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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Crônica policial - 24
Pequenos desentendimentos cotidianos

Companhia feminina, bebida... ou peixe estragado...

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Os pequenos desentendimentos entre os santistas do início do século XX eram também notícia de jornal, embora rendessem, geralmente, uma noite na cadeia para os mais exaltados. Como neste caso, registrado pelo jornal santista A Tribuna, na página 3 da edição de 2 de maio de 1917 (ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução parcial da pagina com a matéria

O Joaquim não é para graças

Joaquim Ferreira é um lusitano de 20 primaveras, enxerto rijo de beirão, que não gosta de graças nem mesmo femininas.

Ora, ontem, como tivesse as algibeiras um tanto recheadas, antes de se dirigir para sua residência, foi "matar o bicho" num dos botequins da Rua Martim Affonso.

Atraído pelos olhares gaiatos de cupido, o Joaquim não resistiu à tentação e entrou no n. 53, onde aceitou o convite para pagar uma "Fidalga".

O Joaquim sentia-se bem com a companhia e um sorriso de plena satisfação brilhava-lhe nos grossos lábios.

Mas o diabo foi na hora de pagar...

Cinco mil réis por uma cerveja "Fidalga", que em qualquer botequim custava setecentos réis?

Nisso é que o Joaquim não ia...

Regateou o preço, propôs abatimento, mas como visse que era tempo perdido, exclamou iracundo:

- Ó raio, se boicês querem duas "crôas" é p'ra já, senão não vai nem uma de X"..."

E o Joaquim pôs o chapéu na cabeça, preparando-se para dar o fora, mas foi impedido de o fazer pela Estella Golsek, que o agarrou fortemente pelo paletó.

Esforçou-se o Joaquim por se desligar da presa, mas vendo que não o alcançava, ferrou-lhe tão forte dentada no seio, que a Estella caiu no chão sem sentidos, entre uma berraria ensurdecedora das companheiras.

O inspetor Ildebrando de Moura, que passava naquele momento atraído pela gritaria, entrou na referida casa e efetuou a prisão em flagrante do Joaquim.

No dia 19 de julho de 1917, página 5 de A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição; 'percevejal' = apelido para cela de cadeia, que teria muitos insetos percevejos devido às más condições de manutenção):

Imagem: reprodução parcial da pagina com a matéria

Que tal ela era!

Dos lados da Vila vinha ontem, às 2 horas, pela Rua Senador Feijó, com rumo feito à Praça José Bonifácio, o pintor português Lourenço Rijo, que por sinal trazia uma "gata" que até causaria inveja ao decano dos paus d'água do mundo Novo.

Até às alturas da Rua Sete de Setembro não houve novidade, mas daí para cá o Lourenço agarrava-se aos lampiões da City e só depois de dar três voltas em roda de cada um deles é que prosseguiu viagem. E quando chegou à Praça José Bonifácio, como ali estivesse um sujeito muito alto e magro que acendia um cigarro, o Lourenço tomou-o por um lampião e, agarrando-o, começou a fazer a rotação.

O homem ficou assustado e abriu boca ao mundo, dizendo que o queriam matar, aparecendo então um soldado que levou o Lourenço para o persevejal, onde ficou a dormir como um santo.

Também no dia 19 de julho de 1917, página 5 de A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução parcial da pagina com a matéria

Negócio mal concluído

Apregoando boas tainhas de venda, ia ontem à tarde pela Rua Bittencourt o peixeiro português Gualberto André, quando dele se aproximou o seu patrício Antonio Leopoldino, perguntando-lhe quanto custava o peixe.

- Dois mil réis - respondeu o Gualberto, e acrescentando ao mesmo tempo:

- Até parece uma lampreia do Mar dos Sargaços!

E o Leopoldino, retrucando:

- Dessa está você livre! Então eu ia dar-lhe 2$000 por esse peixe, com "cara" de sezões amarelas?!

De repente e em menos de três tempos, o peixeiro pegou a tainha pelo rabo e aplicou-a à cara do Leopoldino, que ficou cheia de escamas. Em seguida, houve uma partida de sopapos que teve o epílogo no "persevejal" da Rua Comendador Martins.

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