e de suas águas muitas pessoas enfermas receberiam a cura, assim como é costume da igreja quando as aparições de Massabielle foram aprovadas e o titulo de Lourdes foi associado como identificação dessa aparição de Maria Santíssima.

A primeira gruta brasileira de que se tem notícia, com a imagem da Virgem de Lourdes, foi instalada no Cambuci, em São Paulo, até então uma fazenda que deu lugar ao bairro e sua capela à igreja do Cambuci, onde se pode ver a gruta com a imagem mariana, e até as sepulturas (recentemente descobertas) da fundadora e seus familiares, que ficam em seu subsolo. Essa capela pode ser visitada na paróquia de Nossa Senhora da Glória do Cambuci, no bairro paulistano do mesmo nome.

O gosto por essa história, e sua divulgação, foram o motivo da construção de muitas grutas por todo o Brasil, especialmente em Santos. Algumas já foram demolidas, frente ao progresso; outras permanecem desafiando a imaginação e lembrando a história ocorrida em Massabielle.

Como o tempo sempre traz novos desafios, em sua maioria essas grutas não possuem mais o fluxo de água corrente e nem o pequeno tanque que recorda uma lagoa com plantas aquáticas, devido à proliferação de mosquitos que transmitem doenças graves como a febre amarela e a dengue.

GRUTAS DEMOLIDAS

1ª - Gruta da escola Independência, que existiu na instituição, sendo sua responsável e diretora a sra. Ercília Rodriguez Dias, foi ali professora de primário a sra. Lourdes (nascida em Santos 1926), que administrou aulas até 1952, tendo sido professora da ex-prefeita Telma de Souza.

Foi esta professora quem relatou a existência dessa gruta, que eu conheci, e que foi demolida em 2005 para dar espaço aos enormes filtros de água da faculdade Unimes. Curiosamente, aí está uma relação com a água pura que evita as enfermidades...

As crianças da escola Independência, antes de ingressarem para a sala de aula, faziam uma breve prece diante da gruta, ficavam desobrigadas as que eram protestantes. Dona Ercília vendeu a instituição pelos idos finais da década de 1950, por estar muito idosa e enferma. O novo proprietário seria um professor da instituição Escolástica Rosa, que manteve a gruta e seu pé de goiaba.

Ficava esta escola na Avenida Conselheiro Nébias nº 536, onde podemos ver hoje o majestoso prédio da Unimes, instituição educacional de nível superior que ocupa assim o local da antiga escola.

2ª - Gruta da Casa do Senhor, instituição de religiosas que teve seu prédio danificado devido à explosão do gasômetro em 1967, sendo o prédio arruinado demolido, apenas sua gruta chegou até 1988 quando foi também destruída para a construção do supermercado que ali existe atualmente.

Ficava esta instituição na Avenida Conselheiro Nébias, esquina com o canal e Avenida Campos Salles.

3ª - Gruta de Nossa Senhora de Fátima, ficava no corredor direito da Cruzada das Senhoras Católicas, sendo demolida por apresentar perigo para as crianças atendidas (elas escalavam as pedras, que estavam se desprendendo) e também pelos ladrões que usavam a mesma estrutura para penetrar naquela instituição. A imagem de Nossa Senhora de Fátima fora furtada em 1973, por um menino de nome Paulo, e colocada em uma casa de ervas que existiu na Rua Bittencourt; sem saber do paradeiro dessa imagem, as senhoras logo colocariam um outro título mariano no lugar.

4ª - Gruta de Nossa Senhora de Lourdes e São Vicente de Paulo - ficava nos fundos da Capela das Irmãs da Casa Pia São Vicente de Paulo - Pensionato para Moças e Senhoras - na Avenida Epitácio Pessoa nº 139, sendo demolida no ano de 2006, quando o prédio da instituição foi vendido pelas irmãs - que já não usavam seus hábitos característicos e nem sua caridade e piedade cristã. Era essa gruta feita de pedras e de forma quase quadrada, ostentando a Virgem de Lourdes e São Vicente de Paulo, o que lhe conferia uma certa distinção em relação às demais grutas.

Ocorreu fato estranho durante a demolição de sua capela, que tinha estilo neocolonial: quando foram retirar o piso de mármore, encontraram ossadas humanas, das quais não se pesquisou sua origem. Acreditam alguns serem os restos mortais de irmãs falecidas em Santos, sendo que, depois de exumadas, seriam colocadas essas ossadas em lóculo comum debaixo do presbitério.

Sua capela era de bom gosto e típica dos anos 1930/40, possuía como devoções São Vicente de Paulo, Nossa Senhora de Lourdes, o Sagrado Coração de Jesus, São José e Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, uma pintura do artista Pedro Gentilli, que adornava sua abside, o Triunfo Eucarístico, composto por dois anjos ajoelhados, a Eucaristia no meio, e abaixo uvas e trigos - desenho bem conhecido do professor de Artes José Marques de Oliveira Neto (nascido em Santos em 1981). Segundo ele, foi aquele mesmo pintor que fez as maravilhosas pinturas que se encontram na Basílica Menor de Santo António do Embaré, em Santos.

GRUTAS QUE AINDA EXISTEM

1ª - Gruta-nicho de Nossa Senhora de Lourdes que ainda existe no Morro de São Bento, no largo do Machado, pode ser que tenha sido construída em 1914 segundo placa ali existente onde lemos A.M. 1914 (Ave Maria), ainda hoje existe sua bica com água que é usada por alguns moradores e também ali ocorre a reza do terço.

2ª - Gruta de Nossa Senhora de Lourdes na subida do Morro do Fontana pelo caminho Travessa da Santa Casa que faz menção à 3ª sede dessa instituição que ali existiu, a gruta possui a data de 1935 em algarismos romanos, e dizem que sua água foi desviada para uma residência próxima; possui azulejos com a figura do Sagrado Coração de Jesus e Santo António ornando suas paredes fronteiras.

3ª - Associação de São Vicente de Paulo, essa mesma gruta fica detrás do presbitério da igreja que tem como patrono o fundador da instituição dos Vicentinos, feita em pedras e cimento. Possui um lindo conjunto, mas a imagem de Santa Bernadete atualmente não se encontra ali. Com o desgaste do tempo, perdeu a cruz que existia em um adorno com uma cabeça de anjo que está sobre a estrutura e era destinada a mostrar a data de construção, também não possui as plantas aquáticas chamadas de Santa Luzia e as roseiras brancas e rosadas.

4ª - Associação da Cruzada das Senhoras Católicas, situada na Av. Conselheiro Nébias nº 156, existe ainda ali a gruta construída em pedras onde se abriga a imagem de Nossa Senhora de Lourdes; já a figura de Santa Bernadete foi doada recentemente, em substituição a que existiu no local; já não possui mais o fluxo de água e suas plantas aquáticas conhecidas como abutuas.

5ª - Colégio Coração de Maria, atual Unimes. Situada na Rua de Constituição nº 374, essa gruta possui a imagem de Nossa Senhora de Fátima, trazida de Jaboticabal por dona Rosinha, para substituir a imagem de Nossa Senhora de Lourdes, que fora levada pelas irmãs quando elas venderam a instituição logo após a explosão do gasômetro. Hoje não possui mais seu jardim fronteiro e suas plantas aquáticas chamadas de aguapés.

6ª - Gruta da Associação Monsenhor Moreira (o popular Prato de Sopa), situada na Rua Sete de Setembro nº 52, ali ainda se encontra a gruta com a imagem de madeira que veio da França, de Nossa Senhora de Lourdes, e a imagem feita em cimento de Santa Bernadete. Só as begônias e malvonas não ornam mais o local, que também não possui mais as plantas aquáticas chamadas de camarão d’água.

7ª - Gruta de Nossa Senhora de Lourdes que existe na esquina da Rua Duque de Caxias com o Canal 1, é de particulares, da casa de esquina. Muito simples, feita em alvenaria recoberta de pedras, ainda abriga a imagem de Nossa Senhora de Lourdes, mas não possui mais seu jardim, sendo o mesmo recoberto por cacos de lajotas; desse tempo apenas resistem algumas cactáceas no cimo das pedras que recobrem a mesma; é possível que chegasse a ter um tanque com água, mas não existe nenhuma referência atualmente que possa comprovar essa característica das grutas marianas.

Deveu-se a sua construção, sem dúvida alguma, à devoção dos antigos proprietários da residência, havendo informações de pessoas que conseguiam ver o pequeno monumento de dentro dos bondes no outro lado do canal e posteriormente dos ônibus, principalmente quando começaram a circular no sentido Centro.

8ª - Gruta de Nossa Senhora de Lourdes da quarta sede da Santa Casa de Misericórdia de Santos, que existe no muro que limita a Avenida Francisco Manuel e o terreno da capela dedicada à rainha Santa Izabel de Portugal (nascida em 1271 na Espanha e falecida em 4 de julho de 1336 em Portugal) - que foi a difusora dessa instituição pelo mundo português -, festejada nesse templo no dia 2 de julho junto com o aniversário de fundação da instituição em Santos por Braz Cubas em 1543.

Ali existe um fluxo de água e muitas plantas que a recobrem, sendo uma construção recente, idealizada pelas Irmãs contemporâneas de Santa Paulina, pois tanto a Irmã Brígida quanto a Irmã Mellita a conheceram e conviveram com ela em São Paulo. De certa forma, é comum haver tais estruturas onde existem casas de religiosas da Madre Paulina ou nos hospitais cristãos, como é o caso das Santas Casas.

Nesse monumento religioso, podem ser vistas muitas placas de graças alcançadas, demonstrando que existe uma devoção bem viva por parte da comunidade cristã do bairro e dos enfermos atendidos pela instituição.

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