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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - FOTÓGRAFOS
Os insistentes papagaios-de-pirata...

O fascínio dos santistas pelo registro fotográfico, em seus tempos pioneiros

 

Quando apareceram os primeiros fotógrafos e suas complicadas aparelhagens, no século XIX, ou o santista andava normalmente (e a chapa registrava um "fantasma", já que era necessária rigorosa imobilidade para que o registro fotográfico fosse feito), ou - o que era mais comum, parava para olhar, chegava cada vez mais perto, fazia questão de aparecer na foto.

E esse comportamento - que aliás se reproduziu em todos os lugares onde a fotografia chegou, e mais de um século depois continua motivando o surgimento nas fotos dos conhecidos papagaios-de-pirata (figuras espiando por sobre os ombros dos fotografados) - foi registrado pela revista santista A Fita, em sua edição número 43, publicada em 12 de fevereiro de 1914 (exemplar no acervo da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio - SHEC, com ortografia atualizada nesta transcrição):


Imagem: reprodução parcial da publicação original

Uma coisa muito comum e que não deixa de ser bastante curiosa é a vontade, o gosto, o prazer inexplicável que o indivíduo tem em ser fotografado. Assente o fotógrafo a sua máquina numa rua ou numa praça, e no mesmo instante, surgindo de todos os lados, indivíduos de toda a espécie, gente de toda a categoria, bem trajados, mal vestidos, de colarinhos engomados ou sem eles, vão tomando a frente, desconfiados, medrosamente, até que se familiarizam uns com os outros, com o artista e com a máquina, antegozando, com satisfação e vaidade, o efeito de suas carantonhas raspadas ou barbadas nas páginas de um jornal ou de uma revista.

Todos têm uma pose diferente, todos têm uma expressão original, cada qual mais afetada e sem jeito, cada qual mais ridícula: um ri, outro põe-se carrancudo, este trança as pernas, aquele desaba o chapéu e aquele outro, espirituoso, bota a língua de fora e... está claro, o fotógrafo vê-se obrigado a suspender o trabalho.

Pede, implora, grita, empurra e, afinal, desimpede a frente.

Curva-se de novo ante o aparelho, cobre a cabeça com o pano preto, coloca a vista através da objetiva, e - com um milhão de diabos - eis toda a frente outra vez tomada pelos mesmos indivíduos que, aos bocadinhos, avançando a passo e passo, retomam a posição escolhida, rindo, sério, de braços cruzados ou de língua de fora!

E hão de sair na fotografia, custe o que custar.

E os que deviam sair, esses... Procurem os leitores quando virem uma fotografia onde haja promiscuidade de indivíduos e notem se não tem atrás umas pernas comprimidas e umas cabeças sobre pescoços, muito compridos, muito esticados...