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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ACS
A associação comercial dos santistas (4-k)

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Texto inserido no Almanaque de Santos - 1971, editado no final de 1970 por Ariel Editora e Publicidade, de Santos/SP, tendo como redator responsável o falecido jornalista Olao Rodrigues. Nessa publicação, as páginas 170 a 300 formam uma Edição Comemorativa do Centenário da Associação Comercial de Santos:
 

Associação Comercial de Santos - 1870/1970


Eis a história que se firmou à sombra da grandeza de Santos

Curiosidades da Praça do Comércio

Cafés coloridos – Em 1907, importante firma importadora de café dos EUA dirigiu-se por carta a respeitável casa de nossa Praça, denunciando o aparecimento de cafés brunidos ou artificialmente coloridos. Recomendava, ao mesmo tempo, a não remessa e produto em tais condições, visto que não podia entrar na Bolsa de Nova Iorque, por ser considerado não negociável.

Como é cediço, há lei em tal sentido, votada pelo Legislativo do Estado, que m seu art. 7º preceitua: "Para os efeitos desta Lei será considerado adulterado o artigo quando, no caso do alimento, for misturado, colorido, manchado etc., de modo a tornar imperceptível sua inferioridade ou seus defeitos".

Anos depois, em 1921, segundo denunciou o Jornal de Liverpool em notícia difundida no Rio de Janeiro e em São Paulo, organizou-se na antiga capital da República verdadeira indústria para explorar a exportação para a África do Sul de cafés pintados. O produto, apurou-se, era pintado com plombagina, oca e outras substâncias, provavelmente não nocivas à saúde, mas que positivamente tornavam de mau gosto e prejudicavam a qualidade.

O mercado da África do Sul dava preferência aos cafés pintados e essa circunstância isentaria de responsabilidade os exportadores cariocas, pois e comércio é regra elementar ir-se ao encontro do consumidor.

Os cafés coloridos, no entanto, também eram embarcados do Rio para outros portos nacionais...

Segundo lemos no Relatório da Diretoria da ACS, presidida pelo dr. Belmiro Ribeiro de Morais e Silva, "respeitável firma exportadora de nossa Praça já tentou fazer exportação regular de café para a África do Sul, onde ainda conserva um agente; mas não conseguiu ver coroados seus esforços porque as ordens que recebia eram sempre para cafés pintados, o que não foi possível atender, porque em boa hora o Congresso do nosso Estado votou uma lei proibindo a adulteração dos cafés exportados por Santos ou qualquer outro ponto do Estado".


Os presidentes

José Domingues Martins (1909-1910)

Bico-de-pena de Ribs publicado com a matéria

Boicotagem – Em 1909, precisamente no dia 5 de março, 57 firmas comissárias da nossa Praça assinaram moção de protesto contra a The Brazilian Warrant & Co., de Londres, que pretendia encampar todas as companhias de armazéns gerais e registradoras de Santos, valendo-se, todavia, da garantia de juros outorgada pelo Governo do Estado a uma delas.

Em conseqüência, a maioria do comissariado de café decidiu interromper relações com a conceituada firma E. Johnson & Cia., bem como todas as empresas chefiadas pelo sr. Edward Greene.

Tal decisão constituiria boicote que produziu sérios embaraços à tradicional firma, ainda hoje vigorosa célula do grande comércio de nossa Praça. A situação, porém, não poderia perdurar indefinidamente. Eis porque a ACS, que era presidida pelo sr. José Domingues Martins, interveio no deplorável incidente, e no dia 30 de setembro daquele ano foi firmado acordo honroso entre a referida casa e as demais do comércio da Praça, do que resultou o reatamento das velhas e amistosas relações.

Essa reconciliação foi geralmente acolhida com júbilo em nossa Praça.

Contra o jogo, quando aberto! – Em 1923, quando o jogo estava francamente exposto a todas as bolsas e em plena efervescência, a Associação Comercial de Santos não apenas se pronunciou contra suas nefastas conseqüências, mas também reclamou seu fechamento sumário.

No dia 21 de maio daquele ano foi endereçado ao dr. Washington Luís, presidente do Estado, ofício assinado pelo sr. José Martiniano Rodrigues Alves, presidente da ACS, cujos trechos iniciais eram estes: "Os lamentáveis fatos que se vêm repetindo de modo espantoso, como conseqüência do desenvolvimento extraordinário dos jogos de azar em Santos, têm verdadeiramente alarmado nosso comércio e nossa sociedade. São desfalques, estelionatos, suicídios, crimes e desgraças de toda a ordem, que com freqüência impressionante a Imprensa registra e propala, criando para este centro comercial – tradicionalmente considerado escola de trabalho e de honestidade para os moços – um deplorável renome de foco de infecção moral.

"Na verdade, a jogatina, a mais desenfreada, campeia aqui por toda a parte, atraindo, empolgando, alucinando, pervertendo e decompondo os espíritos e os caráteres menos firmes e fazendo vítimas, dia a dia, insaciavelmente. E não floresce somente nos cassinos elegantes mas estende-se mais perigosamente ainda e com mais concorrência pelas modestas casas de tavolagem e elas mais sórdidas baiúcas da Cidade.

"O maior perigo constituem-no justamente os jogos de fácil acesso aos operários e à classe modesta, a mais numerosa nesta Praça, que infelizmente encontram, até nos estabelecimentos de luxo, jogos a eles destinados".

Rematando, a ACS solicitava providências prontas e enérgicas do chefe do Governo Paulista, "que viessem a mudar este deprimente e intolerável estado de coisas".

Não houve resposta ao ofício, embora um outro, no mesmo sentido, fosse encaminhado ao presidente do Estado no dia 20 de outubro de 1923, também sem solução.

Mas ficou o brado de alerta da Associação Comercial e, com ele, o ponto de vista da Praça de Santos sobre a matéria.


Os presidentes

Dr. José Maria Whitaker (1911-1912)

Bico-de-pena de Ribs publicado com a matéria

Crime e benemerência - Por volta de 1890, quando o instituto agora centenário era presidido pelo dr. António Carlos da Silva teles, estabeleceu-se em Santos um comércio ilícito em seus meios e criminoso em sua origem. Indivíduos que não pagavam imposto de comissários de café compravam a carroceiros ou obtinham de subalternos na estrada de ferro não pequenas quantidades da mercadoria, ensacavam-na e vendiam-na a preço comum, fazendo da negociata hábil condição de vida.

Obrigados à prestação de contas a seus comitentes, os comissários de café vinham sofrendo sérios prejuízos, como é de ver.

Certa ocasião, o subdelegado de Polícia, sr. Augusto Teixeira de Carvalho, empreendeu batidas por tavernas para esclarecer um furto de café havido na casa Malta & Cerquinho, quando veio a deparar com cerca de 6 sacas do produto, que apreendeu, confessando os elementos acusados que as compraram de contumazes ladrões especializados na ilícita transação.

Obtendo do Governo Provisório do Estado a devida autorização, a ACS deferiu à Polícia a incumbência de proceder a leilão do café apreendido, sendo o produto líquido entregue ao Asilo de Órfãos.

A força do boato - O boato foi alarmante. Correu quase todas as Praças nacionais e foi propagar-se nos mercados do Exterior. Em conseqüência, nossa Praça foi tomada de pânico pelo afrouxamento das cotações do café e paralisação dos negócios. Foi de tal ordem o movimento negativo produzido na Praça, que nossa Associação teve de agir prontamente, reunindo-se, não apenas para restabelecer a normalidade do mercado, mas também para averiguar, por meio de Comissão Especial, a procedência das informações alarmantemente absurdas.

E o resultado não se fez esperar: a própria casa, a que era atribuído o boato, desmentiu-o aqui e lá fora...

Isso ocorreu em 1921. A Tribuna, o grande órgão dirigido por M. Nascimento Júnior, escreveu isto: "Um dos grandes males que afetam a vida comercial e a manutenção do crédito e prestígio das casas de negócios, a boa ordem dos preços e a disciplina em geral, consiste na propagação do maldoso boato, que se insinua em todos os círculos comerciais e bancários, a abalar a estabilidade daquela casa, a segurança daquele negócio, a situação daquele comerciante e, não raro, com ares compungidos de hipócrita e velhaco".


Os presidentes

Dr. A. S. Azevedo Júnior (1915-1920 d 1924-1926)

Bico-de-pena de Ribs publicado com a matéria

Faliu e resignou ao cargo de diretor - Há muitos anos, precisamente 88 anos. Ele era conceituado comerciante na Praça, onde se fazia admirar pela rigidez de caráter e retidão de costumes comerciais. Não foi, porém, feliz em determinada transação e viu-se na contingência de requerer a própria falência.

Diretor da Associação Comercial de Santos, um de seus primeiros cuidados foi resignar ao cargo; em resposta, a diretoria, que era presidida pelo barão de Embaré, enviou-lhe em 26 de abril de 1882 ofício vazado nos seguintes termos: "Apreciando devidamente a delicadeza de sentimentos que ditou V. S. à resolução de resignar ao cargo que tão brilhantemente ocupou desde longo tempo, lamenta a diretoria, devido a uma triste ocorrência, achar-se privada do esclarecido conselho de V.S. e, apresentando-lhe seu profundo sentimento, espera ela que, brevemente reabilitado, voltará a apresentar a esta Associação os seus valiosos serviços, que muito concorreram para seu engrandecimento".

Era o sr. José Ricardo Wright.

Arquivo negro - Em reunião de 1º de dezembro de 1926, a diretoria da Associação Comercial, presidida pelo dr. Alberto Cintra, decidiu criar serviço especial de informações de caráter reservado, destinado aos associados que mantinham transações com o Interior. Com elas podiam precaver-se de possíveis prejuízos a que estão expostos todos quantos negociam de boa fé, nem sempre dispondo de elementos seguros para julgar a idoneidade alheia.

Essa seção, de evidente utilidade para todos, dispunha de um Arquivo Negro, que reunia fichas reveladoras do procedimento daqueles que fugiram censuravelmente a seus compromissos, acarretando com essa atitude danos ao comércio da Praça.


Os presidentes

Dr. Belmiro Ribeiro de Morais e Silva (1921-1922)

Bico-de-pena de Ribs publicado com a matéria

Questão de nacionalidade da firma - Durante a Primeira Guerra Mundial, uma firma francesa insurgiu-se contra uma organização de nossa Praça – Krische & Co. -, acusando-a de nacionalidade alemã e conseguindo o seqüestro de uma partida de café por meio da Corte de Apelação de Rouen.

A ACS pôs-se em campo em favor da associada injustamente acusada, pois se tratava de firma brasileira com sede em Santos, regida pelas leis brasileiras e administrada por dois cidadãos ingleses, um deles diretor-presidente. É verdade que um dos acionistas da empresa, o sr. Krische, era alemão, nascido em Hamburgo, mas desempenhava o cargo de simples agente naquela cidade germânica.

Depois de longas peripécias, a ACS conseguiu deslindar o caso, provando a injustiça da acusação, quando houve até interferência do então ministro das Relações Exteriores, dr. Lauro Miller.

Foi esse, aliás, um dos episódios em que nossa Associação Comercial teve de intervir a oportunidade da Primeira Guerra Mundial, durante a qual os associados de nacionalidade alemã tiveram seus direitos sociais suspensos, não podendo sequer visitar a sede social.

Alteração da tarifa aduaneira: coragem de dizer! - Atendendo ao que lhe solicitaram as autoridades fazendárias do Governo Imperial, a ACS deferiu a seus diretores srs. Fritz Chris, Adolf Tromel e João Alberto Casimiro da Costa a incumbência de estudarem e emitirem parecer ao projeto da nova Tarifa das Alfândegas.

Em 9 de maio de 1881, essa Comissão Especial encaminhou à diretoria expediente em que consubstanciou seu juízo sobre a matéria, afirmando, ipsis litteris: "Trata-se de assunto que demanda acurado estudo e reflexão, e o prazo que ao comércio é concedido para tal trabalho é impossível fazê-lo de modo conveniente. Quando mesmo o prazo necessário fosse concedido, os membros da Comissão, abaixo designados, lamentariam sacrificar um tempo em pura perda, convictos como estão da pouca ou nenhuma atenção que o Governo Geral presta a quaisquer notificações que porventura esta Associação pudesse propor em virtude do parecer da Comissão. Haja vista algumas representações que o Comércio desta Praça tem feito ao Governo por intermédio desta Associação, que nem mesmo mereceram a honra de uma resposta qualquer".


Os presidentes

Dr. José Martiniano Rodrigues Alves (1923-1924)

Bico-de-pena de Ribs publicado com a matéria

Imposto da ponte - Havia no passado fatos curiosos e esdrúxulos que, apontados e até combatidos, continuavam a prevalecer e a prejudicar os interesses da coletividade. O chamado "Imposto da Ponte" era um deles.

Era um tributo absurdo que onerava a situação econômico-financeira do comércio da época, nem sempre folgada. Havia a famosa Ponte do Consulado, onde atracavam embarcações nacionais e estrangeiras; ficava pelas imediações do Largo do Gusmão. Era velha e caiu de podre. Durante muito tempo, a Recebedoria de Rendas cobrava o imposto decorrente da utilização dessa ponte, de que não havia o mais leve vestígio, demolida como coisa inútil ou monstrengo.

A diretoria da nossa Associação Comercial, em 1892, na gestão do Dr. Antônio Carlos da Silva Teles, representou ao governo do Estado pleiteando a revogação da lei que criara o tal imposto, atendendo aos reclamos do comércio. Até o fim da administração daquela diretoria, o governo não a havia respondido à Associação.

Como se vê, pagava-se um imposto sobre serviço que não existia!

Incidente com o Inspetor da Alfândega - Por volta de 1891, a firma H. Haffers & Cia. requereu despacho à Alfândega de uma partida de 500 sacas de café tipo escolha. O despacho, no entanto, não teve prosseguimento porque o chefe da repartição aduaneira, a seu juízo, considerou que o café era de qualidade fina, e não como o pretendia a firma exportadora.

Não se conformando com a decisão, a respeitável organização comercial, que por muito tempo atuou em nossa Praça, buscou a intervenção do Instituto de que era associada – a Ass. Comercial – e uma comissão especial, integrada pelos srs. Azurem Costa, Inácio Penteado e A. Wildeberger, opinou em seu parecer que o café contido nas amostras era realmente do tipo escolha.

Para encurtar a história, diremos que o Inspetor da Alfândega impugnou o parecer e manteve sua resolução. Fez mais: maltratou os membros da comissão com palavras descorteses e afirmou "não dar importância à Associação Comercial de Santos".

Em face dessa atitude grosseira, a diretoria da ACS, em reunião de 5 de novembro de 1891, decidiu não mais fornecer à Alfândega a pauta semanal.

No exercício seguinte, achava-se na Inspetoria da Alfândega, embora em interinidade, o major Álvaro Ramos Fontes, com o qual a Associação passou a manter as melhores relações de amizade.


Os presidentes

Dr. Alberto Cintra (1926-1930)

Bico-de-pena de Ribs publicado com a matéria

Alfândega de S. Paulo - Lá por volta de 1892 também se tramava contra Santos. Queriam nada mais, nada menos, que criar uma alfândega em São Paulo, sob o ponto de vista de que em Santos havia crise de transportes, "originada, de um lado, pela insuficiência e deficiência dos meios de condução para o Interior, e de outro, pelas péssimas condições sanitárias do Porto".

O negócio era "para valer", pois a Câmara dos Deputados mostrava-se francamente favorável à iniciativa, e a Comissão de Fazenda e Indústrias, em apressado parecer, sem analisar as causas da crise, que em verdade assoberbava nosso porto, sentenciou que "a demora das descargas dos navios, que as dificuldades de transportes, a aglomeração de cargas, o crescimento enormíssimo de despesas e a impossibilidade de segura fiscalização e arrecadação de direitos na Alfândega são graves e vexatórios inconvenientes que urge remediar".

Como sempre, a Associação Comercial de Santos tomou posição no caso e fustigou o cometimento, inteiramente danoso aos interesses do Comércio e do Município, sustentando o ponto de vista de que, se havia insuficiência e desordenação nos meios de transportes e detença e acumulação de cargas em nosso porto, o grande culpado era o Governo, apenas ele.

No Relatório apresentado em 14 de outubro de 1895, a diretoria, presidida pelo sr. Ernesto Cândido Gomes, considerava o fato consumado, e já se anunciava a criação da Alfândega de São Paulo para o dia 15 de novembro de 1895.

Multada por falta de selo - Nossa Associação Comercial foi multada repetidas vezes por falta de selo na correspondência encaminhada às autoridades federais, notadamente ao ministro da Fazenda, por considerar-se isenta dessa contribuição postal.

Em face da ocorrência, dirigiu consulta ao direto do Tesouro Nacional, que, em ofício de 18 de julho de 1910, respondeu que "todas as representações encaminhadas pelas associações comerciais do País às autoridades federais estão isentadas do imposto do selo".

Desse modo, comprovou-se a injustiça das multas que, aliás, nunca mais ocorreram.


Os presidentes

Esaú Silveira (1933)

Bico-de-pena de Ribs publicado com a matéria

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