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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BIBLIOTECA - C.SANITÁRIA
A campanha sanitária de Santos - Malária (3)


Em 1947, David Coda e Alberto da Silva Ramos, do Serviço de Profilaxia da Malária do Estado de São Paulo, publicaram este estudo, na forma de uma separata dos Arquivos de Higiene e Saúde Pública, publicação da Diretoria Geral do Departamento de Saúde do Estado de São Paulo – Ano (Vol.) XII – 1947 – Nums. 31-32-33-34 – páginas 63 a 104.

O trabalho foi impresso na Indústria Gráfica de José Magalhães Ltda., de São Paulo, e um exemplar foi cedido a Novo Milênio para digitalização, pela Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, em maio de 2010:

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A Malária na Cidade de Santos

David Coda e Alberto da Silva Ramos - 1947

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II – Generalidades

a) Constituição geológica

No que tange à constituição geológica, a única informação obtida foi a de Unti [14], que ao estudar o pH dos solos em zonas malarígenas do Estado de São Paulo, assim se manifesta, com relação ao litoral: "todas essas localidades repousam  em solo de constituição geológica arqueana, representada por detritos de rochas cristalinas contendo areias de praia, tipo de solo das planícies litorâneas".

b) Clima

É do consenso geral dos malariologistas que a chuva, a umidade, a temperatura e o vento exercem influências decisivas no entretenimento e exacerbação da endemia malárica, fatos que levaram os autores a focalizar, embora de passagem, o aspecto climatológico de Santos.

Santos está situada na latitude 23º56'4 S e longitude 46º19'5 S-W de Greenwich, com altura de 3 m.

De acordo com a classificação "Morize-Delgado", esta cidade está situada na região brasileira de clima sub-tropical "tipo semi-úmido marítimo".

São transcritos abaixo trechos do trabalho de Morize [15] referentes ao clima de Santos.

"Toda zona do litoral de São Paulo, de que Santos pode servir de tipo, é quente e de clima marítimo, e portanto isenta de variações de temperatura..."

"Situada a Sudoeste do Rio, era de esperar que a temperatura média da cidade de Santos fosse apenas um pouco menor do que a da Capital Federal, tanto mais quanto a estação se acha no meio da cidade em lugar onde a temperatura deve ser exagerada; entretanto, a diferença para com o Rio alcança quase 1º (um grau) (21,9º em vez de 22,7º)."

"Se a variação de temperatura entre o mês mais quente e o mais frio é mais ou menos a mesma do Rio, a excursão das temperaturas absolutas, máxima e mínima, é consideravelmente maior em Santos".

"Registrou-se no Rio, em quase 70 anos, apenas uma vez a temperatura máxima de 39º, enquanto que em Santos se teve 41,8 a 28 de janeiro de 1915 e diversas vezes valores superiores a 39º. Em compensação, a temperatura mais baixa observada em Santos foi 5,0º a 18 de junho de 1889, não tendo sido nunca observadas no Rio temperaturas inferiores a 10,2º. Assim, embora pouco menor a média de Santos, tem-se ali algumas vezes temperaturas superiores às do Rio de Janeiro".

"A chuva é muito forte, devido à vizinhança da Serra do Mar, recolhendo-se anualmente 2.184 mm, quase o duplo do Rio. O mês em que mais chove é o de março, com 301 mm, e o mais seco junho, com 60,4 mm. É difícil nessas condições distinguir as estações seca e chuvosa, pois a primeira se reduz a um mês. Apesar de ser Santos muito chuvoso, a nebulosidade é relativamente fraca – 5,9, e pequeno o número de dias de chuva no ano, indicando esse fato que a água cai por aguaceiros pesados e não por chuva miúda e prolongada, como tantas vezes acontece no Rio de Janeiro, durante o inverno".

"Quanto ao vento, pode-se dizer que é sempre fraco, pois as calmas foram observadas maior número de vezes que os ventos de qualquer rumo. Entre estes, predomina o de S e de NW durante todo o ano".

Faz parte deste capítulo um quadro contendo dados climatológicos da Estação de Santos, referentes aos anos de 1895 a 1915, retirados do trabalho de Morize [15] e dados referentes aos anos de 1940 a 1946 fornecidos por nímia gentileza do sr. diretor do Serviço Meteorológico de São Paulo – do Ministério da Agricultura (quadro nº 1):

Quadro nº 1 - Ministério da Agricultura - Serviço de Meteorologia

Estação Meteorológica de Santos (Ponta da Praia) Est. de São Paulo

(Dados referentes aos anos de 1940 a 1946) e

(+) Dados climatológicos da estação de Santos referentes aos anos de 1895 a 1915 (H. Morize).

 

Dez.

Jan.

Fev.

Mar.

Abr.

Maio

Jun.

Jul.

Ago.

Set.

Out.

Nov.

Ano

 Temperatura média (+)

24,2

23,2

24,6

24,9

25,5

25,2

24,4

24,6

22,6

22,7

20,5

20,7

19,0

18,9

19,1

17,6

18,9

18,9

19,4

18,9

20,5

20,5

22,8

21,8

21,9

21,5

Temperatura média das máximas (+)

27,7

27,3

28,6

29,4

31,2

29,9

27,8

29,0

26,8

27,5

24,8

25,9

23,9

24,3

23,3

22,7

23,0

23,8

23,7

22,8

23,8

24,2

25,7

25,7

25,9

26,0

Temperatura média das mínimas (+)

21,2

20,1

22,0

21,5

24,1

22,0

21,4

21,1

19,9

18,9

17,7

16,9

16,4

15,0

15,7

13,7

15,8

15,3

17,1

15,7

18,1

17,7

19,7

18,8

19,1

18,0

Temperatura máxima absoluta (+)

40,0

37,4

41,8

37,7

39,0

36,7

40,0

35,1

38,0

37,0

37,1

55,8

35,3

32,7

35,6

32,9

37,4

34,9

39,5

35,6

36,0

35,4

38,8

34,9

41,8

37,7

Temperatura mínima absoluta (+)

15,6

14,5

14,9

16,2

16,5

15,9

15,8

17,6

13,2

10,4

10,2

8,7

5,0

6,9

6,5

5,4

6,7

8,5

8,6

8,4

10,5

12,0

11,9

14,7

5,0

5,4

Chuva (quantidade em mm) (+)

181,4

196,1

270,5

244,7

216,2

409,1

301,4

258,6

179,8

206,5

157,0

131,5

60,4

140,0

114,2

78,4

118,2

68,5

140,5

129,2

156,8

164,0

196,1

138,7

2.083,5

2.163,3

Chuva (nº de dias)  (+)

17

16,5

13

18,5

12

15,5

15

13,3

12

12,5

11

9,3

10

9,0

9

8,5

10

7,3

11

10,5

14

15,3

13

12,8

147

149

Números de dias claros  (+)

5

1,6

3

1,3

3

1

4

1

6

2,9

9

5,1

7

5,1

9

7

6

6

3

3,1

3

1,1

3

0,5

61

34,1

Números de dias encobertos (+)

12

18

11

15

7

15,4

9

15

6

11

6

10

9

9

10

12

11

12

7

15

12

19

10

16

110

167,4

Umidade relativa (+)

74

83,8

78

82,9

76

84,1

78

84,0

78

83,0

76

83,6

80

84,4

75

84,7

78

84,1

82

84,4

79

85,7

77

83,6

77

84,0

N.E.: na última coluna, penúltima linha, o valor indicado 167,5, além de estar em posição incorreta apresentava diferença de um décimo a mais em relação à soma do ano

Fazendo um ligeiro estudo comparativo entre os dados contidos no quadro, verificamos:

1)     que a temperatura média acusou um ligeiro decréscimo no segundo período observado;

2)     que a média das máximas quase se equilibrou;

3)     que houve uma diferença para menos de 1,1º na média das mínimas assinaladas no segundo período observado;

4)     que a temperatura máxima absoluta observada nos 7 anos do segundo período de observações atingiu a 37,7º no dia 16 de janeiro de 1942. Como foi citada por Morize, era comum observar-se temperaturas em Santos com valores superiores a 39º, fato não observado nesses 7 anos, o que bem demonstra o decréscimo da aspereza do clima desta cidade;

5)     A temperatura mínima ficou, apenas, 4 décimos de grau acima da menor temperatura observada em 25 anos, tendo o termômetro acusado no dia 12 de julho de 1942 5,4º;

6)     Quanto às chuvas, verificou-se um pequeno acréscimo na quantidade média dos 7 anos. Verificou-se, também, que, em geral, o mês de menos chuvas é agosto. O  mês que acusou maior precipitação atmosférica foi fevereiro de 1944, com 791 mm; e a menor, julho de 1940, com 14,5 mm. Os dias de chuva apresentam quase a mesma média de dias;

7)     Houve decréscimo geral em todos os dados climatológicos observados no período de 1940/46 comparado com o período de 1895-1915, apenas a umidade relativa acusou um aumento bastante apreciável, pois sua média subiu de 77 para 84.

c) Marés

As notícias referentes às oscilações da maré em Santos, aqui insertas, foram fornecidas gentilmente pelo dr. Edgard Chermont, engenheiro do D.N.P.N. e chefe da Fiscalização do Posto de Santos.

"Maré comum, em dia de lua cheia ou nos dois dias antes e até três dias depois, 2,30 m.

Maré comum, em dia de quarto crescente ou minguante, dois dias antes e até dois dias depois, 1,60 m.

Maior preamar observada acima do zero hidrográfico, 2,70 m.

Baixamar comum, em dia de lua, 0,45 m.

Baixamar comum, em dia de quarto, 1,10 m.

Em geral as grandes baixamares comumente observadas não descem a menos de 0,33 m".

Considerando-se que a altitude de Santos é de 3,0 m, segundo Morize [15], compreende-se que as oscilações da maré favoreçam o represamento das águas pluviais, impedindo, sobremodo, o dessecamento do solo e aumentando as possibilidades de procriação de anofelinos.