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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - PORTO & LITERATURA - BIBLIOTECA NM
Os navios iluminados de Ranulpho Prata (F)

Nacionais e de todo o mundo, como os navios que aqui aportam...

 

Clique na imagem para ir ao índice do livroCom o título "História e literatura no porto de Santos: o romance de identidade portuária Navios Iluminados", o jornalista Alessandro Alberto Atanes Pereira desenvolveu esse tema em sua coluna no site PortoGente. Essa dissertação foi defendida como tese de mestrado em 7 de abril de 2008 na Universidade de São Paulo/Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/Departamento de História, tendo como orientadora Inez Garbuio Peralta e a banca examinadora integrada também por Wilma Therezinha Fernandes de Andrade e Maria Luiza Tucci Carneiro. O autor enviou o material para publicação em Novo Milênio, em 27/1/2011. Clique aqui<< para obter o arquivo final em formato PDF (2,80 MB), ou veja nestas páginas a versão original, mais completa:

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História e Literatura no Porto de Santos:

O romance de identidade portuária Navios Iluminados

 Alessandro Alberto Atanes Pereira

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Capítulo 1 – A história do romance: a realização de Navios Iluminados, edições e recepção crítica

1.6. Recepção crítica

A história editorial de Navios Iluminados começa em 1937 com sua publicação pela Livraria José Olympio, e, em 21 de dezembro desse ano surge a primeira nota sobre a obra, no diário A Gazeta, de São Paulo. O autor da pequena notícia identifica o romance como obra do "laureado autor de O Lírio na Torrente", obra anterior, de 1925, e adverte seus leitores[85]:

 

A rápida leitura que fizemos de Navios Iluminados não nos permitiu ainda fixar um juízo definitivo acerca do novo livro do sr. Ranulpho Prata; mas já podemos adiantar que se trata de um belo romance [86].

 

A partir do início de 1938, novas análises são publicadas. Em O Diário, de Santos, Antonio de Villaverde escreve em 6 de janeiro sobre a "enorme" distância que separa Navios Iluminados de O Lírio na Torrente. E não é só a distância no tempo. Para Villaverde, os personagens da ficção de 1925 são delineados como esboços, ainda que "liricamente", enquanto o romance de 1937 traz caracteres e tipos de "feição natural", o que, "além de os humanizar, mostra-os na nudez dos seus instintos".

 

O resenhista traça com cores fortes as características do protagonista, José Severino de Jesus, migrante do sertão da Bahia que tenta ganhar a vida como estivador no cais de Santos:

 

Severino – razão de ser do livro – é o continuado sofrimento da besta de carga que a máquina (...) vai, aos poucos, substituindo.

 

Mais à frente, o crítico utiliza o termo "kodaquizar" para dizer que Prata fez em seu romance um retrato da dura vida dos trabalhadores das Docas, "em que a riqueza dos outros é transportada em ombros humanos", ombros daqueles que "nasceram com a sorte torcida" (agora a expressão é do próprio Prata.

 

Em A Gazeta, já em 25 de setembro, desta vez em um texto mais extenso, o resenhista, identificado pelas iniciais B.B., considera Navios Iluminados a melhor obra de Prata, "cujo estilo escorreito, se não possui muita arte, também não incide nos efeitos de brilho fácil". B.B. considera escrita de Prata equilibrada e bem legível, o que não é lá um elogio:

 

O sr. Ranulpho Prata consegue nos dar uma certa impressão de "força" na simplicidade da narrativa. A vida dos taifeiros de Santos é descrita com vigor plástico, num realismo absolutamente despido de artifícios. E o livro comove pela objetividade e a boa fé, pois jogando com elementos muito explorados por certos romancistas modernos, o autor teve a felicidade de não fazer "romance proletário".

 

Apesar de constatar o realismo da narrativa do autor, o resenhista diz com todas as letras que a obra não é um romance proletário, revelando uma recepção imediata semelhante à análise que Luís Bueno faria em 2006, na qual afasta Navios Iluminados do romance proletário, dando-o como iniciador do momento da "nova dúvida".

 

A expressão "felizmente" aponta a ressalva do resenhista com a literatura proletária, que se forma durante a segunda fase do modernismo, mais política, enquanto a primeira, da década anterior, tinha uma plataforma mais ligada aos efeitos estéticos da escritura, ainda que os dois momentos fossem marcados por transformações na linguagem literária, trazendo para a ficção a fala coloquial e outros motivos que, para os modernistas, iriam arejar a renovar as letras nacionais[87].

 

Villaverde, Jair Silva e B.B. aproveitam o "estilo escorreito" de Prata para reagir ao impulso literário modernista. B.B. acredita que os "equilibrados" livros de Prata, apesar de não se arrojarem à descoberta de "novos horizontes", fogem dos "excessos e arbitrariedades tão freqüentes" daquele momento. Para o crítico mineiro, o uso do baixo vocabulário estava tão comum que até ironizou: "Apesar da falta de imoralidade, a leitura não deixa, nem um instante, de ser agradável". Villaverde, por sua vez, concluiu sua crítica, direto e sem ironias:

 

Afinal, um livro sincero e bem escrito, o que é notável nos dias de hoje, em que a mentalidade se encarreira para uma arte feita de palavrões, que pode ser o regalo de muitos, mas, positivamente, fere a estesia [sentimento do belo] dos que, por infelicidade, ainda sabem ler.

 

Nos perfis traçados por Primo Vieira (1962) e Paulo Carvalho-Neto (1974), que tiveram acesso aos arquivos do escritor, podemos perceber como a obra de Prata foi difundida por todo o país através da imprensa. Além da referência, Carvalho-Neto ainda anota um ou outro parágrafo [88].

Tabela

Referências de resenhas e artigos na imprensa sobre Navios Iluminados

Autor

Título ou seção

Veículo/localização/data

MPV

PCN

Não citado

Nota bibliográfica

A Gazeta/não citado/21-12-37

X

 

Não citado

Nota bibliográfica

O Globo/não citado/02-02-38

X

 

Não citado

Navios Iluminados

A Tarde/Florianópolis/02-02-38

X

X

Rubens Amaral

Navios Iluminados

Folha da Manhã/não citado/ 23-03-38

X

X

Leonardo Arroio

"Navios Iluminados", história triste

Folha da Manhã/não citado/1960

 

 X

B.B.

Um romancista. À margem da obra de Ranulpho Prata

A Gazeta/não citado/23-09-38

 

X

Mário Couto

Livros Novos. Navios Iluminados

Não citado/ Belém/1938

 

X

Paulo Dantas

Ranulfo (sic) Prata

O Tempo/não citado/15-04-53

 

X

Lemos Brito

Navios Iluminados

Vanguarda/Rio de Janeiro/07-03-38

X

X

Álvaro Lopes

Navios Iluminados

A Tribuna/Santos/04-01-38 [89]

X

X

Léo Mauro

Dois artistas. Ranulpho Prata. Herman Lima

Flamma/Santos/junho de 1939

X

X

Oscar Mendes

Navios Iluminados

O Diário/Belo Horizonte/06-03-39

X

X

Não citado

Navios Iluminados

Jornal do Brasil/RJ/26-01-38

X

X

Não citado

Navios Iluminados

A República/Natal/24-03-38

X

X

Não citado

Navios Iluminados

Diário da Noite/não citado/24-03-38

X

X

O.B.S.

Livros novos. Navios Iluminados

A Tarde/não citado/11-02-38

X

X

Pires Wynne

Navios Iluminados

A Cidade/Ribeirão Preto/1938

X

X

Jair Silva

Navios Iluminados

Folha de Minas/25-03-38

X

X

Tasso da Silveira

Letras nossas. Romance e conto

Não citado/não citado/10-03-38

 

X

Antonio de Villaverde

Navios Iluminados

O Diário/Santos/janeiro de 1938

 

X

Nelson Werneck Sodré

Livros novos. Navios Iluminados

Correio Paulistano/20-02-38

X

X

Legendas:
MPV – citado por Monsenhor Primo Vieira

PCN – citado por Paulo Carvalho-Neto

 

Paulo de Carvalho-Neto ainda distribuiu as críticas que encontrou em quatro categorias: simples notícia, comentários à margem, resenha informativa e crítica, sendo que à qualquer uma o autor de perfil pode acrescentar a qualidade de "fonte imprescindível". São fontes imprescindíveis para o estudo do romance de Ranulpho Prata, para Carvalho-Neto, as críticas de Nelson Werneck Sodré, de Leonardo Arroio, de Tasso da Silveira e de Paulo Dantas [90].