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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Martins Fontes e as 17 glórias de Santos

Uma otimista análise da grande vocação agrícola de Santos...

Exaltando a cidade em que nasceu, o poeta Martins Fontes desta vez escreveu em prosa, neste artigo publicado no jornal santista A Tribuna em 15 de março de 1925 (página 2 - ortografia atualizada nesta transcrição):


Imagem: reprodução parcial da matéria original

As dezessete glórias de Santos

A cidade de Santos, suprema flor da Pátria, entesoura dezessete glórias!

Santos foi o Brasil, porque a Capitania de S. Vicente, denominada Nova Lusitânia, encerrava os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Goiás, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Santos foi o berço da língua portuguesa na América, porque a sentinela de Martim Afonso, acastelada na Bertioga, ao ver, surpresa, três dias depois da chegada da frota, um homem europeu, que caminhava a largos passos, a agitar uma bandeira branca, sinal de paz em plagas da cristandade, bradou: - "Olá, a que vindes? Quem sois?" E, do fundo da selva imane, João Ramalho, saudoso e deslumbrado, respondeu-lhe: - "Português sou! Glória! Glória à nossa língua!"

Pela primeira vez o eco repercutia a voz do amor. Pela primeira vez, na terra virgem, cantou a língua formosa!

Santos, para seu povoamento, teve a fidalguia do reino, lustrosa prol da era das conquistas!

Em Santos fundou-se o primeiro hospital, "Porta aberta para o Mar", "Casa de Deus para os Homens", no dizer de Braz Cubas, moço brilhante, amigo do rei de Portugal, plantador da cidade ardente e bela!

De Santos saiu, para o país inteiro, a pecuária!

De Santos saiu, para o país inteiro, a agricultura, pelo esforço da grande dama d. Anna Pimentel, esposa de Martim Afonso, grão senhor paladino, herói, lusíada!

Em Santos, ao mesmo tempo que em Taubaté, se ergueram as Bandeiras!

Em Santos viveu o melhor homem que tem florido na América, o poeta-santo José de Anchieta, autor do "Poema de Virgem Maria", escrito nas areias de Iperoig!

De Santos alou-se a Independência, ave do ninho dos Andradas! Santos contém um bosque sagrado, o vergel do Jabaquara, palavra inspiradora, que, por predestinação histórica, quer dizer - Recanto dos Foragidos, Asilo, Perdão, Piedade! Antes de haver escravos, já o Jabaquara era sítio de paz e de esperança. E nesse torrão-coração do Brasil, dez anos antes da liberdade, houve perto de três mil negros protegidos - e as autoridades, levianas e gananciosas, que se arriscavam a vir de São Paulo, para prendê-los, não conseguiam desembarcar, ficavam retidas na estação da estrada de ferro, humilhadas, vaiadas, execradas!

Santos foi a Abolição! Este é o louro imarcescível, a rosa central da sua coroa de rainha!

De Santos, acompanhando o conde D'Eu, através do Norte, arriscando a vida, em propaganda libertária, um ano antes de 15 de novembro, saiu à aventura o apóstolo Silva Jardim, tendo marcado a data da proclamação da República, filha do "Centro Democrático"!

Em Santos nasceu Bartholomeu Lourenço, o Voador! A "Passarola" é santista! Asa, Sonho, Ideal! Todo santista é valente, generoso, imaginoso, vivacíssimo!

Em Santos o fósforo do mar irradia nos espíritos!

A água de Santos é a melhor do mundo! Abundante, decantada, claríssima, divina, ela realizará todas as aspirações da Higiene! Com a pedra de Santos, pela sua granítica durabilidade, levantaremos uma urbe eterna!

O peixe, o camarão, os mariscos, o arroz, a tangerina, o cambucá, o araçá de Santos não encontram rivais, são incomparáveis!

As praias de Santos dir-se-iam cimentadas, parecem pistas de velódromos!

Pode-se andar de automóvel, em velocidade, durante horas, muitas horas, da ponta do Perequê ao extremo de Peruíbe!

Santos é o viveiro de uma legião de poetas, espelhos da terra, irmãos de Vicente de Carvalho e de Paulo Gonçalves, na mais nobre das famílias humanas! Jacatirões em flor!

Santos possui um pulmão assombrante, por onde poderá respirar livremente, reservatório inesgotável de oxigênio ainda não explorado: - a serra verde, a magnitude do Paranapiacaba!

A população condensada à beira do oceano, em nesga de terreno porfiosamente conquistado aos mangues, teria de volver os olhos para as florestas emoldurantes, em busca da sombra, do silêncio e da frescura!

Que seria de Paria, luminosa e tumultuária, sem os tufos arejantes do "Bois de Boulogne"?

E Londres, imensa, com oito milhões de indivíduos, a respirarem na mesma atmosfera viciada, sem as alamedas amoráveis de "Hyde Park"?

Edificar, pois, um Bairro-Jardim no Cubatão de Cima, junto da montanha, à margem da Estrada Vergueiro, não é só dilatar a área habitável da mais querida das cidades brasileiras, mas dotá-la de um sanatório natural, onde as árvores representam enfermeiras solícitas, as flores constituem o mais variado laboratório de essências terapêuticas, e as águas cristalinas, a jorrarem das vertentes, animando indústrias, o mais poderoso elemento de purificação, de vivificação!

Santos, 13 de março de 1925.

Martins Fontes.

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