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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - IMPRENSA
A imprensa santista (7h)

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Em 26 de março de 1944, o jornal santista A Tribuna publicou edição comemorativa de seu cinqüentenário (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda), com esta matéria (grafia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria original

O 50º aniversário d'A Tribuna

Um pouco de história da terra andradina mal contada por velho jornalista sem memória

(Crônica de Euclides Andrade)

[...]


Costa Lopes, antigo lobo-do-mar, capitão de navio, valoroso navegador à vela, deixou a marinha mercante e fez-se repórter policial, da Tribuna. Ainda hoje se fala em Santos com saudade das Crônicas da Vila e da seção denominada O Elixir Tem Consumo, nas quais Costa Lopes noticiava fatos policiais. O Elixir Tem Consumo era uma seção popularíssima, pois nela o solerte repórter noticiava prisões de bêbados ou marafonas, empregando frases e vocábulos de marinheiro. Nessas crônicas só se falava em bitácula, bujarrona, alheta, pau da surriola etc.

Costa Lopes, uma ocasião, creio que durante a outra grande guerra, engajou-se como imediato num navio veleiro, que deste porto zarpou para os Estados Unidos.

Comandava o barco o famoso capitão Varela, um preto de Cabo Verde, cujos olhos pareciam dois formidáveis faróis, de tão grandes e brilhantes que eram. Varela fora prático da barra de Santos e como capitão de longo curso era da escola antiga - Teretetê, chibata no lombo! Marinheiro indisciplinado em navio sob seu comando passava a maior parte do tempo da viagem amarrado ao mastro grande.

Um dia, quando o navio deixara Salvador, rumando para Recife, a marinhagem, abespinhada, revoltou-se. Varela virou bicho; os seus olhos deitavam chispas. Queria matar toda a equipagem!... O crioulo era mesmo do "balaco"...

Costa Lopes achou ruim. Procurou acalmar o comandante. Mas o comandante estava por conta. Berrou, esbravejou, ameaçou. Foi então que Costa Lopes se lembrou de que não tinha a bordo um saco para carregar os desaforos do capitão. E virou bicho também. Lutaram os dois. Varela perdeu o "match".

E dias depois, o veleiro fundeava no Lamarão, em Recife, tendo no passadiço de comando o capitão Costa Lopes, imediato. Quanto ao comandante Varela, esse estava amarrado ao mastro grande, de pés e mãos, a urrar, prometendo vingar-se da tripulação rebelde.

Lopes era tão bom marinheiro quanto jornalista. Caladão, de poucas falas, autoritário no trato; era, contudo, muito disciplinado no trabalho. Valente, sem rompantes, não levava desaforos para casa. Um dia, num café, alguém quis fazer pouco dele e dali saiu numa ambulância, para a Santa Casa. Costa Lopes amarrotou o canastro do provocador.


Aspecto da oficina de fotogravura, onde são confeccionados os clichês que ilustram as páginas da A Tribuna e que são indispensáveis num jornal moderno.
Está magnificamente instalada, numa sala ampla e confortável
Foto e legenda publicadas com a matéria

Outros auxiliares - e muito bons - teve a Tribuna na sua revisão e administração: Clarindo, Moreira, Mendes, este último, procedente das oficinas tipográficas e que chegou a ser subgerente do jornal; e Josias Silva, revisor, e Manoel Ribeiro, o bom e inteligente Maneco.

A lista já vai longa e não sei se olvidei algum nome. Se isso aconteceu, que me perdoe a vítima da minha cansada memória.

Francisco Paino, atualmente exercendo com muita eficiência o elevado cargo de diretor administrativo da Prefeitura, trabalhou durante vinte anos na Tribuna. Começou como revisor de provas, ao lado de Acácio Botelho e capitão Henrique Marques Pereira, passando posteriormente para a redação, na qual exerceu diversos misteres.

Francisco Paino introduziu na Tribuna uma inovação, que lhe granjeou grandes simpatias nos círculos esportivos da cidade. Graças à sua iniciativa, foi a Tribuna o primeiro jornal no país a irradiar um jogo inter-estadual, transmitindo ao grande público todas as fases do embate por intermédio de poderosos alto-falantes, instalados em frente à sua sede e servindo Giusfredo Santini de locutor.

O jogo assim irradiado realizava-se no Rio de Janeiro e sua descrição era feita por meio de uma linha telefônica especialmente instalada, por conta da Tribuna.


Outro detalhe da seção de estereotipia, podendo-se observar a excelência das instalações e o maquinário moderno e completo
Foto e legenda publicadas com a matéria

César Simões foi outro bom auxiliar da redação desta folha, na qual exerceram sua atividade intelectual os ilustres literatos patrícios Cleómenes de Campos, Fábio Montenegro, Corrêa Júnior, Rui Ribeiro Couto, Otacílio Gonçalves, o saudoso humorista santense José Batista Coelho (João Foca), o caricaturista carioca Fritz e Francisco Patti, grande talento, que dirige, hoje, em S. Paulo, o Departamento Municipal de Cultura.

Fernando Nascimento ainda não passava de um garotinho inteligente e vivo, quando trabalhei na Tribuna. Esse rapaz cresceu e foi educado convenientemente. Diplomou-se em Ciências Jurídicas, depois de haver brilhado nos exames secundários. De posse do canudo com o diploma de bacharel, veio trabalhar no jornal de seu progenitor (N.E.: genitor), de cuja empresa é associado.

Fernando é filho de peixe, sabe nadar. Não se fez jornalista; nasceu jornalista. Força da lei do atavismo. É destro cronista, exprime admiravelmente o seu pensamento em letra de forma.

Na vida tudo lhe sorri. Até as garotas bonitas, pois ele... Ele tem uns olhos negros cavorteiros... É isso o que afirmam nos bailes as garotas da cidade.

E elas são sabidas. Rapaz bonito, bacharel, montado na vida, sócio da Tribuna... E é pra elas!...


Prédio onde funcionava A Tribuna, em 1930. Foi incendiado a 24 de outubro daquele ano.
Pouco depois surgia o majestoso edifício onde está hoje instalado o jornal
Foto e legenda publicadas com a matéria


[...]

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